Premonição 6: Inferno escrita por Lerd


Capítulo 7
Cheira À Espírito Adolescente


Notas iniciais do capítulo

Capítulo 7 postado! Espero que gostem! Ele tem ação, tem romance, tem drama... Beeeem quente! Leiam e comentem :D
Ps: sim, eu mudei a capa! Eu sempre quis usar essa imagem como capa, mas como o PeehWill usou primeiro, não podia. Agora que ele mudou, quis usar. Espero que gostem! ^^



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Jill estava sentada em um banco tomando sorvete, enquanto Quentin e Zane esperavam na fila de um brinquedo chamado “chapéu mexicano”. De onde estava a garota podia ver os dois, mas eles não podiam vê-la. Sugar não estava com eles, os três haviam deixado o bicho com Amy, a namorada de Quentin. Jill tinha dito que iria ao banheiro e logo voltaria, mas voltara e esquecera-se de avisá-los. Antes que ela pudesse pensar em fazer isso, seu celular tocou. Era René.

Jill, amor?

— Sim.

O Quentin e o Zane estão com você? — Ele perguntou abruptamente.

— Estão sim, por quê? Seu tom de voz está me assustando.

Eu vi o resto da lista. O Quentin, o Zane e a Babe são os próximos. Vocês precisam voltar pro hotel o mais rápido possível.

— Calma René! Você está me deixando desesperada. Eu vou falar com eles, nós vamos voltar. Mas e a garota? A tal Cherry?

René ficou em silêncio, então Jill soube o que acontecera antes mesmo de o rapaz falar. Ele disse mesmo assim:

Eles não conseguiram salvá-la.

Jill ficou atônita. Ela lembrava-se vagamente da garota, do dia do desmoronamento das ruínas. Não podia dizer que estava triste pela morte dela, porque nem a conhecia, mas sentia-se mal. Talvez fosse a insegurança, o medo de saber que René estava na lista também. Saber que ele não seria poupado, como Cherry não fora.

Mas ela precisava agir. Levantou-se e seguiu na direção dos rapazes. Estava há alguns metros quando viu o soco que Quentin desferiu contra a cabeça de Zane. Jill tapou a boca, nervosa e tremendo, enquanto o negro gritava com o rapaz. De onde estava a garota não conseguia distinguir o que ele estava dizendo, mas pelas expressões que ele fazia, eram xingamentos. Quando Quentin deu um tapa no ouvido de Zane que o derrubou, a garota correu em sua defesa.

— Seu canalha, filho da puta! — Ela gritou, abaixando-se ao lado de Zane. O rapaz no chão fazia movimentos de vai e vem, mexendo os dedos, com o olhar vago. Quentin olhou para a garota, horrorizado, como se tivesse visto um fantasma.

Disse:

— Não se meta, você não sabe o que aconteceu.

— Você deu um soco na cabeça dele, seu merda!

— Ele me provocou! — Quentin tentou se defender, exasperado.

— Ele é igual uma criança! Você não pode fazer esse tipo de coisa, é covardia!

— Dane-se. — Quentin disse, saindo para longe. Jill correu atrás dele, nervosa, e esqueceu-se de Zane. A garota pegou o negro pelo braço e falou, com o tom mais severo que conseguiu emitir:

— Me leva de volta pro hotel. Agora. Vocês estão correndo perigo.

— Nós... Estamos correndo perigo? Como assim?

Antes que Jill pudesse explicar a situação, ela percebeu o que estava acontecendo.

Zane.

O rapaz estava dentro do chapéu mexicano. Ele aproveitara o momento em que ela se distraíra brigando com Quentin e entrara no brinquedo. Jill olhou para cima e viu o rapaz balançando as pernas, animado, exatamente como uma criança. O celular da garota então voltou a tocar.

O brinquedo começou a rodar. Primeiro fraco, elevando o rapaz há apenas alguns poucos metros do chão. O boné de Zane foi arremessado pra longe, fazendo seus cabelos loiros e curtos esvoaçarem. Ele ria alto, gritando com a adrenalina do momento.

