Kiss Of Blood escrita por Jhiovan


Capítulo 1
Capítulo 1 - Mudança


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Emily observava seus antigos e empoeirados brinquedos. Eles representavam a sua infância, seu passado, e sua antiga vida. E ver aquilo lhe deu uma profunda tristeza, ter que despedir-se da sua antiga vida, sua antiga cidade e de sua talvez, única amiga. Ela se lembrou de que ela havia prometido que logo chegaria para elas se despedirem. Emily havia terminado de colocar todas suas bonecas nas caixas de papelão.

– Pai! – gritou – Aqui, todos os brinquedos já estão dentro.

– Está bem, já posso mandar para a doação, então? – perguntou Benison.

Emily abriu uma das caixas e deu uma última olhada. De dentro tirou uma boneca de pano e sacudiu o pó dela.

– Imagino que você não vai querer doar essa não é mesmo? Eu compreendo... – disse seu pai com dó.

Ela balançou a cabeça em concordância. Aquela não era uma boneca qualquer, ela trazia as mais tristes e profundas lembranças à Emily. O pai dela suspirou fundo e carregou as caixas para o carro. Emily ficou observando a simples boneca: com os olhos feitos com botões, o sorriso de linha costurado, os cabelos de lã e o corpo de pano. Então a ergueu nos braços e a abraçou. Estavam quase para saírem lágrimas de seus olhos até que ouviu a campainha tocar. Saiu de seu quarto cujo estava sem móveis nenhum e foi até a porta atender.

– Sophia! – exclamou Emily ao vê-la. As duas se abraçaram.

– Emily, não vá embora! Não me deixe! – protestou Sophia entre lágrimas. Emily abraçou-a mais apertado.

– Eu também não queria amiga. Mas... Não depende de mim, infelizmente. – Ela se controlava para não chorar junto.

Acariciou os cabelos negros da amiga em consolo. Sophia era bonita, típico corpo de uma garota de 16 anos, usava óculos charmosos, o cabelo sempre preso, olhos também negros que se destacavam na sua pele branca. Parecia um pouco com Emily, porém esta tinha um rosto mais novo, os olhos com um tom um pouco mais castanho e cabelo castanho bem escuro, quase da cor do de Sophia.

– Só quero que prometa que não vai me esquecer, e vai me ligar sempre e que de tempos em tempos vai voltar aqui e me visitar. – disse Sophia secando as lágrimas.

– Eu prometo. E você, promete o mesmo? – perguntou Emily.

– Sim, eu prometo. – As duas fizeram um gesto que faziam dês de que eram crianças, apontaram o dedo indicador e médio formando um “V” e entrelaçaram-os.

– Pronto, agora nem eu nem você podemos descumprir nossas promessas. – disse Emily com um sorriso otimista. Sophia sorriu devolta. Abraçaram-se uma última vez.

O pai de Emily buzinou dês do carro.

– Tudo pronto, Emi!

– Já estou indo, papai! – gritou ela de volta. – Sophia, você é minha melhor amiga, eu prometo nunca te esquecer! Agora, eu preciso viajar. Vou te ligar quando chegar lá, adeus! – disse soltando sua mão e correndo para o carro.

– Adeus, Emily! Eu também nunca vou lhe esquecer, boa viajem! – Ela gritou enquanto acenava, e do carro sua amiga acenou de volta.


Na estrada Emily começou a chorar. Não aguentou. Estava olhando a chuva cair e escorrer pelo vidro do automóvel. As gotas de suas lágrimas pareciam estar sincronizadas com as da chuva.


– Querida, não chore. – disse Benison – Vai ficar tudo bem, você vai ver. Vai fazer novos amigos, nova vida, novo começo.

– E se não for melhor do que a antiga? E se for só piorar? – questionou Emily.

– Você está sendo muito pessimista, filha. Tente se alegrar, ou então realmente não vai ser um bom começo. – Emily calou-se e ficou refletindo as palavras de seu pai. Colocou seus fones de ouvido e dormiu durante todo o trajeto.


– Emily! – chamava o pai dela. – Emily, acorda. Emily. Nós chegamos, vai acorda.


