Três dias depois

–O que? Não não não, eu pedi vermelho. Vermelho!- Victorie gritou no telefone, enquanto Dominique, do outro lado do quarto, brincava com um balão que tinha comprado na loja da Disney, dois dias atrás. - Sabe como é difícil organizar uma festa em menos de uma semana?

Dominique enrolou os dedos na corda do balão, distraída.

–Sei. E também sei que isso devia ser uma comemoração pequena. - ela enfatizou o “pequena”. – Mamãe vai te matar quando ver aquele monte de gente.

–Que nada. Ela a-do-ra festas, Nique.

Dominique revirou os olhos com a teimosia da irmã. Três dias atrás, quando James foi deixa-la em casa, encontrou uma Victorie em uma crise de nervos, causada por uma simples notícia: Fleur Delacour, a famosa jornalista de moda, estava chegando para uma visita a cidade, que duraria apenas quatro dias. Foi o suficiente para Victorie surtar.

–Tem dois anos que a mamãe não vem me visitar. Sabe o que é isso? Eu quase esqueci que tenho uma mãe!- Victorie gritou, enquanto o telefone tocava novamente.

–É um erro comum. - a irmã riu, sentando-se no sofá.- Hum, Vic, o dia está lindo lá fora. Acho que vou dar uma voltinha na Barneys com a Lily, okay?

–O que? Dominique, não! Não me abandone!- Victorie dramatizou, as mãos erguidas como se estivessem num filme trash.

Dominique checou o celular, confirmando que encontraria Lily Luna numa Starbucks e depois iram as compras.

–Victorie, my dear... Se quiser companhia, chame o Teddy. Até mais tarde!

–Ingrata!- Dominique conseguiu ouvir o grito da irmã enquanto fechava a porta. Riu, balançando a cabeça e girando a chave de casa e trancando a porta.

Graças a Deus, ela tinha a sorte de conseguir chamar táxis rapidamente, o que é um desafio numa cidade como New York.

*****

GOSSIPGIRL.NET

FLAGRADAS!

Dominique Delacour, nossa sempre queen B, saindo do flat de Victorie as vésperas da chegada da mamãe Delacour. Lily Luna, fazendo hora sozinha numa Macy’s e Rose Weasley impaciente esperando numa Starbucks. Oh-oh. Quem sabe esses eventos tem alguma ligação?

Enquanto isso, nossos queridos garotos curtem um dia de esportes na casa dos Potter nos Hamptons, largando as respectivas namoradas/ficantes/casos sozinhas na Big Apple. Digam-me vocês se esse foi um movimento inteligente.

Vocês sabem que me amam, certo?

–Gossip Girl

****

Rose Weasley tamborilou as unhas curtas na mesa. Lily estava mais de dez minutos atrasada. Devia ter esperado por isso. Ela jogou a bolsa que estava no colo na poltrona ao seu lado e deixou a cabeça cair na mesa. Quanta falta de classe. Os dedos coçavam para pegar o celular, mas se segurou. Contentou-se em observar as pessoas lá fora, apressadas demais procurando algum lugar para se esconder do sol.

A porta da cafeteria foi aberta, e a ruiva se virou rápido o bastante para ouvir o pescoço estalar, esperando ser Lily. Não era. Na verdade, era alguém completamente diferente. Dominique Delacour entrou, os cabelos loiros presos firmemente num elegante rabo de cavalo, usando uma saia cor de rosa e uma blusa fina branca, a bolsa Louis Vitton a tira colo. Ela acenou alegremente para Rose, tirando os óculos escuros.

–Olá! Eu não esperava te encontrar aqui!- Dominique disse, o mais amigavelmente que conseguia, deslizando para sentar na frente da prima.

Prima, a loira pensou. É engraçado como chamava Molly e Roxanne e Lily de amigas, mas Rose era “´prima”. Não sabia ao certo o que levara as duas a se afastar. Todos os membros da família costumavam serem tão amigos... Maldita adolescência. Ela pode perceber a reluta de Rose em responder.

–Oi Dominique- ela respondeu, depois de alguns segundos de silêncio constrangedor.

Um garçom, de uns catorze ou quinze anos, que antes ignorava a presença de Rose, apareceu quase automaticamente em frente a mesa.

–O que as senhoritas desejam?- ele disse, empolgado.

