Pov. Keith

 - Vai ficar tudo bem, Keith. – Terry me disse, beijando minha testa. – Eu não vou deixar nada te fazer mal.

Assenti e observei-a levantar a tampa da lixeira.

 - Drake? – Ela gritou. Um minuto depois o garoto estava ali. Ele nos ajudou a sair de lá e eu perguntei o que era a luz.

 - Achei um sobrevivente. – Ele sorriu.

 - Mesmo? E ele foi mordido ou algo assim? – Terry perguntou, pegando em minha mão.

Eu gostava de tê-la por perto. Sei que nós sempre brigamos bastante, mas eu me sinto muito seguro quando Terrence está por perto. Detalhe: Ela odeia que a chamem assim.

 - Não, mas ele está morrendo de fome. – Drake respondeu. 

 - Vem. – Ela me puxou, enquanto caminhávamos até o beco.
O tal sobrevivente aparentava ter a idade de Terry. Era branco, seu rosto não parecia ser de gente grande, tinha os olhos azuis e o cabelo que nem o meu; “Tigela”. Mesmo parecendo ser novo, tinha uma barba bem pequena.

 - Você tá bem? – Terry perguntou, agachando ao lado do garoto. Senti uma pontinha de ciúmes.

 - To. – Ele respondeu bem baixinho.

 - Toma. – Ela lhe ofereceu um pedaço de pão. O garoto olhou para o alimento com os olhos arregalados. Enfiou na boca e mastigou como se nunca tivesse comido nada na vida.

- Mastigue mais vezes e vai ficar satisfeito mais rápido. – Drake disse, sentando de costas para a parede do prédio.

 Depois de quinze minutos olhando o moço comer aquele pão, eu levantei do chão e olhei para a rua.

 - T-Terry... – Chamei, puxando a blusa da minha irmã.

 - Oi? – Ela olhou para a rua e arregalou os olhos. – Drake, temos que sair daqui.

 - Por quê? – Ele perguntou, olhando para lá também. – Merda. Vamos, levanta daí. Você vem com a gente. – Ele disse para o recém-chegado.

Vi Drake jogar uma arma para o garoto e pedir para ele se preparar.

Na rua, bem lá longe, na estrada, os zumbis se rastejavam na direção da cidade. Estavam vindo de São Francisco. Tínhamos saído de lá há umas doze horas.

Eles andavam lentamente. E faziam um barulho que estava me deixando com medo. Drake atirou em um bem próximo, explodindo a cabeça dele. Era nojento e saía uma gosma verde junto com o sangue.

- KEITH! - Terry me chamou, me dando um puxão e fazendo meus olhos se desviarem dos zumbis.

Ouvi mais um barulho de tiro, acompanhado por um grito:

- Morram, seus filhos da... - Drake disse “olha a boca”. - Okay, então... MORRAM, seus filhos da senhora que trabalha na esquina!

“Esse garoto tem problema?” Pensei, mas Terry corria demais para eu ter fôlego de falar alguma coisa.

Mais barulhos de tiros e exclamações estranhas eram ouvidos. Foi assim, até que um zumbi entrou no caminho de Terry e eu.

- Keith... Cuidado!

Terry tentou me afastar, mas ele se aproximava mais e mais. De repente, a cabeça dele explodiu, jogando gosma e sangue em nós.

- Não acharam que íamos esquecer de vocês, né? - Disse Drake, com um sorriso na cara. O garoto parecia ter saído de um campo de guerra, sujo da cabeça aos pés. - Esse cara é maluco, se jogou no meio dos zumbis e foi matando.

- Eu só quero exterminar essas porcarias do mundo, só isso. - Respondeu o garoto, com um sorriso zombeteiro.

- Vamos antes que mais deles apareçam. - Drake disse, puxando minha mão (que ficou coberta de gosma). - Os tiros devem ter alertado outros.

- Você precisa de um banho. - Eu disse, olhando para o garoto. Seus cabelos negros estavam sujos, sua camiseta preta agora estava meio verde e tinha sangue no seu rosto.

- Isso vai encobrir o nosso cheiro. - Ele disse, fazendo uma careta para mim.

- Têm certeza que não se machucaram? - Terry perguntou, olhando de Drake para o garoto novo.

- Eu não. - Ele sorriu, levantando os braços.

- Eu também não. - Drake respondeu, olhando para as calçadas. - Aquilo é uma loja de conveniência?

- Se tiver café e suprimentos, tá valendo. - Disse o garoto novo, com cara de riso.

Ele realmente deve ser maluco, pensei.

- Vamos até lá. - Terry pediu.

Andamos até a porta da loja e eu a empurrei. Logo atrás de mim, ouvi o garoto murmurar.

