O Último Pendragon escrita por JojoKaestle


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Escrevi esse capítulo de madrugada, porque sabia que teria um domingo ocupado. Espero que esteja razoável, porque tudo parece muito lindo e maravilhoso depois das quatro da manhã. Beijos beijos e boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/310480/chapter/6

Felix cheirava a uma mistura de perfume amadeirado, couro e cigarro. O couro vinha de sua jaqueta escura, que gostava de usar porque o deixava parecido com um daqueles grandes ícones do rock dos anos setenta. A confusão de essências costumava me tirar do sério, ele sorria e tirava as mechas escuras da frente de seus olhos e conseguia qualquer coisa de mim. Ou quase tudo. A verdade era que com seu jeito despreocupado, quase leviano, de levar a vida me enlaçara assim que nossos olhares se trocaram naquela festa e era um laço que eu esperava tornar cada vez mais forte, sem pressa, sem cobranças. Sua presença me inebriava e afastá-lo era algo que demandava mais força que imaginava.

Mas no fim consegui.

- Hey – sorri, empurrando-o para trás – Tive um pequeno acidente com meu celular hoje cedo, acho vou ter que arranjar um novo.

Felix passou as mãos pelos cabelos como costumava fazer quando estava ansioso.

- Ainda bem, achei que fosse algo sério. – ele olhou por cima do meu ombro e sua expressão mudou – Olá Morgan. – cumprimentou em um tom menos melodioso.

- Felix. – meu irmão vinha andando do começo do corredor. Pelo sua voz e semblante estava claro que ainda não o perdoara pelo que quer que tenha acontecido na Pollux – Passou para dar um oi?

- Na verdade – Felix empurrou as mãos para dentro dos bolsos de sua jeans gasta e me olhou de soslaio – Eu estava imaginando se Avina não aceitaria jantar comigo.

- Bem. – Morgan nos alcançara e pousara uma mão ao redor do meu ombro – Na verdade, ela já tem planos para hoje.

Foi só então que parecia se dar conta da minha tentativa de parecer mais apresentável. Analisou minhas roupas de cima a baixo e franziu o cenho.

- Vai sair? - veio a pergunta e notei a exigência por trás dela.

Notei e não gostei nem um pouco.

- O que eu faço ou deixo de fazer não é da sua conta. – retruquei, me afastando para o lado de Morgan – Por que não me contou sobre a apresentação na Pollux? Desde que o conheci você falava que um dia tocaria lá e quando aconteceu nem ao menos me avisou.

O rapaz me encarou, vendo que sua noite seria um tanto diferente do que planejara.

- O que – começou e decidiu falar algo diferente – Foi uma apresentação relâmpago Avina. Nós substituímos outra banda, o vocalista teve um acidente!

- Mas ainda assim não ligou.

- Não liguei porque estava a tarde inteira correndo atrás dos equipamentos. Você sabe que tudo precisava estar perfeito! E no fim tudo ficou perfeito. – me olhou com aqueles olhos cinzentos e segurou as minhas mãos – Quase perfeito.

- Ora vamos Felix. – comentou Morgan em tom amistoso. Mas até Felix percebeu o veneno por trás das palavras – Flores, algumas palavras batidas. Você sabe que precisa fazer mais que isso.

- Preciso? - Felix estava começando a se irritar. E quando se irritava as coisas costumavam sair do controle – A única coisa que preciso é falar a sós com sua irmã.

- Morgan, você sabe que posso me virar sozinha muito bem.

Meu irmão puxou o seu braço de volta. Percebi como a minha reação o frustrava. De alguma forma havia decidido que Gwynn era o cara perfeito para mim e não parecia aberto a sugestões de qualquer pessoa, nem às minhas.  Não percebia que assim também me sufocava, apesar de ter uma boa intenção. E eu poderia lidar com Felix sozinha, precisava de um tempo com ele para decidir o que faria a seguir de uma vez por todas.

- Não se atrase. – Morgan se despediu sem olhar para Felix uma segunda vez – Gwynn não deve demorar muito mais.

Quando fechou a porta de casa a luz do corredor desapareceu, nos mergulhando na penumbra das luzes da varanda e jardim. Ele me convidou para uma caminhada e aceitei, mas puxei a minha mão para o lado quando quis segurá-la. Havíamos quase atingido a esquina quando ele finalmente quebrou o silêncio.

- Quem é Gwynn? - a pergunta fora feita como se não fosse importante, nem sequer me olhava quando a fizera. E ainda assim senti a tensão em seus músculos.

Dei mais alguns passos antes de responder.