Jill. Chapéu. Um chapéu. Eu acabei de ver. — René disse do outro lado da linha.

A garota então desligou o celular, nervosa. O objeto caiu no chão sem que ela percebesse. Jill rapidamente correu até a pessoa responsável pelo brinquedo, completamente desesperada e gritando:

— Para esse brinquedo! Para!

O homem olhou para ela como se a garota fosse louca, e então Jill o empurrou. O funcionário empurrou-a com mais força, e ela caiu no chão. Quentin viu a cena e correu até os dois. O negro deu um soco certeiro no homem, que o fez cair desmaiado. Ele estava nervoso, olhando para o painel. Algumas pessoas que estavam ao redor pareciam assustadas, e Jill sabia que havia pouco tempo antes que os seguranças fossem chamados.

— Eu não sei parar esse negócio! — Quando Quentin disse isso, Jill percebeu que ele percebera toda a situação antes que ela precisasse explicar. Ele sabia o que estava acontecendo.

Jill viu um grande botão vermelho no centro do painel. Só pode ser um botão de emergência.

E era.

Zane estava alheio a tudo, com os braços abertos e rodando com o brinquedo. O rapaz não percebeu quando seu cinto começou a arrebentar. Primeiro levemente, de modo imperceptível. Ele sentia a adrenalina, o vento no rosto. Estava em paz. Sua mente era uma incógnita, mas naquele momento ele parecia genuinamente feliz.

E então o brinquedo parou.

Jill gritou. O movimento brusco que fez o chapéu mexicano parar de girar de repente foi o suficiente para terminar de romper o cinto de Zane. O corpo do rapaz voou através do parque, e ele sentiu-se livre. E então sentiu o impacto de seu corpo chocando-se contra uma estátua de um soldado.

Seu pescoço foi atravessado pela lâmina da lança do soldado. Ela não era cortante, mas a força com a qual o rapaz fora arremessado foi o suficiente para fazer o seu impacto ser fatal. O rapaz ficou com seu corpo dependurado, sendo segurado apenas pela estaca em seu pescoço. Ele cuspiu muito sangue, agoniado, e então morreu.

Jill viu, ao longe, o corpo inerte de Zane pendurado na lança do soldadinho. O sangue escorria pelo corpo do rapaz, pingando. A garota gritou. Um grito de desespero, angústia, amargura... Um grito de pavor, horror, medo... Um grito de terror.


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— Essa espera está me matando. Nós precisamos sair daqui, fazer alguma coisa. — René reclamou.

Pam tentava acalmá-lo:

— Não há nada que nós possamos fazer. De verdade. Você já avisou todo mundo. Se nós tentássemos ir atrás deles, seria uma bagunça. Eles viriam para cá e nós não estaríamos aqui. É melhor que a gente fique e espere. O Brody me disse que ele, Melissa e Babe estão indo para o parque. Fique sossegado.

René queria ter a confiança de Pam, mas era difícil. Ele sentia-se solitário, triste. Ele realmente tinha esperanças de que Brody, Melissa e Babe conseguiriam salvar Amanda, e quando eles receberam a notícia de que ela morrera fora devastador. Parecia que a morte de cada um deles seria inevitável. Nós vamos cair um a um, num efeito dominó.

— Nós vamos conseguir René. Por favor, não desista. Se você desistir eu acho que eu não consigo. — A mulher falou, e ela parecia estar sendo sincera.

— Eu não vou... Desistir. — O rapaz disse, entre murmúrios.

Pam então puxou o rapaz para si e o abraçou. Ali, tão perto dele, ela podia vê-lo como seu filho. Contabilizou mentalmente os anos, e se Adrian não tivesse morrido, ele teria a mesma idade de René. Dezesseis anos. Um belo rapaz. Pareceu, de alguma forma, coisa do destino. Que ela tivesse perdido seu filho dezesseis anos atrás, e que dezesseis anos depois outro rapaz aparecesse, precisando de apoio, de uma palavra acalentadora... De uma mãe. Claro, René tinha uma mãe, mas ela não estava ali. Não estava ali para protegê-lo.

