Acordei no meio da noite, acho que ouvi um grito.

     Saio do meu quarto, vou para o corredor e vejo uma luz vinda do quarto de Nathan, meu irmão mais novo. Vou até a porta que está meio aberta e vejo um homem de terno segurando meu irmão.

    - Por favor, deixe meu filho, ele é só uma criança.

    Ouço minha mãe falando e a vejo do outro lado do quarto sentada no chão, chorando. Reprimo a vontade de ir ajudá-la e continuo observando. O homem segura forte meu irmão, estica o braço na direção da minha mãe e fecha as mãos, minha mãe grita e cai no chão. Tapo a boca para não gritar mas acabo deixando um ruído sair, o homem olha para a porta mas não vê nada.

   São nesses e outros momento que agradeço por ter a vantagem da teletrasportagem. Sim, eu posso me teletrasportar, além de ser muito resistente fisicamente, minha pele e meus ossos são muito duros e precisa de muita força para me machucar, e mesmo se machucar eu me curo rapidamente, e talvez por esse motivo eu nunca fique doente. É claro que nunca contei isso para ninguém, mas é claro que as pessoas percebiam quando eu me machucava e logo não estava com machucado nenhum, mas nunca tocaram no assunto, ao contrário, elas pareciam não querer saber sobre isso. Por isso eu sempre fui mais reservada, não saio muito de casa, evito pessoas ao máximo. Já tive uma amiga, Angeline, nós tínhamos 14  anos e ela sabia do negócio dos machucados mas nunca contei da teleportagem. Só que ela e família voltaram para o Canadá de onde eram originais e eu nunca mais a vi. Nem poderia ou ela ia sacar que eu podia me teleportar e isso não seria mais um segredo.

   Vejo-me no telhado e vou até a janela. O homem não está mais no quarto e então entro lá dentro para ajudar minha mãe.

     Ajoelho-me ao seu lado e percebo que seu coração não bate. Examino o corpo mas não vejo nenhum sinal de agressão muito menos sangue.

     Tento não chorar nem me desesperar pois ainda tem Nathan que não está por perto.

     Saio do quarto e vou procura-lo na casa, procuro em todos os cômodos, cada canto da casa, mas não vejo ninguém. Começo a entrar em desespero. Minha mãe está morta e meu irmão sumiu. Penso em ligar para a polícia, mas lembro do que mamãe me disse alguns dias antes: “ Se alguém entrar aqui em casa e algo estranho acontecer ligue para esse número imediatamente. É de um amigo que poderá ajudar.” Como estava atrasada para a escola apenas peguei o papel e saí.

   Devia ter perguntado.

    Peguei o papel com o número escrito, a letra torta e comprida de mamãe. Segurei o choro e liguei para o tal número. A voz que me atendeu era rouca e masculina, parecia ser de um velho durão.

        - Alô, sou Katherine Stanford. Minha mãe me deu esse número. Disse que se eu deveria ligar caso algo estranho acontecesse...

    - É a filha de Chyntia Stanford?

    -Sim.

    -O que aconteceu?

    -Um cara entrou aqui e matou minha mãe... ele levou meu irmão... – me controlo o máximo possível para não entrar em desespero, mas está sendo difícil.

    -Acalma-se e não ligue nem chame ninguém, dois caras vão ir aí te ajudar.

    -Vindo aqui? Mas quem é você e porque ela disse pra mim  te ligar¿

    -Eles explicarão tudo quando chegarem aí. Você esta bem? Tem mais alguém na casa?

    -Estou bem na medida do possível e estou sozinha.

    - Sinto muito por sua mãe. Sam e Dean estão indo aí.

    Fiquei por um momento olhando o telefone. Quem era ele e por que estava mandando gente pra cá? O que eles poderiam fazer? O que mamãe estava escondendo de mim? Mamãe... Volto para o quarto e vejo o corpo morto no canto. Sinto uma fúria incontrolável pelo cara que fez isso com ela. Não faço ideia de quem ele seja, do porque a matou, de como fez isso e porque levou meu irmão, mas eu iria acha-lo e teria minha vingança. Fico muito confusa, ela estava viva e quando ele fechou a mão ela morreu, isso é impossível. Não é?

