Céu de Lítio escrita por geezinha
Uma semana... Gerard encotrava-se sentado no chão frio da cela, em posição fetal, o rosto apoiado nos joelhos. Sua personalidade havia obscurecido, com o tempo, de modo que uma aura negra rondava seus olhos da cor do mel, antes tão quentes e dóceis, agora arredios, assustadiços. Pareciam também ter mudado de cor, para um pardacento um tanto quanto medíocre, meio esverdeado. Frank sentava-se ao seu lado, mas fazia tempo que os dois não se tocavam, não havia motivos, a situação extrema levara-os a confiar um no outro com a própria alma, porém não havia alegria suficiente para desfrutarem do contato físico.
-Gee...
-O que...? - murmurou, num fio de voz débil, confuso.
-Você tá bem?
-Eu acho que estou enlouquecendo, Fran... Me segure, por favor...
Gerard deslizou seu braço até que as mãos dos dois se encontrassem, a dele estava gélida, causou arrepios em Frank. Seus olhos se encontraram e a alegria jovial havia sumido, a alma de ambos podia contar cem anos, dentro de um corpo infantil. Então era assim que o demônio da depressão agia? Matando, envenenando por dentro, até que sua alma seca não pudesse mais ser sustendada pelo corpo frágil? Nenhum dos dois sabia. Pensar é difícil, para quem já provou do fel do loucura, caminhando em uma corda bamba, ao lado de um precipício.
-Fran... Vamos morrer aqui?
-Eu não sei, Gee... Eu já me sinto meio morto, por dentro, é só por você que estou aqui, é só você que ainda me matém vivo, que me aquece por dentro...
-Eu te amo, Fran... - Gerard beijou-o, um beijo apaixonado e urgente, como se não houvesse mais tempo, como se o mundo pudesse acabar de uma hora para a outra, exterminando seus sonhos, tirando-lhes o melhor. Vida ingrata, estava indo tudo tão bem e agora, por um deslize qualquer, haviam sido sepultádos naquele local. Era como ganhar na loteria e saber que seu bilhete era falso. Falsa alegria. Desespero eminente.
O casal pasou muito tempo abraçado, sem falar nada. Não haviam palavras. Tudo estava esgotado. A alma doente clamava pela liberdade, o corpo contundido já não tinha forças para seguir, e tudo que podia ser feito era entregar-se.
-Way... - Billie Joe abriu a porta, chamando Gerard. - Siga-me, chegou sua hora.
Gerard levantou-se, as pernas bambas que já haviam se esquecido da saúde anterior. Lágrimas cristalinas escorriam por seu rosto, sulcando sua bela face de querubim. Era o fim, sabia disso. Previra isso. Postou-se ao lado de Billie, fitando Frank, que permanecera sentado. Então era um adeus? Nunca mais ia voltar?
-Deixa eu me despedir? - pediu.
-Bem... - vacilou. - Eu acho que irá voltar, mas se quiser, quem sou eu pra impedir.
Frank levantou-se e Gerard jogou-se em seus braços, Billie siu da cela, fazendo daquele último momento um tanto mais íntimo. Os dois beijaram-se com voracidade, em meio a promessas de retorno, e Gerard partiu.
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