Um Necromante No Meu Quintal escrita por Mel Devas


Capítulo 7
Os Guaxinins de cada dia


Notas iniciais do capítulo

Faz pouco tempo que postei o último capítulo, mas como ontem eu estava sem internet aproveitei pra escrever. Bem... Está bem dorgas, meio enrolado, mas espero que aproveitem!! Os reviews de vocês estão realmente me animando muito!!! >www
Boa leitura!!



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- Mas meu senhor!!! – Uma voz grossa, pomposa, porém educada soava em algum lugar distante.

- Já disse para ir embora. – A voz de Adrian soou entediada. – Quantas vezes eu já disse para não se esconder em meus livros?

- Eles são o lugar mais confortável que tem. – Respondeu a voz, como se o mundo fosse injusto e ninguém entendesse seu sofrimento.

- Que tal ir para o além? – Pela primeira vez senti notas de irritação na voz do moreno. Tentei abrir os olhos, o bom é que a luz não era forte, proveniente de algumas poucas velas espalhadas pelo estranho quarto.

Eu estava, aparentemente, no quarto de Adrian. A cama era simples, feita de madeiras pregadas de um modo tosco, mas os lençóis brancos estavam imaculadamente limpos e o colchão era macio. Essa limpeza toda pode ser pelo fato de Adrian não desgrudar de mim ultimamente e não ter tempo de sujar nada. Não sei.

Como a sala, as paredes do quarto eram recobertas de estantes, estas lotadas de livros. Do lado da cama tinha uma mesinha de cabeceira com um copo marrom de argila cheio de água fresca. Tomei um pouco dela. Minha cabeça ainda girava.

Demorei para notar que, estranhamente, Adrian e a voz tinham se aquietado, tentei levantar, e, depois de ficar estável e equilibrada, marchei pra sala.

Ok, me arrependi.

Ok, aquilo foi bizarro.

Ok, o quê na minha vida não era?

Adrian permanecia sentado, lendo o livro calmamente enquanto coçava os cabelos negros. Ele levantou os olhos quando entrei e esboçou um leve sorriso, mas, como esperado, logo voltou a ler, desinteressado. Não que a reação dele fizesse diferença para mim, claro, pois eu estava mais concentrada no canto da sala, onde um guaxinim gigante estava amarrado e amordaçado, com os olhos arregalados, me pedindo ajuda e se debatendo como um peixe. E era o peixe mais estranho que já vi. Sim, era um guaxinim gigante.

- A-Adrian... – Fiquei até com medo de perguntar. – O que é aquilo?

- Hmm? – Ele perguntou, distraído. Girou na cadeira em minha direção para entender melhor a situação. Seu olhar repousou sobre o guaxinim GIGANTE. – Ah, isso. – Ele pareceu acrescentar um ódio com queijo extra na última palavra.

O guaxinim pareceu falar algo irritado, mas não dava para entender, - talvez porque ele estivesse AMORDAÇADO- provavelmente ficara com raiva ao ser tratado como “isso” (ou de estar amordaçado e amarrado, quem sabe? Sim, estou repetindo isso para vocês tentarem entender o nível de estranheza da situação). Com um suspiro, o necromante se levantou, desamarrou o pano da boca do ser estranho e voltou a ler o livro.

Encarei-o sem paciência:

- Parabéns, você desamarrou o guaxinim gigante. O que quer que eu faça agora?

- Fale com ele, oras. Não queria explicações? – Deu de ombros. – Estou ocupado agora.

Engoli em seco e olhei para a estranha criatura, que sorriu pra mim. O que foi muito mais assustador. Acredite em mim, você não vai querer ver um guaxinim sorrindo. Muito menos ele sendo do tamanho de um urso. Além do que: como vou falar com um guaxinim??

- Venha aqui, moçinha, não vou te morder. – Reconheci a voz pomposa de mais cedo. O Guaxinim balançava a cabeça, convidando-me para chegar mais perto. UM HOMEM ESTAVA FANTASIADO DE GUAXINIM??? – Não que eu pudesse se quisesse, porque um certo senhor – Agora foi sua vez falar rispidamente – me amarrou feito salaminho.

- Não, esses nós são de marinheiro, não são para você parecer um guaxinim condimentado. – Adrian replicou, seco.

Pode me chamar de maluca, sei que sou. De retardada. Ou simplesmente gritar: “PORRA, GAROTA, O QUE TU QUER DA VIDA??”. Eu me aproximei do guaxinim, que lançou um olhar vitorioso para o garoto. Afinal, nesses últimos dias eu tinha conhecido um necromante inexpressivo (e feito um contrato com ele, mas isso é o de menos), um tartachorro, um russo chamado Boyolóvsky e um menino tão azul que parecia que queria ser comido pelo Percy (ou ser garoto propaganda do Greenpeace por um céu mais limpo, você decide).