— Me fala de você. — Pam pediu. — Eu não sei nada sobre você. Só sei o seu nome.

— O que você quer saber sobre mim? — O rapaz perguntou.

— Me fale sobre seus pais. — A mulher respondeu prontamente. — Sobre seus irmãos. Você tem irmãos?

Pam viu o rosto de René iluminar-se. Ele respondeu bastante animado:

— Tenho sim. Seis.

— Seis? Uau!

— Pois é. Nós somos adotados, todos nós.

— Adotados? — Pam repetiu, subitamente curiosa. — Você foi adotado com que idade?

O rapaz franziu o cenho, um esforço físico que representava o esforço mental que estava fazendo para tentar lembrar-se. Por fim ele declarou:

— Eu não lembro... Mas eu era bem pequeno, tinha poucos meses.

Poucos meses... De repente uma teoria maluca passou pela cabeça de Pam, mas a mulher tentou descartá-la o mais rápido possível. Pensar naquilo só traria sofrimento e dor. Você viu o corpo de Adrian. Você o viu morto. Claro, havia coincidências, mas elas eram poucas. A idade e o fato de René ser adotado eram os fatores que mais a deixavam ansiosa, mas não eram o principal. Os cabelos... Adrian tinha os cabelos dourados, mas a cor de cabelo dos bebês sempre muda. Brody tinha o cabelo platinado, e depois ele ficou castanho. Pode ter acontecido o mesmo com René. De dourados para acobreados. Mas então ela forçou-se a parar de pensar naquilo. Era loucura. O seu lado maternal, o lado que jamais havia superado a perda de Adrian, queria fazê-la acreditar naquelas sandices, talvez para fazê-la se sentir bem. Mas não havia razão alguma para acreditar que René era Adrian. A mulher sabia absolutamente nada sobre o rapaz. E, além disso, ela vira o corpo morto do filho. Ela vira que ele não estava respirando.

Não vira?

As memórias daquela fatídica noite eram bastante confusas para Pam. Ela se lembrava de gritos, de alguém retirar o bebê do lado dela gritando que “ele não estava respirando”. A mulher tentara protestar, mas logo se sentiu sonolenta... Era óbvio que ela havia sido dopada, e, apesar de seu marido jurar o contrário até o dia de sua morte, ela tinha certeza que ele mandara que isso fosse feito. Pam o perdoava, sabia que ele havia feito aquilo para que ela não sofresse. Mas não podia deixar de pensar que isso a impedira de poder se despedir do filho. De tocar o rostinho dele pela última vez...

Ela, enfim, perdera Adrian por duas vezes.

— Eu vou tomar um ar. — René falou, de repente.

— Eu vou com você. — Pam se ofereceu.

O rapaz recusou educadamente:

— Não, fica. Eu quero ficar sozinho um pouco.

A mulher concordou com um aceno, e o rapaz seguiu até a porta. Antes de sair ele disse:

— Obrigado.

Pam sorriu consternada. René podia não ser Adrian, nem seu filho, nem seu amor, mas ela faria o possível e o impossível para tirá-lo com vida da lista da morte. Custe o que custar.


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Babe chegou exasperada ao parque. René tinha avisado que ela e os rapazes eram os próximos, e a garota não pôde deixar de pensar no quão vulnerável Zane estava. Ela deixara Brody e Melissa há algumas quadras do hotel e seguira até o parque com a promessa de que voltaria com o irmão e com Quentin. Vivos.

Suas esperanças foram por água a baixo quando ela viu as ambulâncias.

Jill a viu ao longe. A garota correu na direção dela desesperada, chorando. Disse:

— Me desculpa, me desculpa, me desculpa... — E abraçou Babe com a maior força que pôde.

A ruiva estava assustada. Ela forçou Jill a soltá-la e, segurando a garota pelos ombros, perguntou:

— O que aconteceu?

