28 de novembro de 2007.

As três mulheres de vestidos negros continuavam seu ritmo incansável. Linhas invisíveis aos olhos humanos passavam pelas suas mãos, enquanto a outra mulher tencionava cuidadosamente a tesoura horripilante sobre um dos intermináveis fios.

—Chegou a hora irmã? —a voz cortante e fria ecoou naquele lugar úmido e sombrio de uma delas.

— Sim. Sinto o pulsar de sua vida em minhas mãos. Vocês o sentem? — ela sorriu, onde se esperava encontrar os dentes, havia apenas um infinito buraco negro, não por falta deles, era muito mais que isso. Era como se o universo circundava dentro de sua boca escancarada, aguardando a entrada de mais uma alma para as trevas ou não.

— Sentimos. — Disseram as outras duas em uníssemos. — Querida irmã, esse fio já foi cortado antes. Jamais cortamos duas vezes o mesmo, o que se passa?

As palavras saíram de forma irada e incrédula, jamais alguém ousara enfrentá-las desta forma, nem mesmo Zeus tinha coragem de desafiá-las. Os sorrisos antes estampados desapareceram. Uma poça de água cristalina se formou entre elas e as vozes roucas das três invadiram o local.

— Mostre-nos o humano que teve sua linha rompida e continua pulsante em nossas mãos! — o ritual de mãos dadas e corpos movendo-se de um lado para o outro formava um circulo negro de suas vestes esfarrapadas.

A água tremeluziu, ondas pequenas se formaram, ganhando aos poucos a calmaria e nela o reflexo de um belo homem se fez. Ambas o olharam com ódio e rancor.

— É apenas um mero humano, que ainda respira. — os dedos curvos e de pele retorcida encostaram-se à poça d’água.

—Olhem para os olhos dele, irmãs. São como esmeraldas polidas, prontas para serem roubadas. Belo jovem.

—Sim, algo nele me incomoda. E... vejam o moreno ao lado. Carrega a morte ao seu lado. E um tenebroso corredor de dor e sofrimento.

—Quem são eles? Como ousam interferirem na ordem natural de nossos eventos?

— Corte logo esse fio Átropos, temos muito mais a colher. — a boca da mulher estava seca, passou a língua lentamente em uma inútil tentativa de umedecer os lábios ressequidos e cortados na vertical.

As três sorriram e a mulher do meio desceu o fio da tesoura lentamente sobre a linha pulsante. O destino estava traçado.