O Monge escrita por slytherina


Capítulo 4
Tempo de Partida


Notas iniciais do capítulo

"Aqueles que falam convincentemente da paz não podem seguir armados. Aqueles que falam convincentemente da paz não podem ser fracos. Então nós fazemos de cada dedo um punhal. Cada braço uma lança. E cada mão aberta, um machado ou uma espada." Mestre Kan.



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                    Os irmãos Boyd pegaram a chave da cela de Caine. Este adivinhou o que aconteceria a seguir. Ficou em pé e encostou-se na parede. Abriram sua cela e um deles, aquele com o antebraço quebrado, sacou uma arma e a apontou para o chinês. Um outro entrou na cela e puxou o monge pelo cangote, jogando-o para fora. Caine rolou no chão e começou a levantar-se lentamente. Um dos vaqueiros aproximou-se dele e tentou lhe dar um chute na cara. O chinês segurou seu pé e torceu-o, fazendo o arruaceiro cair ridiculamente. Ouviu-se um tiro. A bala passou a centímetros da cabeça do monge, cravando-se na parede atrás dele. Caine ficou em pé lentamente, encarando aqueles homens sem dizer nada.


                     Um deles aproximou-se dele e desferiu um violento soco em seu rosto, fazendo-o voar pela janela que estava as suas costas. O chinês aterrisou na rua, e quase foi atropelado por uma diligência. Os passantes não deram importância a um homem que voou pela janela da delegacia da polícia, mas afastaram-se rapidamente, ao verem os irmãos Boyd saindo de lá. O monge ainda estava estirado no chão, quando um dos vaqueiros puxou-o pelo colarinho e o colocou de pé. Ele tentou golpear violentamente o abdomen de Caine, mas este bloqueou o soco, e desferiu em seguida, uma sequência de golpes com o punho, o antebraço e o cotovelo. O arruaceiro caiu desmaiado ao chão.

 
                     Novo disparo. A bala acertou o pescoço do chinês de raspão. O monge colocou a mão no pescoço e sentiu que não estava sangrando muito. O homem do antebraço quebrado engatilhou a arma novamente. Caine ficou parado olhando seriamente para ele. O homem mirou no peito do chinês e apertou o gatilho. A arma falhou. O monge então deu um salto até onde estava o atirador. Rapidamente atingiu-o com a planta do pé na cara, fazendo o homem cair dentro da cadeia novamente.


                     O outro vaqueiro, dentro do xadrez, sacou sua arma, mas Caine deu um salto mortal, torcendo completamente seu corpo no ar, e atingindo a cabeça do homem armado com uma patada. Este literalmente voou e bateu com a cabeça nas grades ficando desacordado. O vaqueiro do antebraço quebrado levantou-se, procurou por sua arma, mas não a achou. O chinês aumentou a base de seu corpo, separando bem as pernas e dobrando os joelhos. Ele juntou as mãos na altura do peito, com os dedos firmemente retos e os polegares dobrado. Passou a fazer movimentos amplos com os braços, sobre a cabeça e o tórax, como se fosse um balé. Puxou uma perna e com isso mudou a posição do corpo. Uma das mãos ficou para trás, a outra ficou à frente do corpo, ambas pareciam garras.

 
                     _ Tá, tá! eu me rendo. _ O vaqueiro deficiente levantou a mão boa e olhou desolado para o monge.


                     _ Entre na cela. _ Caine ordenou com a voz baixa.

 
                     O homem com o braço na tipóia entrou na cela e trancou a porta. O chinês então procurou por seus pertences e saiu da delegacia. Saiu andando, seguindo o caminho que o levaria para fora da cidade. As pessoas que viram tudo o que aconteceu não tentaram impedí-lo, ou ajudar aos Boyd. Apenas comentaram a mais nova fofoca do momento. O xerife foi avisado do confronto na cadeia. Ele rapidamente rumou para seu local de trabalho. No meio do caminho, encontrou seu ajudante que inventou uma mentira qualquer para não estar no xadrez naquele momento. Ao chegarem lá. Encontraram um dos vaqueiros estirado na rua, em frente à delegacia. Outro estirado dentro da cadeia, e o mais velho deles, com o antebraço enfaixado, trancafiado no lugar do monge.


                     _ Parece que esse fugitivo era perigoso mesmo, hein chefe? _ Comentou o assistente do xerife.


                     _ É.


                     _ Vamos formar uma patrulha para caça-lo?


                     _ Não.


                     _ Mas a recompensa, xerife? É muito dinheiro.

 
                     _ Isso é problema dos chineses. Deixe que eles peguem seu fugitivo. Já temos nossos próprios problemas em Kilgore.


