Já era tarde quando Naomi acordou, o braço de Emily sobre sua barriga, a envolvendo. Olhou no relógio e era apenas 16h04min, o que era uma novidade para ela, que estava acostumada a ir dormir de manhã e acordar a noite. Tirou seu cobertor com cuidado para não acordar Emily, e semi nua, foi até a cozinha preparar waffles. Deixou alguns para Emily, e assim que terminou de comer, saiu sem levar nada, com a esperança de tomar um ar e repensar seus conceitos sobre si mesma. Ainda se sentia indecisa sobre sua vida com Emily, e sentia-se culpada por isso - o que mais ela poderia pedir? Tinha uma namorada que qualquer homem e qualquer lésbica daria tudo para ter, morava em uma das cidades mais lindas do mundo e não tinha muito com o que se preocupar.

Mas continuava se sentindo com medo, afinal não sabia o que esperar, não tinha nenhuma expectativa, nenhum plano em mente. Já não se lembrava de um momento qualquer em que se sentiu livre. Talvez na primeira vez em que fez sexo com Emily, "mas isso foi apenas durante o sexo", ela lembrou, sendo ciente que assim que explodiu em orgasmos se sentiu culpada por ter transado com uma garota.

Ela sabia que não era medo de o que as pessoas iam pensar sobre ela. Ela estava pouco se fodendo para isso, na verdade, ela não dava à mínima. A verdade é que ela não queria se sentir presa a alguém ao ponto de dar sua vida por ela, ou até mesmo viver por ela. Ela não era daquele jeito. Ela não se entregava assim. Ela era uma menina durona, que sabia seus objetivos e as causas que iria defender. Mas agora ela se sentia perdida tentando escolher entre o certo e a felicidade.

Já estava vagando sozinha pela rua por 15 minutos, dispersa em seus pensamentos, quando se deparou com um grupo de meninos, talvez cinco, ela não se preocupou em contar. Todos eles tinham um clima meio hippie, fumavam cigarros e apenas um deles estava com um cigarro de maconha indo direto da mão para a boca. Vendo que tinha chamado a atenção da moça bonita que estava passando pela rua, o menino parou e a olhou, e então sorriu para ela, um sorriso que parecia verdadeiro, e ao mesmo tempo, malicioso.

– Ei, moça. Pra onde tá indo?

Naomi pensou em passar rápido e não olhar para trás, mas queria passar um tempo sem pensar em nada, e conversar com alguém que não sabia quem ela era e que não precisasse abrir o leque de defeitos que ela tinha. Olhou para o menino com um sinal de interrogação no rosto, tentando se fazer de desentendida e de nada interessada.

– Ei?

– Quer sentar aqui um pouco? Você parece deslocada. Sei que toda essa fumaça vai te fazer sentir assim mais ainda, mas pelo menos vai ser um bom deslocamento. - disse o menino, parecendo realmente interessado.

Só então Naomi reparou em sua aparência: era um menino baixo, de cabelo um pouco grande e bagunçado, roupas um pouco rasgadas e com um ar de sujeira. A princípio, um mendigo lhe passou pela cabeça, mas logo tirou essa ideia, afinal seus amigos pareciam meninos normais, e sei lá, ela estava com uma boa impressão sobre ele. Não que achasse mendigos algo ruim.

– Na verdade...

– Não aceito não como resposta - interrompeu ele -. Curte um pouco aqui com a gente. Qual teu nome? O meu é Kurt. - disse, sem parecer muito interessado em saber o nome dela, mas dando um tapa leve no lugar vago ao seu lado para ela se sentar.

Naomi hesitou um pouco, mas logo se sentou. Manteve-se no seu canto, evitando muito contato físico e olhares.

– Toma ai e acende um beque - disse Kurt, passando o baseado á ela. Ela pegou sem se preocupar da onde aquilo vinha, afinal já tinha colocado muitas coisas na boca, e aproveitou o momento. Ao passar do tempo, foi se abrindo e conversando, os amigos de Kurt eram legais, e ele também era. Ela sentiu que dali podia nascer uma amizade, afinal, as ideias dele eram bem parecidas com as dela.

Ficaram lá fumando e conversando por mais três horas, e só então notou que Emily estava sozinha em casa por tempo demais e que não tinha como entrar em contato com ela. Deu um pulo do seu lugar ao perceber o quão furiosa Emily ficaria com ela, e deu qualquer desculpa idiota para sair dali.

– Tudo bem, então me passa teu número que eu te ligo pra gente marcar mais uma. - disse Kurt, deixando claro seu desapontamento por ter que deixar Naomi ir embora.

– Tá, - disse Naomi, passando o número a ele. - Isso é tudo o que eu tenho. Até mais.

– Ei, espera! Ainda não sei teu nome. - Mas Naomi foi embora o mais rápido possível, notando que tinha acabado de conhecer e passar seu número pra qualquer estranho fedido que lhe ofereceu maconha. Parece que ela não tinha mudado muito.