– Ah, já chegamos? Que rápido! – disse ela com a voz sonolenta levantando-se. Saiu do carro e olhou à sua volta. De fato, ela estava em uma cidade que lhe parecia muito estranha.

As casas tinham um aspecto antigo. Pareciam casas vitorianas, mas não eram muito sofisticadas nem bonitas. Estavam velhas e sujas, sem cuidados ou reformas. Não havia nenhum edifício por perto. Apenas casas baixas de no máximo três andares. Os poucos carros estacionados nas ruas eram igualmente antigos. Muitas bicicletas estavam presas às árvores na calçada. Árvores sem folhas, secas. Nenhuma pessoa trafegava pela rua, e nenhum automóvel. Silencio total. Vento frio. As nuvens apontavam que logo choveria. Era como se a cidade fosse uma cidade morta.

– E ai, filha. Legal não é mesmo? – perguntou Benison animado.

– É sim, pai. – respondeu Emily meio sem graça, para não estragar o animo dele.

– Olá! – gritou alguém – Vocês devem ser os nossos novos vizinhos. – Era um homem que usava uma roupa elegante, porém rasgada, suja e mal-passada. Acompanhada de uma cartola na cabeça e uma bengala na mão, além de um óculo-escuro com lentes redondas.

– Sim, acabamos de mudar-nos para cá. Sou Benison, prazer. – disse apertando a mão do novo vizinho.

– Prazer, Benison. Sejam bem-vindos. Eu moro bem ali naquela casa. Sou vizinho de vocês – o homem apontou para uma casa quase em frente à deles. – Ah! Onde está minha educação? Meu nome é Robert. E quem é essa menina graciosa?

– Minha filha, Emily Grace. – apresentou. Ela sorriu educadamente. O homem acariciou seus cabelos.

– Quantos aninhos você têm Emily? – ele perguntou como se estivesse conversando com um bebê.

– Quinze anos – respondeu, sorrindo educadamente ignorando o tom dele.

– Ah, eu tenho dois filhos. Um de 10 outro de 13. Têm alguma atividade programada para esta noite? Por que minha esposa cozinha muito bem, eu posso pedi-la para preparar um jantar de boas-vindas. O que acham?

– Excelente convite! Nós aceitamos muito obrigado. – respondeu Benison. – Convido vocês para conhecer nossa casa, então. Pode ser?

– Sim, claro. Adoraríamos.

– Bem, se precisarem de qualquer coisa, eu e minha família estarem a disposição de vocês! Até mais tarde!

Emily e seu pai ficaram a sós com as malas. Ela e ele carregaram-as para sua nova casa. A casa por fora tinha a mesma aparência das casas vizinhas, velha e suja, porém grande e elegante. Não tinha nenhum sinal de reforma, mas sim de abandono. Poeira para todo lugar e móveis tão antigos que pareciam a ponto de quebrar. Como o lustre no meio da sala, que estava a ponto de cair. A sala de estar tinha o dobro, ou triplo do tamanho da antiga casa deles. As paredes pretas todas com a tintura saindo pelo tempo. Nada de novo a não ser pelos móveis que o caminhão de mudança havia trazido da antiga casa.

– Pai... Mas que diabos...? – resmungou Emily indignada. – Você comprou uma casa ou uma mansão mal-assombrada?!

– Filha, é tudo o que temos agora. Esta casa estava de bom preço e eu não podia mais pagar o aluguel da outra. Mas não se preocupe, vamos juntos dar uma bela reforma nela! – começou a falar em tom animado, mas parou quando viu o rosto decepcionado da filha. – Você tem que entender...

Mas Emily não queria entender. Ela queria sua casa e sua antiga vida de volta. Não queria morar ali, no meio do nada com pessoas que se vestem estranho, em uma casa suja de uma cidade sinistra. Ela queria fugir da realidade. Subiu para o seu quarto, que era o mais arrumado da casa. Soprou o pó das estantes e começou a desfazer sua mala. Em meia hora, estabeleceu-se ali. Esse era seu refúgio, seu canto, talvez o novo único lugar seguro para ela.


