Edward virou a cerveja até sorver pelo gargalo o último gole da bebida gelada. Mesmo com frio, beber café só pioraria a situação com as lembranças que a bebida lhe trazia, então estava com bem com sua solitária cerveja gelada de última hora para brindar ao natal.

Sentia-se ainda pior, um fodido hipócrita, em pensar que era o "pior natal de sua vida" já que tinha conhecido Nessie. Ela tinha entrado em seu coração e feito daquele um dia muito especial, mas ainda faltava a parte principal de seus natais. Mas nunca disse que seus problemas eram os piores do mundo, apenas eram seus problemas, estavam pesados sobre seu ombro e estava cansado de carregá-los, ainda mais na porra do natal.

Nem os natais solitários que passou em lares adotivos, em que não davam uma merda por ele ou orfanatos precários, em que ficava totalmente sozinho, eram tão ruins quanto aquele natal. Porque tinha começado bem e lhe enchido de esperança, mas então o final fugiu do clichê e não foi como esperava, agora estava sozinho. E porra, solidão natalina doía.

Refletia sobre isso no único bar aberto na noite de véspera de natal. O bar era o ponto de encontro, aparentemente, daqueles sem família ou ceia em casa – tinha alguns casais, alguns grupos de amigos, alguns homens e mulheres sozinhos procurando companhia para a noite de natal, era uma mistura de alegria forçada e melancolia solitária cheirando a cigarro e cerveja.

Pousou a garrafa no balcão e empurrou para o lado. A sua frente seu Iphone com a foto de Bella aberta e expandida ocupando a tela inteira com seu grande sorriso. Abaixou a cabeça, lutando contra as lágrimas e tentando respirar sobre a dor, respirou fundo e ergueu-a novamente.

— Mais um aqui, amigo. — pediu para o homem que estava atendendo atrás do balcão apontando para a garrafa vazia.

— Depressão na véspera de natal também, companheiro? — um homem perguntou e se sentou ao lado dele. Edward lhe deu uma olhada, estava ao menos alguém pior que ele no lugar. O homem jogou o terno que carregava sobre o ombro no chão, sua camisa social branca estava com os primeiros botões, a gravata estava frouxa ao redor de seu pescoço apenas por enfeite, mangas arregaçadas e os cabelos negros bagunçados; o cara estava suado e parecia meio bêbado. — Ai Blake, me dá uma cerveja.

— Algo assim. E você?

— Minha mulher está agora comendo o peru de natal com o novo marido dela e meus filhos. Ela me deixou apenas desejar feliz natal para eles, entregar os presentes e me expulsou da festa. A vagabunda fica com meu dinheiro, minha casa, meu carro, meus filhos, peru de natal e nem me deixou comer, porra de natal de merda! E você, por que está aqui?

O atendente colocou a nova garrafa de cerveja na frente de Edward e outra na frente do estranho ao seu lado, abriu as duas e se afastou. O homem pegou e deu um longo gole, esperando sua história. Edward suspirou.

— Minha namorada sofreu um acidente de carro e perdeu a memória, vim de Nova York até aqui ver se ela lembrava um pouco que seja de mim. Passamos a tarde juntos, tudo estava perfeito e até nos beijamos, mas nada. Nem um convite para ficar para o jantar. — soltou uma risadinha amarga e pegou a garrafa de cerveja. — E cá estou eu, preso em Seattle até amanhã, passando o natal sozinho e bebendo essa cerveja horrível.

O estranho gargalhou e ergueu sua garrafa.

— Um brinde a nossas merdas, ho, ho, ho!

Edward bateu a garrafa contra a dele suavemente e levou o gargalo a boca, a cerveja era realmente ruim, mas era o que tinha, então deixou o líquido descer por sua garganta. Era melhor o gosto amargo da cerveja, do que o gosto amargo da solidão. Ao menos a cerveja era gelada.

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Owl City - The Christmas Song

Eles continuaram bebendo ali sozinhos. Edward enrolou um pouco com a cerveja, estava bem apenas olhando a foto de Bella em seu celular. Quando a tela apagava, passava o dedo suavemente sobre o visor e quando a luz acendia, o sorriso de Bella parecia iluminar tudo novamente, fazendo-o sorrir. Que patético... Mas ela era tão linda.

