Ops! - Entre o desespero e a esperança escrita por Fran Carvalho


Capítulo 3
Escola + amigos




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Entrei vagarosamente no interior da estrada principal de Estrada Alegre, a movimentada cidade litorânea, onde meus tios moravam. Meu atual momento, mantinha meus olhos caídos e minha cabeça baixa. Mal vi quando dei de encontro com uma colega.

Levantei os olhos, observando a garota de pele escura, olhos pretos e um terceiro olho na testa. Seus cabelos negros e lisos estavam presos em uma trança, apoiada no ombro direito.

- Desculpa - sussurrei, em tom tão baixo que a garota levou alguns minutos pra responder.

- Não tem importância - disse a garota com um sorriso - Precisava mesmo de alguém que mostrasse minha sala. Onde fica o primeiro ano?

Ergui as duas sobrancelhas, percebendo o sotaque mineiro misturado com algo que eu não conseguia identificar.

- Eu não sei - disse, ainda sem sorrir - Eu vim de Portão, me mudei pra casa do meu tio.

A garota franziu a testa, tentando enteder onde ficava a tal cidade, e depois passou a falar sem parar.

- Eu não sei onde fica nada por aqui, que droga! - Sou filha de indiana e africano. Nascida em Minas Gerais, e agora essa, ter que me mudar pra esse lugar estranho! Conhece alguma coisa por aqui? Ou alguém, pelo menos?

Fiz que sim, assustada, enquanto a outra continuava a falar.

- Meu nome é Inajara, sabe? Inajara é um nome diferente, eu sei, e vem da mistura de uma deusa indiana e uma africana, o que ficou bem estranho. Mas é bom,. só assim ninguém tem o nome igual ao meu e eu ainda sou protegida duplamente! Alias, qual seu nome mesmo?

- Camila - consegui dizer entre a fala apressada da garota.

- E por que você veio pra cá? - antes que eu pudesse abrir a boca, a garota contiuou a falar - Eu vim por causa de um cara idiota que eu namorava e me traiu com a professora, aquele idiota! Mas, ah, também não é só por causa disso, minha mãe quis vir pra cá depois que se separou. Eu quero sair dessa deprê pós-separação, e você?

Senti os braços arrepiarem, como se aquela coicidência, fizesse parte de algo bem maior.

- Minha mãe faleceu a seis meses e eu precisava de um tempo e meu pai também. Então, foi o jeito - dei de ombros, depois de falar bem mais calma que Inajara - Também to aqui pra ficar bem.

- Isso é bom, não é?Sairemos da deprê juntas! - disse Inajara, dando socos no ar e rindo.

Ergui a sobrancelha, estática. Como aquela garota podia se dizer em depressão, se parecia tão animada? Nós duas conversando podia ser engraçado, se não fosse triste. Inajara ria de tudo. Eu não ria de absolutamente nada.

***

Pedi que Daiane, que já estava no terceiro ano, que me mostrasse a sala. Inajara, mais rápido do que eu esperava, se deu bem com minha prima loira.

- Eu não sinto raiva dele - dizia, a respeito do antigo namorado traidor - Gosto dele.

- Eu não conseguia ter toda essa maturidade, mineirinha - riu Daiane, que se interessava por assuntos assim.

Me desliguei da conversa desagradável, quando Daiane apontou a sala do primeiro ano. Encostado na porta da sala, vi um garoto magro, de olhos castanhos bem claros e um boné que escondia o cabelo ralo. Em sua volta, garotas riam de suas piadas idiotas e, descaradamente, davam em cima dele. E como cheira bem, pensei, meio sem querer.

Logo que o garoto percebeu a minha presença constante, deu um magnífico sorriso de ator de novela, provocando uma aceleração repentina no meu pobre coração. Paralisada no segundos que passava, ouvi a voz do garoto.

- Quer passar, né? - perguntou com um sorriso infantil.

Não!Pode fica aí pra sempre se quiser, pensei querendo aumentar aqueles segundos intermináveis. Balancei a cabeça, porém, afirmando querer passagem, logo concedido pelo garoto-príncipe.

Inajara me seguiu até o fundo da sala de aula. Sentamos, Inajara e eu. Ela conversava animadamente, enquanto eu abria os cadernos recém-comprados e sonhava acordada com o garoto da porta.

- Cê não acha que um amor bonito assim não tinha de acabar desse jeito?

Desperta dos meus pensamentos, olhei Inajara sem saber do quê a garota falava.

- Claro que acho, Iná - tentei entrar no assunto - Mas não podia continuar depois da traição, né?

Inajara franziu a testa, tentando entender do quê eu falava.

- Cê não tá escutando, vey! - indignou-se a garota meio indiana, meio africana - Estava falando dos meus pais e não de Damion!

Meu rosto branquíssimo dever ter avermelhado e senti ter magoado minha nova amiga.

- Sinto muito, Iná - desculpei-me - Eu acho que estava sonhando acordada.

- Sei bem com quem - riu-se Inajara - Vi como olhou o garoto da porta e sua prima também percebeu.

Baixei a cabeça e senti medo do garoto também ter percebido minha paixão repentina.

Alias, onde ele tá? - perguntou a garota negra, brilhando seus olhos cor de jabuticaba.

Nessa hora que o professor entrou na sala, se apresentando e dizendo para os velhos alunos os últimos resultados do futebol.

- O que houve com André, sor? - perguntou uma garota de lindos cabelos cacheados e olhos azuis. Vestia um top rosa e um short jeans e tinha uma maquiagem bastante carregada.

- Foi embora, Barbie - respondeu um garoto gordo e de aspecto maldoso - Teve um problema de família.

- A irmã, só pode - riu a "barbie", que se chamava Bruna, e da qual eu e Inajara não tivemos a menor afeição - Será que morreu dessa vez?

Senti um arrepio ao ouvir os "assassinatos" da garota barbie e seus admiradores. O quê tinha a irmã de André?

Esqueci André por alguns minutos para ouvir a história dos pais de Inajara e sua separação sem motivo aparente.


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo: Inajara e Camila vão ao pub de adolescentes de Estrada Alegre e encontram o "garoto da porta". Será que seu segredo vai ser revelado?



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