Rose revirou os olhos. Efeito Dominique. Já a loira não pareceu notar nada diferente.

–Um frapputino mocha e hã, vai querer algo, Rose?

–Um smothie de morango.

O silêncio voltou a reinar, sendo interrompido pelo bip insistente do celular de Dominique, que recebia mensagens de Lily e Victorie. Dominique passou o dedo pela textura da capinha, numa tentativa de se distrair. O silêncio começou a cansa-la.

–Então, a Lily marcou com você aqui também?- tentou puxar assunto, com um sorriso no rosto.

Rose ergueu a cabeça.

–É, ela marcou. Mas sabe como a Lily é, sempre se atrasando e culpando os outros por isso. – Rose respondeu, olhando para os lados para impedir a si mesma de fazer a pergunta que tanto queria.

Dominique fez que sim com um movimento de cabeça, já mandando outra mensagem exigindo que Lily Luna chegasse logo.

–Pode perguntar- disse, largando o celular. Lily tinha respondido, dizendo que estava na esquina do lugar marcado. – Olha eu sei que tem alguma coisa te incomodando. – ela tentou manter seu melhor sorriso, mas infelizmente sabia que Rose era desconfiada. Dominique queria muito que ela perguntasse, já até sabia o que. Era fofo que estivesse interessada em Scorpius.

–Ele te chamou para sair?

–De novo? Não. - Dominique fez um sinal de descaso. – Eu ficaria tããão sem graça...

–Então... Você não quer sair com ele?- Rose perguntou, e Dominique sorriu.

–Não. Vamos lá, eu sempre fui a louca aqui- piscou, bebericando seu frapputino ao mesmo tempo em que Lily Luna irrompia pela porta, os cabelos esvoaçantes.

A outra ruiva sentou-se na cadeira ao lado de Dominique, sorrindo para Rose.

–Desculpem o atraso. Sabem como é... Ei, Nique, eu chamei a Rose para fazer compras com a gente. Tudo bem?

Dominique deu de ombros.

–Claro. Todo mundo precisa de roupas novas quando minha mãe está voltando para a cidade.

–Eu li sobre isso- Lily comentou, emendando uma conversa sobre moda que não interessava nada a Rose, mas fez a felicidade de Dominique.

****

Lily estreitou os olhos, encarando devagar todos os detalhes do vestido.

–Esse não. - sentenciou, mandando Rose de volta para o provador.

Dominique bateu palmas.

–Muito bem. Vamos procurar outra coisa- e puxou Lily para fora do provador, sem nem esperar a reação da prima. – Lily, eu preciso falar com você.

–Era só dizer “Lily, preciso falar com você”, não precisava me arrastar desse jeito.

Dominique revirou os olhos.

–Lily, eu tenho um problema.

–Não me diga que...

–Não tente adivinhar. Na verdade, é bem simples. Seu irmão é o problema. - suspirou, pegando uma blusa cor de rosa e descartando logo em seguida.

Lily pareceu confusa.

–Por que ele é um problema? Vocês dois complicam demais as coisas, Dominique. Garota ama garoto, garoto ama garota igual a namoro. Namoro igual casam...

Dominique jogou uma pilha de roupas em cima da ruiva, que engasgou com o susto, protestando. Era essa mesmo a intenção, que ela ficasse calada.

–O problema é que depois de tudo que o energúmeno do seu irmão fez, eu não consigo acreditar nele. Tudo bem, eu me levo pelo momento, mas depois eu paro e penso que está tudo a mesma coisa. Vai ser tudo a mesma coisa!

–Olha o drama, Dominique! Então seu problema é o meu irmão?

–É, eu já disse isso, Lily.

–Ui, estressadinha. Mas eu preciso que você me conte toda essa história do passado. Tudo que eu sei é que aconteceu algo entre vocês no meu aniversário e depois no dia seguinte você estava dentro de um avião para Paris, e James quebrou metade do quarto dele.

Os olhos azuis gelo de Dominique se arregalaram.

–Ele fez isso?

–Ficou bêbado durante semanas, e chamava todas as garotas pelo seu nome. Mamãe enlouqueceu durante esses sete dias que ele viveu no hotel.

–E quando ele voltou...

Lily suspirou.

–O mesmo de sempre, e nunca mais disse uma palavra sobre isso.

