Perigo na Floresta escrita por Crica


Capítulo 9
Capítulo 9




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Capítulo 9 : Perigo na Floresta

 

Um mau pressentimento invadiu o jovem coração do rapaz nativo, que prensou seu corpo à parede de madeira envelhecida e buscou, com o olhar, movimentos na imensidão das sombras da floresta à sua volta.

_ Acho melhor você me esperar aqui fora, garoto – Dean sussurrou, sem olhar para trás, ainda agachado junto à construção.

_ Nada feito. Vou com você e não sou garoto, já disse.

_ Está certo, Billy – reforçou a entonação no nome do jovenzinho _ Eu desisto. Só tenha cuidado e fique atrás de mim, certo? Essa coisa não é um bicho selvagem qualquer. Não vai ser moleza lá dentro se tivermos que encará-la de frente.

O pequeno guerreiro acenou positivamente e engoliu o medo atravessado em sua garganta. Não admitiria nem sob tortura que estava apavorado, mas se alguém pudesse ouvir seu coração, perceberia que sua tranquilidade era apenas aparente.

Ambos entraram sorrateiramente na casa, pela varanda e seguiram, guardados pelas sombras, avançando pelos cômodos, com cautela. Olhos e ouvidos atentos a qualquer movimento, qualquer som.

Chegaram ao final da casa e não encontraram sinal da criatura. Estavam confusos. De forma alguma o ser mutante poderia ter deixado o local sem que percebessem e não havia um segundo andar.

Na cozinha, Billy puxou a barra do casaco de Dean, apontando marcas úmidas no chão, diante da porta da despensa. O caçador passou seu dedo sobre o líquido e percebeu que se tratava de sangue. Certamente o monstro teria entrado por aquela porta.

Segurando a pistola carregada de balas de prata numa das mãos e o facão na outra, o Winchester posicionou-se ao lado da porta de venezianas, com as costas coladas à parede e aguardou que  seu amigo girasse a maçaneta, puxando o anteparo de madeira em sua direção.

Dean verificou que o compartimento estava vazio e foi entrando devagar, observando cada detalhe do espaço. Nada além de mofo, poeira e muitas prateleiras vazias. Continuou entrando e seus pés tocaram algo no chão que chamou-lhe a atenção.

Billy passou a frente do mais velho, segurou a argola grossa de metal com as duas mãos e levantou a tampa, assim que recebeu um olhar aprovador do outro.

O alçapão dava para um túnel sob a casa.

O irmão de Samuel foi o primeiro a descer pela escada de madeira, ao constatarem que não havia sinal de vida no lugar. Apenas uma tênue claridade que permitia ver através da penumbra. Havia um cheiro estranho e desagradável que contaminava todo o ambiente. Algo que lhes revirava o estômago.

Os dois caminharam na direção da luz trêmula, sempre rentes à parede de pedra. Era frio. Frio e muito úmido. A sensação de perigo gritava dentro de seus cérebros, mas a necessidade de concluir sua missão era maior.

Chegaram então, ao corredor ladeado por algumas pesadas portas de madeira, onde tochas presas às argolas nas paredes, cuidavam da iluminação do lugar.

Dean foi passando pelas portas e se deteve diante de uma. Parou, sem qualquer aviso ou motivo aparente e empurrou-a com o ombro, abrindo uma pequena fresta. Lá dentro, a sombra projetada na parede, fez seu coração falhar uma batida, impedindo que soltasse o ar de dentro dos pulmões. Continuou a empurrar a porta com cuidado e colocou parte do corpo para dentro.

Era Sam ali. Seria capaz de reconhecer seu irmão em qualquer lugar, mesmo de costas. Passou para dentro do cômodo, sendo seguido por Billy; embainhou o facão e prendeu a arma à cintura ao verificar que não havia ameaça iminente. Aproximou-se rapidamente do rapaz acorrentado ao teto, sem fazer barulho.

_ Sammy...- bateu no rosto do mais moço – Sam? – Levou os dedos ao pescoço verificando a pulsação e, só então foi capaz de respirar normalmente outra vez.

_ Ele está vivo? – o menino, num sussurro, quis saber.

_ Procure pelas chaves – Dean orientou o menor, afastando os cabelos compridos do irmão para ver melhor seu rosto _ Não posso atirar nas correntes. Temos que achar as chaves.