Jill só conseguia chorar. A garota tremia muito, e era difícil fazê-la focar-se em alguma coisa naquele momento. Entre murmúrios e soluços, falou:

— O Quentin bateu nele... Deu um soco na cabeça e... Eu fui brigar com ele, eu fui... Era errado, ele não podia bater no Zane... Daí ele fugiu da gente, ele escapou! Ele escapou e entrou no brinquedo! A gente tentou salvá-lo, mas...

Babe estava em choque. Eram tantas informações que a garota não conseguia raciocinar com clareza.

— O Quentin... Bateu nele? — A ruiva perguntou, tremendo. Ele está morto, Babe, quê importa se ele apanhou antes de morrer?

Jill meneou a cabeça positivamente, e conseguiu dizer:

— Ele deu um soco na cabeça do Zane, e derrubou ele no chão. Me desculpa, eu devia ter ficado de olho nele... — A garota chorava copiosamente, e molhava todo o corpete de Babe. A ruiva não conseguia dar importância para isso. Não conseguiria consolar Jill. Era ela quem precisava de consolo. A garota estava apenas chocada, impressionada, mas esqueceria. Babe, pelo contrário, se lembraria daquele dia pelo resto da sua vida. Ela guardaria a lembrança de cada segundo, de cada palavra de Jill. Pelo tempo que lhe restasse de vida, pelo menos.

Subitamente a ruiva lembrou-se das marcas no corpo de Zane. Arranhões, vergões, manchas. Ele não consegue ficar parado, ele corre por todos os lados, se machuca com facilidade. Aquelas eram as palavras de Quentin. Ela acreditara, afinal fora testemunha de muitos machucados do irmão. Ele realmente se machucava com uma facilidade absurda. Mas alguns machucados eram estranhos, e isso era inegável. Hematomas impossíveis de serem feitos por tropeções e quedas. Mas Babe acreditara nas palavras de Quentin.

As palavras de Quentin.

Babe conhecia o rapaz há pouco tempo, há poucos meses. Os dois se conheceram pela internet, em um fórum sobre índigos. Naquela época a ruiva desconfiava que Zane pudesse ser um deles, já que o rapaz parecia ser capaz de fazer pré-julgamentos bastante acurados sobre as pessoas. Se ele dizia que alguém era ruim, a pessoa acabava geralmente provando que realmente tinha aquele caráter que Zane descrevera. Babe nunca ficara sabendo se aquilo era verdade ou não, mas fora assim que ela tivera seu primeiro contato com Quentin. Dali para eles decidirem filmar um curta-metragem sobre a mitologia dos índigos fora um pulo.

Mas o rapaz nunca gostara de Zane. Babe tentava ao máximo não deixá-lo sozinho com Zane, mas algumas vezes era impossível. A ruiva sabia que o irmão era um fardo para as outras pessoas, e que ninguém além dela teria a paciência necessária para lidar com ele. Ela não ligava. Zane era o fardo mais maravilhoso de sua vida, e para ela era um prazer cuidar do irmão. Sempre fora. Ele era sua rocha, a única pessoa no mundo pela qual ela vivia. Cada decisão que tomava, cada passo que dava... Era para o bem estar e a segurança de seu irmão mais novo. Algumas vezes Babe achava que se Zane não existisse, ela já teria acabado com a própria vida há muito tempo. Mas ela não podia. Ela vivia por Zane, desde o dia em que ele nascera.

E subitamente a garota fora forçada a se aposentar daquela tarefa mais cedo do que gostaria.

— Me desculpe... — A namorada de René voltou a repetir.

A ruiva ignorou Jill e correu na direção de um aglomerado de pessoas. Quando ela tentou atravessar uma faixa amarela, um bombeiro a barrou. Babe esbravejou:

— Ele é o meu irmão! É o meu irmão, me deixem passar! Me deixem passar seus filhos da puta!

O homem segurou-a com força, enquanto a garota desferia socos contra ele. Jill via a cena ao longe, chorando muito. Foi então que ela lembrou-se da conversa que teve com René. A capela. Vamos nos casar na capela. E mandou uma mensagem para ele, do seu celular. Escreveu:

Encontre-me na capela. Agora. Eu preciso de você. Como se fosse a última noite de nossas vidas. Como se fossemos morrer jovens.

