Antes Que Você Vá escrita por Isabela


Capítulo 6
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Olááá :D
Pensei que fosse postar outro capítulo ontem - aliás, anteontem, pela hora que já é, - mas só deu para postar agora.
Queria fazer um capítulo mais legal, e por um lado foi bem legal escrevê-lo, mas ele não é super bombástico. Sem querer dar spoilers, mas... vocês vão gostar dos próximos capítulos, serão bem mais legais! :)
Antes de vocês lerem, só gostaria de agradecer pelos reviews que recebi de uns dias para cá, eles me deixaram muito feliz! E queria dar boas vindas à minha nova leitora, all4cyrus.
Enfim, espero que de qualquer forma apreciem o capítulo...
Boa leitura!



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Capítulo Cinco


Tudo era bem estranho. Em um dia, você se sente indestrutível. Ou, pelo menos, inabalável. Não importa o que aconteça com você, nunca será o bastante para te balançar. Mas então algo parece mudar e… de repente, você não é a mesma pessoa. Ou é, só que não percebe…

Eu estava com raiva de mim mesma por, em um único dia, ter cedido duas vezes. Por duas vezes em menos de vinte e quatro horas eu quase fechei meus olhos para sempre – e eu deveria me importar. Talvez não.

Era só mais uma vida – e, de repente, quando alguém entra no caminho, não é só mais uma. Eu nunca fui o tipo de pessoa que com um tropeço caía, e com um “não” parava de insistir. E eu me sentia tão fraca e estúpida, tão incrivelmente idiota por ter aparentemente me tornado uma molenga tola, que quando ouvi alguém gritar meu nome desejei parar de pensar e não conseguir mesmo abrir os olhos.

Mas era a minha mãe. Minha mãe…

Aquele nome, “mãe”,  era o tipo de corda de salvação para as pessoas. E eu me lembrava de ter me agarrado nele, um dia. Talvez eu também estivesse magoando ela, e não tinha percebido até agora.

E ela estava gritando. Por mim. Eu não conseguia imaginar quão grave era a situação para que ela tivesse finalmente rompido sua barreira cômoda de indiferença. Uma barreira que, acima de todos, eu construí.

Alguém falou firmemente com ela, pedindo silêncio. Ela era uma enfermeira, sabia que não podia gritar em hospitais… Espere. Eu estava no hospital?

– Mãe… – sussurrei, abrindo os olhos.

Minha mãe soltou um lamento e seu rosto entrou no meu ângulo de visão. O rosto dela estava coberto de lágrimas, e ela parecia muito cansada. Eu a tinha tirado do sossego e do descanso para levá-la a qualquer lugar onde ela não deveria estar.

Sim, era um hospital. Meu braço direito estava preso a um tubo, e a cama onde eu estava deitada era indiscutivelmente uma cama de hospital. Eu já conhecia bem a delegacia, se acordasse nela não demoraria um segundo sequer para reconhecer, mas com o hospital eu nunca me familiarizei direito. Isso devia ser um bom sinal. Eu acho.

– Você se afogou – disse minha mãe afagando meu rosto. – Um senhor dono de um carrinho de cachorro-quente foi quem te salvou. Graças a Deus.

– Eu estou bem – limitei-me a dizer.

– Não faça mais isso. Você pulou o muro. Você saiu sozinha, entrou no mar e…

– Eu estou bem – repeti, irritada subitamente. – Quero ir para casa.

Minha mãe suspirou.

– Já vão te liberar. A enfermeira me disse que você engoliu muita água, e que foi difícil te fazer cuspir, mas que você logo dormiu. Se lembra de ter cuspido a água?

Fiz que não com a cabeça.

– Certo. Isso não é um problema. Eu acabei de chegar e preciso ligar para o seu pai porque ele não sabe que estou aqui – continuou minha mãe.

– Como soube que eu estava aqui?

– Minha melhor amiga está de plantão. E ela sabe quem é você. Me ligou direto no celular avisando. Foi difícil não começar a gritar no meio do quarto mesmo.

– Certo. Esqueça. Estou bem – eu me ergui da cama com surpreendente facilidade, mas a agulha do tubo na minha pele doeu.

– Não tire o soro – repreendeu-me minha mãe. – Nós já vamos sair.

Eu fiquei imóvel enquanto ela pegava o celular e saía do cubículo onde eu estava para falar com meu pai. Senti alívio quando a enfermeira chegou e tirou o tubo do meu braço.

– O que houve aqui? – a mulher tocou os machucados que fiz no Pão de Açúcar.

– Só raspei. Nada demais – dei de ombros.

A enfermeira estreitou os olhos.

– Não faça isso com sua mãe. Ela é uma boa pessoa, e se preocupa muito com você. Não faça isso.

– Desculpe – sussurrei.

Ótimo. Eu estava pedindo desculpas à enfermeira. Devia estar ficando louca mesmo!

Minha mãe voltou enquanto eu finalmente era liberada. Minhas roupas estavam úmidas, e eu estava com frio. Mal pude acreditar que o senhor que me ajudou pegara minha mochila e meu skate – mais uma dívida, desta vez com um completo desconhecido.

