Apenas Chame Meu Nome... escrita por ViQ


Capítulo 3
C2 - Observe-me flutuar


Notas iniciais do capítulo

EDITADO: 13/05/15



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Chou não sabia direito o que pensar. A primeira coisa que fez foi tentar mais uma vez correr para o caminho de pedras, talvez tivesse errado algo, mas acabaram mais uma vez no mesmo lugar, em frente à mansão Himitsu.

Karin caiu de joelhos no chão poeirento e começou a chorar. Estava na cara que algo havia dado terrivelmente errado no momento em que atravessaram aquele portal. A estátua da garota de quimono já não se encontrava no pedestal e o sol ia caindo gradualmente deixando o céu em um tom púrpuro, as cigarras começavam a cantar e os pássaros de antes não podiam ser mais ouvidos.

— Karin...

— Vamos morrer.

O loiro estava em pânico, logo iria escurecer e estavam naquela pavorosa e minúscula vila sem saber direito o que fazer.

— Não, não vamos. Está escurecendo, vamos entrar e ficar lá até alguém vir nos buscar.

— ENTRAR LÁ!? Você só pode estar piradão, Chou. Você disse que pessoas morreram lá!

— E o que você pretende fazer? Ficar ajoelhado chorando? Eu não sei se existe algum animal selvagem nessa floresta! Você prefere uma lenda que nem sabe se é verdade ou um leão das montanhas?

— O leão.

— O QUÊ?

— O LEÃO. — Karin gritou e voltou a soluçar.

Chou se irritou, andou até onde estava o pedestal da estátua, mas deu meia volta até onde o loiro estava. Sentou ao seu lado enquanto o garoto continuava a chorar copiosamente. Depois de um tempo Karin olhou pra ele com os olhos vermelhos.

— O que você tá fazendo aqui?

— Vou te proteger do leão da montanha.

Karin não pôde evitar corar levemente com a resposta do outro. Respirou fundo, se não estivesse com aquela sensação incômoda de que algo ruim iria acontecer a qualquer momento seria uma ótima cena romântica. O sol estava no horizonte dando uma linda cor ao céu e ali estava ele ao lado do garoto que gostou desde que se entendia por gente, só os dois no meio da natureza... Levantou-se e limpou a poeira das calças, Chou olhou pra ele com curiosidade.

— Mudou de ideia sobre leões da montanha?

Karin sorriu e estendeu a mão para o garoto se levantar. Chou a segurou com força. Ambos olharam para a mansão que estava à frente, iriam passar a noite lá.

— Pronto?

— Não.

Mesmo com a resposta negativa os dois se encaminharam para a porta da mansão. Chou a abriu passando primeiro e logo atrás veio Karin que foi fechando lentamente a porta. Quando olhou de relance para onde começavam as escadas de pedra para a saída viu uma garota de branco... A mesma que viu na foto. Por mais incrível que pareça, ela não lhe assustava. Ela lhe sorriu gentilmente, mas de um jeito tão triste que fez o loiro estremecer. Ficou um longo tempo encarando-a até que Chou puxou sua mão e o fez fechar a porta.

Ficaram um tempo parados e Karin olhou o cômodo vazio em que estavam para ver se tinha alguma coisa fora do lugar por lá, mas não, estava tudo do mesmo jeito, vazio como quando saíram. Chou soltou a mão de Karin e se aproximou da outra porta de correr.

— Onde você vai?

Perguntou com a voz chorosa, pois até as sombras que eram projetadas pela janela lhe assustavam com facilidade.

— Vou checar os outros dois cômodos antes que seja noite e vou procurar algo pra acender uma luz. Não tem energia aqui, certo?

— Certo... Eu... Não posso ir com você?

— Não, por que se algo me acontece você sai da casa.

Karin engoliu em seco. Sabia que não seria capaz de abandonar o outro ali por isso se calou. Chou abriu a segunda porta e olhou o cômodo vazio, andou até a terceira e abriu também de uma só vez, olhou para os dois lados e depois parou o olhar no lado onde estava o altar das fotos. Aproximou-se e sumiu no canto do cômodo.

Karin esperou alguns segundos antes de correr até lá desesperado chamando por Chou.

— Calma, calma, ainda não morri. Aqui tem velas olha...

O loiro teve vontade de esganar o garoto. Chou pegou uma das velas e vasculhou um pouco atrás do templo onde arrancou dois pedaços de madeira velha e seca, ótima para fazer fogo.

— Aquele acampamento realmente serviu para alguma coisa.

Começou a forçar os dois pedaços de madeira até que saíssem algumas chamas e começou a ascender as velas do altar. Pegou duas e deu uma pra Karin que parecia inquieto.

— Agora ‘tá claro.

Sentaram-se encostados na parede, o loiro não estava prestando muita atenção, já era noite e não conseguia parar quieto. Será que as pessoas estavam procurando por ele? Será que já tinham notado sua ausência? Quanto demoraria pra virem buscar ele e Chou? Sem querer começou a soluçar de novo...

— Calma... Vai dar tudo certo... Seus pais já devem ter começado as buscas...

—... Não vai dar certo, e você sabe...

Chou se calou, não podia prometer nada pro outro e isso lhe matava por dentro, mas estava tentando, tentando muito. Tentando manter a calma, tentando proteger Karin, tentando não cair no choro e não ter pensamentos negativos, mas era um tanto quanto difícil.

