Chamamento De Sangue escrita por Melanie Blair


Capítulo 13
XIII


Notas iniciais do capítulo

Sentiram a minha falta? Já passou quase um més, né? Desculpem, desculpem. Aqui vai.
P.S. A partir de hoje postarei uma música de capítulo, aquela que eu ouvi para me inspirar a escrever cada capítulo.
Música do capítulo: http://www.youtube.com/watch?v=KmL-J1IghZM



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– Ayame!- chamou uma voz.- Ayame!?

Acordei do meu sonambulismo e fitei Yori que me olhava, preocupada.

– Chamaste-me?- perguntei-lhe.

– Achas que isso é uma pergunta que se faça?- gritou ela.- Já te chamei cerca de quinze vezes!

Colocou-me a língua de fora e eu respondi-lhe com um sorriso, um sorriso manchado pela ausência do desejo, do querer, de facto, sorrir.

– Desculpa, não tinha ouvido!

Ela sentou-se ao meu lado, fitou seriamente, por momentos, a minha face e perguntou-me:

– O que se passa?

– Nada. Porquê?

– Estás há meia hora para acabares de comer um iogurte!- sorriu-me. Olhei para a colheu que tinha na mão e o meio iogurte de coco que ainda ali estava.- No que estás a pensar?

A rapidez de pensamento de Yori surpreendeu-me. Porém, algo como a verdade não poderia ser contada. Pelo menos, não a alguém tão sensível como eu.

– No teste de Biologia de amanhã.- disse, simplesmente.

Ela sorriu.

– Estás a gozar comigo?- gargalhou.- Mas a matéria de biomoléculas é tão fácil.

Enquanto me relatava toda a matéria que ela tinha passado a noite a decorar (enquanto eu ressonava profundamente), finalizei o meu pequeno (mínimo até) pequeno-almoço e encaminhámo-nos para os corredores.

– Os monómeros são missangas e os polímeros pulseiras formadas pelos monómeros…- continuava ela.

Interrompi-a.

– O Zero veio ontem às aulas?- perguntei-lhe.

– Não.- suspirou ela.

Já tinha passado uma semana desde que me tinham contado a verdade da minha existência. Desde esse momento, não tinha voltado a ver Zero. Ele não tentara encontrar-me e, quanto a mim, desde que ele tinha retirado a mão do meu ombro, com um ar de enjoado… eu tinha-me sentido relutante. Talvez, por isso não o tenha procurado. Como o meu pai (adoptivo) costuma dizer: “Os rapazes, os que têm p***, que dêem o primeiro passo!”.

A aula de biologia começou, sem ele por perto. E, como não havia dúvidas para o teste que viria, a professora resolveu fazermos uma dissecação a uma rã. Senti-me empolgada, sempre adorara matar bichinhos. O que não contava era com o tamanho da rã. “Afinal isto não é um bichinho normal”, pensei. O anfíbio era do tamanho das minhas duas mãos juntas.

O meu grupo foi o primeiro a começar (eu tenho a porra de um azar). Prenderam a rã com fita-cola e o professor passou-me o bisturi, esperando que eu desse a primeira facada ao pobre ser vivo.

Eu, com o pressentimento que a rã iria conseguir, de certa maneira, “rasgar” aquela prisão e atacar-me, passei o bisturi ao meu colega do lado. Ele, com as mãos a tremer, abriu o pobre anfíbio ao meio. Dali, líquidos acastanhados e esverdeados em maior quantidade que a pretendida, sairam.

O professor pegou no fígado (ou o raio que aquilo era) e exclamou:

– Oh, venham cá ver! Estão aqui insectos a decompor-se!

Enjoei de tal maneira que pedi licença e sai do laboratório, encaminhando-me para os jardins. Durante o caminho, tentei tirar a ideia da decomposição e da possibilidade da rã se tornar num zombie, matando toda a gente que tinha pegado no bisturi.

