Uma semana se passara desde meu acidente, e eu finalmente recebera alta.

Eu estava tendo muita dificuldade para me locomover, e, sob muitos protestos da minha parte, fui obrigada a sair do hospital de cadeira de rodas. Aquilo era tão humilhante!

   O médico me explicara mais cedo que se eu tivesse quebrado apenas a perna eu poderia usar muletas, mas como eu quebrara também o braço e as costelas, eu não poderia forçar. E assim começou a briga da cadeira de rodas, que, só pra constar, eu perdi.

   E assim voltamos. Mas quando cheguei em casa tive uma enorme surpresa: todos os meus parentes e amigos estavam ali para me desejar melhoras!

   - Oh, meu Deus! - exclamei quando vi. Liam estava perto de Alice, e piscou travesso para mim. Ótimo, parte daquilo fora idéia dele!

    Fui inundada com um milhão de perguntas sobre como eu estava, abraços e até alguns presentes (gostei dessa parte). Mas tudo o que eu queria naquele momento era poder deitar em minha cama, assistir TV, mexer em meu notebook (atualizar as redes sociais, uma semana longe do mundo, eu devia ter perdido muita coisa!) assistir minhas séries, tocar violão (seria um pouco difícil com o gesso do braço mas eu daria um jeito), ou enfim, fazer qualquer coisa que permitisse livrar-me da cadeira de rodas.

   Mas, como nada daquilo era possível, tratei todos da melhor maneira que eu pude. Conversar  com Alice, pegar a Nat no colo (ela estava cada dia mais linda!) rir e me divertir com Pedro e Liam foram as únicas partes boas. Mas, aos poucos, a casa foi se esvaziando,
permitindo-me realizar meu sonho momentâneo de ir para meu quarto e deitar.

   Pedi para me levarem para cima, e com muita dificuldade meu pai e Liam conseguiram me levar escada acima.

    Com a ajuda deles consegui transportar-me para a cama, fiquei fitando cada detalhe do meu quarto e sorri.

    - Aaaaaaah, como é bom estar em casa! - suspirei.

   - Realmente - meu pai disse brincalhão - não estava mais aguentando você reclamando que queria seu quarto logo!

    - Pai! - repreendi - poxa, não é nada fácil ficar uma semana
encarando o teto branco encardido de um hospital, sem poder ao menos levantar!

   - Eu sei, filha, eu sei - ficou sério - só estava brincando...

   - Tudo bem - eu disse.

 - Bom, você vai ficar bem sozinha? Tenho alguns compromissos do trabalho para resolver...

   - Tudo bem, pai - eu disse - sem problemas, pode ir, Liam cuida de mim - sorri para Liam que sorriu feliz, de volta.

    - Ok - ele disse e se despediu rapidamente.

    - Hmmm, eu cuido de você, é? - Liam disse sentando-se a meu lado na cama assim que meu pai saiu.

     - Claro né, você não vive sem mim - eu disse, convencida.

    - Aham, claro - ele disse se levantando - vivo muito bem sem você - fingiu convencimento e começou a andar em direção à porta.

    - Não, não! Espera! - ele se virou - fica comigo... - choraminguei.

    - Aé? - ele disse - vejo que quem não vive sem mim aqui é você! - ele riu e eu fiz bico.

   - Bom, mas é sério, tenho que ir pegar algumas coisas no meu quarto e já volto - ele disse e saiu.

    Cinco minutos depois ele volta com duas sacolas na mão e me entrega.

    Uma era minha reserva de doces, que estava correndo sérios riscos de acabar, e a outra era...

    - Caramba Liam! - exclamei - todas as temporadas de Friends! Eu não posso acreditar! Obrigada, obrigada! - abri os braços pedindo abraço, no qual ele ignorou - me abraça! - eu disse impaciente.

   Ele sorriu provocante e veio me abraçar.

   - De nada - ele disse  durante o abraço.

    - Você é um anjo! - exclamei quando nos separamos.

    Ele apenas deu de ombros, concordando e eu taquei um travesseiro nele.