- Apenas um garoto.

- Apenas um garoto?

- Um rapaz.

- Ah. – o “ah” parecia sinalizar que finalmente havia conseguido a resposta que queria. Enfiou as mãos dentro de sua jaqueta e me olhou – Isso não é sobre o negócio com a Pollux, é?

- Não Felix. – suspirei, sentindo falta de um moletom para esconder as mãos – Não é.

- Eu entendo que nem sempre fui o que você precisava que eu fosse. Percebi que talvez queria tornar as coisas mais oficiais e não vou mentir para você, aquilo me assustou. Mas não tanto quanto ouvir de Paul que você havia passado em casa e depois sumira.

- Eu não sumi. – respondi, chutando uma pedrinha para longe do caminho – Meu celular quebrou.

- Meu celular quebrou, você não ligou para mim, você não estava lá quando precisei. Você não quer as mesmas coisas que eu. – enumerou levantando um dedo para cada citação – Por que não foi direta comigo desde o início?

- Não havia nada para ser direta Felix! Eu nunca quis mais do que você estava disposto a dar. De você já não posso dizer a mesma coisa.

- Você disse que tínhamos resolvido esse assunto. Já pedi desculpas Avina. – a forma como parecia zangado sobre algo que claramente havia me feito sentir mal me tirou do sério.

- Adivinha: pedir desculpas e a outra pessoa aceitá-las não apaga as coisas que foram feitas. – ou o que no nosso caso, não haviam sido feitas. Ainda lembro-me da primeira vez em que Felix me convidara ao seu apartamento. Ignorei o aviso de Dianne, confiando que talvez a única coisa que queria dizer por jantar romântico era um jantar romântico. Terminou conosco enroscados no sofá enquanto uma música do Joy Division embalava o nosso divertimento. Havia sido divertido até Felix ter tentado puxar as minhas calças para baixo e aquele movimento que parecia tão natural, tão corriqueiro para ele e havia me feito travar totalmente. Eu não estava pronta. Eu não queria. Ele precisou que o repetisse algumas vezes para que entendesse. Afastara-se com uma expressão de quem tivera a noite arruinada e quando deixei o banheiro depois que chorara todas as lágrimas que simplesmente brotaram do meu interior parecia ainda pior. Abraçara-me e dissera que estava tudo bem, mas não conseguiu me desprender da ideia de que tudo estava bem apesar de eu ter estragado tudo. O perdoara porque parecia a coisa certa a se fazer na hora. Agora já não tinha tanta certeza.

- Havíamos combinado que isso tinha sido resolvido. – ele insistiu.

Suspirei, imaginando se tudo aquilo não era uma completa perda de tempo. Estava colocando energias em um relacionamento que sequer existia e que talvez não o fosse por um motivo.

- O que você realmente quer Felix? Porque tudo o que falou até agora faz parecer que o estou sufocando.

Felix me parou com a mão e me abraçou. Minha cabeça estava na altura de seu peito e consegui ouvir seu coração pulsando através da camiseta e da jaqueta aberta. E fui lembrada que deixá-lo ir não seria assim tão fácil.

- Eu quero você Avina. Quero que seja minha namorada, quero te fazer feliz e te deixar me fazer feliz. – uma risada entoou do fundo de sua garganta – Mas prometo que isso não vai ser nem um pouco difícil.

Apoiei as mãos sobre seu peito e tentei encará-lo da melhor forma que podia. Carros passavam jogando seus faróis sobre os muros das casas e iluminavam o rosto bonito de Felix. Entre os feixes de luz vi que estava com medo do que poderia dizer. Mas teria que fazê-lo de qualquer maneira. O devia para mim mesma e o devia a ele também, de certa forma.

- Não acho que funcionaria. – consegui dizer finalmente.

Felix quebrou o contato visual e me soltou. Ficou em silêncio por um longo tempo. O barulho do trânsito era a única coisa que preenchia os meus ouvidos.

- Por que? - quis saber – É por causa desse Gwynn?

 - Não. Ele nem ao menos é meu amigo. – e o falei com tanta sinceridade que ele não teve espaço para duvidar – E mesmo se fosse um amigo, Felix, não seria por ele. É por mim. Você não conseguiria me fazer feliz e eu em troca, também não conseguiria ser o que você precisa.

Felix não respondeu. Apenas levou a mão rapidamente ao olho esquerdo, como se removesse um cisco insistente. O tomei por aquilo porque não queria tornar as coisas ainda mais difíceis.

- Mas foi bom. Não foi? - ele se segurou aos momentos que havíamos passado juntos.

