- O que você ta fazendo aqui? – Perguntei brava, mas ele entrou, sem pedir, e fechou a porta. – O que você ta fazendo? Vai embora!

Abri a porta de novo, mas ele a fechou bruscamente e entrou na minha frente.

- Preciso que confie em mim. – Ele estava ofegante e assustado.

- Por que eu deveria?

- Porque posso salvar sua vida.

- Não preciso ser salva. Não sou nenhuma princesa em um castelo e não estou em perigo no momento.

- Você é que pensa.

Ficamos nos encarando por um tempo e percebi que seu olhar era verdadeiro, ele estava falando a verdade.

- Tudo bem. O que aconteceu?

Me sentei novamente no sofá. As meninas tomaram lugar ao meu lado e ficaram observando o “homem”, de calças jeans rasgadas e tatuagens, se sentar na poltrona a nossa frente.

- Antes de tudo, precisamos reforçar as portas e janelas.

- Não vai mesmo falar nada? – Perguntei.

- Segurança em primeiro lugar.

Assenti e todos quebramos alguns móveis que não estavam sendo usados, pegamos umas tábuas no sótão e pregamos nas janelas. Tinham umas trancas velhas, mas reforçadas, na despenca. Parafusei-as na porta e fechei todas. Demorou uma meia hora pra fazer tudo isso e nos sentamos novamente nos sofás. Cath trouxe café e chá e Larry começou a falar.

- Bom, primeiramente, queria me desculpar com você. – Ele olhou com remorso pra Cath, que ficou confusa, e continuou. – Nunca devia ter contado nada pro Willie. Me desculpe, eu não sabia mais a quem recorrer. – Cath assentiu com lágrimas nos olhos, tomou um gole do chá e eu pedi que ele continuasse. – Os vampiros mestres estão se unindo. Os últimos a chegarem na cidade foram os Volturi. O estranho é que não vieram todos, apenas Aro, Jane e Marcus.

- Não! Eles chegam só semana que vem! – Disse Elisabeth, alterada.

- Acho que é o que eles querem que você pense. Só estão criando distrações pra que ninguém os descubra.

- O que eles querem? – Perguntou Cath. Acho que ela estava lendo meus pensamentos.

- Não sei, mas coisa boa não é.

- Mas eles não são daqui? Por que vão “chegar”? – Lembrei. Sempre soube que os Volturi eram britânicos, mas havia me esquecido.

- Acho que eles estavam em algum tipo de “missão” na América. Se não me engano, problemas com cachorros.

Com “cachorros”, ele quis dizer licantropos. O povo daqui não gosta muito desse tipo de sobrenaturalismo.

- Como você descobriu tudo isso? Por que contou pra Willie? Por que está aqui agora? – Cath, sempre tirando as palavras da minha boca.

- Tenho minhas fontes seguras. Contei pra ele porque...

- Porque...

- Porque ele estava envolvido no pacto. Ele e Jev. Os dois faziam parte do pacto.

- Que pacto é esse? Por que está nos contando tudo isso? Quem são suas fontes? – Falei antes que Cath pudesse captar meus pensamentos mais uma vez.

- Não posso contar nada sobre o pacto nem sobre minhas fontes, mas preciso proteger vocês.

- Como podemos confiar em você se não nos conta?

- Não posso mesmo contar, desculpa.

- O que acontece se você contar? – Perguntou Cath.

- O mesmo que aconteceu com Willie e Jev. Eu morro.

- O que você pode contar? Quero saber o máximo!

- Você pode ter matado Angie, mas ela era só um peão no tabuleiro. As peças maiores vão executar o plano inicial com precisão. E é aí que eu entro. Era pra todos vocês estarem mortos, mas Angie falhou.

- E como ela era só um peão, a torre está vindo nos pegar.

- Bom, se antes não vier outro peão, sim.

- O que temos que fazer? Quem é o próximo a vir?

- Temos que bolar um plano e ficar juntos. Não faço a mínima idéia de quem seja o próximo, só espero que não seja Nikolaus. Ela já voltou do mundo dos mortos duas vezes, quem sabe quanto poder ainda tem.

- Por que você está nos ajudando?

- Ordens superioras.

- Do pacto?

- Exatamente.

- É só isso que pode nos contar? Não há mais nada que possamos saber?

- Bom, há um informante.

- Um informante? – Perguntou Cath, colocando sua xícara de chá de volta à mesa.

