Depois de Snape ter praticamente saído seu caminho, as coisas em Hogwarts ficaram mais fáceis. E, sim, o verbo "sair do caminho" não era algo que uma provável filha gostaria de associar com seu provável pai, mas... Lucy aceitara os fatos: Se existia algo próximo de pai e filha entre ela e Snape, estava definitivamente acabado.

Por outro lado, surgiram outros contratempos.

— Lucy, essa coruja trouxe isso para você. — disse Violet, esticando um envelope numa manhã fria em Hogwarts.

— Uma carta? — ela pegou o envelope.

— Duas cartas.

Ela abriu o primeiro envelope. Era de sua mãe. Ela dizia que esperava que Lucy descobrisse algo sobre seu passado em Hogwarts. "Hogwarts mostra sempre o seu caminho", dizia... Lucy não entendera muito bem, mas achou melhor deixar quieto. E alguns comentários sobre os amigos, presentes e também sobre Snape. "Ele é tão ruim assim?" Sim, pensou Lucy em resposta. Ela suspirou e abriu o outro envelope.

"Querida Snape,

Livros da seção reservada... Sério mesmo? Você definitivamente não entende o que Hogwarts tem para te oferecer. Todas as respostas estão embaixo de seu nariz, é só alcança-las. O que eu quero dizer queridinha, é que existem meios melhores de conseguir coisas em Hogwarts...

Não querendo te culpar... Afinal você é noob. Que seja... Apenas mando isso como lembrete para você ver as oportunidades que estão dançando como hipogrifos coloridos na sua frente.

                                                                            Sempre á espreita, M".

Lucy gritou de raiva. Violet a olhou pasma, enquanto a bruxa pegava coisas e atirava para o ar. Em poucos segundos, todo o Salão principal estava a encarando. Ela agarrou seu próprio cabelo e enfio a cabeça no seu cachecol, soltando outro grito.

— LUCY PELAS BARBAS DE MERLIN, PARE COM ISSO! — ela segurou Lucy pelos ombros e a chacoalhou — Por favor, respira fundo!

Lucy tentou se acalmar. Ela respirou fundo várias vezes e tentou raciocinar.

— Me deixe ver isso! — Violet esticou o braço para agarrar a carta.

Lucy se esforçou o máximo possível para esta ficar fora do alcance da amiga, e depois saiu tropeçando do Salão principal. Esse "m" já estava a estressando. Ela acabara de dar um vexame no meio de todos os alunos e ainda achava pouco. Ela andava rapidamente, suas passadas cada vez mais apressadas até o Salão Comunal, quando sentiu algo esbarrar com tudo no seu corpo.

Ela mordeu a boca para não gritar novamente. Sentiu gosto de sangue.

— Por Merlin, eu mal posso andar por essa escola sem esbarrar em...

Ela olhou para cima. AH NÃO.

— Olá Snapezinha. — um dos Gêmeos Weasley sorriu diabolicamente.

Lucy queria se tacar do Corujal naquele exato momento.

— Olá Weasley sem graça. — ela bufou irritada, tentando passar... Mas o lazarento do Weasley estava bloqueando seu caminho.

— "Weasley sem graça"? — ele riu — Por favor, Snapezinha... Trabalhe mais nos seus insultos.

Lucy escondeu o rosto com as duas mãos. Discutir com um dos Gêmeos era a ultima coisa que desejava no momento. Ela queria ir para o quarto... Analisar as cartas... Pensar e gritar.

— Nem agradeceu pela ajuda na detenção. — disse ele.

— E o que você esperava Fred? — Jorge surgiu atrás do irmão e começou a encarar Lucy maliciosamente.

Eles. Estão. Me. Perseguindo. É oficial. Eu já não sou perseguida o suficiente?

— Olha queridos Weasleys super incríveis... Eu tenho que ir. — ela empurrou os dois e correu em direção ao Salão comunal.

~

Sentada na sua cama, Lucy olhava para cada uma das cartas que recebera do tal de "M"... E depois de pensar um pouco, achou uma única explicação: Quem é que fosse esse louco, queria alguma coisa dela. Esse pensamento a deixava irritada. Por que essa pessoa encanou justo com ela? Havia tantas pessoas mais interessantes em Hogwarts para se atazanar. Ela pegou um rolo de pergaminho, pena e tinta e escreveu:

"M,

Quem é que seja você e seja lá o que quiser comigo, se manifeste e pare de escrever essas cartas idiotas. Se quiser me chantagear tenha pelo menos a vergonha na cara de se apresentar formalmente.

Desejando sua morte repentina,

Lucy.”

Ela guardou o pergaminho nas vestes e decidiu que mais tarde correria até o Corujal responder as chantagens de "M" com ou sem classe.

~

Depois do segundo período, Lucy foi até o Corujal, entregou o envelope para uma das corujas da escola e a assistiu levar a carta com sua resposta para longe. Mais tarde, foi até a Biblioteca para fazer alguns deveres. Violet insistira que ela deveria ir "curtir" junto com seus amigos nos Jardins, mas ela recusou. O que "M" queria dizer com "existem meios melhores de conseguir coisas em Hogwarts?" Ela pensou e repensou enquanto mal conseguia se concentrar no seu dever de Herbologia. Ela largou a pena e suspirou. Herbologia é uma droga. Olhou pela biblioteca e se concentrou. Oportunidades... Mas que melhor meio existia do que a seção reservada? Ela colocou em risco sua vida em Hogwarts, e ainda recebia uma mensagem dessa. Que ela estava sendo estupida. Ela colocou as duas mãos na cabeça e tentou respirar fundo. Sua mente estava enevoada pela raiva e pelas perguntas. Então ela pensou. O meio mais fácil de conseguir coisas em Hogwarts é... Os alunos. É claro.

