Capítulo Único

–– Hum, Quinn, o que estamos fazendo aqui? –– perguntou Rachel Berry, o cenho franzido em confusão.

A garota menor não podia sequer imaginar o motivo pelo qual sua melhor amiga (e ex-rival) poderia ter para levá-la até o William McKinley High School, o mesmo colégio em que ambas as meninas estudaram durante longos quatro anos, e desenvolveram uma relação extremamente complicada. Não que a ex-capitã do New Directions estivesse reclamando; ela realmente não tinha pisado os pés ali desde a graduação, mas, ainda assim, não deixava de ser estranho. Principalmente porque era noite; e elas invadiram o colégio; e era véspera de Natal. Rachel podia imaginar em um milhão de coisas que Quinn poderia estar fazendo naquele momento. Jantando com sua mãe –– se ela estivesse sóbria o suficiente para isso ––, aproveitando para sair com o tal do "namorado professor" que arrumara na Universidade (a pequena ainda sentia uma raiva tremenda ao se lembrar disso... Ou seria ciúmes?), ou, talvez, aproveitando um tempo de qualidade com Brittany e Santana.

Mas, claro, ser pegas por invasão soava muito mais divertido.

–– Você vai ver em um instante –– comentou Quinn divertida, entrelaçando suas mãos com a de Rachel e abrindo um largo sorriso no rosto.

O coração da jovem Berry parecia prestes a saltar de seu peito. "Provavelmente porque estamos invadindo", ela pensou, embora soubesse que seu nervosismo estava mais relacionado com o fato de uma certa loira estar segurando sua mão do que com o crime que estavam cometendo. Porque, verdade seja dita, às vezes, uma ficha criminal pode ser até charmosa para a Broadway, e coisas como essa poderiam gerar uma história bem divertida em um talk show qualquer, certo? (Rachel, por algum motivo desconhecido, acreditava cegamente que sua primeira entrevistadora seria Ellen DeGeneres; e óbvio que isso não deve estar nem um pouco relacionado com sua assumida homossexualidade...). De qualquer forma, a morena resolveu simplesmente se deixar levar pela situação, como poucas vezes fez em sua vida.

Ainda de mãos dadas, as duas caminharam pelos corredores escuros com maestria; Rachel porque já precisou correr muitas vezes por eles com os olhos fechados devido aos banhos de raspadinhas, e Quinn porque ela precisava muitas vezes fechar os olhos para que as pessoas não vissem o quanto estavam vermelhos. Portanto, não foi difícil para a garota menor descobrir até onde estavam indo. Isso não desfez sua confusão, contudo; mas, então, um milhão de possibilidades passou em sua mente, e, bem, poderia até ser divertido apresentar um dueto na sala do coral, quando o lugar estava completamente deserto, escuro, frio, e... Bem, talvez não fosse uma ideia tão maravilhosa assim.

Ela estava enganada, porque seu destino final não foi a sala do coral. Quando elas passaram direto pelo lugar, as sobrancelhas de Rachel se uniram em confusão, até que elas dobraram no segundo corredor à esquerda e pararam em frente à porta do auditório. Ainda mais sinistro que a sala do coral, mas, hey, ela não estava reclamando! Até aquilo deveria ser melhor do que jogar "Twister" com seus pais (ela sempre acabava com hematomas após o jogo).

–– Vem –– sussurrou Quinn, puxando-a para dentro do auditório escuro e a guiando através das fileiras de bancos até o palco.

–– Por que você está sussurrando? –– murmurou Rachel em resposta. –– Não tem nenhum guarda aqui, ou tem?

–– É um colégio público em Lima, OH, Rach –– disse Quinn divertida.

A baixinha bufou em resposta, e Quinn deu uma risadinha. Elas caminharam até a primeira fileira, onde a loira empurrou gentilmente Rachel, para que ela sentasse em um dos bancos centrais bem de frente para o palco, e soltou a sua mão. Ela murmurou um "fique aqui" e depois sumiu, deixando Rachel sozinha. O que, considerando o nível de paranóico e sua capacidade incrível para inventar dramas, não era uma situação que poderia se chamar de ideal. De fato, Rachel já estava escolhendo cuidadosamente suas palavras para o discurso de "Você me deixou sozinha no escuro e um pedófilo poderia ter me atacado (ou pior, eu poderia ter sido pega!)" quando o equipamento de iluminação foi ligado, e todas as luzes apontavam para o palco.

Um suspiro surpreso escapou dos lábios da baixinha, porque, caralho, ela vira Quinn há apenas alguns minutos; ela não poderia ter tido tempo para se trocar, certo? Foi tão rápido! Mas, então, ela se lembrou que a loira estava usando antes um casaco que cobria o corpo todo. "Espertinha", resmungou a morena mentalmente. Porém, ela não estava realmente irritada; na verdade, havia um sorriso enorme se espalhando em seus lábios.

–– Olá Rach –– disse Quinn, sorrindo, como a perfeição humana que era. –– Antes de tudo, eu queria desejar feliz aniversário. Sei que já passou, mas não estávamos perto uma da outra, e não pude te dar os parabéns pessoalmente. O motivo pelo qual eu te troxe aqui hoje é para dizer uma coisa que está há tempos entalada em minha garganta...

