O sol passava pela cortina e se espalhava por todo o meu quarto, o relógio despertava, 7 horas. Era uma segunda-feira bonita, a primavera parecia tomar conta do lugar. Me levantei, calcei meus chinelos, fui até o banheiro fazer minha higiene matinal e depois abri meu guarda roupas onde peguei um uniforme azul marinho e minhas botas marrons.

Quando estava pronta fui até a cozinha onde meu pai preparava o café e as torradas. Tomei café e me despedi de papai:

-O senhor ficara bem?

-Sim filha, vou dar um jeito naquele jardim, esta precisando -o abracei e fui caminhando até a escola.

A cidade era um pouco mais evoluída do que em minhas lembranças, não só a cidade, mas também o bairro havia algumas casas diferentes, mais ricas e elegantes, sinal de que também haviam novos moradores. Por um momento fiquei feliz, não seria a única nova por aqui.

Cheguei à escola, dois grandes prédios com um terceiro um pouco menor no meio, havia um gramado verde rodeando o local e uma pequena trilha acinzentada indicando a entrada. Respirei fundo e disse para mim mesma:

-Vai dar tudo certo – adentrei o local e logo fui recebida por olhares dos pés a cabeça, vários grupos de jovens um pouco mais novos que eu andavam de um lado para o outro e conversavam sobre as férias rindo.

Parei em um canto e abri minha mochila à procura dos meus documentos com meu numero de armário:

-Aqui esta 224 onde será que fica? –olhei para os lados e coloquei a mão na parte superior de minha cabeça –onde será?

Foi quando um grupo de garotas um pouco menores que eu passaram por mim e me encararam, depois riram:

-Olhe uma nova aluna! –disse uma delas fazendo uma cara um tanto estranha.

-Que botas ridículas! Comprou onde? Na fazenda de onde você veio? –disse a do meio que parecia ser a “líder” do grupo.

Após isso saíram andando todas juntas rindo. Atrás delas apareceu uma menina loira muito bonita que sorriu para mim:

-Olá aluna nova, foi bem recepcionada por nossas anãs cruéis? –e soltou um riso que acabou me levando junto.

-É... elas são bem simpáticas!

-Prazer, me chamo Alice, estou no terceiro ano e você? –disse enquanto me abraçava em cumprimento.

-Me chamo Carla Ferrer, também estou no terceiro ano, sou uma velha moradora daqui, voltei a cidade anos após... E assim fuí, me apresentei a Alice e ela me apresentou a seus amigos Téo, Pedro, Beatriz e Marcia ambos estavam em nossa sala, todos muito simpáticos, Alice era filha de um empresário que morava na cidade mas passava boa parte de seu tempo viajando a trabalho, Beatriz e Marcia eram mais simples, moravam próximas de Alice e se conheciam desde a infância. Pedro era um moreno muito bonito, tinha um jeito de surfista americano, mas na verdade gostava de tocar bateria, Téo era o mais tímido de todos, usava óculos e andava cheio de livros.

As primeiras aulas foram apenas apresentações, os professores pareciam ser bem dedicados, tudo estava muito bom até que todos os alunos foram mandados para o teatro, um lugar enorme cheio de poltronas e com um palco coberto por um cortinão vermelho. Me sentei ao lado de Alice e das meninas que logo começaram a cochichar:

-Todo ano é a mesma chatice de sempre, Vitória ira fazer a abertura com suas amiguinhas dançarinas, e Tomás entrara em seguida cantando “Sejam Bem Vindos” ÉCA! –Exclamou Alice com cara de tédio.

Não demorou muito para as cortinas se abrirem e as menininhas que zombaram de mim na entrada apareceram dançando e virando piruetas sem parar, confesso que fiquei tonta só de olhar. Depois disso a “líder” apareceu sorrindo só que diferente do que as meninas tinham dito, ela não estava dançando e sim cantando.

-Quem ela pensa que é? A Britney? –perguntou Marcia rindo.

-Não creio, o Tomás até que não canta mal, mas a Vitória pelo amor de Deus viu!!! –disse Beatriz.

-Se preparem meninas, vocês sairão quase surdas –Pedro interrompeu rindo.

E eu concordo com o que eles haviam dito, a tal de Vitória não cantava nada bem, mas quando as cortinas se abriram novamente, fiquei arrepiada, o menino que chavam de Tomás cantava muito bem, não que a musica fosse linda, é claro que não era, mas sua voz me deixou boquiaberta, que perfeita, e aquele brilho em seus olhos? Ele parecia tão... surreal, fiquei olhando fixamente para ele e apreciando sua pequena e atraente rouquidão.

-Ih Carla já foi enfeitiçada? –perguntou Téo com um sorriso tímido no rosto.

-Enfeitiçada? Como assim? –perguntei assustada.

-Tomás é um dos meninos mais populares desse colégio, todas babão por ele... –disse Alice interrompendo Téo – O problema é que ele anda grudado com a Vitória e as suas amiguinhas tontas, elas não deixam nenhuma menina se aproximar de Tomás...

-Mas ele é o sonho de todas nós... Quer dizer, era, já foi, um dia já foi, toda menina já desejou ficar com ele, mas as coisas vem mudando muito, ele andava conosco, ele e Pedro eram muito amigos, só que ele foi ficando cada dia mais chato, depois que conheceu Vitória e eles começaram a namorar... –continuou Beatriz – Credo, depois desse dia apenas admiramos sua voz, porque a pessoa que ele  é não atrai mais ninguém...

O sinal tocou e todos foram para suas casas, o primeiro dia de aula tinha acabado...