— Eai Lucy? — uma voz se acomodou do outro lado da mesa, junto com alguns livros que foram espalhados.

Lucy levantou os olhos. Simas.

— Como vai, Simas? — ela forçou um sorriso. Não que não gostasse da companhia dele, mas estava concentrada na sua linha de pensamentos e não queria perde-la.

— Trabalhando duro, hein? — ele apontou para a pilha de livros e pergaminhos espalhados pela mesa. Lucy anuiu.

— É... Estou ansiosa pelos exames... Ouvi falar muito dos famosos Exames de Hogwarts. — disse ela.

E era verdade. Depois que resolveu seu contratempo com Snape, estava indo bem em todas as matérias.

— Ansiosa do jeito bom, ou do jeito ruim? — ele riu. — Enfim, acho que depois de fazê-los vai pensar diferente.

Lucy levantou as sobrancelhas.

— Ao contrário do que você pensa... Exames não me intimidam. – disse ela.

Ele riu novamente e deu de ombros. Lucy então teve um pensamento repentino.

Uma lembrança não muito distante, de seu aniversário... Do baile de Halloween...

— Obrigada. — ela sorriu — E obrigada pelo livro... Eu... Não tinha o encontrado nas lojas trouxas. Aliás... Como o conseguiu?

— Eu... Sei como contrabandear coisas dentro de Hogwarts. — ele deu de ombros.

— Ei Simas... Lembra—se do meu aniversário quando eu perguntei como você conseguiu o livro trouxa? — ela perguntou ansiosa e já com esperanças. Ela iria atrás das informações que precisa, "M" fazendo parte disso ou não.

Simas pareceu pensar por um tempo e depois assentiu, distraído. Lucy mordeu o lábio.

— Então... Exatamente como você consegue... Essas... Coisas?— ela perguntou novamente, jurando para si mesma que correria atrás das respostas. E que a solução estava ao seu alcance como diria um "M" muito bem humorado.

— Essa é fácil. — ele sorriu, como se lembrasse de uma memória divertida— Os Gêmeos Weasley, é claro.

E todas as esperanças de Lucy se esvaíram como o ar de uma bexiga estourada.

~

Jane Walker, 1978 - Hogsmeade ~Três Vassouras, 3:30 PM

— Jane. — ela a chamou — Me escute... Por favor.

Jane suspirou e levou a caneca fumegante até os lábios. Estava uma tarde congelante em Hogsmeade e ela suspirava enquanto Lílian Evans tentava a convencer de coisas que ela já tinha tomado uma decisão. Seu braço esquerdo estava ardendo.

— Lílian, eu não quero conversar sobre isso. — disse ela, revirando os olhos, cansada.

— Ele é sinônimo de perigo. — a bruxa repetiu — Encrenca.

Jane repousou a caneca de cerveja amanteigada na mesa com um pouco mais de força do que gostaria, e olhou fundo nos olhos de Lílian.

— Eu sei onde estou me metendo, Evans. — ela afirmou, com uma pontada de raiva crescendo no peito.

Estava ali fazia minutos tentando relaxar depois da noite passada, e Lílian Evans agora a perseguia repetindo na sua mente que Severo era o pior pesadelo que ela poderia arrumar.

— Não sabe! — ela reafirmou com a voz perdendo a força e vivacidade natural — Ele não tem sentimentos... Está te enganando.

Agora já deu. Jane pegou alguns sicles no bolso, deixou-os na mesa e se levantou.

— Eu não quero mais ouvir o que você tem a dizer. — disse ela, examinando o rosto incrédulo de Lílian e contornando a mesa — Só por que você não encontrou sentimentos nele, não signifique que estes não existam.

E assim, ela deixou a bruxa sozinha olhando para a parede, com um sentimento de indignação estampado no rosto.

~

— Ela deve estar certa, Jane. — disse Severo, enquanto eles caminhavam pelos corredores de Hogwarts, depois do jantar.

— Certa? Já discutimos sobre isso Severo. — ela suspirou e cruzou os braços. — Agora voltar atrás é a ultima coisa que posso fazer.

Ele a puxou para um canto inabitado do corredor.

— Eu sei, Jane... E me odeio por isso. — ele fechou os olhos com remorso. — Mas essa escolha foi sua.

Jane abriu a boca, surpresa.

— Foi nossa! — ela alterou a voz — Eu fiz isso por nós.

Os dedos dela foram automaticamente para seu ventre. Severo suspirou novamente.

— Me desculpe. — ele passou os dedos pelo cabelo de Jane, com um olhar suplicante — Eu só fiquei tão estressado quando me mostrou isso ontem...

Ele repousou o dedo sob o antebraço esquerdo de Jane, onde a Marca negra tinha sido recém marcada. E ainda ardia. Demais. Jane fechou os olhos.

— Não veja isso como algo ruim, Severo. — ela pediu — As coisas vão ficar melhores quando sairmos de Hogwarts.

Severo olhou para os olhos dela. Ela ali, falando daquele jeito parecia maravilhoso. Mas ele sabia que nunca iria ser assim.