Cinco Coroas escrita por Ste


Capítulo 13
Despindo Charlotte


Notas iniciais do capítulo

Esse é um pouco maior que os anteriores. Capítulo final, espero que gostem!



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Granade – Bruno Mars

“Should've known you was trouble

From the first kiss

Had your eyes wide open

Why were they open?”

Despindo Charlotte

Charlotte golpeou lentamente a porta dos aposentos de Nicholas, este abriu e não pareceu surpreso. Nem aborrecido. Afinal, hora antes ele estava nos aposentos dela a informar a decisão dos Lordes Franceses e se fora, deixando-a atônita.

– Entre, Charlotte – ele deu-lhe espaço para entrar. – Ao que devo o prazer de sua companhia?

– Vim lhe informar, caro Nicholas, que partirei assim que o sol nascer. – disse-lhe satisfeita.

– Espero que tenha uma adequada e agradável viagem. – Nicholas lhe disse a tomar um pouco de vinho, que estava em uma taça na sua mão.

– O que? – perguntou visivelmente surpresa. E irada. – Vais me deixar ir tão facilmente? Pretendia matar-te!

– Não vou impedi-la Charlotte, se é o que pensas... – ele acrescentou - ou que queres.

Ela o encarou boquiaberta.

– Certo, - ela disse a recompor-se. - entretanto espero que me diga como descobriste nosso segredo. Não vi muitas lacunas em sua explicação, não me pareceu óbvio.

– Ficarei feliz em esclarecer-lhe, querida Charlotte. – Nicholas lhe deu um sorriso sarcástico e puxou uma banco para a “dama”. - Talvez queira começar do início. Senão, contente-se com ele. – ela bufou - Os primeiros sinais vieram desde os primórdios de nosso... ilícito relacionamento. – ela arqueou a sobrancelha com a palavra - Foram pormenores que me recusava a ver, que o amor não me deixava fazê-lo. Todavia depois que convenci-me que eras a megera vigarista que és, ficou tudo deveras óbvio. Quando nos conhecemos, no restaurante que cantavas, não foi coincidência, já que há pouco tempo descobri que aquela fora sua primeira apresentação. Num local que me fora indicado por Lívia! Que incrível acaso! – ironizou.

"Os encontros em perfeito cronograma dos outros Reis, tua súbita insistência em saber dos segredos obscuros deles, tua súbita simpatia por Lívia e o modo alarmado em que ela se encontrou quando lhe viu... O exagero de criar o Ciclo...

Lembro-me que uma vez Madeleine deixou escapar que conhece muitos esconderijos ao redor do mundo. Jannet articulou que tinha muitos amigos influentes que lhe deviam obséquios. Lívia continha uma fortuna em joias e ouro. Keira conhecia vários truques de distrações. E você, senhorita, sua inteligência e esperteza a fizeram ser a mente do... pretencioso time. – ele a elogiou insultando-a?

As damas, imagino, não foram escolhidas aleatoriamente. Foi a dedo.

Há algo que não estou seguro: O que usou contra Lívia, além de futilidades? Espere, deixe-me adivinhar: Joceline. – Charlotte repeliu os olhos - Fostes baixa ao dizer a Gregory que comprasse mais joias e vestidos a Lívia, sabias do desespero dele em agradar a amada. E quanto a doce Keira? Fostes bárbara nesse ponto Charlotte, ao pagar àquela jovem donzela para deitar-se com Hector. Quanto a Jannet, que pagaste àquele pobre senhor desfortunado para irritar a Laurent? E assim a cólera dele caísse sobre suas filhas pequenas. Quanto a Madeleine? Usou a inocência e inexperiência dela a seu favor. Sabes o quão infantil aquela pequena pode ser. A manipulou de modo que serias a única que saísses a ganhar, Charlotte.

Imagino que Jannet caiu por Avareza. Madeleine por Luxuria. Lívia por Vaidade. Keira por Cobiça. E você, difícil dizer, talvez todos os pecados juntos. Pediste meu Coração, o qual lhe dei de bom grado. O mesmo que ostentas em teu pescoço." – ele indicou o colar.

Charlotte contemplou o próprio colo e ressaltou pela milésima vez o estranho presente que Nicholas lhe dera.

– E sobre os Anjos? Como desvendastes?

– Achei alecrim em seus aposentos e nos das demais damas. Há uma lenda que diz que o anjo caído que ingere alecrim tem as asas guardadas sob a pele das costas. Não foi difícil juntar os pontos.