Deitei-me na sombra de uma árvore e concentrei-me a ouvir os pássaros, que longe cantavam uma alegre melodia. Suspirei. Como era bom baldar-me de vez em quando.

De repente, a melodia das aves foi interrompida pelo relincho de cavalos. Atraída pela violência do som, dirigi-me aos estábulos da academia.

Espreitei pelo portão entreaberto. Um cavalo castanho com cauda preta saltava de um lado para o outro dentro da sua cela. Virou-se e tentou partir a pequena porta que separava o compartimento onde ele estava do restante estábulo. Parecia assustado.

Abri o portão o suficiente para eu entrar. Fui buscar um pente e um pouco de feno. Sem entrar, um pouco receosa, ofereci-lhe um pouco de feno. O cavalo acalmou-se e comeu o que se encontrava na minha mão. Dei-lhe um pouco mais e entrei devagar na sua cela. Ele ao ver-me entrar em território alheio, começou a exaltar-se.

– Shhhhh!- murmurei, tentando acalmá-lo.

Ao vê-lo habituando-se à minha presença, dei-lhe mais feno como recompensa. Peguei na escova e comecei a escovar o pêlo bonito que se estendia por todo o seu corpo. Ele, em resposta, acalmou-se totalmente.

– Lindo menino,…- olhei para a porta que tinha o nome dele.-…Shadow.

Ao ouvir o seu nome, Shadow relinchou baixinho. Parecia satisfeito. Continuei a escová-lo, até perceber que a aula de biologia já teria acabado e que a seguir viria… suspirei. Matemática para me alegrar o dia. Ao pensar na professora de matemática (que já deveria estar reformada) murmurei para Shadow.

– Bem, perder mais uma aula não me parece má ideia.

Ele olhou-me como se me repreendesse. Fiz má cara.

– Ok, ok. Ainda consegues ser pior que o meu pai.- ri-me.

Ao sair da sua cancela, Shadow olhou para o seu lado esquerdo, para uma cela vazia. Curiosa, dirigi-me a esta e abri a pequena porta, encontrando um homem a ressonar baixinho.

Cheguei-me ao pé dele, agachei-me, e toquei levemente o seu ombro.

– Zero!- chamei-o.

Sem resposta. Voltei a tocá-lo e desta vez movi um pouco o seu ombro.

– Zero!- chamei-o novamente. Ele, por sua vez, murmurou um “Mais cinco minutos” e virou-se para o outro lado.

Olhei para toda a extensão da cela. Ainda bem que ela estava impecavelmente limpa. Gostava de ver a reacção dele, se acordasse cheio de excremento de cavalo.

O relógio na parede do estábulo anunciou serem três e meia- a aula ia começar. Apressei-me.

– Acorda!- gritei-lhe, pontapeando o seu joelho esquerdo.

Ele, de rompante, abriu os olhos, colocou as mãos à volta do pobre joelho e queixou-se:

– AUCH, AUCH, AUCH!

Fitou-me e ao reconhecer-me a sua expressão de dor desapareceu. Uma expressão de admiração, saudade e talvez algum medo tomou conta da sua face. Milésimo de segundo depois, essa também desaparece, dando lugar a uma expressão impassível, sem qualquer emoção ou sentimento evidente.

– O que fazes aqui?- perguntou-me, olhando para o chão.

“O que fazia eu aqui?”. Que questão rude. Porque não poderia ele apenas exclamar “Oi, há uma semana que não nos vemos”, ou algo do género?

– A aula vai começar.- respondi-lhe, sem relatar metade da verdade.

Ele voltou a deitar-se e disse-me:

– Eu não vou.

– Porque não?- perguntei-lhe. Ele não me respondeu, estava a fazer-se de difícil o infantil!

Conseguia ouvir o meu pai a gritar-me “Ayame, os rapazes devem dar o primeiro passo porque têm p***. Porém, quando ainda são demasiado imaturos, as meninas têm de ser fortes, agir como se tivessem uma e darem elas o primeiro passo. Por vezes, as meninas têm de se comportar como homens.” Pai, vou agora mesmo fazer isso!