Sorri, segurando as suas mãos por um segundo e apertando-as.

- Foi. E agora coisas ainda melhores vão acontecer. – e era o que eu esperava. Esperava que as aventuras com Merlin não me levassem a alguma morte prematura e dolorosa e que ele conseguisse todas as apresentações que almejava – Sei que a banda ainda vai fazer muito sucesso, eu troço por você.

Felix se inclinou rápido como um raio e pousou seus lábios sobre minha bochecha.

- E eu amo você. – disse e se virou em direção ao caminho de volta.

O observei se afastar com um misto de tristeza e alívio. E um tantinho surpresa. Não imaginava que poderia ser assim tão importante para ele, mas sabia que insistir em algo que não era recíproco não seria justo com Felix. E acima de tudo, não seria justo comigo. Esperei alguns minutos para ter certeza de que atingira seu carro antes que eu chegasse em casa. No fim foi algo que deu certo, porque não fui atacada por nenhum monstro sobrenatural enquanto o fazia.

--x—

- Gwynn não vem. – me cumprimentou Morgan quando o achei lendo um livro no sofá da sala de estar.

- Uma pena. – devolvi ao notar a frieza em sua voz – Ele já fez isso antes?

- Nunca. – abaixou o exemplar e me encarou com olhos estreitados – O que você fez com aquele Felix?

- Lhe expliquei que no momento só tenho espaço para um rapaz bonito em minha vida.

Morgan jogou o livro na poltrona.

- Espero que tenha acrescentado que seu nome é Morgan? - bateu no espaço ao seu lado, me convidando para sentar – Venha aqui, vamos nos aconchegar a observar o fogo na lareira enquanto refletimos sobre a idiotice masculina. Já avisei a Jodie que jantaríamos o que quer que ela faça. Ao menos alguém saiu feliz nessa história toda.

Quando estava aninhada debaixo de seu braço fiz a pergunta que tinha me fechado a garganta ao entrar.

- Você acha que pode ter visto algo de Felix? - quis saber.

Morgan pensou um pouco.

- Duvido muito. Ele disse que tinha surgido um imprevisto com a família. Deve ter sido algo com a mãe, que vive doente. Gwynn muitas vezes tem que cuidar dos irmãos quando ela tem que ir para o hospital. – perdeu o olhar na lareira que crepitava alegremente no lado oposto da sala – Às vezes tento imaginar como consegue fazer tantas coisas ao mesmo tempo. São tantos trabalhos de meio expediente que mais parecem empregos de um décimo de expediente.

- Não sabia que tinha a vida tão difícil. – comentei.

- Nunca o ouvi reclamar uma só vez.

Mesmo sabendo que deve ter se tratado de uma emergência, ou justamente por isso pedi a Morgan que me desse o número de Gwynn. Assim que arranchasse um celular novo lhe mandaria uma mensagem perguntando se tudo estava bem, talvez comentasse algo sobre como estava ansiosa para quando desse certo. Uma parte de mim imaginava se todo aquele episódio não era um tipo de aviso agourento. Primeiro a visita totalmente fora do normal de Felix, depois o imprevisto de Gwynn. Afinal, nem conhecia Gwynn de verdade. Precisava saber mais sobre como ele era, quem ele era além dos olhos chocolate e cachos castanhos. E no momento precisava me concentrar no passeio noturno com Merlin.

Estava sentada sobre minha cama tentando imaginar qual seria o estilo de música que Gwynn mais gostava quando ouvi a primeira pedra batendo contra a janela. Levantei de sobressalto, fechando minha mão sobre a mochila que havia arrumado depois do jantar. Minha mãe não aparecera, o que me tinha dado tempo suficiente para empurrar todas as coisas que achava que poderiam ser úteis em seu interior.

- Pssst. – veio a voz de Merlin quando icei a janela para cima. Estava de pé em nosso quintal e parecia pronto para jogar a próxima pedra que provavelmente acertaria o meu rosto.

- Eu estou aqui. – sibilei, fazendo-o devolver a pedra ao cascalho.

Imaginei ter visto frustração em seu semblante quando desci a grande árvore cujos galhos fortes davam em minha janela. Aquela havia sido minha rota escapatória inúmeras vezes, quando queria encontrar Dianne ou Felix no meio da noite ou quando minha mãe me proibia de sair de casa quando era menor.

- Ainda bem que vocês não têm cachorros. – ele murmurou quando pousei ao seu lado – Tive alguns... Problemas com os do vizinho.

- Por que não veio pelo portão principal? Eu desliguei os alarmes.