E saiu correndo dali. Não havia nada que ela pudesse fazer para ajudar Babe. Aquela era uma batalha que a ruiva precisava enfrentar sozinha. A sua presença podia inclusive irritar e deixar a garota ainda mais triste. O melhor a fazer era se afastar.

Jill correu como se sua vida dependesse disso.


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Helena entrou abruptamente no quarto. Hank levou um susto e acordou de repente. Ele dormia no sofá ao lado da cama de Marsellus, e esteve todo aquele tempo esperando a mulher chegar. Ele não sabia se René e os outros haviam tentado contato com ele, já que seu celular havia ficado em seu quarto. De qualquer forma eles estavam naquele prédio, então se precisassem dele não seria difícil encontrá-lo. Tomara que eles consigam salvar todo mundo. Tomara que eles consigam descobrir a ordem da lista. Tomara que eles consigam salvar Amanda...

— Oh, eu não esperava encontrá-lo aqui... — A mulher disse, levemente surpresa. — Hank.

— Me desculpe. Eu tentei contatá-la, mas não consegui. O seu celular só dava na caixa postal.

Helena pegou seu iPhone de dentro de sua bolsa e constatou:

— Ficou sem bateria. Eu estava procurando um helicóptero, mas minha busca foi infrutífera. — E então ela reparou em Marsellus dormindo profundamente na cama. — O que aconteceu com ele?

Hank ficou sem graça em dizer:

— Bebeu demais. Ele desmaiou no bar e eu o trouxe aqui.

— Isso foi muito... Gentil da sua parte. Inclusive esperar que eu chegasse para tomar conta dele.

O rapaz então suspirou. Ele sentia a crescente tensão sexual no quarto, e, apesar de seu subconsciente dizer-lhe que Helena também sentia aquilo, ele negava-se a acreditar. Eu não vou fazer papel de palhaço. Por mulher nenhuma.

— Sobre isso... — E tomou coragem. Ele precisava dizer tudo, contar sobre a lista e todo o resto. Mas parecia tão difícil. Helena o deixava desconcertado de uma maneira que ele jamais imaginara ser possível. Naquele momento ela usava um camisete branco com as mangas dobradas até metade do antebraço e um short de linho dourado de cós alto. Em seus pés havia um par de saltos altos de alguma marca chique que o rapaz jamais reconheceria. Só Jill conseguiria saber qual a marca desse negócio. O melhor de tudo, o que eu sei apreciar, está escondido debaixo de toda essa grife. — Tem algo que eu preciso lhe dizer.

E então ele levantou-se do sofá. Helena se aproximou dele, ficando a uma distância nada segura. Poucos centímetros. Oh Deus, dai-me diligência, não me deixe cair em tentação. Eu tenho um objetivo a seguir aqui. Eu tenho que ajudar René a salvar vidas.

— Sim? — Ela disse, quase sussurrando. Hank observou a boca dela. Bela, carnuda. Seu cheiro era doce e delicado, o cheiro mais agradável do mundo. Subitamente o rapaz sentiu algum movimento dentro de suas calças, e ficou vermelho, totalmente desconcertado. Se ela perceber eu estou ferrado.

— Então... Eu... — O rapaz começou, mas foi interrompido.

Helena pegou-o pelo colarinho de sua camisa e lhe deu um beijo de língua. Demorado, quente, cheio de luxúria e desejo. Hank não conseguiria resistir àquilo, e deixou-se levar pelo momento. Agarrou a mulher com fúria, e começou a desabotoar os botões do camisete dela. Na frente dele. E se esse homem acordar? O que vai ser de nós? Mas Helena parecia não se importar. Parecia que o medo de ser pega em flagrante a excitava ainda mais, e Hank achava que o mesmo podia ser dito a seu respeito.

As roupas foram rapidamente ficando no chão. A camiseta de Hank, o camisete de Helena, as calças de Hank, os shorts de Helena. E então o corpete dela, e as boxer dele. O rapaz sentou no sofá e Helena sentou em seu colo. E eles ficaram naquele movimento de vai e vem durante algum tempo, contendo os ruídos o máximo que podiam. Ali, naquele momento, o rapaz não pensava em mais nada. No mundo só existia ele e Helena.