                     _ E o que fazemos com os Boyd?


                     _ Vamos juntá-los na mesma cela. Afinal, eles foram os responsáveis pela fuga do prisioneiro. _ Disse o xerife com um sorriso.

 

                    Caine andou sem parar, rumo ao oeste. A noite o encontrou em meio a pradarias. O mato seco lhe arranhava os pés descalços, pois já os sapatos estavam nos ombros. Ele havia amarrado uma tira no pescoço, para que o ferimento não ficasse exposto, mas agora estava doendo muito, e parecia um pouco inchado. A lua cheia iluminava-lhe o caminho. Lobos uivavam ao longe, e ele podia sentir o cheiro de animais carnívoros por perto. Ele precisava parar e fazer fogo, mas temia chamar a atenção de um possível grupo de busca. Sendo assim, continuou caminhando até ficar exausto. Ele deveria parar e descansar, mas com certeza seria aprisionado novamente, se não se afastasse daquela cidade imediatamente. Olhou as estrelas no céu. Eram brilhantes e majestosas. Decerto o mundo não era um lugar ruim. As pessoas é que teimavam em massacrar umas as outras. Passou a ver estrelinhas em volta de si. Percebeu que iria desmaiar. Ouviu ruídos de cavalo. Parou de andar. Ajoelhou-se no chão exausto.


                    Um cavaleiro aproximou-se dele. Era um velho índio americano.


                    _ Para onde vai cara pálida?


                    _ Sigo o meu destino. Bem longe da cidade de Kilgore.


                    _ Você está exausto de caminhar. Deve descansar.

 
                    O índio ajudou o monge a subir na garupa de seu cavalo. Uma hora depois, o índio parou de cavalgar e resolveu fazer uma fogueira. O chinês recostou-se próximo à fogueira.


                    _ Obrigado! Me chamo Caine. _ O andarilho disse ao índio.


                    Este o olhou seriamente, e depois fitou o fogo.


                    _ Minha tribo me chama Coyote Ligeiro. Não precisa agradecer. É preferível agir com bondade do que com ódio, principalmente quando o tempo de andar sobre a terra chega ao fim.


                    _ Você se prepara para a morte?


                    _ É um velho hábito do meu povo. Há tempo para tudo na vida, inclusive para a hora da morte. Após uma certa idade nos preparamos para este dia.


                    _ Mesmo perto da morte, você escolheu agir com misericórdia. Eu lhe agradeço por isso.


                    O monge lembrou-se de algo semelhante escutado a muito tempo, quando garoto, no templo Shao lin.


                    _ Gafanhoto, quando eu era um garoto, eu caí dentro de um buraco no chão, e eu estava ferido e não podia escalá-lo. Eu deveria ter morrido lá, mas um estranho veio e me salvou. Ele me disse que essa era sua obrigação. Pela ajuda que uma vez ele recebeu, ele devia em retorno ajudar 10 outros, que deveriam também ajudar 10 outros. Então os atos de bondade se espalhariam, como as ondas de uma pedra atirada no lago. Eu era um dos 10 dele, e você se tornou um dos meus. E agora eu passo essa obrigação para você. _ Mestre Po lhe falara.


                    Após dormirem por horas, seguiram viagem até um campo sagrado indígena. O velho Coyote Ligeiro armou sua maloca para curtir seus últimos tempos de vida. Caine lhe fêz companhia, e o ajudou como pôde. Quando o velho índio por fim morreu, Caine o enterrou com seus pertences e liberou seu cavalo.


                    Kwai Chang Caine seguiu andando sob sol escaldante, por grandes espaços abertos, sobre dunas, por entre vegetação rasteira, sob a mira de predadores, e sempre fugindo de caçadores de recompensa, procurando suas raízes americanas, guardando na alma, lições recebidas na infância, de honrados e amados mestres Shao lin. Ele seguia em paz e era um com o universo.


                   

                   
Fim

 


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Notas finais do capítulo

Assisti esse seriado na minha infância. Ele passava no horário nobre, alternando com "Jornada nas estrelas" e o seriado do "planetas dos macacos". A música tema era maravilhosa, e a sequência de abertura sempre me deixava em suspense ("É dito sobre o monge shao lin...Procurado, ele não pode ser visto. Escutado, ele não pode ser ouvido. Tocado, ele não pode ser sentido..."). Gostaria de ter incluído na minha fic a sequência da tatuagem dos braços, através da queimadura de um vaso de metal com pedras em brasa, não deu. Talvez no futuro, eu volte a esse seriado, por ora, é o fim.



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