- Deixa eu ver se não perdi... - olhei para trás e vi ele apalpando o bolso, e logo tirou dali um bichinho de pelúcia. Qual é mesmo o nome daquilo? Domo-kun, eu acho. - Ah, ainda bem que eu não te perdi, Chenobyl. Eu nunca mais iria dormir!

- Você anda com um bichinho de pelúcia? - perguntou Terry, surpresa.
- Ué, sem ele eu não durmo. E eu com insônia fico igual... Um zumbi. - Respondeu ele, com um sorriso maroto.

Drake olhou para ele sério. Mas não durou nem 3 segundos. Explodiu numa gargalhada para a piada boba.

Vi Terry revirar os olhos e olhar para o lado, então ela abriu um sorriso e exclamou:

- COMIDA!

Mas o garoto não ficou muito atrás, olhou para o balcão e gritou:

- CAFÉ!

- Quantos anos você tem mesmo? - Drake perguntou, indo para a sessão de bolachas.

- 16, e vocês?

- Menos oito? - Ele perguntou, rindo.

- Talvez. Depende da quantidade de café que eu tomo. - Respondeu o garoto, também rindo.

- Eu tenho quinze, o Drake tem 19 e o Keith tem 10. - Terry respondeu, depois de um ataque de risos.

- Pedofilia é crime, cara. - O garoto disse, bebendo um gole enorme de café.

- Canibalismo também. E andar com um bichinho de pelúcia no bolso devia ser. - Drake respondeu, rindo.

- Bichinho de pelúcia é a vó, ele tem nome tá? - Disse o garoto, rindo muito.

- Aliás, qual teu nome? - Terrence perguntou.

- Ian Hecox, ao seu dispor. Mas, se vocês conseguirem me aturar por mais de três dias, eu deixo vocês me chamarem de Ianzito. - Terry pareceu que ia morrer de rir, depois daquele apelido tosco.

- Essa eu topo. - Drake exclamou, chegando perto da loira. - Amor, pega aquela vassoura ali pra mim? - Ele pediu, apontando para o fim da loja.

- Aham. - Minha irmã respondeu.

- E você, pequeno Gafanhoto? - Ian se virou para mim. - Tem apelido? - Ele sorriu.

- Não. - Respondi, olhando para a porta.

- Aaaaaaah, tem sim! - Terry disse, voltando com a vassoura nas mãos.

Ela entregou o objeto para o Drake e ele travou a porta, colocando a vassoura no puxador.

- Não tenho não. - Retruquei, enquanto ela sentava ao meu lado.

- Tem sim, Oompa-L... - Coloquei a mão em sua boca, pra ela não falar, mas não deu muito certo.

- Oompa-Loompa? - Perguntou Ian, sorrindo de um jeito que me surpreendeu. Achei que ele iria zoar minha cara. Mesmo assim não respondi. Odiava aquele apelido. - Por quê?

- Porque ele é baixinho. - Terry riu, bagunçando meu cabelo.

- Posso te chamar assim, ou você não gosta? - Perguntou Ian.

- Não. - Respondi.

- Não posso, ou você não gosta?

- Os dois. - Retruquei.

- Ok, ok. - Ele ergueu os braços.

A porta fez barulho, como se tivesse alguém tentando entrar.

- BITCH! As p... Criaturas estão tentando entrar! - Ian disse, irritado.

- Elas não vão conseguir tão cedo. - Drake disse, parecendo calmo demais. - Vai demorar, pelo menos, umas 30 horas pro vidro quebrar. Esse tipo de vidro é feito para ocasiões assim. Digo, não com zumbis, mas para que as pessoas não tentem quebrar o vidro.

- Tá sabendo das coisas, Drake. - Disse Ian, se acalmando.

- É por experiência própria que eu lhe digo isso. - Ele deu um sorriso torto.

- Não me diga que você tentou quebrar. - Disse Ian.

- Ok. Eu não digo. - Ele respondeu, dando de ombros.

- Uma vez, eu quebrei um vidro... Com a minha cara. - Riu Ian. - Por que acham que eu tenho essa cara feia?

- Já vi que a amizade vai ser de longa data. - Terry revirou os olhos. - Vou ver se tem alguma coisa no depósito. - Ela disse.

Terry saiu resmungando, e eu consegui apenas entender “Homens, todos iguais”.

- Então, cara, me explica direito essa história de quebrar o vidro com a cara.

- Eu tava brincando com a minha irmãzinha de 8 anos, e tinha essa porta de vidro lá em casa, ela tava na rua e eu...

- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH! - ouvimos o grito da Terry.
Ian e Drake só se entreolharam e correram para o depósito.

Ian Andrew Hecox

- 16 anos