Willian nunca se sentira assim antes. Sua mente estava mergulhada em pensamentos. Não conseguia explicar esse sentimento com palavras. Talvez não soubesse o nome. Algo que parecia muito errado. Algo que ele não gostava de jeito nenhum de sentir. Fraco, ele pensou, essa é a palavra. Me sinto fraco.

Na verdade, estava confuso. Tudo por causa de ontem.

Willian foi caçar. Saiu de casa cedo, ainda nem havia anoitecido por completo. Dessa vez, foi só. Lyla tomou outra direção. Tudo estava normal até aí. Então ele avistou sua vítima ao longe e aproximou-se. Lentamente. Era geralmente assim. Ele observava a vítima antes de matá-la.

Mas Willian ao bater os olhos naquela pessoa teve um choque. Era uma menina. Adolescente. Absolutamente linda, pensou ele. Ela tinha cabelos pretos lisos e sua pele era clara. Willian explodiu de sentimentos. Mas não conseguiu identificá-los. Apenas um ele conhecia: desejo. Ele precisava tê-la. Provar seu sangue, seu sabor. Mas o outro, ele não conseguia entender...

Ele inicialmente tinha intenção de matá-la. Mas ao vê-la, não conseguiu. O que o fez sentir um fraco. Ele avançou para perto dela. Estava dividido entre machucá-la e... Willian não sabe o que faria se não fosse isso. Mas continuou em volta dela. Observando-a. Ela estava com medo, isso ele podia sentir. Seu sangue estava quente, assim como ele gostava. Mas algo o impedia de ele se encostar a ela. Mas o que eu estou fazendo?!, pensou indignado com sua atitude, Vou matá-la agora mesmo! A minha fome é mais importante que sua vida! Porém assim que chegou perto dela, ela fugiu. Segurou a mão dela para não deixá-la escapar. Ela ficou imóvel. Depois de um tempo voltou a tentar fugir. Willian não sabia por que, mas deixou-a fugir. Ela entrou no que parecia ser sua casa e lá ele não poderia entrar. Por que eu fiz isso?

– Por que você está apaixonado por essa garota.

– O quê?! – disse Willian a Lyla furioso.

– Eu disse: você... está...– Lyla pronunciou as palavras devagar. – apaixo...  

– Cale a boca! – Willian interrompeu-a irado chutando uma cadeira que caiu no chão e despedaçou-se.

– Eu posso ficar calada, mas isso não vai mudar nada.

Willian levantou-se da cama onde estava sentado e num brusco movimento segurou-a pelo pescoço enforcando-a.

– Nunca mais entre em meus pensamentos, entendeu? – gritou com firmeza.

Ela simplesmente sorriu, calada. Ele largou seu pescoço.

Lyla estava gostando de ele ficar irritado. Só demonstrava o quanto ela estava certa. Willian estava com falta de ar. Lyla se aproximou dele e acariciou-o para acalmá-lo.

– Não encoste em mim! – gritou enfurecido empurrando o braço dela.

– Tudo bem, mas acalme-se. Eu não entendo por que isso lhe preocupa tanto. É algo inteiramente normal...

–Não! Não, Lyla. Não é normal para mim! Eu não sou assim... Vampiros são feitos para matar. Nada mais...

– Porém as vezes acontece de se apaixonarem.

– Mas nós não temos alma! Perdemos há tempos... Não devemos ter sentimentos desse tipo.

– Sim, mas um dia já fomos humanos, lembra? E ainda guardamos alguns resquícios... Poucos, porém guardamos. Um deles pode ser o sentimento. Não somos completamente monstros. 

– Isso não é certo. Não é mesmo... – dizia agora em tom mais baixo, porém ainda nervoso.

Ele passou a noite acordado pensando no assunto. Willian estava com ódio de si próprio por não conseguir esquecer aquela garota. Ele tinha que esquecê-la. Para ele, aquilo não era certo, de jeito nenhum!