- Entre vocês há alguém que manda todos os seus passos pros mestres. Se eles quisessem você morta, já teriam feito isso, mas não sei por que queriam Angie. Talvez fosse apenas um teste, ou uma distração.

 - Qual é o plano?

- Por enquanto, ficar aqui.

- Não podemos ficar presas aqui dentro! – Disse Cath.

- Quer ser livre ou ficar a salvo?

Ficamos em silêncio por um tempo.

- Posso pegar Sam e Hatti, pelo menos?

- Onde eles estão e quem são?

- São amigos. Estão em Doncaster.

- Suicídio.

- Mas são nossos amigos! Não podemos simplesmente deixá-los! – Disse Cath, se levantando e andando de um lado pro outro.

- Ah! Tudo bem, vocês venceram. Mas só uma vai! As outras duas vão ficar aqui até voltarmos.

- Eu vou. – Disse Cath. Eu assenti, sabia que ela não iria aguentar ficar muito tempo presa, então a deixei ir.

Cath subiu e rapidamente se trocou. Os dois saíram e Liz se virou pra mim.

- “Amigos”?

- Ele nunca iria deixar a gente pegar os dois sabendo que são animais.

Liz riu e subiu pra tomar um banho. Fiz o mesmo e desci pra comer alguma coisa. Depois, fui assistir “TV” e Liz se juntou a mim, mas ela não assistiu, ficou mexendo no notebook.

- Já deletou?

- Deletei o que?

- Aquele tumblr idiota com as fotos de todos os vampiros que matei.

- Ahhhhh! Relaxa, sei o que faço.

- Você deletou ou não?

- Calma! Eu deletei, mas criei outro.

Olhei pra ela, com cara de brava.

- Não se preocupe, não é sobre vampiros.

- Hum, se cuida...

- Isso foi uma ameaça? – Perguntou, incrédula.

- Talvez... – Disse e saí. Ela ficou me olhando, confusa, enquanto eu subia as escadas pro meu quarto. Ela não é a única que gosta de ficar no tumblr.

Acordei com o notebook do meu lado. Ainda era noite, mas não era tão tarde, ou tão cedo. Desci e vi Liz na mesma posição. Pela página que ela estava, percebi que estava respondendo asks. Peguei uma barra de chocolate e liguei a TV. Não tinha Bob Esponja aquele horário, mas estava passando Primeval, que é uma série bem legal. Adivinha quem é um dos atores? Não, não é o Bob Esponja! É o meu lindo e amado Andrew-Lee. E a namorada sem graça e loira dele. Quando tava na parte mais legal, que é quando ele ta fugindo da criatura bizarra, Cath entrou com Sam e Hatti, que vieram correndo pular em cima de mim. Larry entrou atrás, furioso.

- Um cachorro e um gato?!?! - Gritou, incrédulo e nervoso.

- Correção: Uma gatA. Samantah Potts é fêmea! – Por que será que o sobrenome da minha gata é Potts...

- Ta, mas são bichos! Arriscaram nossas vidas por bichos?!

- Bichos esses, que se arriscariam por nós também!

- Não importa...

- Calem a boca! Os dois! – Cath entrou na nossa frente. Ela e Liz estavam em silêncio, prestando atenção. – Ouviram isso? – Ela cochichou e apontou pra cima. Prestamos atenção também e ouvimos alguma coisa cair e quebrar.

Coloquei Sam no chão e peguei a Firestar dentro da bolsa. Larry tirou uma parecida, mas com silenciador, de dentro da calça. Mandei as garotas ficarem com Sam e Hatti lá em baixo. Comecei a subir bem devagar a escada, seguida por Larry. Cautelosamente, segurei firme a arma e conferi se o corredor estava vazio. Igual ao quarto da Cath e o corredor, não havia ninguém no quarto da Liz, mas ao verificar o meu quarto, fiquei um pouco assustada. Não, eu fiquei MUITO assustada. Tudo estava quebrado, as paredes, os quadros e os posters estavam todos rasgados. Na parede onde ficava uma escrivaninha, normalmente onde eu deixava meu notebook, estava escrito: “Cuidado Nikki, você está na mira!”.

- Isso é sangue? – Perguntei, me aproximando da parede e passando os dedos por cima das letras vermelhas.

- Cuidado! – Gritou Larry e pulou em cima de mim. Antes de desabarmos ao chão, ouvi um barulho de tiro. Acho que acertou Larry.