Se Zero queria ser infantil, então eu iria ser o dobro dele. Agarrei-lhe num braço e puxei-o até ao porão do estábulo.

– O que pensas que estás a fazer?- perguntou-me, enquanto ainda era arrastado pelo chão.

– Eu sei que matemática é uma seca mas já andas a faltar demasiado tempo.- suspirei.-Se eu tenho que aturar a bruxa da professora, tu também a tens de aturar!

Ele surpreendeu-se e sacudiu a minha mão, fazendo-me cair de cu no chão. Shadow, que via o espectáculo todo, exaltou-se parecendo que se ria de mim.

– Auch, isso não se faz!- exclamei.

Zero levantou-se do chão e voltou para a cela.

– Vai-te embora. Não há nada aqui para tu fazeres aqui.

Levantei-me do chão e voltei para a cela. Sentei-me perto do local onde ele estava deitado.

– Só me vou embora quando tu vieres comigo!- informei-lhe.

Ele suspirou.

– Idiota como sempre!- exclamou.

Tempo passou, e continuou, lentamente a passar, enquanto nenhum de nós murmurou uma palavra. O relógio anunciou quatro horas da tarde. Expirei auditivamente.

– Vai-te embora.- repetiu ele.

– Não.- disse eu.

– Sim.- replicou ele.

– Não.- repeti.

– Sim.

“Que conversa de doidos”, pensei.

– Porque queres que eu me vá embora?- gritei-lhe.

– Quero dormir!- gritou-me ele de volta. Senti, mais do que ouvi, uma nota aguda naquela fala. Ele estava a mentir-me.

– A verdade!- ordenei-lhe, gritando ainda mais alto.

Ele levantou-se, fitou-me e gritou-me como resposta.

– Porque não quero estar contigo!

Demorei um pouco a perceber o que ele tinha dito. Depois disso, uma dor atingiu o meu interior, mais forte até que a dor que ainda me afectava o rabo.

– Porquê?- murmurei, triste.

Ele voltou a deitar-se, ignorando-me. A resposta à minha própria pergunta veio à minha mente rapidamente.

– Eu não tenho culpa.- voltei a murmurar.

Zero não me queria falar por causa da minha família ser… bem como vocês já sabem que ela é (ou melhor dizendo, como a minha família foi)…

– Não me interessa que a culpa não seja tua.- respondeu.

– Então porquê…?

Levantou-se de novo, desatou a gravata que fazia parte do uniforme e atirou-a para um canto da cela. Senti a minha face a ficar quente. Cenários um pouco obscenos passaram pelo meu cérebro.

– O que estás a …?

Ele interrompeu-me, ao agarrar o colarinho da camisa branca e puxando-o para baixo, mostrando o pescoço e parte do peito musculado. Mas não era aquilo que ele me quera mostrar. Uma marca percorria todo o pescoço. Uma marca preto como se fosse um desenho.

Depois retirou uma arma das calças e mostrou-ma. O desenho na pistola era igual à que estava no seu pescoço.

– Esta é a Bloody Rose. Uma arma anti-vampiros e esta marca que aqui vês, tal como no meu pescoço, é a marca da mordedura de um vampiro.

– Uma mordedora?- perguntei. Nos filmes de terror, a única coisa que ficava num ser mordido por um vampiro eram dois pontos, como se tivesse sido picado por mosquitos, ou algo do género.

Ele deu-me um sorriso falso e como se lesse o meu pensamento, disse-me.

– Ficam assim se formos mordidos por um puro-sangue, as mordidas dos outros vampiros são iguais àquelas que vês nos filmes.

Suspirou.

– O que tenho eu a ver com isso?- perguntei-lhe.

– Foi a tua família que me fez isto.- confessou-me.

– O quê?- engasguei-me.