- Prazer, boneca, me chamo Richard. – O guaxinim mandou um beijo estalado, me fazendo torcer o nariz. – Venho de uma longa geração de caçadores exemplares do norte da Inglaterra.

- Exemplares em não conseguir caçar. – Adrian acrescentou, tossindo.

– Então, continuando minha história... – O guaxinim pigarreou, tentando ignorar os comentários do outro – Eu, tragicamente, fui comido por um guaxinim gigante, um espécime muito raro e perigoso, e, naquele fatídico dia, morri. – Ele fez uma expressão de sofrimento que eu não me surpreenderia se chorasse. Jogou a cabeça para trás dramaticamente. – Porém, aparentemente, algum herói matou o guaxinim no mesmo dia.

– Não era um herói, era um caçador normal mesmo. - Opinou o moreno.

– Maaaaaaaaaaaas - Richard continuou - Como não estamos na história da Chapeuzinho Vermelho, eu não fui resgatado da barriga e meio que minha forma como fantasma virou essa.

- F-F-Fantasma? – Gaguejei. Fazia sentido, ele tinha morrido, mas a ideia de que ele era um fantasma me arrepiou, andei para trás, com medo, até bater, sem querer, na cadeira de Adrian. Ele interrompeu sua leitura e olhou para mim.

- O que foi?

- Estou com medo.

- Então ele te deixou com uma sensação ruim. Quer que eu o puna? – Juro, de coração, que vi um sorriso sádico se abrindo no rosto do inexpressivo garoto.

- Não, não é isso. – Adrian ficou desapontado quando expliquei – É que tenho medo de fantasmas e essas coisas. Ainda mais num corpo de guaxinim.

O moreno pareceu entender.

- Mas se é assim você teria medo de mim e do Teddy também, certo?

- É, mas já me acostumei com vocês.

- Então se acostume com ele, sem bem que, pensando melhor, não precisa. Daqui a pouco vou mandar ele de volta para onde veio.

- O quêêê???? – Richard reclamou. – Não quero voltar para o além!! Por que me manda para lá se eu sempre volto?

- Porque eu fico um tempo em paz. – Ele fechou o livro, impaciente. Pela primeira vez vi o pacato Adrian levantar a voz. – E, além disso, por quê você sempre volta saltando de um livro com fumaça??? – Ah, fui desmaiada com O Retorno de Richard, o Homem Fantasiado de Guaxinim Gigante. Daria um bom título prum livro, não acham?

- Sinais de fumaça são um dos ensinamentos básicos de um bom caçador.

- É impressionante como sua família azucrinou outros caçadores por tanto tempo, sendo que sempre morriam!!

- Ei, só porque eu fui engolido por um guaxinim gigante e a tia Jusicleia por uma girafa, não quer dizer que todos morreram!

- O resto atirou com a espingarda ao contrário e cometeu suicídio sem querer!!! - Algo se iluminou na minha mente enquanto Adrian falava.

- Mas... – Comecei, interrompendo-os, totalmente alheia à carinhosa conversa – Se ele é um fantasma não deveria ser capaz de passar pelas cordas? – Apontei para as cordas que amarravam Richard.

– Sim. – Ele bufou. – Isso se esse coiso, quero dizer, senhor, não tivesse me amarrado. Malditos necromantes e seus poderes. Pode ver, boneca, sua mão passa direto por mim.

Decidi experimentar. Fui encostar em seu ombro e minha mão passou direto, como ele havia dito, deixando apenas uma sensação de comichão e frio nela. Tirei rapidamente, assustada. Richard ria.

- Isso faz cócegas.

Ele foi interrompido quando Adrian bateu em sua cabeça com um livro.

- Volte de onde veio, desgraça. – E, realmente, Richard desapareceu.

- O que aconteceu?

- Depois te explico. – Ele voltou ao tom calmo de sempre, ao Adrian que eu conhecia. – Eu não encontrei nada de útil hoje, vamos dormir. – Ele esfregou os olhos, foi para seu quarto e desabou na cama. Segui ele. O quê podia fazer?


--x—




Escutei algo se mexer de leve e abri os olhos. Adrian estava sentado na ponta da cama, com o rosto pensativo e triste, encarando o “Adrian”escrito na manga de sua blusa.

Puxei a camisa dele de leve, ele me observou.

- Eu... – Ele balbuciou.


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Notas finais do capítulo

Richard é tão foda, mas tão foda que conseguiu irritar o Adrian HUSHAUSHUAHSUAHUSAUH Bem, espero que tenham gostado do capítulo >ww< Vcs acham que essa minha mania de ficar acrescentando vááááários "comentários" entre travessões e parêntesis fica muito confuso?