Lá em cima da mesa de cabeceira estava o livro que havia relido varias vezes após chegar do país das maravilhas, o livro o qual minha irmã lia para mim em voz alta em quanto eu resmungava mentalmente sobre a ausência de imagens.Diná enroscava-se em meus pés .Um pedaço de mim acreditava que ele tinha alguma ligação com a minha incrível viagem aquele lugar mágico e tão desconhecido agora quanto era antes de visita-lo. Lá existem vários mistérios e criaturas extraordinárias, acho que se não estivesse tão apavorada e se não tivesse sido intimidada pela bruta rainha de copas nunca teria saído de lá, o mundo real é mais assustador do que um mundo que não possui lógica, um mundo maluco, um mundo onde ser normal nos padrões daqui é ser totalmente diferente, lá você pode fazer o que quiser, se estiver com vontade de comer uma goiaba direto do pé peça a ele gentilmente que lhe dará uma em suas mãos e lhe desejará que tenha um bom apetite, um mundo onde você não pode brincar de bem me quer pois será uma brutalidade, um mundo em que posso jogar um baralho humano e atravessar um cachoeira com apenas um passo e depois voltar a atravessa-la demorando meses dando a sensação de estar atravessando o imenso Atlântico tudo isso precisando somente de dois cogumelos.

Perdida em devaneios em quanto bordava uma bela manta que já estava quase terminada furei meu dedo espalhando sangue pelo manto azulado.Charlote ergueu os olhos de seu próprio bordado e estreitou os olhos procurando avistar o que acontecera, a empregada levantou-se da cadeira tocando sua bochecha rosada preocupada.

– Alice, seu bordado está todo manchado e seu dedo...espere um segundo que já resolvo isto.-Disse Charlote,em seguida, foi devagar em direção a porta.Ela era mais que uma empregada para mim, era uma amiga, curiosamente só conseguia fazer amizade com pessoas idosas, elas são mais tolerantes e tem muita sabedoria a compartilhar com as futuras gerações, mamãe também a tratava como se fosse da família, era uma senhora de sessenta anos que ajudava nos afazeres da casa limpando-a melhor do que qualquer um poderia fazê-lo.

–Charlote, espere, preciso lhe pedir algo.-Disse já de pé em quanto segurava um pedaço do vestido dela.

–O que seria,Alice?-Pronunciou curiosa, eu precisava pedir isto do contrário minha mãe ficaria muito brava.

–Poderia lavar o bordado e...não contar nada a minha mãe, ela...ficaria muito brava e desapontada, talvez ache que eu não seria capaz de constituir família e por mas que não aceite o casamento arranjado o faria para vê-la feliz e isso não seria possível se eu continuar sendo desajeitada nenhuma mãe me aceitaria para casar-me com seu filho.-Charlote deu uma piscadela em seguida assentiu saindo do quarto com o bordado em mãos.

Percebi que Diná miava incessavelmente em quando se desenroscava de meus pés calçados com uma sapatilha de couro, quando vi o motivo não pude acreditar, um chapéu estava em sua cabeça mas não um simples, era cheio de retalhos e estava velho e mal cuidado, outras pessoas poderiam acha-lo nojento ,mas eu não, pois ele era propriedade de um homem baixinho e maluco que dava uma festa do chá todos os dias e comemorava seus desaniversários, não o via a mais ou menos oito anos, que saudade.Peguei o chapéu da cabeça da gatinha manhosa e analisei-o de perto.

Preso num tecido avermelhado e desbotado que estava amarrado no chapéu havia um bilhete.

Cara Alice,

Queres voltar ao país das maravilhas? Caso não, lamento, mas lhe digo que precisamos de sua ajuda, pequenina curiosa, fique tranquila a rainha de Copas já não esta brava com você, do contrario, sua volta seria bem vinda para ela, agora bata os pés cinco vezes em quanto pensa na mesa de chá, virás para cá imediatamente.

Com urgência, Chapeleiro Maluco.