"Eu sempre quis te dizer isso. E quando eu digo sempre, eu quero dizer desde a primeira vez em que te vi. Era o começo do ano aqui do McKinley, e você entrou pela porta da sala de Biologia e sentou ao meu lado, um sorriso brilhante em seu rosto. Naquele momento, eu jamais pude imaginar a história complicada que passaríamos a trilhar dentro de poucas semanas, justamente quando entrei para as líderes de torcida. Também há outra coisa que eu não podia imaginar..."

Quinn soltou um longo suspiro. Ela preparara tudo com o devido cuidado; pedira ajuda a Santana e à Brittany, ensaiou a música até alcançar a perfeição e, ainda assim, parecia como se pudesse ter feito mais. "Não pense isso", disse Quinn a si mesma. "Ela vai adorar". Ou, ao menos, era isso o que Santana garantira; a loira não acreditava muito em suas palavras, porém. Confiar na latina era o mesmo que confiar que uma cobra não daria o bote se você a provocasse, ou seja, praticamente impossível. Mas podia-se confiar que Brittany sabia a coisa certa a se fazer, e que ela não deixaria que a gangster de Lima Heights fizesse realmente alguma coisa para a prejudicar. Respirando fundo, Quinn ergueu a cabeça e disse a si mesma para ser corajosa.

–– Eu não poderia imaginar que me apaixonaria perdidamente por você. Só bastou uma semana, Rach, apenas uma semana, e você simplesmente não saiu mais da minha cabeça. Todas as raspadinhas, todos os apelidos ofensivos, todos os xingamentos, todos os namoros estúpidos... Eles não passaram de uma tentativa ridícula de tentar tirar você da minha mente. E devo dizer que falhei completamente nisso.

"Quando comecei a faculdade, pensei que finalmente conseguiria seguir em frente. É irônico, na verdade, porque você nem ao menos sabe quantas vezes pensei nisso ao longo desses cinco anos. Como, por exemplo, você e Finn ficaram juntos da primeira vez; e da segunda, e da terceira, e quando vocês quase se casaram... Disse a mim mesma 'É agora, você finalmente vai seguir em frente' quando você ficou com o Puck, namorou o Jesse, começou a sair com aquele tal de Brody... Por isso, comecei a namorar meu professor"

"Você não pode imaginar minha surpresa de quando volto para o Ação de Graças e levo dois tapas na cara –– um literalmente, a propósito –– de Santana. Ela me disse o quão patética eu estava sendo por tentar negar a mim mesma meus sentimentos. O quão idiota de minha parte era abrir mão da felicidade porque eu sou covarde demais para ir atrás por mim mesma. Mas aí você chegou em Lima, e eu percebi que não poderia ficar calada, não mais. Então eu liguei para o meu professor, terminei tudo com ele, e até mesmo contei à minha mãe que sou gay. Ela ficou impressionantemente ok com isso, mas imagino só porque ela estava bêbada demais para entender o que eu dizia"

"Tudo se resume a isso, então. Eu te amo, Rachel. E essa música é para você"

Rachel achava que estava alucinando; aquela era a única explicação plausível para que Quinn Fabray estivesse ali, declarando-se para ela, dizendo-lhe que sempre a amou. Não, aquilo não era nem remotamente possível. Só podia ser um sonho. "O melhor de todos", pensou ela. A verdade é que Rachel não estava saindo com Brody. Claro, foi isso que ela disse ao Finn, só para o rapaz parar de importuná-la, mas Brody conseguia ser mais gay que Kurt e Blaine juntos –– e isso definitivamente quer dizer muita coisa ––, e a coisa mais picante que rolou entre os dois foi um beijo na bochecha.

Se aquele era um sonho, contudo, a baixinha não estava nem um pouco disposta a acordar. Ela esperou por anos para ouvir aquelas três palavras vindas da loira, e finalmente recebê-las... Bem, era como morrer e ir para o céu. O que não fazia o menor sentido, porque Rachel era judia e não acreditava em céu ou inferno; e, também, ela tinha certeza absoluta de que não estava morta. Mas, realmente, Bruce Willis também pensava a mesma coisa em "O Sexto Sentido", e veja só como isso acabou.

Entretanto, quando Quinn começou a cantar, Rachel apenas soube que era real. Afinal, nem mesmo os anjos poderiam ter uma voz tão bela.

When the rain is blowing in your face

And the whole world is on your case

I could offer you a warm embrace

To make you feel my love

When the evening shadows and the stars appear

And there is no one there to dry your tears

I could hold you for a million years

To make you feel my love

The storms are raging on the rolling sea

And on the highway of regret

Though winds of change are throwing wild and free

You ain't seen nothing like me yet

I could make you happy, make your dreams come true

Nothing that I wouldn't do

Go to the ends of the Earth for you

To make you feel my love

Sonho, alucinação, a vida no além... Nenhuma dessas questões estava na cabeça de Rachel quando ela correu para o palco e beijou Quinn apaixonadamente, para depois sussurrar, nos braços da garota por quem ela sempre esteve apaixonada, as palavras que ela não só quis ouvir, como também quis dizer.

–– Eu também te amo, Quinn.