Mesmo na sombra, a aparência de Sam cortou o coração de seu irmão. As enormes olheiras arroxeadas e a lividez de sua pele revelavam sua condição. Seus pulsos estavam machucados pelas corrente.

_ Eu vou matar esses desgraçados – Verificou os pequenos cortes no pescoço e nos pulsos _ Eles vão pagar, Sam. Vão pagar caro por isso.

Não tardou para que Billy surgisse com uma chave meio enferrujada que serviu perfeitamente na fechadura do cadeado que trancava as correntes junto ao elo, no alto.

O garoto pegou uma cadeira e, subindo, abriu a fechadura e soltou os elos enquanto Dean sustentava o peso do irmão, evitando que este se esborrachasse no chão.

Precisavam ser rápidos.

Dean  ajeitou o caçula e puxou-o, pelos ombros, em direção à saída.

Billy seguia na retaguarda, atento a tudo, empunhando suas armas de defesa. O garoto era realmente corajoso.

Com alguma dificuldade, chegaram ao pé da escada de madeira.

O mais velho recostou seu irmão na parede próxima e ergueu-se, puxando o ar com força. Estava cansado. Muito. Mais do que o normal. Sam era grande e pesado, mas nunca tivera dificuldade em carregá-lo das outras vezes em que precisou.

Passando pelo caçador, o jovem Sioux subiu rapidamente os degraus de madeira que os separavam da liberdade e desapareceu na escuridão lá fora, voltando em seguida, com uma corda.

Bem, o garoto era corajoso e inteligente, com certeza.

Amarraram a corda ao redor do tórax de Samuel. Dean subiu pelas escadas e puxou  devagar, elevando Sam, com a ajuda de Billy.

A cada puxada na corda, Dean sentia suas costelas arderem. Não era hora de pensar na dor. Não era hora de pensar em nada a não ser salvar Sam. Não sairia dali antes de resgatar seu irmão, não depois de chegarem tão longe e, se seu corpo ainda fosse capaz, voltaria para matar todas aquelas criaturas que tinham machucado seu irmãozinho. Era o terror de perder Sam, mais do que o ódio pelas abominações sobrenaturais que o haviam levado que movia e impulsionava o Winchester mais velho, que o fazia buscar forças e energia onde sequer sabia que existiam.

Lá embaixo, Billy apoiava as longas pernas de Sam, empurrando-as para cima.

Finalmente estavam fora daquele maldito buraco fedorento.

Continuaram a arrastar um Samuel inconsciente para fora da casa, cuidadosamente, porém o mais rápido que podiam. Faltava pouco. Alguém lá em cima poderia dar uma mãozinha e permitir que mais nenhum monstro aparecesse em seu caminho para atrapalhar sua fuga.

Na varanda, o ar puro e o azulado do luar claro.

 Faltava menos, agora.

Mais um passo rumo à segurança.

Três degraus para baixo e Sam gemeu.

Dean imediatamente retirou seu casaco e, com o auxílio de seu mais novo aliado, vestiu-o no caçula. Mantê-lo aquecido. Evitar que Sam entre em choque. Rápido. Não poderia deixar que seu irmão enfrentasse uma hipotermia agora. Levar Sam para um hospital . Aquecê-lo. Manter Sammy vivo e seguro. Tudo surgia dentro de sua cabeça em flashes, como anúncios em neon.

Dean voltou a arrastar seu irmão, traçando uma trilha funda na neve.

Billy, agora empunhando a pistola do caçador, arrastava um pedaço de galho com folhas sobre os rastros que deixavam.

Muito esforço e poucos metros. Podia sentir em seus ossos a aproximação do perigo. Onde teriam se metido Katyre, Lobo Veloz e seus outros filhos?

Apesar do frio, o suor escorria pelo canto do rosto de Dean. Mais pela dor e cansaço do que por calor.

_Olhe! – Billy apontou o brilho de luzes que se movimentavam ao longe na floresta.

_ Que seja o Bobby, por favor – Dean rezou em voz baixa _ Tem que ser o Bobby ou os índios. Não estou podendo enfrentar nada agora, por favor.

No meio do caminho entre a casa e a barra da floresta, iluminados pela lua cheia, Dean e Billy se puseram em posição de defesa quando o rosnado passou, num salto, por sobre suas cabeças, caindo entre eles e a salvação.