A noite chegou. Emily e seu pai passaram as horas anteriores arrumando a casa para receber os vizinhos. Já haviam preparado o jantar, a bebida e a mesa. Os vizinhos apareceram na hora marcada. Robert entrou primeiro acompanhado de seus filhos. Dois garotos, um parecia ser o mais novo, de dez anos, cabelo preto bagunçado e cara de pestinha. O outro de treze, mais comportado, loiro, algumas espinhas no rosto e um ar de adolescente preguiçoso. Por última, atrás deles, uma senhora. Meia idade, cabelos grisalhos e um sorriso forçado de simpatia. Ela carregava uma bandeja com uma comida que parecia ser uma lasanha. Logo no momento em que entrou, Emily torceu o nariz disfarçadamente para não sentir o fedor que a comida exalava. Tinha cheiro de alho, mas muito alho como ela nunca havia sentido antes.


– Este aqui é meu filho casula de quem lhe falei senhor Grace, James. – disse Robert.

– Não precisa me chamar de senhor, pode me chamar só de Benison. – disse acariciando a nuca de James que fez um sorriso maroto para ele.

– Perdão, Benison. Esse outro é Jake, meu mais velho.

– E aí? – falou o garoto entre dentes, quase como um resmungo.

– Essa, minha esposa, Julie. – Ela fez seu melhor sorriso e cumprimentou o dono da casa.

– Podem sentar-se. Todos vocês fiquem a vontade. – disse Benison. Todos se sentaram. Ficou um silêncio terrível na mesa. – Ah! Eu quase estava me esquecendo de apresentá-la, esta é minha filha, Emily.

Emily acenou para eles sorrindo educadamente. Ela não queria julgar seus novos vizinhos, mas a seu ponto de vista lhe pareciam bem estranhos. Principalmente aquela mulher calada sentada do outro lado da mesa, a Julie. Não por estar calada, é claro, pois Emily também era assim, mas sim por seu olhar desconfiado. Emily experimentou um pedaço da lasanha e quase vomitou. Ela nunca havia provado uma comida tão ruim e tão cheia de alho em sua vida! Todos pareceram perceber isso, pois a encararam, que se esforçava ao máximo para engolir.

O pai dela devia estar sentindo o mesmo, porém não fazia careta. Benison comia normalmente aquela comida horrível. O próprio filho deles, James cuspiu a lasanha de volta no prato.

– Credo mãe! Que nojo tá essa... – Emily viu Julie dar um pisão no pé dele por baixo da mesa. Depois a senhora forçou um sorriso.

– Crianças! – disse ainda sorrindo.

Passou-se muito tempo de silêncio até que, ao final, todos comeram – Emily com muito esforço conseguiu – e eles se levantaram da mesa. Julie puxou o braço de James e Jacob.

– Bem, já está tarde. Acho que já temos que ir não é querido?

– Sim, temos que ir. Tenham uma boa noite! – respondeu Robert.

– Já? Mas ainda é cedo. – disse Benison.

– Sim, a mamãe tem medo de que...

– Jacob! – gritou Julie interrompendo o garoto. – Bem, nós temos que ir sim. Até mais! Foi um prazer conhecê-los! – Havia nervosismo e ansiedade na sua voz. Porém parecia aliviada por algo. Quando chegou, estava com um olhar desconfiado, mas agora, parecia satisfeita.

– Até mais.

Emily espreitou atrás da cortina da sala para vê-los indo embora. Julie puxava seus filhos pelo pulso e parecia com muito medo. Olhava freneticamente de um lado ao outro. A família de Robert correu até casa deles. Ao chegarem a casa, rapidamente trancaram janelas e portas e fecharam as cortinas. Do que eles temem? Perguntou-se ela. Que pessoas estranhas... Tenho a impressão de que... Estão fugindo de alguma coisa... Ou alguém.


 


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Notas finais do capítulo

Bom, esse é apenas o primeiro capítulo. Eu já escrevi os seguintes, mas queria a opinião de vocês antes de postar! ^^ Obrigado!