                                               ***

    Ouço o som da porta se abrindo e vejo dois caras entrarem, um grandão com cabelo escuro quase nos ombros e o outro um pouco menor de cabelo espetado e mais claro. Eles já chegaram? Quanto tempo se passou¿

    -Bem o que aconteceu exatamente? - Diz o menor.

    -Primeiro, quem são vocês? -

    -Nós vamos contar, mas agora temos mesmo que saber exatamente o que aconteceu e examinar a casa antes.

- Ok, eu ouvi um grito e vi a luz do quarto do meu irmão ligada e fui ver o que tinha acontecido, então eu vi um homem de terno escuro segurando meu irmão do lado dele e minha mãe estava jogada no chão – me controlo para não engasgar com minhas palavras – então o homem apontou a mão para mamãe e fechou, ela gritou e caiu. Ele estava saindo e eu me escondi, quando voltei minha mãe estava morta sem um pingo de sangue e meu irmão havia sumido. – claro que não contei que eu fui parar no teto.

    - Onde fica o quarto do seu irmão?

    -No corredor lá em cima, segunda porta á direita. – Digo apontando para a escada.

    Eles sobem e eu vou atrás.

    Eles entram no quarto e veem o corpo da minha mãe atirado no chão. Vão até a janela, passam o dedo e dizem um para o outro “enxofre”. Eles ficam um tempo examinando tudo até que eu pergunto o que está acontecendo. Eles se olham, respiram fundo e o mais alto começa a falar:

    -Eu sou Sam e esse é Dean. Nós somos caçadores, caçamos coisas...

    - Espíritos, demônios, lobisomens, vampiros, essas coisas... – Fala Dean . Fico um pouco confusa, mas logo Sam continua.

     -Eu sei que é estranho, mas existe muito mais do que você conhece, e nós vivemos caçando coisas que não são humanas. – depois continua - Seu irmão tem uma força sobrenatural, sua pele e seus órgãos não são fáceis de serem feridos e ele é muito inteligente para a idade, você deve ter percebido que havia algo diferente nele. Sua mãe o convenceu de não contar isso para ninguém, e ele a obedeceu, mas os demônios acabaram descobrindo e um deles veio o buscar essa noite.

    - Um demônio veio buscar meu irmão¿ - Esse papo tá estranho - OK. O que querem com ele e porque mataram minha mãe? - “O quê estou falando? Eles são malucos, essas coisas não existem”.

    -Não temos certeza, provavelmente ele quer seu irmão porque ele será um bom aliado no apocalipse já que é humano e resistente, não cairá em uma armadilha de símbolos e pode se misturar facilmente, além de ser uma criança, ninguém desconfiaria dele.

    -Que história maluca é essa? - Estou me arrependo de ter deixado eles entrarem na minha casa.

    - Algumas coisas estão acontecendo.

    Ok, eles realmente são malucos, por que mamãe disse pra eu ligar pra esses doidos? O cara que liguei devia ser mais doido ainda por mandar esses dois pra cá.

     Olho para o corpo no chão e sinto-me obrigada a achar meu irmão. Devia isso à mamãe. Eles seguem meu olhar.

    - Sinto muito por sua mãe. Você deveria ligar para a polícia. E você tem que vir com a gente.

    -Mas eu não conheço vocês.

    -É perigoso você ficar aqui. Vai ter que confiar em nós. Te explicaremos tudo quando chegarmos.

    Eu topei. Eles não podem fazer nada comigo mesmo, se quiserem me machucar (mesmo sendo difícil) eu sumo e pronto.  Aliás, para onde eu poderia ir? Meu pai já morreu há nove anos e não quero ficar com meu vô nem com minha tia.

    Faço o que eles disseram pra fazer, dou o endereço da minha casa para a polícia e digo ser uma vizinha que ouviu uns gritos vindos da casa.

    Arrumo minhas coisas e parto com eles.