- Bom. – ele disse exasperado enquanto o guiava para fora do jardim – Deveria ter ao menos avisado. Eles quase abocanharam o pequeno Billy.

- Pequeno Billy? - perguntei, incerta se queria mesmo saber.

Merlin balançou o seu rabo de esquilo que trazia preso ao cinto.

- Esse é o pequeno Billy – explicou orgulhoso – Foi um bom amigo enquanto vivia e me pareceu rude simplesmente deixá-lo para trás.

- Você deve estar certo. – cochichei, feliz por termos alcançado a rua. Agora apenas corríamos o risco de sermos assaltados ou parados pela polícia porque não fazíamos uma dupla lá muito convencional nem que se espera encontrar perambulando pelas ruas de Londres depois de meia-noite.

Felizmente Merlin não estava muito a fim de conversar e a caminhada até o parque se deu sem maiores interrupções. Ainda estava chateada pela situação com Felix e triste pelo jantar com Gwynn não ter dado certo e algo me dizia que feiticeiros imortais teriam pouco tato com situações assim.

- Vamos ter que pular a cerca. – anunciei quando alcançamos a entrada do parque.

- Por quê?!

- Porque – indiquei o portão, cujas portas de ferro estavam lacradas com um cadeado – Está trancado. Eu sei um lugar em que é mais fácil.

- Nem quero saber qual a fonte desse conhecimento. – ele murmurou, mas me seguiu até que alcançássemos um lugar pouco iluminado. Os postes de luz mais próximos ficavam a metros de distância e tínhamos a vantagem de um baixo muro de pedra que dava sustentação e talvez mais um metro de metal.

- Certo, te dou um calço. – me ofereci, entrando em posição.

Merlin me encarou como se tivesse decidido imitar a Pietá de Michelangelo com minha mochila servindo como Jesus.

- O que?

- Eu estou te dando um calço. Para te ajudar a subir. Ou você tem magia o suficiente para nos teletransportar para o outro lado?

- Não sei o que teletransportar significa. – Merlin reclamou, apoiando a bota suja em minhas mãos entrelaçadas. Tive a sensação de que estivesse usando-as para limpar seu calçado – Mas com certeza deve ser mais uma dessas asneiras modernas.

- Suponho que sim. – murmurei e depois de cansar dele mudando de posição, puxando aqui e ali para não ir a lugar nenhum dei um pequeno impulso o que o ajudou a chegar ao outro lado. Para minha infelicidade isso significou também que o fizesse caindo como um saco de batatas.

- Ora, como ousa. – começou, massageando o traseiro – Eu sou um ancião!

- Sim, sim. – repeti enquanto me içava por cima das grades – Desculpe se isso está difícil de acreditar ultimamente. Você é bem forte para um ser tão frágil.

Aquilo pareceu animá-lo. Quando saltei ao seu lado estava com as mãos na cintura, respirando o ar da madrugada como se fosse a melhor coisa que já havia entrado seus pulmões.

- Agora me mostre onde esse grifo surgiu.

O guiei através da escuridão e uma vez dentro da pequena floresta me permiti ligar a lanterna que guardara na mochila. Sabia que o parque havia parado de ser vigiado há meses, quando a atenção passou a ser voltada para os parques onde as vítimas de desaparecimento haviam sumido. Ainda assim tive medo de que tinham ordenado um guarda ao lugar, apenas para garantir que as estátuas não fossem alvo de pichadores ou que adolescentes bêbados invadissem o gramado para uma rave improvisada. Merlin me seguia, fazendo tão pouco barulho que me dava medo porque fazia parecer que estava andando sozinha em meio a um parque adormecido onde poderia a qualquer momento tropeçar em um grifo de bronze assassino. Mas se o grifo ainda tinha algum plano em mente para mim, resolveu que não aconteceria naquela noite.

- Ali. – apontei o lugar no campo onde o havia visto pela primeira vez.

Merlin andou até o lugar iluminado pela lanterna e deu pequenos círculos ao redor. Depois parou, arrancou um pedaço da grama e pôs na boca. Mastigou um pouco e depois cuspiu.

- Interessante. – disse e se tinha qualquer informação a mais a guardou para si – Agora para os arcos onde ele teve que interromper a perseguição.

- Você manda. – suspirei, sentindo o cansaço alcançar o meu corpo. Aquele passeio estava indo bem melhor que o esperado, o que eu não achava ruim de maneira alguma, mas também significava que eu estava ficando cada vez menos alerta e consequentemente cada vez com mais sono.

Quando os arcos se ergueram à nossa frente Merlin deu um pequeno arquejo e correu em sua direção.