Ele, ao perceber o que eu tinha percebido, reformulou a frase.

– Pelo menos foi a gente parecida com a tua família que me fez isto.

Percebi o que ele estava a dizer. Ele estava a referir-se ao facto do meu pai, e talvez o meu irmão, ser puro-sangue…tal como quem o mordeu.

– Não podes pintar tudo com a mesma cor.- murmurei.

Ele não percebeu. Tentei explicar-me.

– Não podes pensar que só porque alguém te fez isso, que todos os vampiros puro-sangue são maus. Olha por exemplo para Kaname..

– Tu não conheces Kuran Kaname.- interrompeu-me.

– Sim, tens razão.- declarei.- Mas também tens de perceber que eu posso ter razão.

Ele voltou a fitar-me, procurando mais informações. Utilizei o meu pouco conhecimento de história.

– Nos humanos é igual. Há pessoas como Hitler, capazes de matar toda a gente por futilidade, e há pessoas como Madre Teresa de Calcutá que anseiam em ajudar as pessoas. Não é tudo escuro no nosso mundo.

Ele reprimiu, com algum custo, uma gargalhada.

– Não é assim tão simples.

Aquela conversa começava a enervar-me.

– Não te faças da vítima aqui.

Zero olhou-me confuso.

– Como?- perguntou-me.

–Tu estás aqui a falar destas coisas como se conhecesses tudo e a todos. Estás aqui como se fosses o único a sofrer com tudo isto. Como se fosses um bebe abandonado, que dá pena a toda a gente. Eu sou a verdadeira vítima aqui.

Surpreendido, Zero olhou para o chão.

– Tu não percebes…

Interrompi-o.

– Eu não percebo nada porque tu não me contas nada. Quero saber mais sobre ti, sobre a tua história, sobre a razão de seres tão fechado para as pessoas em ter redor…Mas tu não me deixas!

Envergonhada com aquilo que estava a dizer, percebi que ele também estava a ficar embaraçado com o que estava a ouvir.

– Tu soubeste quem eu sou e desapareceste.- confessei o quão triste eu estava.- Precisava de alguém que me ajudasse a sentir-me melhor com tudo o que se está a passar, mas tu não estavas lá para o fazer. Tu apenas, retiraste a tua mão do meu ombro com nojo, como se eu fosse algum tipo de aberração.

Comecei a chorar.

– Eu estive sempre do teu lado mas tu abandonaste-me! Achas que eu gosto de ser filha de vampiros?

Apanhei lágrimas que me corriam na face com a manga da minha camisola.

– Eu sou a vítima de tudo isto. Não tu!

Zero, ao ver-me daquela maneira, abraçou-me.

– Lamento muito, Ayame. Agi como um bebe chorão.- ouvi a minha gargalhada.

– Pois agiste.- concordei.

Ele largou-me.

– Então…- começou ele.- Hitler e Madre Teresa, ah? Grande combinação! Davas cá uma casamenteira!

Demos, os dois, gargalhadas até, por fim, percebermos que a aula de matemática iria terminar em cinco minutos.

– Estamos fritos!- confessei.

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Notas finais do capítulo

Já viram as músicas que eu coloquei nas notas da história? Gosto tanto das duas que não me consigo decidir. AJUDEM-ME POR FAVOR.
Como prometido, agora que estou de férias, postarei mais frequentemente os capítulos, talvez na segunda já venha um novinho em folha.
P.S.S ALGUEM GOSTA DE ROMANCE? SE GOSTAM, OU TÊM UM AMIGO QUE GOSTA, PODEM LER/RECOMENDAR A ESSE AMIGO A MINHA FIC "O MAPA COR-DE-ROSA"? É que eu tenho poucos reviews e, como devem saber, sem reviews é dificil arranjar-se inspiração para se escrever. Ajudem-me por favor. Ah, já me ia esquecendo "O Mapa Cor-de-Rosa" nao tem sobrenatural.