Era horrível. Mesmo para os olhos acostumados ao bizzarro, ainda assim, a figura de Yuri era abominável: Um misto de lobisomem e outra coisa assustadora que não sabiam definir.

O monstro mantinha-se apoiado sobre as pernas musculosas que mais pareciam as de um enorme lobo. Podia-se contar suas costelas alteradas que subiam e desciam, com a respiração acelerada,num peito coberto de pêlos espessos e escuros, molhados pela baba que escorria do maxilar projetado para frente que exibia presas imensas e dentes afiados. Suas garras armadas em posição de ataque se moviam com a retração muscular. E aqueles olhos... Os olhos vermelhos que povoaram os pesadelos de Dean nos últimos dias.

Aos primeiros disparos, a criatura reagiu, erguendo os longos braços, coma intenção de proteger-se das balas.

Bobby e os guardas estavam ainda distantes.

Dean deitou Sam sobre a neve e tomou sua arma da mão de Billy, efetuando disparos certeiros no monstro que continuava a caminhar em sua direção. Aquela coisa sentia a penetração da prata em sua carne, porque urrava cada vez mais alto, porém não se detinha. Pelo contrário, a ira parecia alimentá-la, ganhando terreno sobre o caçador.

Billy tencionou seu arco e disparou as flechas que tinha, em vão. As hastes de madeira atravessavam impunemente o corpo do filho de Anton, que se mantinha de pé, avançando assustadoramente sobre eles.

Num único salto, Yuri alcançou Dean e tomou-lhe o pescoço entre suas mãos. Aproximou-se do rosto do caçador ao ponto dele poder sentir o bafejar de seu hálito pútrido.

A certa distância ainda, Bobby, Thompsom e dois dos guardas que permaneceram com eles, mal podiam crer em seus olhos. Uma criatura enorme, com ares de fera segurava o jovem Winchester pelo pescoço, acima do solo. Correm ainda mais, suspendendo o tiroteio para não vitimar o rapaz.

Ali, a menos de três metros de distância, Billy percebeu quando Dean fechou os olhos, agarrado ao pulso de Yuri, sem conseguir respirar pela pressão exercida em sua garganta. Foi parte de um galho grosso que serviu de arma para o pequeno guerreiro.

O golpe em suas costas fez com que o monstro voltasse sua atenção para o rapazinho, largando por terra, o Winchester atordoado. Um par de olhos vermelhos, flamejavam em fúria, na direção de Billy. O som que emitiu só não foi mais assustador que a visão de suas presas, sedentas de sangue.

Assim que foi capaz de respirar novamente, os instintos do caçador ligaram os pontos que levavam o monstro na direção de seu jovem amigo. Correu os olhos pelo chão e rolou para junto do brilho que o metal de sua pistola exibia, pelo brilho da Lua.

Correr para dentro da floresta seria sua única salvação, pensou o menino guerreiro. Se corresse o bastante, poderia atrair a atenção da criatura, dando tempo suficiente para que Dean se recuperasse, que para os outros homens os alcançassem e, principalmente, para manter uma distância segura entre si e aquela aberração amaldiçoada.

Ao chegarem ao pequeno descampado diante da casa da montanha, Bobby e o xerife Thompson observaram o filho mais velho de John entrar na mata atrás de Yuri.

O coração do velho caçador estava aos pulos dentro do peito e seus pulmões davam a entender que explodiriam a qualquer momento. Parou por um segundo para recuperar o fôlego e continuou na correria desabalada atrás do policial que já se embrenhara pela vegetação atrás dos outros três.

Não era nada fácil correr com os pés afundando na neve. Era a segunda vez que perdia o equilíbrio e logo, se caísse novamente, Billy sabia que não teria chance contra a habilidade animal de seu perseguidor. Correr e cuidar de olhar para trás o estava deixando meio tonto. Seu senso de direção começava  a ficar debilitado. Mas afinal, a direção em que ia, era o menos importante agora. Precisava manter a distância e rezar para que os espíritos estivessem olhando por ele.

As árvores passavam apressadas, como vultos negros dentro do cenário azulado. Já não sentia o frio. Já não sentia o ar rasgar-lhe os pulmões. Não sentia mais nada além da necessidade de evitar o pior. A adrenalina pulsava dentro de suas veias, fazendo o sangue ferver. Não lembrava mais da dor. Só conseguia pensar em salvar Billy e voltar para pegar Sam. Tomara que Bobby tenha chegado até Sam. Tomara que Sam ainda esteja vivo e que consiga chegar ao hospital. O ar de sua respiração se condensava diante de seu rosto como o bafejar dos dragões das histórias que contava ao irmão menor em sua infância.