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Marsellus se debatia na cama. Ele sabia que tudo o que estava acontecendo era um sonho.

Um pesadelo.

A imagem da garota ficava aparecendo em sua cabeça. Ela dizia: “você me matou. Você me matou!”. O homem queria gritar que fora um acidente, que ele não tivera a intenção... Mas havia maneira? Não importava qual fosse a intenção que tivera, o que estava feito estava feito.

Acontecera quando ele era bem mais novo, aos vinte e um anos. Aquele era talvez o único segredo sobre ele que Helena não conhecia, e o homem fazia questão de esconder aquilo dela. Se a mulher soubesse, jamais o veria da mesma forma. Ela sabia que ele era explosivo e que tinha terríveis acessos de raiva, com consequências desastrosas, mas não imaginava que ele já matara alguém. Especialmente alguém tão jovem e meiga.

Era uma namoradinha de faculdade qualquer. Marsellus às vezes esquecia-se do nome dela, então fazia questão de anotar em qualquer lugar que podia. Helena já vira por várias vezes a inscrição “Claire”, mas jamais perguntara a respeito. O homem fazia aquilo porque achava que era o mínimo que devia à garota. Lembrar-se do nome dela, do rosto dela. A segunda parte era fácil: a expressão de pavor nos olhos dela quando ele quebrou o seu pescoço estaria pra sempre guardada em sua memória. Ele querendo ou não.

Voltando no tempo, Marsellus desconfiava que Claire o traísse já há alguns meses, mas jamais conseguira comprovação. Ele então marcara um encontro alegando ser um tal de Marcos, um amigo próximo da garota, das suas aulas de biologia. Fora fácil conseguir o aparelho celular do tal Marcos, para que a mentira soasse crível. Qual foi a surpresa de Marsellus quando Claire respondeu que o encontraria naquela noite, “assim que conseguisse se livrar do seu namorado”.

O que acontecera a seguir era um borrão na mente de Marsellus. Ele lembrava-se de muitos gritos, e de desferir vários tapas no rosto da garota. Lembrava-se de ouvi-la implorando, entre lágrimas e soluços, e então se lembrava de apertar o pescoço dela até a garota ficar roxa. Em seguida se lembrava também de quebrá-lo com uma facilidade absurda, como se quebra um galho de árvore seco. O homem sabia que era mais forte do que aparentava, especialmente quando estava em um de seus acessos de fúria. Era algo que ele nunca tratara, e que, sabia, um dia seria sua ruína.

Marsellus não se lembrava de como havia se livrado do corpo ou de como havia saído impune daquela situação. Ele suspeitava que seu pai houvesse o ajudado, usando suas influências e sua fortuna, mas não tinha certeza. Jamais perguntara, tinha medo de trazer o assunto à tona. Além disso, nada traria Claire de volta, não importava o quão arrependido ele estivesse.

Ele sonhava com a garota dia sim, dia não.

Aquele, por azar, era um dia em que sonhava com ela. Mas daquela vez o sonho era diferente. Entre sussurros e lamúrias, havia gemidos. Gemidos de prazer. Gemidos de um homem e de uma mulher.


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Sentada dentro da ambulância, Babe sabia mais ou menos o que deveria fazer. Sua vida não tinha mais sentido algum, isso era certo, mas ela não podia deixar as coisas ficarem daquela forma. René avisara que ela e Quentin eram os próximos, mas qual seria a ordem? Havia uma grande chance de ela poder matar dois coelhos com uma cajadada só: conseguiria vingar a morte de Zane e ainda por cima conseguiria salvar a todos da lista da morte. Se não conseguisse, não havia problema: a primeira parte seria cumprida com maestria, e ela só precisava esperar conseguir ser pulada pela lista para em seguida cometer suicídio. Ela tiraria todos da lista da morte de uma maneira ou de outra. Fosse dando a própria vida...