Charlotte raciocinou por alguns minutos.

– Se não me amas, por que me destes o teu Coração? Num piscar de olhos posso acabar espontaneamente contigo, no momento que me convém.

Nicholas suspirou a franzir o cenho.

– Preste atenção no que lhe direi Charlotte, possivelmente esta será a última vez que o farei. – ela se inclinou para escuta-lo atentamente. – Amo-te. E eu sempre vou amá-la, para todo o inferno de imortalidade. Este Coração não tem a mínima porcentagem de poder que tens sobre mim. Não me faz diferença se está contigo ou comigo. – ela abismou-se. – Todavia essa Charlotte que arquitetou todo esse plano e foi atroz para com suas companheiras não é a minha Charlotte. Não é aquela por quem me entreguei meu corpo, meu coração e minha alma. Mostraste-me que mentes tão bem Charlotte que não sei se conheço-te.

– Nicholas...

– Espero que não seja seu plano fazer-me ansiar-te ainda mais Charlotte.
– E se eu quiser quebrar o Coração? – perguntou maldosamente.

Nicholas sorriu infeliz.

– Não precisa disso para me assolar, querida. Conheço-te o suficiente para saber que entendes o domínio que tens sobre mim.

– Quero-te, Nicholas. – ela lhe disse com um fervor imparável.

Ele estremeceu.

– Está aí um problema. – ele lhe disse. – Eu quero-te, Charlotte. Entretanto não sei se me é reciproco.

– Contudo na Ala do Trono dissestes que sabia o porquê de termos falhado, por amor. – ela ressaltou.

– Não estava a falar de você. Me referia as outras moças.

Ela ofegou.

– Como ousas duvidar de meu amor? Entreguei-te meu corpo, Nicholas, de modo que nenhuma mulher nunca o fez. Despiu-me e extraiu cada partícula de falsidade, egoísmo, mentira e parcimônia que eram minhas companheiras há séculos. Fez-me sentir viva, desperta, sensível, amada... humana.

Ele levantou-se subitamente e andou pelo quarto, agitado.

– Nicholas?

Ele virou-se hesitante.

– Passarei por cima de quaisquer requisitos de soberba para ter-te outra vez. – ela segredou-lhe.

– O problema, Charlotte – ele a olhava melancólico – é que passas com a mesma facilidade por cima de qualquer indivíduo que estiver no seu caminho.

Ela irritou-se.

– Fiz o que fiz para sobreviver, farias o mesmo se estivesse no meu lugar!

– Não, não iria. E é por isso que não posso estar contigo, não é saudável. Não é agradável. – ele suspirou. – E cada fragmento do meu ser deseja isso. Desesperadamente.

– Podemos arriscar novamente, Nicholas. – ela foi ter com ele. – A Charlotte que admiras está aqui dentro de mim, posso senti-la, e ela só sairá com tua presença, preciso que ajude-me. Me perdoe.

Os olhos dele estavam marejados e Nicholas apertava fortemente os lábios.

– Posso te perdoar por me ter enganado. – ele engoliu a saliva - Por ter roubado Os Corações de Minero. Por ter infiltrado todas tuas companheiras. Por as ter manipulado. Por me ter feito apaixonar-me por ti. E inclusive por enganar a meus Irmãos. Posso. Certamente. O que não posso e não quero perdoar é que tenhas feito tudo isso com uma evidente desumanidade, uma frieza abominável. – as lágrimas agora jorravam ininterruptas do semblante do Rei. – De que me tenhas enganado sem sentir um remorso sequer! De ter roubado aos Corações com táticas de baixo escalão! De ter enganado seus iguais com a mesma facilidade que enganas a um inábil! – as paredes quase estremeciam diante de sua cólera - De ter manipulado desnecessariamente tuas companheiras para uma satisfação particular! Por ter debochado do meu amor, minha afeição por ti. Por ter magoado a meus Irmãos a usar o que eles mais idolatram contra si próprios! E, principalmente, não posso perdoar a mim por te ter deixado passar por aqueles portões. – suas lágrimas não secaram – Por amar quem me faz tão doente.

Charlotte baixou os olhos diante de sua ira.

– Há respostas plausíveis para o que fiz.

Ele riu sem humor.

– É óbvio que há, nunca estás incorreta Charlotte. O que diz-me sobre me ter enganado?

– Inegável consequência.

– Roubado os Corações?

– O medo é uma arma interessante.

