Eu não sabia que aquele tipo de atividade era tão cansativa. Sentei-me, olhando meus pés emoldurando parte da calçada abaixo de mim. O vento soprava meu cabelo, reduzido até a altura dos ombros agora. Atrapalhava menos daquele jeito. E de quebra ficava bonitinho. Pisquei, voltando a prestar atenção. Esperava o sinal. Os garotos do chalé de Ares iam me mandar um sinal entre os prédios. Só por isso eu estava sentada na beira do telhado de um prédio de dez andares.

  E minha sorte era a névoa do anel sempre em ação. Ele formigava de leve, enquanto eu segurava a Mac10 e checava o relógio.

  Não era o melhor dos aniversários. Meu aniversário de maioridade e eu estava ali, sentada no alto de um prédio de nem sei quantos andares. Era alto, eu sabia disso. Chad já estava atrasado.

  Estávamos numa missão. O Acampamento finalmente declarara guerra contra Cronos e seus seguidores. É, parecia loucura enfrentar o cara fodão da mitologia, mas era preciso. Era uma questão, no mínimo, de sobrevivência. Conciliada com alguns valores básicos, pronto, o motivo perfeito para a tal guerra.

  A que eu não queria tanto assim. Claro que todo mundo gosta de uma vitória. A sensação de ter ganhado realmente te deixa lá no alto. Até você notar que só está tão elevado porque está numa pilha de corpos. Sejam eles inocentes ou não.

  Pelo menos naquele dia não parecia que ia sair do controle. Chad ia deixar a tal “escuta” que os filhos de Hefesto tinham criado na garota trabalhando de secretária naquele prédio. Ela parecia bastante interessada em Luke. E era filha de Hermes, nunca reclamada. O que, até então, parecia ser o maior motivo de tanta revolta.

  Vi o garoto loiro parar no corredor, assobiando o sinal. Agora sem minha Mac10, fiquei de pé e fui atrás dele. A parte divertida é que ele ficava uma graça de zelador. Com a ajuda da névoa, parecia uns vinte anos mais velho do que realmente era e o deixava com um bigode que disfarçava muito.

  – Vamos logo.

  Deixando o esfregão para trás, descemos os dois pela escada. Era um longo caminho, mas as chances de encontros indesejados era menor. Agora era só mandar a mensagem de íris indicando o sucesso e estaria tudo certo. É, realmente.

  Chad bagunçou o cabelo, esperando ao meu lado para atravessar a avenida movimentada. Estranhei o comportamento, encarando-o até ele notar que eu esperava uma explicação.

  – Se parar para pensar, Dante podia ter virado um deles.

  – Não vamos parar para pensar então.

  – Desculpa. Vamos.

  Seguimos caminho, sempre esperando ver alguém que pudesse nos por em risco. E, estranhamente, não encontramos nada. Muita sorte, chegava a ser suspeito. Entramos no beco. É, suspeito, demais.

  – O que...?

  – Acharam mesmo que íamos deixar vocês dois correndo pela cidade sem ajuda? Que tipo de amigo acha que eu sou?

  – Japa, veio sozinho?

  – Não, seu namorado está acabando de se livrar de um bicho esquisito.

  – Achei que as ordens eram pra ficarem no acampamento?

  – E eram, garoto, até nos mandarem para cá. E foi uma boa ideia. Conseguiram?

  – É, foi tranquilo no prédio.

  – Consegui colocar a tal escuta, os campistas de Hefesto devem estar super animados.

  – Bom, então é melhor não demorar. Ela não vai ver, certo?

  – Ninguém que não espere vê aquela coisa. Vamos.

  – Olá, pessoas. Vamos logo. Conseguiu, irmãozinho?

  – Do que está correndo?

  – Não estou correndo, só não quero ficar esperando o próximo daqueles bichos feios. Não são simpáticos.

  – Ele tem razão, vamos logo, já demoramos demais.

  Parecia estranho entrarmos os quatro dentro de um taxi e irmos direto para um acampamento no meio do nada. Pelo menos esse carfa não perguntou nada. Até porque agora era todo mundo maior de idade e independente. Ou assim ele achava.

  O clima de festa que espéravamos não apareceu. Scirus nos esperava perto do que costumava ser Thalia. Quanto tempo eu não via aquele cabrito. E pelo visto, o motivo não era bom.

  – O que foi?

  – É Beckendorf.

  – Charles, o que tem ele?

  Foi Beckendorf quem entregou a tal escuta. Ele disse que os irmãos iam vigiar tudo enquanto ele ia em outra missão com Percy, em alto mar. O peso da notícia já surgia nos meus ombros. Aquele clima todo que me embrulhava o estômago era morte. Eu devia imaginar.

  – Ele...ele não...

  – Ele não voltou, Chad. – Falei, facilitando a vida de Scirus e dificultando a minha. – E pelo visto, nem vai.

  – Oh...

  – Achei que iam querer saber antes de entrarem super animados no Acampamento. Selena está muito mal.

  – Eu imagino. Algo mais.

  – Acham que foi traição. Parece mesmo. – Silêncio total, até ele continuar. – Agora sim é guerra, gente. Agora sim.

  – Valeu, Scirus, pela informação antecipada. Ainda precisamos dar entrada com sr. D.

  O clima realmente estava pesado. Dava para ouvir lamentações de todos os cantos. Scirus tinha razão, agora começara de fato. Começávamos a sentir o peso de derrotas. Tristeza, dor, medo...Principalmente medo. Se realmente tinha um traidor, era mais uma chance para dar tudo errado.

  Tentei não me deixar abalar por aquilo e fui falar com sr. D, seguida dos rapazes. É, para um ínicio de guerra, nem tudo estava bem. Ainda dava tempo de dar um jeito. E era isso que íamos fazer, nós quatro.