Já era noite e Emily não sabia o que fazer. Várias ideias malucas lhe passavam pela cabeça - será que Naomi havia ido embora e a deixado sozinha ali? Será ela desistira de construir uma vida com Emily, e de ir adiante com todos os planos que tinham feito juntas? Ela não sabia o que esperar. Andava de um lado a outro no quarto onde moravam, e o desespero, junto a raiva, lhe consumia a cada instante. 

Assim que ouviu a chave rodando na maçaneta da porta, não se preocupou em conter sua raiva e se fazer de calma, queria mostrar pra Naomi o quanto estava magoada. Queria mostra que não aguentava mais ser como uma diversão para a namorada, que sempre agia daquela forma, deixando-a confusa. Assim que Naomi entrou pela porta, também não se preocupou em esconder seus sentimentos. A culpa estava visível em seu rosto, e Emily sentiu um alívio por ver que não era a única que notava que havia vários erros ali. 

- Então... - começou Naomi.

- A onde você tava? - disse Emily, deixando bem claro o tom de raiva na sua voz. 

- Eu fui dar uma volta. Pensei em comprar umas coisas, procurei, mas não achei nada. Espero que não se importe.

- “Espero que não se importe”?! Você saiu por essa porta sem nem dar notícia nenhuma e me deixou aqui sozinha. Não pensou que eu poderia ficar preocupada? Custava deixar um bilhete? Achei que agora as coisas poderiam mudar, Naomi. 

- Olha, me desculpa, Ems. Você já tava acordada por um bom tempo, e eu não queria te acordar. Achei... que seria melhor ficar dormindo. Assim eu também teria tempo de resolver algumas coisas na rua. 

- Tudo bem dessa vez, mas não pense que você vai poder fazer qualquer coisa sempre e dar uma desculpa que vai ficar tudo bem. 

Naomi acabou de entrar, deu um beijo rápido em Emily e foi ao telefone.

- Pra quem você ta ligando, posso saber pelo menos isso?

- Pizza. Peguei o número de uma ótima pizzaria na rua.

Ao passar de mais uma noite, as duas riram, se divertiram e se comportaram como o habitual. Emily devia não perceber, mas Naomi estava preocupada com o tal de Kurt. Será que ele ligaria? Será que ele estava mesmo interessado a manter um contato com ela? Bom, ela não podia fazer nada. A cada vez que seu celular vibrava quando recebia uma mensagem de qualquer outra pessoa, ela sentia medo de que fosse Kurt e de que Emily pudesse ver. Na verdade, ela não sabia por que se sentia assim a respeito de Kurt. O que demais tinha nisso? Podia ter contado a Emily que tinha conhecido esse menino logo. Mas agora já era tarde demais, já tinha mentido sobre tudo o que fizera na rua, e se viesse com alguma verdade, Emily poderia desconfiar. E isso complicaria as coisas. Então ela resolveu deixar pra lá. Aproveitou o resto da noite o quanto pode com sua namorada maravilhosa que podia lhe dar tudo, sem precisar de mais nada.

Assim que começou a amanhecer, o celular de Naomi tocou. Um número desconhecido aparecia no visor, e Emily, que já estava acordada, resolveu atender. 

- Oi?

- Oi, Naomi? - disse uma voz masculina e suave do outro lado da linha.

- Não. Emily.

- Ah, então você é a tal. - disse o homem, com um tom irônico. - A Naomi tá aí? 

- Não. Quem é você?

- Sou um amigo da Naomi. Parece que você não tá interessada em me dizer onde ela tá, né. Então, se não se importar, quando ela aparecer, se ela já não estiver aí, pede pra ela me encontrar. No mesmo lugar de ontem. E você, se quiser, pode vir.

- Que lugar de ontem? - disse Emily, já muito confusa.

- Diga a ela e ela vai entender. 

E então desligou. Emily sentiu a raiva a dominar no mesmo momento, será que aquilo nunca ia acabar? Sentiu Naomi se mexer ao seu lado na cama, vendo que estava acordada o tempo todo, e já com um quê de interrogação no rosto. 

- Então...

- Então, agora vai me dar uma explicação válida? 

- Eu encontrei com esse cara ontem, só isso. Conversamos e pronto.

- E por que deu seu número a ele, se "pronto"? Sinceramente, Naomi, já estou cansada das suas mentiras. Se não for pra você ser verdadeira a partir desse segundo, vou seguir minha vida e deixar você por aqui mesmo, porque pra mim já deu. 

Ao dizer isso, Emily mudara de roupa, pegara sua roupa e saíra pela porta. Naomi ficou ali, parada, sem saber o que fazer. Ela se culpava, claro que culpava. Sabia que estava sendo uma vadia com Emily. Mas o que mais ela poderia fazer? Procurar um psicólogo e esperar que alguma coisa acontecesse pra mostrar a ela que valeria a pena continuar as coisas do jeito que estavam, com Emily ao seu lado, a apoiando e a amando? Ela sabia que valia pena. Mas não queria que valesse.