Não. Theo também era um desconhecido. Eu não sabia nada sobre ele; nunca mais o veria.

Saí do hospital com minha mãe, e entramos correndo no carro para fugir do vento forte e frio. Ela dirigiu para casa em silêncio, mas eu sabia que meu pai estaria me esperando.

Bem na porta. Os braços cruzados… droga.

– Olá – murmurei, tentando passar por ele, com o skate debaixo do braço e a mochila nas costas.

Ele se limitou a erguer as sobrancelhas.

– Por que não dá a volta na rua e pula o muro? Não foi assim que você fez para sair? – a voz dele estava dura. – E fazer sua mãe sair de casa na madrugada para socorrer você… se não se importa conosco, por que devíamos nos importar com você?

Olhei para baixo, sem pensar numa resposta. Ele estava certo.

– Já demos a você todas as chances. Mas agora está querendo se matar? – continuou. – Onde erramos? Qual foi o pecado que cometemos para que você não amasse nem a si mesma?

– Isso é mentira – finalmente falei, olhando para ele com os olhos cheios de lágrimas. – Não quero me matar. Só que… talvez minha hora esteja chegando, não sei.

Minha mãe me puxou por trás, pelo ombro.

– Não diz isso, Mianah. Vai lá para cima. Durma e não saia do quarto até amanhã.

Assenti com a cabeça e meu pai me deixou passar pela porta. Ouvi os dois murmurando um para o outro, mas nem me esforcei para entender o que falavam. Subi as escadas correndo e joguei a bolsa no chão, e o skate debaixo da cama.

Percebi que meus olhos ainda estavam empoçados e me xinguei por isso em voz alta. Eu os enxuguei e procurei minhas tintas por todo o quarto, juntando-as.

Eu agora receberia ordens? “Não saia do quarto”.

Não saia do quarto.

Não saia do quarto.

Não saia do quarto.

E se eu saísse, o que eles fariam?

Tentei escutar sons na casa, e no andar debaixo, mas estava tudo perfeitamente silencioso.

Desci as escadas com a sacola de tintas na mão, mal podendo acreditar que ia sair do quarto depois de um dia no qual acordei na cadeia, quase caí de uma montanha, conheci um cara que me deixou revirada por dentro e quase morri afogada.

Dois “quase”. Eu tinha que fazer algo por completo, pelo amor de Deus!

Dei a volta na casa. Era hilário e idiota, mas eu faria tudo de novo. Sim, eu pulei o muro. E saí correndo no meio da rua, sem direção.

Corri, corri e corri, até que meus pulmões recém-esvaziados de água do mar – devia ser por isso que doíam quando eu respirava – me forçaram a parar.

Eu não estava nem a cinco quadras de casa, mas havia um muro alto, perfeito e convidativo à minha frente. Estava tudo iluminado pela luz dos postes, mas a rua estava vazia. Espalhei os sprays no chão e fechei os olhos, pensando no que retratar.

Dois olhos encheram minha mente. Eles pareciam se misturar com o céu, mas não eram exatamente da mesma cor. Sim, havia também um céu em minha mente. E uma enorme montanha densa e escarpada, perigosa.

Minhas mãos começaram a trabalhar antes que eu decidisse isso.

Primeiro, um céu, apenas um pano de fundo claro e leve, brilhante como o sol. Depois a montanha; havia uma forma minúscula nela, tão insignificante quanto uma formiguinha. Passaram-se minutos ou horas enquanto eu pintava, não sei dizer ao certo. Mas deixei os olhos para o final, porque eram indefinidos.

Eu lembrava cada detalhe deles como se estivessem gravados atrás de minhas retinas, porém eles poderiam ser azuis, pretos, verdes, roxos e até vermelhos. Podiam ter lágrimas e mesmo assim sorrir, podiam estar fechados ou abertos. Não importava, eu não sabia o que podia existir por detrás deles.

Só que eles não saíam da minha cabeça, e se misturaram ao céu sob minhas mãos de um jeito que era como se o próprio céu olhasse aquela formiguinha com seus olhos de anjo.

Eu não tinha percebido a luz em uma janela do sobrado ao lado, mas ela ganhou sentido quando senti faróis de carro em minhas costas.

Quando é que eu conseguiria fazer algo direito e voltar para casa sem ser descoberta, ferrada, presa ou quase morta?

A polícia, de novo. Tinham me denunciado. Soltei um longo suspiro de lamento e frustração por não poder dar mais atenção à minha obra. Eles provavelmente pintariam o muro antes de amanhecer, e ela estaria perdida. Mas algo me fez pegar o spray novamente antes de me virar para os policiais.

Em letras medianas e corridas, escrevi no topo da montanha: me encontre.








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Notas finais do capítulo

Então está aí, galera.
Obrigada por tudo :D mereço reviews??? O incentivo ajuda muito! Dúvidas, críticas, elogios, uma carinha feliz, tudo isso ajuda, viu? Hahaha beeeijos