Foram exatos 10 minutos até que meus “preparadores” parassem de falar do meu “estilo” e começassem a me arrumar. Sei que todo esse escândalo foi por conta do cabelo e tal, mas desnecessário. Lozi, uma mulher com muitas tatuagens por todo o corpo e cabelos dourados ficou responsável em me dar um belo banho. Demorou cerca de uma hora e meia, mas não me importei, aquilo era bem relaxante.

Depois uma moça chamada Venia começou a me massagear, algo que nunca gostei, mas decidi não questionar. Fizeram minhas unhas e fizeram um certo tratamento com meu cabelo; algo que gostei muito, já que ele ficou ainda mais claro e ondulado.

Por fim, eles me deixaram nua para ver se faltava algum detalhe, mas de acordo com Lozi, “com essa carinha linda não precisamos fazer mais nada”. Isso me deixou com um ego inflado.

–Onde está meu estilista? – perguntei.

–Você já vai conhecê-lo, queridinha – disse Venia, com uma voz que acho muito engraçada – Ele é um amor de pessoa!

Concordei com a cabeça. Estava morrendo de curiosidade, tanto para conhecer meu mentor como meu estilista. Nesse momento me veio a imagem de Dean conversando com Effie sobre ser seu assistente, e ele concordando assim como seu irmão. “Deu certo, ele não vão ficar na mira de ninguém e podem me vigiar de perto.”

A porta se abre e um homem com seus quarenta, quarenta e cinco entrou na sala e pede para que minha equipe saia.

–Jessie? – ele perguntou e confirmei levemente com a cabeça – Ouvi muito sobre você. Sou Cylon, seu estilista.

Não reagi, deixei que ele falasse. Ele tinha um tom doce, mas seu jeito não era de muitos amigos. Suas roupas eram super coloridas, como as de todos naquele lugar, tinha uma maquiagem bem exagerada e um penteado um tanto estranho. Sabia que deveria me aproximar pelo menos dele, mas naquele momento não sabia nem se confiava em mim mesma.

–Só quero te ajudar, certo? Bem, deixe-me ver... Você é muito bonita. E seu cabelo, você o tingiu para a ocasião?

–Não, ele sempre foi assim – respondi.

–E que voz de anjo! Bom, essa coloração é bem rara, puxou a quem, sua mãe?

Disse que sim e abaixei a cabeça. Ele pediu que me vestisse que iríamos conversar. Presumi que era a hora de encontrar meu mentor. Ele pediu para que o acompanhasse até uma sala, onde um rapaz tomava chá sozinho. Cylon tossiu um pouco para chamar sua atenção. Ele olhou para trás e se levantou.

–Esse é Ezra, seu mentor provisório – disse meu estilista.

Ele se aproximou e apertou minha mão. Ele tinha um ar ameaçador, como se estivesse preparado para me matar ou matar qualquer um a sua volta.

–É um prazer finalmente te conhecer, Jessica. Peço desculpas por não comparecer à Colheita.

Balancei a cabeça. Cylon pediu para que nos sentássemos para comer. Aquilo era bem mais que um banquete, daria para alimentar uma família inteira na Costura.

–Você sabe do desfile de abertura, certo? Bem, minha colega de trabalho está responsável por Felix. Nós escolhemos um tema que representaria bem seu distrito.

–Deixe-me adivinhar, carvão? – disse cínica.

–Não, isso seria muito óbvio. Uma coisa bem visível no Distrito 12 é seu jeito único, a forma como encaram com garra a vida que cada um possui. É isso que quero mostrar. Duas coisas você já tem, atitude e estilo próprio, e isso vai contar muito futuramente.

Não pude deixar de sorrir, isso era loucura, o Distrito 12 ser mostrado como valente? Todos sabem a fama real que nos temos outros Distritos. Mas tinha concordado em não discutir com ninguém sobre nenhuma decisão.

–Isso é tudo que posso dizer. Por enquanto... – ele concluiu.

“Quero só ver” pensei.

–Quero conversar com ela. A sós – Ezra disse.

Olhei meio assustada para ele. Sabia que ele iria perguntar o que sabia fazer, quais talentos eu tenho, quais armas sabia usar, mas minha resposta não o agradaria. Cylon pediu licença e saiu.

–Você sabe que não vai ser só um rostinho bonito que vai te fazer ganhar, certo? – Ezra disse.

–Eu sei, mas é a única coisa que tenho.

Ele me olhou, de cima a baixo e se calou. Guardava alguma coisa, era óbvio.

–Conflito corpo a corpo – ele disse, com a maior calma do mundo.

–Conflito corpo a corpo? Você é doido? Não tenho forças pra derrubar alguém, imagina pra matar com minhas próprias mãos!

–É por isso que vou te treinar.

–E quanto a Felix?

–Não me preocupo com ele, o garoto não tem chance e você sabe disso. Mas você sim. E sei que ele vai cair rapidinho, e quem sabe, por suas mãos...

–Como pode dizer isso?

–Todos temos uma escolha. Eu escolhi colocar minhas forças no lado vencedor.

“Ótimo, não é um que não se importa, é um obsecado” pensei. Acho que teria que me acostumar com a loucura de meu mentor se quisesse vencer.