Saímos da floresta, de volta para a rodovia. Dante e Chad me olhavam de soslaio, me vigiando, como se eu fosse doida. Aquilo me deixou um tanto irritada na verdade.

Scirus também me observava, mas eu sabia que ele tinha outras razões para isso. Caminhamos um pouco, tentando encontrar uma maneira de cobrirmos o tempo que perdemos.

Parei quando os outros dois começavam a se cansar e a diminuir o ritmo. Só então percebi que se me concentrasse podia sentir meu próprio cansaço. Droga de bloqueio!

– Perdemos um dia de nossos quatro. Como vamos cruzar o país em três dias, encontrar algo que não sabemos como é e entregar ao dono em três dias? – Dante e sua mania de falar tudo sem rodeios. Às vezes era bom, outras nem tanto.

– Vamos achar um jeito. – Tomei um gole d’água e me recostei numa árvore. – Talvez possamos pegar outro carro emprestado. – Dante sorriu pra mim.

– Sem roubar mais carros, foi o que pensei. – Chad cutucou Dante pedindo a garrafa. – Mas pode ser a única solução.

– Ou roubarmos um avião. – Sciru olhou para mim antes de responder Dante.

– Péssima ideia.

– Por quê? Bodes têm medo de altura? – Ele sorriu, provocando Scirus.

– Zeus não gosta de semideuses nos céus dele. – Dante se calou, mas eu entendi que só tinha uma semideusa ali que ele não gostaria ali.

Fechei os olhos quando Chad e Dante começaram a se provocarem, tentando relaxar. Eu só queria dormir. Talvez para sempre.

Acordei com a imagem de Trianna ainda na minha mente. Eu tinha certeza de que aquele encontro era real. Scirus já estava acordando, mastigando um guardanapo.

Caminhei até ele, que só olhou pra mim quando eu disse oi. Só tínhamos dormido por algumas poucas horas. Eu acordaria os outros dois daqui a pouco.

– Você sabe que está errada, não é?

– Por quê?

– Deveria contar, sobre seu pai. Poderia ser reclamada.

– Pra quê, Scirus? Não me lembro de um chalé de Hades. – Ele me encarou mais um instante antes de comer o último pedaço do guardanapo. Fui acordar os outros dois, mas um barulho me assustou.

Scirus tinha pulado na frente de um carro. Os outros dois acordaram na mesma hora, olhando aquela cena. Eu estava em choque. Mas então entendi o que ele tinha feito. Ele tinha feito o carro parar e deixou o motorista desacordado.

– Vamos logo, andem. Já me sinto mal o suficiente por fazer isso com ele. – Dante se levantou e correu até a caminhonete. Descubri que ele não gostava apenas de carros luxuosos.

Se ela estivesse aqui não caberíamos no carro, mas só quatro não foi difícil. Chad me olhou enquanto eu pensava nisso. Ele estava do meu lado, tentando me confortar. Não ia funcionar, mas eu sorri de leve.

Dante deu a partida de novo e virou na direção de Indiana. Estávamos de volta à missão, com um dia a menos e uma pessoa a menos também. Olhei meu anel, pedindo por uma ajuda, qualquer que fosse. E nesse instante um corvo crocitou. E me senti feliz, ou ao menos, mais leve.