A História De Sally Jackson escrita por Kori Hime


Capítulo 10
Capítulo 10 - As desilusões amorosas de Sally




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Foi como despertar de um sonho maluco. Era essa a sensação que Sally sentia, ao abrir os olhos. Ela recordava-se ligeiramente de tudo o que vira, porém, eles foram retratados como sonho. Mas algumas coisas estavam muito estranhas. Não se recordava exatamente o que fizera na noite passada, quando foi trabalhar.

Recebeu a visita de um médico logo pela manhã. Veio acompanhando de Dalila. Ela lhe contou tudo o que aconteceu. Sally passou mal no caminho para o restaurante e por isso, com a ajuda de algumas pessoas, Dalila levou-a para sua casa. Isso explicava porque ela acordou em uma casa diferente.

O médico a examinou, e alegou que ela estava bem, mas precisava descansar, talvez os horários puxados de trabalho a fizera perder a consciência. O homem foi embora logo em seguida, e Dalila foi preparar um chá.

Sally, sentada no sofá, se perguntava como tudo aquilo estava acontecendo. Ela sempre foi forte, dificilmente ficava de cama, ou passava mal. Dalila retornou com uma xícara de chá, já adoçado, e a entregou.

— Seu namorado veio te visitar hoje cedo, mas como você estava dormindo, não ficou muito tempo.

— Meu namorado? — Sally sentiu o peito aquecer. — Ele não é meu namorado.

— Certo. Seu amigo, então. — Dalila sorriu. — Não rolou nem um beijinho entre vocês dois?

— Não, não. — Sally quase cuspiu o chá. — Não aconteceu nada. Eu mal sei o que houve nas últimas vinte e quatro horas.

— Eu só fiquei curiosa. — Dalila se levantou para lavar a louça na pia. — Ele parecia tão preocupado. Como se fosse um cavaleiro empunhando um tridente e salvando a donzela.

— Tridente? Não seria empunhando uma espada?

— Sim, pode ser também.

Sally deitou no sofá, esticando as pernas. Ela não possuía boas recordações de relacionamentos passados, e também nenhuma amiga para contar. Mas agora quem sabe Dalila não a ouviria.

— Eu tenho medo de acontecer algo ruim entre nós. — Revelou.

— Tipo o que? Ele é bonitão, inteligente e tem até uma sorveteria.
Sally riu, da maneira como ela disse, fazendo a sorveteria ser um negócio tão grande como uma loja de departamento, por exemplo. Mas com certeza era mais do que o que ela possuía.

— O problema não é dele, e sim meu.

— Você tem alergia a homens bonitos e de olhos verdes? — Dalila serviu uma taça de vinho em uma taça, não ofereceu a Sally, porque dera um calmante a amiga junto com o chá.

— Acho que sim. — Sally olhava para o teto branco, sentia-se mais relaxada e começou a desabafar. — No colégio eu me apaixonei por um dos jogadores de basquete da escola. Ele era dois anos mais velho que eu e já ia se formar. No baile de formatura me convidou para ir com ele. Quase perdi o fôlego no dia em que ele estava de castigo na biblioteca e me convidou, eu era voluntaria para arrumar os livros. — Ela olhou para Dalila, que estava sentada na mesinha de centro, prestando atenção a história, e continuou. — Eu gastei todas as minhas economias guardadas para alugar um vestido e comprar sapatos novos. Também fui ao cabeleireiro e me arrumei completamente para ele. Estava tão feliz e ansiosa. E já sabia no que ia dar aquela noite... bem, você sabe.

— Baile de formatura, é um clássico. — Dalila tomou um gole do vinho e mandou que ela continuasse, sem achar necessário contar sobre o fiasco do seu baile de formatura.

— Pois é. Uma garota apaixonada e sonhadora, era isso. Nós dançamos a noite inteira e todos nos olhavam, até mesmo as meninas que me ignoravam e riam de mim por me acharem diferente. No final do baile, ele disse que tinha um lugar especial para me levar. Quando percebi, ele estacionou o carro do pai nos fundos de um supermercado fechado. Estava escuro lá, e não havia nada por perto, senão um posto de gasolina abandonado. Eu não entendi bem. Estava realmente esperando por uma noite especial, um quarto com velas, flores e música romântica, essas coisas.