    - Eu não ia deixar você sem fazer nada - deu de ombros - a propósito - pegou uma almofada - não pense que eu não vou descontar! - ele jogou em mim e riu.

    Comecei a rir também, e só não joguei de volta porque estava impossibilitada.

   Ele então levantou-se, pegou o disco da primeira temporada, colocou no aparelho e  veio se deitar a meu lado.

    Ficamos o dia inteiro assim, deitados abraçados vendo Friends, comendo chocolate entre outras coisas...

   Ficar com Liam era algo fácil como respirar, que não exigia esforço algum, e era a melhor coisa do mundo.

   [...]

   Outra semana se passara desde que eu recebera alta, e eu já estava bem melhor. O médico me permitira usar muletas (finalmente!) mas apenas quando muito necessário.

    Minha família me mimara muito, e eu estava bem mais feliz.

   Apenas Liam que andava meio ausente nesse tempo, mas sempre aparecia nos finais de tarde e fazia questão de ficar comigo.

   Por isso me surpreendi quando ele apareceu no meio da tarde.

    - Jenny! - ele disse - vem, arrume-se, vamos sair.

    - O que? - perguntei incrédula.

    - É isso mesmo - ele disse - quero te levar em um lugar.

    - Mas você sabe que eu mal consigo andar! - eu disse.

   - Eu te carrego, agora vaaamos, por favor!

    - Ok! - concordei a contra gosto, visto que ele não iria ceder.

    Me arrumei (demorei um pouco pois, era "meio" difícil me trocar com um braço e uma perna engessados. Ah sim, sem falar nas costelas) e
coloquei calças jeans largas para cobrir o gesso e uma blusa básica com uma jaqueta de moletom por cima - pois estava frio, outono né - e tênis apenas no pé esquerdo. Eu não estava nada bem, mas eu não podia fazer mais nada!

    Apesar de tudo, Liam ainda me elogiou quando me viu. Ser mais fofo que ele não existe!

    Ele me ajudou a descer as escadas, e peguei as muletas de volta quando chegamos lá em baixo. Vi que tinha um táxi parado ali na frente e olhei questionando para Liam.

    - O que? - ele disse, quando viu meu olhar - eu não ia te levar a pé nessas condições né! Vem - abriu a porta do carro para mim.

    Ele entregou o endereço ao taxista, que assentiu e ligou o carro.

    - Aonde está me levando? - perguntou.

    - Estou te raptando - deu de ombros.

   - Não vai me falar onde estamos indo? Mesmo? - franzi as sobrancelhas.

    - Não - deu de ombros novamente - é surpresa.

 Depois disso fiquei quieta, pois sabia que insistir era perda de tempo.

   Quando finalmente chegamos, Liam disse:    

    - Eu prometi que ia achar, e achei - ele disse indicando o lugar que estava à nossa frente. Olhei, e não acreditei no que vi. Era um parque. O parque. Aquele mesmo no qual eu conhecera Lucas e nunca mais o vira, e que eu perdera minha pulseira. E que Liam achara.

- Você achou! -exclamei.

 - Sim - ele sorriu, feliz ao ver minha reação.

 - Vem - ele disse, e me pegou no colo.

- Ei - protestei - me põe no chão! Eu consigo andar!

   Ele apenas fingiu que não ouviu e foi me carregando parque à dentro.

 - Pronto - ele disse parando em frente a uma árvore que eu reconheci. No chão, ali perto, havia um pedaço de madeira, e ao lado, uma marca de All-Star. É, era ali mesmo.

Ele se sentou no chão, e me pôs a seu lado.

  - Foi aqui que achei  sua pulseira - sorriu tímido.

 - Foi aqui que eu a perdi - sorri tímida também.

  - Eu te trouxe aqui, porque esse meio que é o NOSSO lugar, e eu tenho que te fazer um pedido...

Agora eu estava curiosa.

  - Eu sei que outra pessoa já fez isso, e que isso provavelmente vai te trazer más lembranças...

  "Mas eu quero que você seja minha, só minha"

 Meu coração acelerou enquanto ele tirava uma caixinha do bolso e a abria lentamente.

   - Aceita namorar comigo?