Fosse dando a vida de Quentin.

Ele merecia, afinal de contas. Ele maltratara Zane, ele fora indiretamente responsável pela morte dele. Claro, Babe era racional o suficiente para saber que a lista matara o irmão, mas Quentin tinha uma parcela de culpa. A ruiva não chegara a ver o corpo do irmão atravessado pela lança, mas imaginava que tivesse sido uma morte cruel e dolorosa. Ele não merecia isso. Ele era praticamente uma criança... Crianças merecem uma morte mais pacífica...

Babe pegou o celular e discou o número de Quentin. Antes disso teve o cuidado de colocar uma artimanha que faria o seu número não ficar identificável. O homem atendeu no segundo toque. A ruiva subitamente mudou o tom de voz, falando de maneira chorosa:

— Socorro, você precisa me ajudar...

Quem é que tá falando? — O homem indagou. — Amy, é você?

— Sim. — Babe forçou a voz para que ficasse estranha e irreconhecível. — Tem alguém aqui na clínica. Um homem. Eu preciso de ajuda.

Do outro lado só a respiração pesada de Quentin era audível. Ele então disse, de repente:

Eu estou indo agora, aguenta aí. Liga pra polícia!

Babe então fingiu estar sofrendo um ataque, gritando, e desligou o aparelho. Ela agora precisava chegar à clínica de Amy antes de Quentin. Você mal sabe o que te espera...


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Pam concluiu que René não voltaria quando Melissa e Brody chegaram. Já fazia mais de meia hora que o ruivo havia saído, e só havia uma conclusão a ser tirada: ele fugira. A mulher tentou contatá-lo através do celular, mas o aparelho estava desligado.

— Ele não fugiria, mãe. Ele tem a namorada, e aquele amigo. — Brody comentou.

— O amigo dele já é bem grandinho, e eu não faço ideia de onde a Jill está...

— Provavelmente com a Babe. — Melissa arriscou. — Ela foi até o parque, atrás do irmão e de Quentin. Eles chegarão logo, eu tenho certeza.

Pam continuava pensativa. Ela não estava convencida.

— Eles, sim. Mas e René? Não, tem algo errado. Ele escapou. Por algum motivo ele escapou...

Melissa não soube o que dizer. Ela não iria contrariar Pam.

Brody estava bastante aéreo, sem conseguir focar-se na conversa que eles estavam tendo. Ele ainda está atordoado com a morte de Amanda, Melissa pensou. Eu acho que ele nunca tinha visto alguém morrendo assim... Não ao vivo, pelo menos. Deve ser um choque e tanto. A garota tentou lembrar-se de quem fora a primeira pessoa que ela vira morta, mas não conseguia. Trip, talvez? Era difícil dizer, depois de tanto tempo. Depois de tantas mortes. Perdida em pensamentos, a garota nem notou quando Pam discou um número qualquer em seu celular. A mulher disse, suspirando e tremendo:

— Alô, oficial Portilla? Aqui é a Pamela. Sim, a mulher que a contatou. — E após uma pausa: — É sobre o René. Eu acho que ele fugiu do hotel.


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Notas finais do capítulo

Gostaram da morte de Zane? :B Ela era uma morte que eu tinha planejado pra uma versão da fanfic 4 (que se chamaria Ressurreição) mas que, quando a fic foi cancelada, nunca chegou a ser mostrada. Decidi então usar nele, agora. Espero que tenha ficado bom!
E também a explicação sobre os acessos de raiva do Marsellus, como forma de justificar pelo menos um pouco (bem pouco) o ataque a René, lááááá no segundo capítulo. É um transtorno, um problema psicológico. Mas, claro, o fato de ele ter matado essa namorada terá grande impacto em breve! Especialmente envolvendo Helena ^^
Jill teve grande destaque nesse capítulo, e aviso que não irá parar por aí: eu sempre disse que ela seria uma personagem chave na trama, e ela será! :B
Capítulo 8 sairá em breve! Agora entramos em uma parte da fic em que haverá muita ação e dramas :B Enjoy!