Ops! - Entre o desespero e a esperança escrita por Fran Carvalho


Capítulo 16
Crack


Notas iniciais do capítulo

Ei! Agora Camila entra numa nova fase, o temido crack. Boa leitura!



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Corri na direção da avenida, e a vi. Glória tinha as mãos nos bolsos, o rosto cabisbaixo, meio vago, como se oferecendo aos carros que passavam, que a ignoravam.

Um carro branco parou. Ela conversou com o motorista e ele tentou arrancar o carro, mas ela ergueu a blusa, deixando os seios a mostra. O motorista puxou-a para dentro do carro, e ali mesmo, passou a beijar Glória como se os lábios dela fossem feitos de chocolate.

Senti vontade de vomitar, e acho que teria feito se não viesse os gritos.

– Glóriiiiiaaaa! - era um ganido desesperado, o próprio som da dor vindo aos meus ouvidos.

Olhei na direção que vinha. Uma mulher de meia idade, os cabelos quase grisalhos e um vestido cor-de-vinho veio correndo na direção do carro, uma vassoura nas mãos.

– Minha filha! - ela choramingava - Por Deus, criança, o que está fazendo? Será que não te dou dinheiro o suficiente?

Ainda sendo sugada pelo homem, Glória tirou a cabeça pra fora do carro e riu.

– Aquela miséria que você me dá? - ela fungou - Mal dá pra comprar as pedras de um dia!

A mãe avanćou com o cabo de vassoura no carro, que espatifou o vidro. Estava pronta pra partir com a mesma agressidade para a filha, quando uma mão a segurou.

– Silvana, por Deus, não faça isso, ela é sua filha lembra? Seu milagre. E olha - o homem apontou pra janela de casa - Mari está chorando, nem sabe o que está acontecendo!

A mulher que se chamava Silvana se acalmou e olhou para a casa que eu sabia ser do pastor dos meus tios. Uma menina dois ou três anos mais nova que eu olhava da sacada.

– Glória - o pai ou padrasto falou como se ela não tivesse sendo o pirulito do homem no carro - Filha, eu sinto muito. Eu te amo, mas não posso mais aguentar... Já fazem dois anos, e você excedeu os limites da minha força. Minha casa está quase vazia, você vendeu tudo!E agora isso...

Ele apontou a filha como se finalmente percebesse que o homem estava com a cabeça entre as pernas dela.

– E por favor, fique longe dos olhares da sua irmã! - ele suplicou, osnolhos cheios d'água. Ela sofre ao te ver assim. Saia de casa, filha, fique com a garagem se quiser.

Entrou na casa onde a menina olhava da janela. Com tudo isso, só havia uma explicação óbvia.

Glória era uma das filhas do pastor.

***

Ela saiu do carro com a boca aberta de espanto. Fora expulsa de casa há minutos pelo próprio pai. Tive pena dela.

O carro arrancou, deixando uma nota de cinquenta cair da janela. Glória a pegou como se tivesse medo que eu pegasse dela.

– Pode me explicar quem realmente é e o que aconteceu aqui? - perguntei, uma careta entre confusa e curiosa.

Ela revirou os olhos, sentando na calçada.

– Sou filha do pastor se é isso que quer saber - ela resmungou - Esse cara que acabou de me expulsar de casa.

Engoli em seco.

– Tem uma irmã pequena? - perguntei.

– Ela já tem doze anos - falou - Com a idade dela eu comecei essa vida - Ergueu os ombros como se dissesse que não importava - Fico com pena, deveria ser o exemplo dela, mas sou isso aqui, essa é minha vida - ela chorava como criança - Crack, roubos, prostituição... Eu estou morrendo, Camila.

Enchi os olhos d'água. O que será que teria feito essa garota se envolver nisso tudo? Tinha uma família perfeita, uma educação de ouro.

Tirou de dentro do bolso um cano de PVC em formato de cachimbo. Mordeu o lábio.

– Eu te ofereceria uma pedra, mas estou com a última - ela deu de ombros - Assim que ver Niterói compro mais.

Senti meu coração dar um pulo.

– Marcelo é o traficante daqui?

Ela gargalhou.

– Claro que não. Ele é um dos avião viciado que gasta mais do que vende. Mas é o que temos.

– E quem vende pra ele? - indaguei.

Ela recuou.

– Sem tantos detalhes, deixa os caras grandes de fora. É um grande segredo.

Fiz que sim, derrotada. Mas obviamente, minha curiosidade estava despertada.

***

Marcelo estava se aproximando de Glória, mas recuou ao me ver. Enruguei a testa, Glória fez sinal pra que ele viesse pra perto de nós.

Encabulado, ele se aproximou de nós com as mãos nos bolsos, e o olhar baixo.

– Tenho cinquenta - ela falou em tom normal.

Vi os dedos de Marcelo tremerem como se tivesse tendo uma convulsão. Ele não olhou pra mim, sequerbum momento. Pegou vários pacotes e entregou a garota.

– S-s-sinto muito, Camila - ele gaguejou. E correu como se eu fosse jogar ele na cadeia ou algo assim.

– O que deu nele? - perguntei, entee confusa e curiosa. Ela gargalhou.

– Não é óbvio? - ela apontou pra onde ele fora - O garoto é doido por você.

Engoli em seco, sem saber o que falar. A imagem de André surgiu na minha cabeça num lampejo.

– Quer uma? - ela ofereceu - Mas só dessa vez, não vou bancar você.

Olhei o cano, relutante. Tantas campanhas contra o crack me vieram na mente como um filme rápido. Meu peito batia com força e eu tinha medo.

Mas a vontade de esquecer e sair da realidade ainda era maior que eu.

Fumei o crack com a disposição que fumaria um baseado qualquer. A sensação de liberdade era tamanha que o mundo parecia haver parado.

E sem saber, cada vez mais eu me afundava em um mar de ilusões e derrotas.

E era ainda o começo.


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Notas finais do capítulo

Lembre-se: cigarro, melhor não. Maconha, dá pra levar. Cocaína, derrota na certa.
E CRACK, NEM PENSAR!

Fica a dica ;)



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