O meu coração parou de bater por um segundo com a visão do Elliot parado na minha frente. Ele não tinha mudado quase nada, tirando o fato de que ele tinha envelhecido como todos tinham. Ele começou a andar na nossa direção com a postura perfeita, e se a mão do Julian não estivesse me segurando, eu tinha certeza de que eu provavelmente ia cair direto no chão.

-Achei que você estivesse viajando. –Julian falou, um pouco amargo.

-Foi adiado. –Ele respondeu. Meu coração deu um pulo quando ele passou pelo Anthony, bagunçando o cabelo já completamente bagunçado, fazendo o pequeno rir, do mesmo jeito que ele fazia com Lion quando ele era pequeno.

Depois ele parou a alguns passos de Julian, examinando tudo de um jeito frio, que me deu um aperto no peito. Se tinha uma palavra que não podia ser usada para descrever Elliot era frio. Nada sobre ele era frio. O seu sorriso amigável, seu jeito despreocupado de andar, mas aquele olhar dele me fez sentir como se eu tivesse parada do lado de fora do palácio, numa noite gelada de inverno com nada mais que a minha roupa de dormir de verão para me aquecer. Isso me fez tropeçar nos próprios pés, quase caindo no chão. Julian percebeu, e virou para me segurar antes que eu caísse no chão, me lançando o mesmo olhar preocupado que Anthony me lançou.

Minha presença ali não passou despercebida para Elliot tão pouco. Ele me examinou por alguns segundos, com o mesmo olhar frio que ele tinha olhado para Julian, enquanto eu me segurava em pé, garantindo para Julian que estava tudo bem, e que eu só tinha tropeçado. Depois seus olhos se arregalaram e ele empalideceu.

-Tio Elliot? –Anthony perguntou, saindo do meu lado para o lado de Elliot. –Tá tudo bem?

-Estou bem. –Ele descartou a preocupação do pequeno com um movimento de mão. Julian não mexeu um músculo, sua mão firme em volta do meu braço, me mantendo equilibrada, e seus olhos firmemente focados no avô. Depois de um minuto de silencio, Elliot levantou a cabeça, sorrindo um sorriso agradável, que eu consideraria um pouco forçado, como aqueles sorrisos de bailes. -Peço perdão pelo meu comportamento. –Ele falou, claramente se dirigindo a mim. –É que a senhorita se parece muito com uma pessoa que eu conheci... –A voz dele se perdeu no meio da frase, e o silêncio desconfortável tomou o lugar. Eu poderia começar a chorar em qualquer segundo.

-Então... –Julian falou, tentando quebrar a tensão. –Quando o senhor vai viajar novamente?

-Logo. –Elliot respondeu, virando para encarar o neto. - Assim que a viagem for remarcada. –O silêncio tomou conta novamente. –Com a sua licença, eu vou me retirar. –Ele falou, indo em direção a porta, o passo um pouco tremulo. –Vejo vocês no almoço.

  No momento que a porta bateu, eu desabei em cima do Julian, as lágrimas escapando furtivamente dos meus olhos, e deixando um soluço escapar dos meus lábios. Anthony correu para o meu lado, trocando olhares preocupados com Julian, que era a única barreira que impedia de ir de encontro com o chão.

Julian sentou no tapete vinho macio que eu costumava deitar quando era criança, encarando o teto, e me puxou para junto dele. Eu me deixei cair no seu colo, escondendo o rosto na curva do seu pescoço. Eu não conseguia mais conter nenhuma lágrima, e os soluços estavam cada vez mais fortes, e eu provavelmente estava molhando a gola da camisa do Julian toda.

Depois de um minuto, eu não sabia mais se estava soluçando ou se eu estava tentando respirar. Eu puxava ar desesperadamente só pra descobrir depois que quase nenhum ar tinha entrado nos meus pulmões e começava tudo outra vez.

 A mão do Julian subia e descia levemente no meu cabelo, sussurrando coisas do tipo “está tudo bem”, mas não estava tudo bem, não estava NADA BEM! O meu melhor amigo estava anos mais velho e parecia ter se tornado uma pessoa amarga e fria e triste e eu não estava lá para ele como eu sei que ele estaria lá para mim, eu estava sem meus pais, sem meu irmão, mesmo ele provavelmente estando num dos quartos tão perto de mim  eu estava  longe de casa, mesmo estando tecnicamente em casa, e eu estava confusa e com medo e eu queria meu quarto com as minhas coisas e o Elliot de antigamente, sentado na minha cama, fazendo piadas bobas pra me fazer rir.

-EU QUERO VOLTAR PRA CASA! –Solucei.

-Mas... você está em casa, não está? –Anthony murmurou confuso. –Tecnicamente, essa é a sua casa não é? Você cresceu aqui e...

-Ela não quis dizer isso, Anthony. –Julian respondeu, soando um pouco amigável. O pequeno bateu o pé no chão.

-Então eu não entendi mais nada. –Ele falou, se jogando no tapete de frente para o Julian, e sentando de pernas cruzadas.

-Eu quero a minha casa com as minhas coisas e.... UGHH!!- Resmunguei, irritada com a dificuldade de explicar o que estava sentindo.

-Ela quer voltar pra o tempo dela. –Julian esclareceu, e eu estava grata por isso, por que eu não conseguia colocar aquilo em palavras, simplesmente não dava.

-Ah tá. –Anthony murmurou, pegando a minha mão. –A gente vai dar um jeito.