***

_ Sam! – Bobby se deteve diante do corpo d jovem estirado na neve _ Meu Deus, garoto, o que fizeram com você? – Queria seguir e ajudar Dean e os outros, mas sabia que devia ficar e proteger Sam _ Ei, Scott! Passe um rádio e chame o helicóptero do resgate! Precisamos levar o garoto ao hospital agora!!!

O último dos Rangers, responsável pela comunicação com a base, fez o contato e aproximou-se, retirando de sua mochila um cobertor térmico, com o qual envolveu o ferido.

_ Fique firme, rapaz – o caçador conferiu a pulsação no pescoço e respirou mais aliviado _ A ajuda está chegando. Vamos tirá-lo daqui, ouviu? – Abraçou o corpo de Samuel, puxando-o para junto de si, recostando-o no seu próprio _ Vamos tirar vocês dois daqui, Sam.

_ O helicóptero chegará em dez minutos – o guarda florestal apanhou a máscara de oxigênio e colocou-a sobre o rosto pálido do jovem, bombeando o ar _ Precisamos mantê-lo respirando e aquecido.

_ Acha que pode cuidar dele sozinho? – os olhos do caçador subiram de Sam para os de Scott _ Eles podem precisar de ajuda lá e...

_ Vá – Foi só o que o rapaz respondeu e foi o que bastou para que Bobby Singer empunhasse seu rifle e corresse na direção tomada pelos demais, para dentro da noite.

***

Billy estava caído junto a uma árvore e Yuri, pronto para devorar o jovem Yankton. O jovem que ainda não tinha seu ‘nome de homem’ e, que se ele não fizesse alguma coisa rápido, não o haveria de ter.

Os tiros foram disparados até que o pente da pistola prateada pulasse, vazio, deixando, como única opção ao homem que corria alucinadamente, como um louco, ao berros, na direção da fera, o facão reluzente. A arma afiada entrou pelas costas de Yuri num único e violento golpe, que o fez gemer. Um gemido alto, quase um grito de dor, mas que não o impediu de golpear Dean com um dos braços, fazendo-o voar para longe.

Dessa vez estava ferrado, pensou. Muito ferrado. Ferrado de verdade. E era só isso que sua mente conseguia processar. O monstro bestial caminhava em sua direção, salivando e rosnando, pronto para fazê-lo em pedaços e não conseguia atinar numa saída para aquela situação.

Thompson surgiu atirando, de dentro da floretas, juntamente com um outro guarda, chamando a atenção de Yuri. O policial não conseguia acreditar na quantidade de balas que já tinham atingido aquela coisa que continuava a atacar e avançar sobre eles.

Nesses breves instantes, Dean forçou o corpo para cima, sobre os cotovelos, e ergueu-se ofegante. Sentiu o conhecido gosto metálico em sua boca, mas não tinha tempo para pensar nisso agora. Com a manga da camisa, limpou o líquido que escorria do canto da boca, depois de cuspir a saliva grossa e vermelha sobre a neve. Em passos cambaleantes, tomou nas mãos o facão que encontrou pelo caminho e partiu novamente para cima da criatura, que agora investia sobre os policiais.

Na primeira patada, o xerife foi atirado ao longe, com o braço rasgado. Em seguida, o policial que ainda atirava contra Yuri, recebeu o golpe do galho que voou em sua direção, nocauteando-o. Não havia mais nada a fazer. Todos estavam à mercê do monstro que parecia indestrutível.

Nunca fora tão difícil, andar, respirar e manter-se em pé. Dean estava tonto e esgotado. Seus olhos custaram a focalizar a figura medonha de seu oponente que se aproximava. Sentiu que estava chegando ao fim de suas forças. Seus joelhos se dobraram e se recusavam a sustentar o peso de seu corpo. Deixou o corpo cair para frente e apoiou-se sobre as mãos, na neve. Sua cabeça estava pesada. Podia sentir o cheiro enjoativo da presença de Yuri. Podia ouvir sua respiração pesada e ruidosa. Dava pra sentir o chão tremer aos seus passos. Passos cada vez mais próximos.

