Pov. Percy

    Eu olhava as ondas se quebrando pensativo; era um sentimento nostálgico. O sol do fim do dia tinha seus últimos raios refletidos nas águas da pequena enseada onde eu estava.
    
     Mesmo com toda aquela tranqüilidadeao meu redor, ainda estava um pouco abalado pelo o que o velho me mostrou mais cedo. Depois de tanto tempo...

    Não que minhas lembranças fossem das mais felizes, mas se eu pudesse esquecer só por algum tempo aquilo. Os gritos, o choro... tudo ainda estava claro na minha memória como se fosse ontem. Agora eu entendia a verdade.

E pensar que eu simplesmente nunca tive nada, quer dizer fora o velho, que mesmo sabendo de tudo.

     Mas o velho havia cuidado de mim. Era até engraçado somente lembrar dele. Seco como um osso, mas tinha mais apetite que um boi.

    Ele era como um avô, uma família que eu nunca tive a oportunidade de ter. Sacudi a cabeça tentando afastar as lembranças que vinham sem permissão. As vezes era assim, mas hoje parecia pior. Se ao menos o velho não tivesse me contado.

Mas não tinha como. Como ele sempre dizia nós podemos tentar correr, o fio das Parcas sempre nos alcançava.

     O doce cheiro de maresia bateu no meu rosto. Segundo o velho o mar mediterrâneo era tão antigo quanto o tempo tanto para mortais quanto para imortais. E claro a mistura dos dois como eu.

    Eu sempre soube que não era puramente humano, mas o dia em que tive certeza foi o pior da minha desgraçada vida.

     - Perseus!

     Olhei por cima dos ombros assustado. O velho nunca me chamava assim, fora quando eu fazia algo estúpido ou não preparava a comida que com toda certeza daria para alimentar um rebanho. Eu tinha certeza que não havia feito nada idiota, então só sobrava...

     - Perseus! - o velho gritou logo acima da minha cabeça me dando um cascudo - Perseus, quantas vezes vou ter que falar? Não cozinhe o coelho no guisado - completou me mostrando uma panela fumegando com o possível coelho dentro.

    Eu olhei ele para pensando em como seria minha vida se ele não houvesse aparecido naquele dia.

    - Percy - me chamou com as sombrancelhas franzidas - estava pensando naquele dia outra vez não. - aquilo não era uma pergunta.

     - Não é como se eu pudesse esquecer - falei dando um sorriso que com certeza não alcançava os meus olhos.

     - Eu entendo - falou passando o braço pelo meu ombro - mas agora vamos, eu ainda tenho que ver o que vamos fazer com esse coelho...

     Seguimos pela pequena praia até a nossa casa se é que podia chamar aquilo disso.

    O velho falou o caminho todo, como que para preencher o vazio que eu provavelmente iria deixar. Hoje era especial, porque a exatos oito anos atrás minha vida mudou por completo.

    O jantar foi silencioso. O velho a todo momento me lançava um olhar penoso. O que eu mastigava parecia cola na boca, fora os pedaços de coelho que desciam como pedra pela minha garganta.

    Suspirando o velho deixou o prato de lado e me olhou nos olhos.

     - Você ainda está pensando no que eu falei não é?

     - Não tem como não pensar.

    E não tinha mesmo. Durante tanto tempo eu estava me preparando para encarar a verdade e quando finalmente descobrir...

     - Escute Percy, sei como está sendo doloroso pra você, mas você tem que parar de pensar sobre como seria se isso ou aquilo não tivesse acontecido. Você não pode mudar o passado...

      - VOCÊ ACHA QUE EU NÃO SEI? - gritei me colocando de pé - Todo dia, todo dia eu acordo pensando em como seria, mas... mas... não é só isso... - ri sem humor - você sabe o que é relembrar aquele dia toda vez que fecho os olhos? É... é...

      Eu sabia que não valia a pena chorar, mas eu não podia simplismente dizer se minhas lágrimas iriam obedecer. Meus olhos se desfocaram devido a isso. Eu não chorava, aliás nunca chorei antes hoje, mas quando eu pude ver, sentir, ouvir... aquilo foi demais pra mim.

- Acredite eu sei meu filho - o velho com um olhar triste.

- Certo - falei tentando inútilmente enxugar as lágrimas que desciam teimosas pelo meu rosto - olha... eu vou dormir... boa noite.

Nem esperei uma resposta. Sai dali apressado. Quando entrei no quarto eu podia ouvir meu coração disparando. Eu queria esquecer. Como eu queria. Mas tudo me puxava para o passado. Aquele dia voltou como um turbilhão na minha mente.

Flashback on 8 anos atrás...

- Perseus, desça já dai. - a bela mulher falou para o seu filho de pouco mais de cinco anos.

- Não! Eu quero voar - falou com sua voz infantil ganhando um sorriso triste da sua mãe.

Em uma pedra na praia de Montauk o pequeno se equilibrava com uma destreza acima do normal para sua tenra idade.

- Vamos, desça já dai se não, não irá ganhar seu sorvete azul. - replicou autoritária.

Aquilo pareceu ser a chave para o problema, pois sem dar tempo o pequeno desceu da pedra, mas dessa vez não pode se equilibrar tão bem e acabou caindo.

A mãe que estava perto o segurou a tempo e embalou o pequenino nos braços.

- Nunca, nunca mais me de um susto desse Percy - falou olhando para os profundos olhos verdes do garotinho procurando alguma ferida.

O pequeno pouco parecia se importar com o que aconteceu. Olhava o mar êxtasiado. Olhando aquilo a mulher não pode deixar de sorrir. Ele era uma cópia do pai.

- Papai não vem? - o garotinho perguntou pela centêsima vez.

- Ele já vem meu amor, só... deve estar um pouco ocupado - falou meio incerta.

Poseidon não gostava que ela muito menos Percy saíssem de casa, devido aos outros deuses e quando uma ninfa d'agua apareceu informando para encontrar Poseidon nessa praia, ela havia desconfiado, mas até onde ela sabia nenhum outro deus sabia da existência deles.

E foi com o coração meio em duvida que Saly Jackson compareceu naquela praia, sem fazer a menor idéia de que seria o último dia de vida dela...

          Flashback off

Me afastei daquelas memórias antes que elas me consumissem. Mas ainda sim eu podia ver o rosto da minha mãe sorrindo pra mim...

Eu sabia o que tinha que fazer a partir de agora. Eles iriam pagar. Cada um deles irão sentir a mesma dor que eu senti. Eu só tinha que esperar, pois logo, logo eles iriam me achar e ai sim, tudo ia mudar...