Lá estava escrito em letras maiúsculas em um papel já amarelado pelo tempo; LAURA FERNANDES DE VASCONCELOS. Meus olhos se encheram de lágrimas, uma foto dela estava anexa e logo abaixo o nome de seu esposo, também em letras maiúsculas; AUGUSTO DE VASCONCELOS SILVA. A página era datada de 12/05/1952.

    Eu olhava para o livro e para o Gabriel, faltavam-me palavras, eu, definitivamente, não sabia o que fazer ou falar, os nomes não tinham nenhum pouco haver com o que havíamos escolhido, porém, era maravilhosa a sensação de descobrir a real identidade do casal que há alguns dias me tirava o sono.

    Enquanto pensava isso o Gabriel colocou o cabelo que cobria ligeiramente meus olhos por trás da orelha, deslizou o dedo indicador até meu queixo fazendo com que meus olhos se dirigissem aos dele, e disse — É mágico não é mesmo? A história começa a fazer certo sentido ao passo que descobrimos coisas verídicas a respeito dos dois, mas para ser sincero, preferia Estela. Eu sorri. — E eu Guilherme. Notei a palidez em sua face, estava escuro mais percebi que seus olhos ah! Seus olhos, eles diziam tudo e nada ao mesmo tempo, era como se eu pudesse enxergar através deles.

Gabriel narrando:

...

    Ela estava esplendidamente linda sobre a luz fraca que tocava sua face, era possível ver seus olhos se mexendo ligeiramente, de tal forma que me deixava angustiado. Sentia-me feliz, talvez por tê-la feito sorrir e derramar lágrimas ao mesmo tempo, por falar nisso, já mencionei que o sorriso dela chega a ser o mais lindo de todo o universo? Com aquelas covinhas de lado que dão um ar de fragilidade encantador, enfim, ela é linda, e o meu interesse repentino por alguém que conheço a menos de uma semana me preocupa verdadeiramente.

    Sabe, sou do tipo de pessoa que nunca passou de umas paquerinhas de verão, as garotas me consideram atraente, e eu as considero atiradas demais, nunca gostei de proximidades repentinas e sem motivo, gosto do acaso, daquilo que vem de forma inesperada, assim como a Rafaela.

    Sussurrei com certo medo da resposta — O que achou? Ela demorou um pouco para erguer o rosto e ainda mais para responder, até que finalmente ela falou — Eu... eu amei, é como se eu finalmente passasse a conhecer aqueles que moram no cenário de amor mais lindo o qual avistei durante toda minha vida, é como se eu fizesse mais parte dela do que de mim. Como você conseguiu encontrar isto Gabriel? Eu sorri, foi um dos sorrisos mais abertos que já dei em toda minha vida, sua expansão era possível ser vista até para quem me observava de costas, coloquei os cotovelos sobre a mesa e comecei a me explicar — Então, você sabe que minha mãe trabalha aqui na biblioteca não é mesmo? Eu havia comentado com ela sobre a casa a qual estou visitando há algum tempo e falei que gostaria muito de saber quem eram os donos dela, então ela lembrou que aqui na biblioteca eles guardam um livro com os registros dos antigos moradores daqui, quando ainda era apenas um pequeno município, e disse-me que havia uma grande probabilidade de eu encontrar não só seus nomes, como fichas médicas, dia de nascimento e de suas mortes.

    Rafaela me olhou com um ar de duvida e falou — Então vamos entender direito, sua mãe é bibliotecária daqui, consequentemente ela tem a chave desse lugar, e você arrombou a porta para que nós entrássemos? Eu sorri. — Só queria deixar tudo um pouco mais emocionante Rafaela, não estraga toda essa emoção. Rimos juntos e ela me perguntou — Você já leu tudo? Respondi que não, afinal, queria que descobríssemos juntos o desenrolar desta história, ela pós o dedo sobre a primeira linha e sua voz soava de uma maneira adocicada, ouvi-la lendo era como música para meus ouvidos.