Foi quando a porta de madeira que dava para o corredor inexplorado da mansão se abriu. Chou puxou o outro garoto e os dois foram para o canto oposto à porta. Só o loiro podia ver quem estava ali e quando viu disse pra si mesmo que iriam morrer. Não era a garota de branco que havia visto sorrindo quando entrou na mansão, esta estava usando um longo quimono vermelho com um obi¹ branco muito manchado.

Tinha cabelos curtos e negros como piche que se ajustavam bem ao rosto muito pálido, mas onde haviam de estar os olhos havia apenas uma venda com várias manchas de vermelho, e o sangue lhe escorria pelas bochechas como se alguém tivesse acabado de lhe furar os dois olhos.

Sentiu as mãos de Chou lhe envolverem os olhos e não viu mais nada do que aconteceu. Ouviu um grito agudo e algo caindo no chão, foi puxado pela mão e os olhos foram destampados e se viu correndo para o corredor, também viu uma grande chama se formar no outro cômodo e a garota ser envolta por elas.

Fecharam a porta e começaram a correr pelo corredor até decidirem que estavam longe o bastante. E a situação só parecia ter piorado. Estavam em um corredor gelado, o vento entrava pelas frestas da madeira e agora a lua incidia pelas janelas em que passaram, no escuro por que as velas haviam sido deixadas junto com as chamas. Chou respirava com dificuldade e Karin estava em completo estado de choque.

— Karin, você vai ter que me contar AGORA o que viu naquela porta... E por que ouvimos aquele grito de garota... E tudo mais que você viu de bizarro até agora...

O loiro falou de tudo que havia visto desde que entraram na mansão e quando terminou Chou olhava para o vazio do corredor.

— Ka, você vai ter que sofrer um pouco... Só você consegue vê-los, você terá que ser meu guia. Vamos chegar até os túneis e achar uma saída, ok? Nós vamos sobreviver...

O garoto fez que sim com a cabeça, mas estava incerto sobre as palavras do amigo. Queria muito reencontrar a garota do kimono branco, mas provavelmente não iria ver nada de bom naquela mansão.

Recomeçaram a andar, mas dessa vez um do lado do outro, de mãos dadas. Com a outra mão Chou segurava um pedaço de uma janela com pregos que havia achado perto de onde estavam. Havia muitas coisas jogadas no chão do corredor, fotografias e brinquedos antigos, estilhaços de vidro, pedaços de madeira quebrada e mais uma variedade de coisas.

No final entraram em uma espécie de pátio onde não havia nada a não ser uma escada que descia por debaixo da mansão. Chou sorriu. Aquela escada só podia dar para os túneis. Karin se animou com a esperança de sair logo daquele lugar.

Logo começaram a descer e o piso que antes era de maneira se tornou de terra. Entraram em outro corredor estreito, mas desta vez sem janelas. Um túnel. Andaram bastante até começarem a ficar exaustos. O Sono lhe afetava e a fome também.

O túnel parecia nunca acabar quando ouviram algo vindo atrás deles. Karin foi o primeiro a se virar, mas não via nada, estava escuro de mais. Logo os barulhos cessaram. Os garotos se entreolharam e Chou empunhou o pedaço de madeira que carregava. Karin se virou novamente para ver se algo vinha, mas nada.

— Tem alguma coisa?

— Não.

Mas quando voltou a sua posição inicial parou de repente, havia uma criança ali, e ela segurava uma espécie de máscara de madeira. Não se podia ver direito o rosto dela, mas usava um quimono infantil rosa claro.

— Tem alguma coisa ali, Ka? Ei... Karin? Responde!

Ela estava se aproximando, em passos lentos e calmos, como se não importasse se Karin a pudesse ver.

— Uma criança... Ela ‘tá segurando uma máscara...

— E o que ela quer?

— Não sei...

Karin olhou novamente para a garota que vinha em passos lentos. Ela murmurava algo...

— Demônio... Cego... Olhos... Sangue... Perfurar... Livres... Ritual...

— Karin?

A garota estava próxima e agora podia ver direito a máscara que segurava. Havia algo afiado no lugar dos olhos. Estava manchado de algum líquido que parecia escorrer pela madeira...

— CORRE...!

Chou começou a correr junto com Karin até voltarem para o pátio vazio. O loiro correu para a porta que dava para o corredor, mas o outro não conseguiu passar pois a porta se fechou com um baque sonoro.

— CHOU! NÃO! ABRE! NÃO!

Tentou forçar a maçaneta, mas estava trancada por dentro.

— Karin... — Chou falava por trás da porta, parecia estranhamente calmo... Conformado. — Me escuta... Você vai fugir... Sai da casa...

— Não! Não vou sem você...

Silêncio.

— Chou ?

Um silêncio longo de mais.

Foi aí que começaram os gritos. Era com certeza a voz de Chou, eram gritos de dor pura, como se o estivesse torturando. Logo vozes de crianças começaram a cantar enquanto os gritos de Chou ecoavam pelo corredor frio.

Karin fechou os olhos e sentou no corredor em frente à porta tampando os ouvidos e deixando as lágrimas rolarem.

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Notas finais do capítulo

{ NOTAS DA AUTORA}
Eu gostava do Chou...não me mate pelo que fiz a ele. Mas vocês só vão saber mesmo o que aconteceu no quarto capítulo! Pois o próximo é sobre nossas duas Donzelas do Sacrifício!
Sinto certo ódio pelo jeito covardão do Karin...
Até o próximo capítulo!!!



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