Before Sundown escrita por Anny Fernandes


Capítulo 4
Colhendo Vidas


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura!!



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A água do chuveiro cai sobre meus cabelos recentemente aparados.
Acabei de acordar e preciso muito de um banho, afinal hoje é a colheita. Estou nervosa e ansiosa. Depois da proposta de Ethan eu fiquei furiosa e não parei de pensar nisso um só minuto.
Ele quer tanto desafiar a Capital de alguma forma que não se preocupa nem com sua própria vida.
Tenho pensado muito nele, apesar de brigarmos cada vez que decidimos conversar, o acho bonito. Com aquela pintinha engraçada acima do lábio superior.
Seguro um sorriso ao pensar nele. Será que estou ficando maluca? Isso nunca aconteceu!
As coisas entre mim e Homes estão estranhas. Depois daquele beijo ridículo ele ficou mais distante. Não parou de falar comigo, mas esta diferente. Nós não fazemos nossa rotina de ir para a escola juntos e quando chegar lá ficar jogando pedras para dentro do bosque. Não dormimos mais na mesma cama, ele prefere dormir no sofá duro e estreito da sala do Sr. Waters. Tudo muito estranho e distante. Não parece o Homes que eu conheço e amo.
Desligo a água que para de cair aos poucos. Não é nem quente nem fria a água que cai aqui, mas é no meio dos dois.
Seguro a toalha e começo a me secar por minhas costas. Depois os braços e assim em diante.
Não consigo parar de pensar em Homes e Ethan. Se Ethan realmente se voluntariar e eu for escolhida? O que vai acontecer? Será que ele me mataria? É claro que sim. Ele mal me conhece... Sem dúvidas me mataria.
Homes vai parar de falar comigo? E se ele for escolhido e ninguém tomar seu lugar? Se eu fosse menino provavelmente tomaria sem pensar duas vezes, mas ele me disse que tomaria o lugar de quem fosse escolhido nos meninos, para competir comigo e me salvar.
Coloco minha blusa de manga e o casaco fino por cima, me aquece temporariamente e depois o frio me domina. Meus dentes de cima ficam batendo-nos de baixo, fazendo um barulho estranho. Afago meus braços procurando incessantemente o calor das minhas mãos congeladas ate os ossos.
Saio do pequeno banheiro e dou de cara com Homes sentado no sofá esfregando o rosto e com os cobertores ainda sobre suas coxas.
- Bom dia – falo me esforçando em um sorriso, mas que provavelmente pareceu falso.
- Bom dia – ele responde sem nem me olhar
Viro-me para sair, ir embora com ao menos um pouco de dignidade, quando Homes me chama:
- Alana, não! – a voz dele falha – Desculpe por estar sendo um idiota!
Viro-me devagar e encaro seus olhos azuis.
- Tudo bem... – digo e me viro novamente
- Alana, espera, por favor! – ele fala quase implorando – Eu simplesmente não suporto as coisas assim.
- Homes – digo começando a me irritar, mas então penso bem e acalmo minha voz – Tudo bem, eu só preciso pensar! Sabe as coisas não tem estado fácil e você insiste em não falar comigo!
Homes suspira e depois levanta. Passa por mim e vai para o banheiro.
Corro para a cozinha e abro a porta, passo em disparada pelo portão e não me preocupo com o barulho.
A neve cai regulamente e é muito fria. Nenhum raio de sol para nos saldar.
Homes esta me deixando louca. Com a colheita e o medo de se escolher... Essa é a primeira vez desde sempre que nós não ficamos juntos nos abraçando e dando esperança um para o outro.
As lagrimas escorrem por todo o meu rosto me impedindo de ver por onde piso. Quando me dou conta já estou na praia. A areia esta tampando meus pés com os sapatos de couro velho e gasto.
Começo a chorar loucamente. Eu poderia falar que a praia estava vazia se não fosse pelo familiar barulho de braços batendo na água. Espero que ninguém me veja aqui.
Aperto o corpo contra as pernas tentando me tornar o menos visível possível e coloco a cabeça entre as pernas.
Mas quando o barulho de passos e tosses substitui o de braços batendo na água, eu sei que meu plano fracassou totalmente.
Sinto algo gelado tocar minha pele na altura dos ombros. Só então que percebo que estou tremendo.
- Ei, menina o que aconteceu? – a voz estranhamente familiar e masculina pergunta.
Quando não respondo sinto alguém sentar ao meu lado. A mão fria sai devagar dos meus ombros e da espaço para todo o braço molhado. A água fica pingando atrás de mim na areia e eu não suporto não olhar.
Levanto os olhos devagar para ver quem esta aqui e vejo um homem musculoso e de olhos verdes. Ele tem a pele azeitonada e seus músculos tem um contorno perfeito. Os cabelos são loiros claros. Eu já o vi antes na cidade, mas nunca havia falado com ele.
- Quem é você? – sussurro olhando ele pelas frestas de meus cabelos
- Meu nome é Luke Odair. E o seu é? – ele ainda esta com o braço sobre meus ombros
- Alana – digo, mas ele levanta as sobrancelhas, querendo saber o sobrenome provavelmente – Alana Wes!
Ele balança a cabeça em afirmativa e depois me encara.
- Por que você esta chorando? – ele pergunta apertando meus ombros, não forte.
Não respondo. Só fico em silencio sentindo o gosto de minha lagrimas salgadas que escorrem ate a boca.
