Ops! - Entre o desespero e a esperança escrita por Fran Carvalho


Capítulo 2
História de amor




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Foram longas três horas de viagem até Porto Alegre, e eu dormi quase o caminho todo. Meu tio me chamou com um empurrão, avisando que tínhamos chagado.

Meu corpo todo doía, quando entrei sonolenta na casa onde passara muitos momentos da minha vida. Tia Carla, espetacularmente parecida com minha mãe, me olhava com aqueles olhos verdes iguais aos meus - de um verde claro, pintados de castanho perto da pupila e um verde escuro contornando o olho todo, como uma obra de arte - , com um sorriso sincero nos lábios. Minha prima Daiane, agora com os cabelos loiros escuros, estava mais magra. Ela vivia trocando o estilo de cabelo, e agora estava mais parecida com a mãe que nunca.
Daiane correu em meu encontro e me abraçou. Senti algo tão bom quanto nunca.
Desde que minha mãe morrera, só abraçara meu pai.
- Senti sua falta - falou tia Carla, vindo me abraçar - Como você está?
Assenti meio sem graça.
- Tô bem - olhei na direção da cozinha cheia de fome - Tem comida?
Tio Luis riu quando chegou com minha mala.
- Vamos almoçar - anunciou. ******************************************************** Comíamos em silêncio, cada qual com seus pensamentos. Eu pensava nos meus pais. Na verdade, tentava imaginar o passado delas. Carla e Caroline era gêmeas, apesar das diferentes personalidades, e até eu confundia as duas quando estavam juntas. Tio Luís e meu pai eram irmãos, meu tio era cinco anos mais velho. Os dois se davam tão bem que conquistaram suas esposas juntos. - Tia - levantei os olhos na direção dela - Será que posso fazer uma pergunta? Os três me olharam, curiosos. - Já fez - riu minha tia - Mas pode fazer outra se quiser. Assenti, sem graça. - Como foi que você e minha mãe conheceram tio Luis e meu pai? - eu a olhava nos olhos - Porque nunca nos contaram isso? Tia Carla e tio Luís se olharam, conversando por olhares. Eu e Daiane observavamos, confusas.
- Conta a história, pai - implorou minha prima.
Ele negou com a cabeça.
- Nem pensar - falou, baixinho - Não.
Tia Carla sorriu, ternamente, só pra nós duas.
- Elas já têm idade pra saber, Luís.
Meu tio levantou a cabeça, atônito.
- Conta, então. - e deu de ombros.
Tia Carla sorriu, se inclinou pra frente e começou a contar. ************************************************** Foi no dia que Carla e Carol fugiram. Era pouco menos da meia-noite quando as gêmeas pularam a janela do quarto, no primeiro andar. Os pais delas eram rígidos  Jamais deixaram as gêmeas saírem de casa depois das nove da noite. Mas, há tempo queriam ir a nova discoteca que abrira na cidade. Todas as amigas já tinha ido.
Já era mais de duas horas quando olhavam uma pra outra, enquanto dançavam com dois desconhecidos. A vontade de ambas era não mais estar ali, mas tinham medo da noite, estavam esperando amanhecer pra voltar pra casa.
Dois garotos, de idades diferentes, porém bastante parecidos, entraram na pequena discoteca. Um deles parecia ainda no início da adolescência, o outro aparentava ter por volta dos vinte anos.
As gêmeas olharam admiradas aqueles que chegavam. Carla se desprendeu do garoto que dançava, e segurou a mão da irmã, puxando-a consigo. Os cabelos loiros escuros idênticos esvoaçavam com a corrida.
- O que tá acontecendo? - perguntou Carol, assustada, a irmã.
Carla não respondeu. Continuou até chegar perto da vista dos recém-chegados, que riram. Um sorriso maravilhoso saiu dos lábios do mais velho. Carol acho o mesmo.