O homem já tinha bebido sua cerveja, passou a beber vodka e então pediu vinho porque era natal. Mas se a cerveja era barata, Edward não arriscaria o vinho; queria apenas enrolar antes de voltar para o solitário quarto de motel vagabundo em que estava instalado, não ficar de ressacar e arranjar uma fodida dor de cabeça.

Vários minutos depois, os sinos da igreja começaram a tocar, era meia noite. Oficialmente... Natal.

Escutava todos se cumprimentado – o atendente tinha saído de trás do balcão e todos se abraçavam, até o homem que tinha estado sozinho ao eu lado, desabafado sobre o casamento e todas as merdas, mas nem se lembrou de dizer o próprio nome, agora abraçava uma mulher que antes estava sozinha também.

Apenas Edward ficou sozinho, o que era perfeito. E por sorte ninguém foi falar com ele, realmente preferia ficar sozinho, já que a unica pessoa que queria estava muito longe. Pegou o celular e o ergueu, passando o dedo para acender a tela. Bella sorrindo na foto.

— Feliz natal, Bella. — sorriu para foto e acariciou o visor, sobre o rosto dela, com o dedão.

— Feliz natal, Edward. — escutou a resposta na voz de Bella.

Seu corpo se enrijeceu; sério?

— Você não devia me responder, não tão realisticamente, qual é, nem estou tão bêbado assim. — murmurou para a foto. — Boa merda, era só o que faltava, além de sozinho, estou esquizofrênico. Muito bem Edward, parabéns.

— Se você olhasse para trás veria que não está esquizofrênico e que eu realmente estou aqui, atrás de você. — Bella disse divertida.

Foi o que ele fez, deixou o celular no balcão e se virou. Tão rápido que quase caiu, mas conseguiu se segurar e cambaleou para ficar em pé, lá estava Bella.

Sorrindo gloriosamente, como na foto. Só que ainda melhor, porque era real. Ele ficou lhe encarando incrédulo, o que  ela estava fazendo ali? E ela deve ter percebido, porque passou a parecer mais hesitante e então capturou o lábio inferior entre os dentes, mastigando-o nervosa.

Edward agitou a cabeça, tentando organizar os pensamentos e juntar as palavras para fazer uma frase coerente.

— O que você... Você se lembrou de mim? Lembrou-se de nós?

— Não, eu sinto muito. — Bella disse com pesar. — Eu ainda não me lembro de nada.

— Então o que você está fazendo aqui?

— Ouvindo meu coração, já que minha cabeça está fodida. — sorriu.

— O que...

— Eu não ligo Edward. — disse com uma mistura de riso e sorriso, mas parecia aliviada ao dizer aquilo. — Eu me apaixonei por você uma vez antes do acidente e serei maldita se não disser que hoje, apenas um dia, foi suficiente para eu me apaixonar de novo. Mesmo sem te conhecer eu sinto a sua falta, então acho que isso deve significar algo, não é? Não apenas pelo anel ou as fotos que Rosalie me mostrou, que provam que você foi realmente louco suficiente para se envolver comigo uma vez, mas por quem você é. E por tudo que me mostrou nesse dia. Pelo seu toque me passou segurança e conforto, sua presença que completou o vazio que eu estava sentindo, pelo seu beijo que me acendeu completamente e eu não consigo parar de pensar desde o momento em que nossos lábios se separaram. Eu não me lembro de você, na minha mente, eu te conheço há apenas um dia, mas estou completamente apaixonada por você, Edward.

— Jesus, Bella, você não pode sair por ai dizendo essas coisas para um cara que acabou de beber algumas cervejas, você me deixou com os joelhos fracos. — Edward disse sinceramente, segurando-se no balcão. Podia ser patético, mas estava realmente perto de cair de joelhos. — Isso é patético?