– Infiltrado tuas amigas?

– Desejavam tanto quando a mim. – ela nem hesitava nas respostas.

– As ter manipulado?

– Precisava ter o controle da situação.

– Me ter feito apaixonar por ti?

– Precisava de tua confiança.

– E quanto aos meus Irmãos?

– Um mal necessário.

– És tão fria, Charlotte. Não são respostas plausíveis, são repulsivas.

– E o que pretendes fazer quando eu me for? Achará outra que me substitua?

Ele riu sem humor.

– Achas que consigo, Charlotte? – Nicholas pôs uma mecha de cabelo da amada para trás da orelha, a acariciar a amura. - Realmente achas isso?

– O que farás?

– A morte me parece inegavelmente tão estonteante quanto a ti.

Os olhos dela brilharam.

– Não farás isso, Nicholas. Teus Irmãos nunca o deixarão. – disse alarmada com a imagem que lhe veio à mente.

– Pensei nisso. – ele fitou o vazio. - Talvez mate a Madeleine e a Jannet. Duvido que Nikolai e Laurent hesitarão.

– A Madeleine não, suplico-te. – disso subitamente desesperada.

– Porque a súbita preferência por ela? Consciência pesada, querida?

– Ela é minha irmã. – murmurou lentamente como se fosse um pecado.

Nicholas surpreendeu-se, mas logo recompôs-se.

– Talvez poupe a ela.

Charlotte assentiu.

O silencio pairava no quarto, tantas coisas para serem ditas, entretanto o medo as sufocara.

Por fim, Nicholas se impôs.

– Creio que deves preparar seu carro de viajem.

– Posso melhorar. – Charlotte sussurrou tão baixo quão intensamente o bater de asas de uma mariposa.

– Perdão?

– Apenas... – ela parecia indecisa sobre as palavras. – Me ajude. Posso me reparar. Me ajude com minhas falhas, minhas escolhas egoístas. Meus atos vândalos. Meus pensamentos egocêntricos. Por favor.

– Eu não penso que possa...

– Não pense. Me ajude.

– Eu...

Sua boca foi coberta pela dela, surrealmente doce. Os lábios macios e mornos faziam um belo estrago em seu raciocínio. Nicholas afagou seu cabelo com uma mão e com a outra as suas têmporas, aproximou mais os lábios dos dela como se a qualquer momento fossem quebrar-se e os tocou intensamente, numa dança sensual ela pôs as mãos sobre o peitoral do amado.

Nicholas jogou pela janela qualquer pensamento coerente e concentrou-se em Charlotte e no que ela fazia com as incríveis mãos, que desabotoavam sua camisa e a deslizava pelos seus trabalhados braços. Ele a levou a cama, afinal, estaria apenas a adiar o inevitável. Jogou-a e num instante estavam praticamente despidos.

– Estás a fazer de novo. – ela sussurrou enquanto arranhava suas costas nuas.

– O que? – ele mal conseguiu perguntar, o prazer o abarrotava e fazia tanto tempo que ele não a tinha. Não era como se ele a quisesse, Nicholas a carecia.

A me despir. Estás a remover cada barreira que há entre nós, a me tornar facilmente manipulável. Debilitada.

Subitamente ele parou de beijá-la, levantou os olhos e a fitou.

– Realmente se sentes assim? – Nicholas levantou-se um pouco e pôde ver o rosto ruborizado da amada – Estes são teus verdadeiros sentimentos? Abro-te?

– Sabes, Nicholas, falas de um modo tão cruel de mim...

– Temo que foi a convivência.

–... que mal sabes que foram raras as vezes que te menti.

Ele a olhou desconfiado.

– Para sempre minha?

– Para sempre tua. – ela respondeu.

Ambos sabiam que era uma calúnia, ambos mentiram descaradamente, ambos negligenciaram um futuro certamente incorreto. Quem se importava? Pela primeira vez em décadas juntos desconsideraram a inteligência, a ignorá-la. A sensação era maravilhosa.


... Porque o amor deles estava em sua pior forma. Doentio. Um amor responsável que se preocupava com o amanhã, com o depois. Era o amor deveras maduro, em sua forma mais hesitante e pensável. Sagaz. Coerente. Despido de qualquer falha ou deslize. Era horrível, usava a lógica pensando na consequência e depois no ato...
Em sua forma mais confeccionista, sem erros. Era a voz do conhecimento...


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Notas finais do capítulo

E assim termina. Obrigada por lerem!



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