- Tudo bem – ele diz – Não precisa me dizer!
Olho novamente para ele e então percebo algo estranhamente familiar demais.
- Eu te conheço... – digo um pouco mais alto do que antes!
- Sim – ele fala – Todos aqui me conhecem!
- Mais da onde? – pergunto
- Da televisão – ele diz – Décima sétima edição dos Jogos Vorazes!
Fico boquiaberta. Agora eu lembro dele. Lembro de ver na praça com todos, por não ter uma TV. Ele venceu por que sabia nadar e a água ficava potável ficava do outro lado de um mini-oceano. Ele chegou primeiro e teve tempo de fazer uma armadilha para todos os outros concorrentes.
Eu era pequena, mas lembro bem. Afinal foi uma das que eu mais gostei!
- Você não teve medo? – pergunto categoricamente
- Tive – ele fala olhando o horizonte – Muito medo.
Suspiro e saio daquela posição, minhas costas estão queimando e não suportariam mais um segundo nesse jeito.
- Eu estou com medo agora – sussurro – De ser escolhida!
- Não vai acontecer Alana! – ele fala e depois me cutuca. Provocando gargalhadas.
- Como você pode ter tanta certeza? – pergunto
- Seus pais nunca te falaram não? – ele pergunta – Meninas bonitas nunca são escolhidas!
Eu sei que a intenção dele era me ajudar, mas pensar nos meus pais só piora toda a situação. Uma lagrima escorre e eu a limpo rapidamente.
- Vem! – ele chama se levantando e estendendo a mão para mim – Vou te levar para sua casa!
Seguro a mão dele e deixo ele me levantar. O que ele faz com tamanha facilidade, como se eu fosse uma pena.
Ele me guia falando que nada vai acontecer e que eu não foi ser escolhida, mas eu só consigo pensar em Homes e a forma que ele me tratou mais cedo.
Chegamos na casa do Sr. Waters e quando vejo a hora sei que faltam poucos minutos para a colheita.
- Luke, obrigado! – falo sorrindo – Mas eu preciso me arrumar!
- Tudo bem – ele diz rindo – A gente se vê na colheita, já que eu tenho que estar lá para ver meus novos “afilhados!”
Quando falou afilhados ele colocou os dedos na altura das orelhas e dobrou eles repetidas vezes.
Luke se inclina e beija minha bochecha.
- Ate depois Alana! – ele fala com um sorriso enquanto vira a esquina.
Passo pelo portão secando minhas lagrimas que ainda insistem em escorrer.
Assim que abro a porta vejo Homes sentado na mesa me olhando de cara feia.
- O que foi? – pergunto seria
- Quem era aquele com você? – ele pergunta me fuzilando
- Um amigo! – falo e vou para o quarto.
Entro no quarto que é a segunda porta a direita e tranco a porta.
As lagrimas ainda escorrem, mas eu estou longe do alcance da tristeza que geralmente as acompanha.
Pego um vestido, que é o único que tenho esta num canto do quarto dentro de uma bolsa de couro, que fazia conjunto com meus sapato e outra jaqueta que eu nunca encontrei. Eram do meu pai.
Coloco o vestido que tem uma tonalidade amarela claro e as pontas são levemente tingidas de vermelho. Coloco-o mesmo sem nem me preocupar com o frio.
Saio do quarto e vou ate o banheiro. Lavo o rosto e passo o batom rosado que já esta no final. Uso ele desde os 12 anos no dia da colheita. Achei-o na padaria depois de um dia movimentado. Já estava na metade e por isso economizo tanto, essas coisas são caras por aqui.
Saio do banheiro e coloco o sapato mais novo que é amarelo combinando com o vestido. Eles foram herança de minha avó.
Saio pela porta sozinha. É a primeira vez que eu e Homes não vamos juntos. As coisas estão realmente ruins.
Quando chego no portão sinto o peso de uma mão no meu ombro e quando olho vejo Homes. Ele esta também com sua melhor roupa. Uma blusa social preta e calças beges.
- Vamos juntos! – ele fala sorrindo.
Aceito. Ele me segura como todos os anos. Abraçando-me como se fosse a última vez que nos víamos, por que realmente podia ser.
Chegamos na praça e logo notamos todas as pessoas. Pais receosos olhando os filhos tão longe de seus corpos, crianças com medo, tremendo e sozinhas.
Entro na fila perfeitamente alinhada para recolher o sangue.
A espetada é rápida e não dói, acho que por já estar acostumada.
Sou encaminhada para a ala das meninas de 15 anos para cima.
Olho para o palco onde uma mulher com cabelos já grisalhos começa a apresentar. O famoso vídeo passa no telão atrás dela. Falando sobre a guerra. Os dias escuros e tudo mais. O prefeito assume seu lugar e lê algumas coisas, eu simplesmente ignoro e localizo Homes do outro lado. Ele me olha apreensivo.
- Muito bem! – a mulher diz com o sotaque da capital – Como o usual as meninas primeiro!
Ela enfia a mão no globo de vidro com os papeis dobrados com a maior delicadeza e suas unhas verdes e rosas batem no vidro fazendo um barulho irritante e ao mesmo tempo esta me distraindo.
- Bom – ela fala sorrindo – Já sei qual é nossa menina do distrito 4!
Todas as meninas afagam seus braços procurando consolo que agora seus pais não podem lhe oferecer.
- E nossa menina é – ela esta fazendo suspense
E então ela finalmente diz o nome. Que eu tanto receei em ouvir.
Alana Wes.


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Notas finais do capítulo

E ai gostaram? Só para deixar claro, o Luke é antecedente do Finnick! kkkk sou maluca eu sei!