— Um pouco. — Bella riu, fazendo-o rir também. — Mas tudo, porque é natal. E se o que fez seus joelhos ficarem fracos foram sentimentos bons, são aceitos no natal. E eu sei que foi, porque você afeta meus joelhos da mesma maneira. Agora mesmo eles estão bambos, minhas mãos estão suando frias e meu coração está tão rápido que estou preocupada em ter um ataque cardíaco, mas estou bem com isso, porque é alguma coisa e sem você, eu não tinha isso, estava tudo vazio. É época de ter e sentir amor, esperança, felicidade, ter só sentimentos bons e... Longe de você tudo que eu sinto é tristeza... E solidão.

— Oh Bella... — Edward passou a mão pelo cabelo, retomando o controle sobre o próprio corpo e aceitando que aquilo era real. Enquanto um sorriso quase rasgava seu rosto. — Eu sinto mesma coisa, eu só queria passar o natal com você.

— Eu não me lembro de nada sobre meu passado, não tenho nenhuma linda memória para lembrar, mas se você tivesse um pouco de paciência comigo, eu adoraria começar a construir novas. E começando por esse natal. — Bella sorriu, com os olhos quase transbordando. — O que quer a gente tinha antes, será que podemos ter de novo? Porque eu quero passar meu natal com você.

Edward se aproximou dela com um sorriso trêmulo e segurou seu rosto entre as mãos.

— Eu não poderia desejar outra coisa nesse mundo, Bella.

Eu não tenho ninguém em casa para conversar e você não tem nada pra fazer,

Então eu vou passar meu natal com você.

Estava sorrindo tão abertamente que tinha certeza que todos os dentes estavam a mostra, mas não podia se lamentar menos, era tão bom sorrir de verdade e completamente. E podia sentir as lágrimas descendo por seu rosto e se lembrou de Nessie; o sorriso é tão grande que para não rasgar o rosto acaba derretendo um pouco e virando lágrimas. Lágrimas de felicidade. Roçou seu nariz ao de Bella, logo depois seus lábios e então a beijou.

A boca dela se separou e se encaixaram perfeitamente; era como o primeiro beijo, novamente. Foi um beijo mais gentil, mas ainda doce e quente. Línguas se encontraram e se acariciavam, enquanto os lábios se cruzavam com paixão. E podiam ouvir os sinos tocando, os anjos cantando e as faíscas voando, era natal e tudo estava perfeitamente encaixado novamente, tudo em seu devido lugar. Suas bocas se separaram com um grande sorriso.

É natal e nós estamos apaixonados.

— Então, não que eu esteja reclamando, mas... O que fez você mudar de ideia, Bella?

Ela afastou seus rostos, mas permaneceu com o corpo junto ao seu. Edward desceu a mão e lhe abraçou pela cintura, não iria deixá-la sair de perto tão cedo. Ali era o lugar dela, em seus braços. Bella sorriu e passou os braços sobre seu ombro, acariciando sua nuca; mesmo sem saber, era exatamente o que fazia antes.

— Tudo. Meus sentimentos, Rosalie, você, mas o empurrão final, aquele que me fez pedir que Emmett e Rose entrassem em um carro, então me trouxesse aqui...

— Espera — interrompeu. — Rose e Emm te trouxeram?

— Aham, não esperava que eu viesse sozinha, né? Pedi carona a Rose, que pediu ao Emmett, quase veio todo mundo, mas conseguimos desfazer a caravana. Eles estão ali na porta... Se agarrando.

Edward olhou e estavam mesmo; todo grandão como era, Emmett cobria Rosalie, prendendo-a contra a parede e tomava sua boca em um beijo quente, enquanto as mãos dela bagunçavam todo seu cabelo. Uau. Sorte é que no meio de toda a comemoração no bar, eles não chamavam atenção, ao menos não toda a atenção do lugar.

— É. — Bella disse meio constrangida.

— Está bem, o que foi o empurrão final?

— A carta da Nessie. Era tão... Sincera e bonita que abriu os meus olhos. Ela, mesmo antes de morrer, — falou essa parte com um pouco de dificuldade, engoliu seco e continuou — é a nossa anjinha da guarda, nosso milagre de natal.

— Nessie. — ele suspirou sorrindo. — Ah, então o desejo dela, de certa forma, foi realizado, não? Estamos juntos.

— Pensei que você não tivesse lido a carta.