— Sally... — Dalila queria consolar a amiga, mas não encontrou as palavras certas.

— Ele começou a me beijar e tentar tirar os botões do vestido. Eu fiquei irritada com aquela atitude nojenta e o empurrei. Abri a porta e saí do carro.

— Que cachorro.

— Sim. — Ela prosseguiu. — Ele começou a rir de mim, disse que eu era louca e que ele iria falar para todo mundo que eu era louca. Foi humilhante o restante do ano e os outros... até que meu tio piorou e eu não pude mais estudar. Todos foram para a faculdade e eu...

Dalila pulou sobre Sally e tentou animá-la.

— Essas pessoas não merecem que você desperdice mais uma lágrima.

— Eu não choro por eles, não por eles.

— Agora, vamos falar daquele deus grego moreno, a sua espera. — Dalila foi bem categoria ao dizer deus grego, mas Sally não compreenderia a brincadeira.

— Não sei o que ele viu em mim! — Sally escondeu o rosto na almofada. — Não sou bonita, nem tenho experiência.

— Você é linda!

— Você é muito mais bonita do que eu, Dalila. Porque não você?

— Bem, acho que deve ter um bom motivo para não ser eu. — Ela queria tanto contar o que aconteceu de verdade para Sally, mas fez uma promessa, e honraria em nome de sua mãe, que não diria nada. — Porque não vai lá perguntar?

Sally gargalhou.

— Você acha que vou chegar na sorveteria e me declarar assim?

— Qual o problema?

— Eu morreria de vergonha.

— Sally, o que você tem a perder?

Dalila tinha razão. Sally não tinha nada a perder. E ela já era adulta, tinha idade para tomar atitudes precipitadas e sem pensar nas consequências. Ela se arrumou com a ajuda de Dalila e foi sozinha para a sorveteria o mais rápido que poderia ir.

Lá, ajeitou os cabelos antes de entrar, empurrou a porta, e no balcão perguntou onde estava Poseidon. O rapaz apontou na direção da porta dos fundos, e Sally teve a permissão para ir encontrar-se com ele. O local era um deposito, havia alguns refrigeradores para os sorvetes e bebidas, prateleiras e estantes para estocar copos, pratos, caixas de guardanapos. Tudo organizado de tal forma que Sally nunca imaginou que poderia ser possível. Ela ouviu vozes, e caminhou em direção a porta de saída.

A voz de Poseidon era inconfundível, ele falava como quem parecia estar desabafando. Decidiu então ficar calada, não por curiosidade, mas para sair dali sem ser vista.

O coração de Sally parou de bater naquele instante. Ela parou atrás da porta, e agora ouvia uma voz feminina.

Sally espionou pela janelinha da porta, ela podia ver Poseidon segurando as mãos de Calyce, e depois beijando-a na testa. Em seguida, ele abraçou a mulher com delicadeza e acariciou seus cabelos de uma forma que Sally pouco acreditaria que fosse um simples tratamento de amigos, ou chefe, ou o que quer que eles fossem um para o outro.

Decidiu sair rapidamente sem que ninguém suspeitasse que estivesse ali um dia. Ela não iria, jamais olhar novamente na cara daquele homem.

Ela correu em direção ao chalé, mas acreditando que Poseidon poderia aparecer por lá, decidiu voltar para a casa de Dalila. Começou a chover e Sally chegou completamente ensopada. Dalila quis saber o que aconteceu e Sally contou o que viu. Dalila não pode dizer nada, porque, não sabia exatamente como funcionava esses acordos matrimoniais de deuses, e mesmo que soubesse, havia o comprometimento com Poseidon e a verdade.

Sally passou a noite no sofá da amiga, suas lágrimas secaram quando o sol nasceu, e uma bela gripe estava a caminho.


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