Dominique balançou a cabeça, seguindo Lily (“vou delicadamente me livrar da Rose, ela nem vai perceber”) em silêncio. Parte dela, uma parte pequena e sensível, sentiu pena do James. Todas as chamadas que ela não atendeu, as mensagens de “desculpe” e “eu não queria aquilo, eu juro” que ela deletou. Enquanto ele se embebedou quando ela foi embora, ela tinha comprado metade de Paris e não podia negar que tinha sido divertido, apesar de que as tardes passadas em lojas só serviam para compensar as noites em claro.

****

Teddy Lupin jogou uma toalha branca na direção de James Potter. Os dois estavam saindo de uma partida de tênis, no clube dos Potters no Hamptons.

–Você estava um lixo hoje- decretou Teddy, jogando água na sua cabeça.- Qual o problema?

James pegou a toalha e sentou-se a mesa.

–O problema está atualmente morando com a sua namorada.- disse, em tom acusatório. – Eu não entendo essa garota...

Teddy riu, e James fechou a cara. Claro que o amigo riria. Ele e Victorie eram o casal perfeito, desde sempre e para sempre. Agora James e Dominique... Começaram errados, e provavelmente terminariam errados. No momento que tudo estava perto de dar certo... Ele tentou afastar as memórias daquela noite.

–Cara, a culpa não é minha se você ficou com a Delacour complicada- Teddy tentou fazer piada, que não foi bem recebida. - Tudo bem, me desculpe.

–Tudo parece estar bem com ela. Aquela noite, depois a manhã seguinte... E então pronto. Ela nem olha mais na minha cara, depois de “adeus, Potter”.

–Ela só falou isso?

–Claro que não. Ela fez um discurso sobre como somos primos, como isso está errado e o monte de blá blá blá que ela sempre fala.- James se irritou. – Eu desisto de tentar, é sério, Teddy. Nós somos um grande problema.

–Você sempre diz isso, James. “Oh, eu desisto da Dominique” e só ela passar por você que muda de ideia. Nem todas as pessoas do mundo tem sorte igual a nós, camarada. Não desista dessa garota.

James suspirou.

–Eu não sei mais o que fazer. Ela parece não acreditar mais em mim.

–Depois do que você aprontou, ninguém acreditaria. - comentou Teddy, como se fosse óbvio e recebendo outro olhar irritado de volta. – Ok, eu sei que não foi culpa sua.

–E talvez eu tivesse tido tempo de empurrar a Emily, se não fosse à diaba da Gossip Girl. – James se irritou ainda mais. – Isso soou como uma frase de vilões do Scooby-Doo, mas eu juro que o dia que descobrirmos quem é essa garota, eu mesmo dou uma surra nela.

Teddy concordou com a cabeça, esperando que o assunto se encerrasse ali para poderem jogar mais uma partida antes que os outros chegassem da praia.

–Lily disse que está conversando com, mas palavras dela “o amor da sua vida”. Não vejo como isso é relevante para mim- James falou e Teddy o encarou acusatoriamente. – Tá, eu queria saber o que elas estão falando. Deve ser sobre mim. E eu daria tudo para saber o que ela pensa sobre mim agora. Talvez com a Lily, ela seja mais clara em relação a isso.

–Garotas- resmungou Teddy, recusando uma chamada de Victorie- Ela vai me matar por isso, mas não, eu não vou ajuda-la a preparar um coquetel para a chegada da Fleur. Ei, qualquer coisa, nós estávamos jogando e eu não escutei o telefone. –ele piscou, fazendo o amigo rir pela primeira vez naquele dia mal humorado.

E aí que está. Desde quando James Sirius Potter ficava mal humorado num dia lindo como aquele, com todas aquelas garotas de biquínis e roupas minúsculas desfilando por aí? Tudo culpa dela.

****

Lily fechou a porta do quarto com um pulo.

–Eu contei tudo a você, e é a sua vez. Eu quero essa história todinha sua com o meu irmão.

Dominique ergueu uma sobrancelha.

–Você já sabe. Bem, de quase tudo, pelo menos.

Lily se jogou na cama, e Dominique riu quando ela se arrumou melhor, ajeitando os cotovelos. A loira girou na cadeira de computador de Lily.

–Conte à parte que ainda está incógnita. A parte do meu aniversário. Belo dia para mim, fatídico dia para sua história de amor.