_ NÃO!!! – Bobby gritou da borda da mata, ao perceber a aproximação de Yuri de seu amigo desprotegido. Gritou a plenos pulmões, fazendo com que a besta voltasse sua atenção em sua direção.

Novamente, um urro feroz e ensurdecedor encheu o ar, estremecendo a terra e um ser imenso saiu da noite, saltando sobre a besta que aterrorizava os caçadores e seus amigos.

Dean levantou os olhos e mal pôde crer no que eles lhe mostravam. Seria possível? Não estaria alucinando? Bem, seu corpo doía o suficiente para provar que estava bem acordado. Estava ali, contra todas as suas crenças, contra todas as suas convicções, ao vivo e a cores. Uma criatura imensa, coberta de pêlos dourado-avermelhados, dos pés à cabeça, urrando  e dando uma surra no poderoso Yuri.

Num momento inédito, Singer ficou paralisado diante da cena que presenciava: Um Sasquatch. Um bendito Pé Grande, surgido do nada para salvá-los, atirava a besta mutante de um lado para outro contra as árvores centenárias da montanha, arrancando deste, gritos de dor e medo. Um Sasquatch. Se lhe contassem, não acreditaria. Mas estava ali, diante de seus olhos, salvando suas vidas de um destino terrível e doloroso.

Ambos os caçadores viram quando o Pé Grande imobilizou o Yuri transmutado e, com uma das mãos peludas, virou-lhe o pescoço para trás, quebrando-o, num estalo sonoro, arrancando fora, em seguida, sua cabeça.

Bobby e Dean testemunharam quando o Sasquatch largou por terra o corpo morto e entrou novamente na floresta, desaparecendo sob a luz do luar, por entre as árvores.

_ Você está bem, garoto? – Bobby aproximou-se de Dean depois de uns bons minutos _ Consegue ficar de pé?

_ Estou bem _  Respondeu com a fala entrecortada _ Vá ver os outros.

_ Thompson está acordado e já se levantou – observou o xerife se aproximar do guarda, segurando o braço ferido _ Acho que eles estão bem.

_ E o garoto ? – o caçador mais jovem apoiou-se no mais velho para por-se de pé outra vez _ Você viu o menino, Bobby?

_ Está logo ali, recolhendo suas flechas.

_ Peste de moleque! – ajeitou o corpo, fazendo uma careta e cuspindo no chão novamente _ Quase me mato para salvá-lo e está recolhendo flechas?

_ Vamos – Singer puxou o amigo pelo braço _ Vamos sair dessa droga de montanha. Estou cheio de neve, de frio, de monstros e da teimosia de vocês dois. Por Deus, eu juro que ainda dou uma surra em vocês!

_ Tá, mas deixa pra bater depois que eu tomar uns analgésicos que a coisa aqui está preta.

oooOOOooo

As hélices da aeronave levantavam a neve do chão, provocando um redemoinho, enquanto o helicóptero fazia a aproximação para aterrar, com suas luzes piscando, alternadamente.

Scott tinha parte do corpo de Samuel apoiado sobre suas pernas, ainda embrulhado na coberta prateada. O vento forte cortava seu rosto em rajadas finas e geladas, mas o rapaz manteve-se a postos, protegendo a vítima que ficara sob seus cuidados. Bem ao seu lado, um sinalizador emitia uma luz vermelha e um rastro de fumaça branca que serviu de guia para o aparelho voador que chegava para o resgate. Em breve estariam todos seguros.

Em meio à névoa que se formava devido aos flocos dançantes de neve  em revoada pelo movimento do rotor, Bobby caminhava, meio curvado, trazendo o mais velho dos Winchester pelo braço, sendo seguido de perto pelo xerife.

A equipe de socorristas correu em direção à luz de emergência que brilhava sobre o campo gelado. Imediatamente, os primeiros socorros foram dados ao jovem moreno, extremamente  pálido.

Dean adiantou os passos e segurou ao lado da maca onde haviam colocado seu irmão.

_ Ei, Sammy... – seus olhos estavam marejados, embaçados pela dúvida e pelo alívio. Sentimentos  contraditórios que habitavam seu coração _ Vamos lá, irmãozinho, tenha força. Não vá me deixar na mão agora.

Inesperadamente, as pálpebras do caçula se moveram e o brilho dos olhos de Samuel encontrou olhar cansado de seu irmão.