Logo, o garoto mais velho vinha na direção delas, acompanhado do irmão, que vinha mais ao longe.
- Meu nome é Luís - o garoto mais velho disse, estendendo as mãos na direção das duas.
Carla apertou a mão do garoto e sorriu. Ele tinha belos olhos pretos e cabelos negros. A pele morena se destacava no rosto com barba rala.
- Eu sou Carla - apresentou-se a garota - Essa é minha irmã, Carolina
- Gêmeas? - perguntou o garoto de voz infantil, vindo atrás de Luis - Uau!Vocês são iguais!
Seus olhos olhavam espantados para as garotas de cabelos loiros e pele muito clara. Carolina riu do garoto engraçadinho. Tinha os olhos pretos como os de Luís e os mesmos cabelos pretos, porém seu rosto infantil denunciava a pouca idade. Deveriam ser irmãos também.
- Cala a boca, mané - falou Luís, dando um leve tapa atrás da cabeça do garoto menor - Esse é meu irmão, Joel. Não precisam falar com ele se não quiserem.
O rosto de Joel sofreu um vermelhidão repentino, pela grosseria do irmão. Carolina sorriu pra ele e logo os dois conversavam como velhos amigos.
Já quase amanhecia quando o pai das gêmeas entrou na discoteca lotada. Seus olhos autoritárias viram as filhas conversarem com desconhecidos e logo as tirou dali.
- Quem eram aqueles garotos? - perguntou.
Os pés calmos de Carolina tentavam acompanhar os passos firmes do pai.
- São legais, pai - falou a garota, empolgada demais.
- Ele é uma criança perto de você, Carolina! - disse o pai em um grito - E o outro velho demais pra você, Carla.
Carolina torceu o lábio, insatisfeita.
- Ele não é criança, pai - gritou indignada - Já tem quinze anos e trabalha!
- E Luis só tem vinte, pai - reclamou a irmã - Nem é tão velho assim!
O pai das gêmeas mudou de assunto, trazendo a tona o assunto da fuga. O sermão durou dias.
Apenas quando Carolina falou com a mãe, cerca de três meses mais tarde, o assunto surgiu.
- Tem um garoto, mãe - dizia Carolina, enquanto ajudava a dobrar os lençõis - A gente tá namorando.
A mãe sorriu, sem deixar o que fazia. Confiava muito nas filhas, por isso tinha convencido o marido a deixar que as duas saíssem, desde a fuga. Apesar da superproteção, o pai autorizou.
- E quem é ele, filha?
Carolina sorriu.
- Conheci ele na discoteca, a Carla também - a garota falava, de cabeça baixa, pra não olhar nos olhos da mãe - Ele tem quinze anos, mas já trabalha na empresa do pai. Garanto que vai gostar dele.
A mãe riu.
- Tenho certeza que sim, filha.
No momento que a mãe fechou a boca, Carla entrou no quarto aos prantos, abraçou a irmã gêmea e sussurrou apenas no seu ouvido.
Carolina sentiu as pernas cambalearem e o chão pareceu sumir em baixo dos seus pés. Ela sempre foi do tipo comportada e sonhadora. A irmã, porém, apesar de idêntica a ela na aparência, era muito diferente. Carla era do tipo madura, séria e sem medo de riscos.
A mãe puxou a mão de Carla, fazendo a menina olhar pra ela. A garota chorava, tentando abrir a boca pra falar com a mãe.
- O que aconteceu, filha? - gemeu a mãe, preocupada.
- Eu tô grávida.
Os próximos dias passaram  rápido demais na vida das gêmeas. O pai quis matar Luís, depois obrigou o garoto ao casamento rápido. Em menos de dois meses, Carla e Luís estavam casados. Carolina foi autorizada ao namoro, sem questionamentos, no meio de tudo isso.
Como comportada que era, Carolina casou dois anos depois, na Igreja, com direito a vestido e festa até o amanhecer. Ficou grávida logo depois da lua-de-mel, nascendo então Camila, de um pai de apenas dezoito anos, recém-feitos.

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