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ARQUIVO CONFIDENCIAL DA GG

Hum, pensaram que eu não andava mais por aqui. Eu sei de tudo, eu vejo tudo, eu escuto tudo. E por mais que isso tenha soado como a –A, eu garanto que não sou ela. Sou euzinha, a Gossip Girl que vos fala, meus queridos. E quem melhor do que eu para contar essa história? Alguém que sabe as duas versões, e está aqui para contar a verdadeira. Que não é nenhuma das que você imaginava, hihihi.

Tudo começou como tudo sempre começa, com uma vingança. Ah, a quase perfeição de Dominique Delacour tinha um preço. Ela podia ser a garota mais bonita, a mais rica, a que usava as melhores roupas e tinha os melhores namorados. Os até os professores a adoravam. E isso não fazia Tina Chang nada feliz.

Tina tinha tudo para dar certo no status quo. Era rica, era bonita com os cabelos negros herdados da mãe. Se Cho Chang tinha sido a rainha da escola, porque sua filha, sua cópia perfeita, não seria? Mas o destino ou qualquer força superior em que vocês acreditem, fez com que não fosse bem assim. Tina nem ao menos entrou no círculo intimo de amizades da nossa queen bee (ou eu deveria dizer queen D, quem sabe?).

Mas, ah, Tina tinha algo que Dominique não teria. Ela era o caso fixo de James Sirius Potter. Sempre tem um garoto, hã? E sabemos todos muito bem que as Changs caem de amores pelos Potters desde os anos 80.

Claro que, como numa boa história, algo deu errado e um beijo roubado num baile de máscaras depois, nosso bad boy estava caidinho pela garota perfeição. E deu um belo pé na bunda de Tina Chang, para correr atrás de uma certa loira.

Tina não ficou nada, nada feliz. Eles pareciam o casalzinho apaixonado, e demonstrações de carinho (carinho, e não beijos desentupidores de pia) em público era algo que James sempre se recusou veemente. E ali estava ele, de quatro por Dominique. Isso não feria só os sentimentos de Tina. Feria seu orgulho e sua honra.

Então, ela finalmente pareceu entender. Do mesmo jeito que as rainhas ascendem, elas podem cair. Com a notícia que Fleur Delacour estava de malas prontas para embarcar para a França, e Dominique se recusava ir, Tina tinha a situação perfeita. Ela poderia mandar Dominique embora e ficar com James Sirius de bônus.

Claro, se ela tentasse investir no garoto, ele nem piscaria e entenderia o plano. James podia ser muitas coisas, mas não era nada burro. Mas suas amigas, Emily Davies e Patricia Patil, podiam ajuda-la. E é claro que elas queriam (não preciso nem mencionar qual era a fama dessas garotas, certo?).

O aniversário de 16 anos de Lily Luna Potter era a oportunidade perfeita. Emily Davies conseguiu um convite e entrou na festa, o plano já todo arquitetado. Tina distrairia Dominique e a levaria até onde James e Emily deveriam estar numa pegação quente.

E, obviamente o plano deu certo. Tirando a parte da pegação, porque por mais que Emily se jogasse com seus peitos de silicone (não digam que eu contei, tá?) em cima de James, ele continuava a empurrando. O plano deu certo por uma mínima questão de timing e uma notícia postada por mim. E um mal entendido de frases.

–Eu estou com a Dominique!- Emily riu, voltando a se insinuar para James. Patricia estava de tocaia dentro da sala mesmo, onde também estavam Fred e Alvo Severus, ambos muito ocupados, e escolheu esse momento para provocar, dizendo “é claro que quer”.

–Não quero nada ela!- foi à resposta de James, empurrando de vez Emily.

Mas tudo que Dominique ouviu foi “...Dominique! Não quero nada com ela!”. E saiu dali para o próximo voo internacional para Paris. Coitadinha.

E agora você se pergunta: Quem é a Gossip Girl? Garanto, mon cher, que não sou a Chang ou nenhum dos nomes citados. E que não sabia nada desse plano maligno. E juro pela minha identidade que não sabia de nada. Foi só uma questão de “flagrados”. Um efeito colateral de ser uma adolescente e de se estar por cima da sociedade nova-iorquina.

Mas, ah, vamos lá. Você simplesmente sabe que me ama!

Xoxo

–Gossip Girl

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