_ D- De...n? – Estava tendo uma alucinação, com certeza. Dean estava morto. Só podia ter batido forte a cabeça em algum lugar e estava vendo coisas _ V- Vo...e...m...r...to...

_ Não fale, Sammy – o mais velho acompanhava o movimento da maca _ Eu estou aqui, mano, e vai ficar tudo bem. Você vai melhorar, viu? Vou cuidar de você.

_D... – Não havia mais força para nada. Tudo dentro de sua mente estava muito confuso e nublado. Estava exausto. Não queria mais sonhar com seu irmão. Não queria mais sofrer. Precisava descansar e apagar tudo da sua cabeça. Esse maldito pesadelo.

Bobby e Scott ficaram para trás com o jovem guerreiro Yankton, quando o aparelho decolou. Não havia espaço para todos e, segundo foram informados, outra equipe chegava por terra para auxiliá-los no que fosse necessário.

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Quatro horas. Há quatro malditas horas Bobby estava sentado naquela sala de espera. Outra vez. Estava cansado daquilo. Estava exaurido. Não tinha mais estômago ou paciência para esta infindável espera por notícias. Sentia que os médicos passavam de um lado para o outro, como se quisessem evitá-lo e isso já estava lhe dando nos nervos. Precisava saber de seus garotos.

Thompson saiu da sala de emergência andando, com o braço preso à uma tipóia e envolto em curativos. Sorriu, meio sem jeito, para o velho caçador e aproximou-se, sentando-se no sofá à sua frente.

_ Como você está? – Pela cara do policial, fazia uma idéia do quanto o ferimento devia incomodar.

_ Vou sobreviver. E você? – Viu Bobby levantar os ombros _ Kat ligou e está a caminho.

_ Ela está bem? Me perdoe, mas esqueci completamente dela lá em cima.

_ Está tudo certo. Katyre estava com Lobo Veloz, um pouco mais afastada de onde encontramos os rapazes e... aquelas... coisas – Harry puxou a perna e depositou-a sobre a mesinha de centro de madeira _ Kat disse que precisamos conversar sobre o que ocorreu na montanha.

_ Conversar? – Bobby franziu o cenho.

_ Ainda não acabou, meu chapa.

_ Pelo que me consta, acabou. Assim que Dean e Sam estiverem bem, vamos dar o fora, porque pra mim, chega.

_ Fique calmo, Singer. Vamos esperar por Katyre e descobrir do que raios ela estava falando.

Ambos os homens e Billy, que tinha ouvido a tudo em silêncio, num canto da sala, remoíam suas memórias das últimas horas. Tudo o que tinham passado estava muito vívido e calafrios percorriam-lhes os corpos, vez por outra.

_ Senhores – o médico entrou na sala de espera, carregando um tanto de papéis preso à prancheta _ Senhor Singer, está se tornando um hábito conversar com o senhor sobre seus rapazes, não é?

_ Como eles estão, doutor – Bobby não estava disposto e foi direto.

_ Bem, Dean fez tudo o que não deveria e mais um pouco, pelo que pude observar. Não há ferimentos graves, mas vai ter que se cuidar se quiser melhorar sem complicações.

_ E Sam?

_ Sam foi estabilizado, mas ainda está muito fraco e só poderemos avaliar se ficará com seqüelas quando acordar – guardou os prontuários sob o braço e devolveu a caneta prateada ao bolso do jaleco _Ambos estão sedados e deverão dormir a noite toda. Então sugiro que vocês vão para casa e descansem.

_ Eu prefiro ficar – o caçador foi categórico _ Não vou deixá-los sozinhos.

_ Faça como preferir – o médico sentiu que não adiantaria argumentar _ Pode ir até o quarto, se desejar. A enfermeira o acompanhará.

_ Não acha melhor ir pra casa conosco? – Harry sugeriu depois que o médico se retirou _ Voltaremos logo cedo.

_ Não, prefiro ficar. Vão vocês dois e descansem. Eu ficarei bem – voltou-se para o rapazinho e estendeu-lhe a mão _ Obrigado, garoto, por tudo.

Billy sorriu e aceitou o cumprimento do homem mais velho. Seguiu, silencioso, o policial para fora do hospital.

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CONTINUA

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NOTA: Vocês devem estar com algumas perguntas aí dentro das suas cabecinhas que serão respondidas no próximo capítulo, eu prometo.

              Mais uma vez, obrigada pela audiência, pela paciência e pelo carinho de vocês, meus queridos!


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