— Não li, mas ela me contou que ia pedir sua memória de volta para que pudéssemos ficar juntos novamente.

— Ela é uma coisinha especial, não?

— Uma coisinha especial e preciosa demais para esse mundo. — Edward concordou.

— E agora temos que ser felizes, como ela quer. Devemos isso a ela.

— Se depender de mim é o seremos, meu amor, felizes! — falou animado.

Ele lhe abraçou e Bella se aconchegou nos braços daquele estranho conhecido. Aquele homem, que mesmo sem fazer parte de suas memórias, fazia parte de sua vida e de seus natais. Porque isso era o natal. Não apenas um dia ou memórias, mas um estado de espírito. Quando ficamos cheios de amor, esperança, fé, felicidade e todos os sentimentos bons que nos dias comuns esquecemos pelo caminho, que precisamos de uma data marcada em um calendário para recuperá-los, mas que deviam ser nossos companheiros diários.

Bella aproximou o rosto da orelha de Edward, deu um leve beijo.

— Como estou começando agora essa coisa de guardar memórias, será que você podia usar isso por mim? — sussurrou. Edward afastou seu rosto para ver o que era e ela mostrava o anel prateado que compartilhavam. — Eu estou usando o meu e adoraria ter a lembrança de colocá-lo em seu dedo.

Ele assentiu, soltou a cintura dela e estendeu sua mão. Bella sorriu, entrou devolveu o anel, deslizando em seu largo dele.

— Perfeito. — sorriu.

— Você é perfeita.

Bella riu, corando.

— Olha só tudo que você fez para passar o natal comigo, você é perfeito, isso sim. Eu sou apenas sortuda, ou abençoada. E agora estou pronta, agora eu posso passar o meu natal com você.

— Só se lembra de que esse acordo não é apenas para o natal, vale pelos outros 364 dias do ano também.

Bella riu, piscando e deixando as lágrimas livres por seu rosto.

— Outros 365 se for ano bissexto.

— Perfeito. — Edward riu. — Eu te amo tanto, baby.

— E prometo que vou te amar, Edward. Porque já estou completamente apaixonada por você.

— Eu sei. Posso esperar se tiver você ao meu lado. E enquanto isso, eu posso amar por nós dois.

Bella suspirou e deitou à cabeça em seu peito, Edward passou o braço por sua cintura e lhe abraçou. Ela ainda não se lembrava de que era dele, mas já aceitado esse fato, era dele e isso mostrava o óbvio, sua Bella estava ali. Perdida no meio da confusão causada pelo acidente de carro, ela estava ali. Nada foi perdido, apenas bagunçado e bem guardado. E se ele ainda se lembrava de tudo, podia se lembrar pelos dois enquanto construíam lembranças novas.

— Feliz natal, Edward. — Bella sussurrou sorrindo e se apertou ainda mais nele.

— Feliz natal, Bella. — sussurrou de volta e beijou seus cabelos.

"E feliz natal Nessie" Edward e Bella sussurram mentalmente. "Muito, muito obrigado, anjinha".

Ambos sorriram sabendo que onde e como quer que Nessie estivesse, ela estaria sempre com eles e faria parte daquele milagre de natal, faria parte das novas lembranças que Bella estava construindo ao lado de Edward, seria sempre o anjinho da guarda dos dois.

— Ah, eu tenho uma última coisa. — Edward disse e soltou sua cintura, enfiando a mão no bolso.

— O que?

Edward mostrou a ela um ramo de visco de natal de plástico. Bella abriu um sorriso divertido para aquilo, mesmo sem saber o que era, mas sabia sobre a tradição do “beijo sob o visco”. Edward ergueu sobre eles e agitou.

— Esse é o nosso visco particular da nossa própria tradição. E você prometeu cumprir essa tradição por todos os natais que passássemos juntos até o fim de nossas vidas, Srta. Isabella Swan.

— Até o fim de nossas vidas?

Edward assentiu, agitando o visco.

— Eu iria adorar Sr. Edward Cullen. — Bella disse e o beijou.

Andando com dificuldade, enfrentando uma forte tempestade de inverno,

Nós nos conhecemos nos cruzando e agora nossos espíritos estão quentes!

Fim.