- Pedimos que fiquem atrás do guia durante todo o percurso. – murmurei em tom monótono e o segui.

Merlin estava encarando os dragões entalhados no arco. Estavam meio escondidos por musgos e heras que cobriam a pedra em vários lugares. Quando o atingi arrancou a lanterna das minhas mãos e apontou o feixe de luz para o alto, iluminando as feições das criaturas de pedra. Começou a murmurar coisas como sempre fazia em suas anotações mentais e nada parecia fazer qualquer sentido para mim. Quando estava pronto se virou.

- Seu traje é impróprio para uma situação como essa. – foi a primeira coisa que falou.

Encarei em meu conjunto de moletom.

- O que?

- Esses dragões. Não são dragões comuns. – explicou o velho, apontando as presas de pedras de um deles – São dragões Pendragon.

- Pendragon? - repeti – Não sabia que tínhamos dragões na família.

- Muito engraçado. – Merlin fez uma careta para mim – Ainda sinto a magia nessas criaturas fantásticas... Quem as entalhou na pedra bruta com certeza sabia o que estava fazendo. Também salvou sua vida. Se estiver certo qualquer outra pessoa não teria sido protegida por eles e o grifo teria encontrado o seu alvo.

Um calafrio percorreu a minha espinha. Encarei aqueles seres presos à pedra para sempre. Seus olhos eram esferas vazias e mesmo assim, de alguma maneira, pareciam ver tudo o que acontecia ao seu redor. Não apenas ver, mas observar.

- Disse que não sabia nada sobre esse parque mais cedo. – Merlin me tirou do devaneio – Mas acho que podemos encontrar algumas coisas interessantes se olharmos na biblioteca de seu pai.

- Como sabe que tem uma biblioteca?

- Os Pendragons sempre foram muito apegados às suas bibliotecas, mesmo quando mal sabiam ler como uma criança de dez anos. – comentou Merlin, encostando na pedra do arco completamente fascinado – Seu pai deve manter alguns livros realmente velhos. Sobre a linhagem da família, sua história, todas essas coisas chatas. Se estiver correto, e sempre estou, também deve ter algo sobre sua família. Vê aqui? - ele perguntou, tendo por fim achado o que procurava.

Encarei o lugar que indicava, mas não consegui ver nada através do feixe da lanterna.

- Não vejo nada.

Merlin suspirou, revirou os olhos e segurou a minha mão. Um segundo depois a soltou como se tivesse levado um choque.

- Qual o problema? - quis saber. Parecia pálido e assustado e uma vez que não o ficara uma única vez durante todo o passeio já indicava que algo o perturbara. Algo o perturbara mais que a possibilidade de um grifo desembestado saltar detrás de uma moita.

Parecia perdido, depois voltou a segurar a minha mão como se esperasse levar um segundo choque a qualquer momento.

- Nada. – ele disse, guiando a minha mão através das heras – Nada – repetiu, talvez para convencer a si mesmo.

Quando minha mão estava onde queria arrancou uma camada de musgo com suas unhas longas e iluminou o lugar com a lanterna.

- Vê?

- Como você – comecei, mas me interrompeu logo de cara.

- Eu simplesmente senti. Lugares antigos são tocados por magia antiga. – falou como se isso esclarecesse qualquer dúvida que eu poderia ter, parecia estranhamente animado com tudo aquilo. Para mim dizia muito próximo de nada.

Entalhado na pedra, iluminado pela lua e pela lanterna que Merlin quase chacoalhava de excitação estava um nome. Ainda era possível de se ler, mas estava claro que havia sofrido com chuvas, umidade e musgos cobrindo-o há muitos e muitos anos.

- Acho que posso poupar a pergunta. – Merlin começou.

- Sim, você pode. Não faço a mínima ideia de quem seja. – concordei.

Cravadas na pedra, reveladas pelas unhas e pelo esforço de Merlin estavam onze letras. 

“C.E. Pendragon.”


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Capítulo um tantinho mais curto que o normal, sorry, sorry. Mas acho que como está sendo atualizada semanalmente não precisa que cada capítulo tenha mais de 5 mil palavras?? Enfim. Mas ao menos agora tenho uma ideia razoável do tamanho que a fanfic vai ter. E então, qual seria o real motivo de Gwynn não ter aparecido? E Felix, realmente gosta de Avina apesar de ser um perfeito idiota? Ficam as perguntas e a certeza de que mudanças drásticas estão dando as caras. (:
Beijos, pessoas, e até semana que vem (ou até a resposta dos comentários, shh)



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Último Pendragon" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.