Olhei ao redor, tentando me localizar. Eu estava no meio do nada, literalmente. E então o nada virou um píer. Santa Monica Píer, mais específicamente.

Desde crianças que nos conhecemos, eu e Tri sonhávamos em visitar aquele lugar, mas nunca podíamos. O pai dela nunca nos levou como ele prometeu. E ele não deixava Tri ir sozinha.

Eu sentia o vento me atingir enquanto eu observava o sol começando a se pôr no horizonte, com os olhos cheios de lágrimas. Não entendi bem o que eu estava fazendo ali.

Ela parou do meu lado, com as mãos nos bolsos e o cabelo curto solto. Não me virei, com medo de que a imagem fosse embora, mas então ela falou.

– Oi.

– Olá. – Ainda me segurava para não chorar, sei que ela não gostaria de me ver daquele jeito.

– Está bem, El. Não estamos longe uma da outra. Eu estou sempre com você, não estou? – Anui, já chorando. Ela sorria. – Então vamos ficar bem. Todos nós.

– Mas nunca mais vai ser a mesma coisa.

– Você não pode esperar que tudo vá ser igual sempre, El. Minha partida é como qualquer outra mudança no mundo. – Ela me encarou. - Assim como a de qualquer outra pessoa é.

– Ainda assim seria bom ir dormir sabendo que no outro dia eu vou acordar e a primeira coisa que vou fazer vai ser te ligar.

– Como se você fosse se lembrar de me ligar. – Ri com a resposta. Ela tinha razão, eu provavelmente esqueceria.

– Ainda assim eu te ouviria berrar comigo.

– E eu riria com você depois.

Ficamos em silêncio, encarando o sol, que descia mais lentamente que o normal. Voltei a falar.

– Como é, Tri? – Ela me encarou. – O submundo.

– Não sei descrever, mas acho que você gostaria de ir lá um dia. Tirando os campos de punição, o resto é bem sua cara. – Ela continuou me encarando.

– Como você fez isso? – Ela voltou a encarar o sol. – Vir me encontrar? Não foi para os Campos de Asfódelos?

– Na verdade fui. Mas de alguma maneira, eu não me esqueci de tudo. Me esqueci de muita coisa. Coisas que eu gostaria de lembrar, e muitas que eu sempre quis esquecer.

– E eu não fui uma delas.

– Não me esqueci de vocês, talvez um pouco, detalhes que não fazem diferença, mas não me esqueci de nenhum de vocês. – Sorri. – Mas não sei como fiz isso.

– E não sabe se vai fazer novamente, não é? – Olhei para ela, o sol agora já estava na metade.

– Creio que não. Talvez isso seja apenas um último encontro, um que não tivemos na hora certa. Só uma oportunidade de nos despedirmos melhor.

Meus olhos ficaram marejados de novo. Ela ficou em silêncio por um tempo. O sol abaixou ainda mais no horizonte.

– Tome cuidado, Elgin. E nunca se esqueça de mim, e se eu me esquecer de vocês, me perdoe. – Voltei a chorar, olhando o sol. – Vamos nos encontrar de novo, algum dia. – O sol sumiu no horizonte, levando a imagem de Tri consigo.