Antes que o mundo acabe

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Já que o mundo iria acabar, Jun iria passar os seus últimos momentos no lugar que ela mais amava. O campo de girassois.

A morena vestiu seu odioso vestido amarelo e pôs o chepéu de palha na sua cesta de pique-nique, junto com uma manta e um casaco. A jovem estava decidida a passar a noite do dia 20 para o dia 21 no campo de girassois, e assim, esperar pelo fim do mundo enquanto via o narcer do sol por sobre as belas flores amarelas.

Seria um bom plano, se não estivesse chovendo.

- Diabos... – Resmungou ao ver o cair da tarde do dia 20 de dezembro ser tomado pelas negras nuvens de chuva. – Isso não é justo! – Reclamou aos céus.

Mas não importava. Ela iria, ela com certeza iria.

Vestiu uma capa de chuva, também amarela, e empacotou bem as suas coisas, para que nada se molhasse. Havia um local em especial, naquele campo, onde ela poderia se abrigar e passar a noite, mas para isso, ela primeiro precisava chegar lá.

Suspirou e olhou para a sua casa por uma última vez, sorrindo a ver uma antiga foto, que havia sido tirada naquele mesmo campo de girassois. Uma foto bonita, que lhe trazia várias recordações. Mas agora, era só isso. Recordações.

Suspirou, e decidiu-se por levar aquele porta-retrato também. Ela queria olhar para ele por uma última vez, antes que tudo estivesse acabado. Se é que tudo se acabaria. Ela tinha as suas dúvidas e vez por outra se pegava pensando se os maias estavam lhe pregando a peça do século.

Mas sendo uma peça ou não, ela passaria aquela noite naquele seu lugar especial.

E com isso em mente, saiu.

O lugar não ficava longe, apenas uns dez minutos de caminhada, mas por causa da chuva, esses poucos minutos se multiplicaram, fazendo com que a morena levasse o triplo do tempo para chegar, e quando chegou, já estava escuro, o que a impossibilitava de ver a magnificência das flores amarelas.

- Finalmente! – Exclamou ao chegar ao coreto que ficava no meio das flores.

Poucas pessoas conheciam aquele lugar, por isso que Jun sabia que iria poder passar tranquilamente a noite ali. Afinal, aquela não era a primeira vez que fazia aquilo. Era a primeira vez que iria sozinha, mas definitivamente não era a primeira vez que passaria a noite ali.

Ela subiu as escadas e finalmente pôde tirar a capa de chuva, percebendo que boa parte do seu vestido estava molhado, assim como o seu cabelo. Suspirou e procurou pela toalha, que havia trago, dentro da cesta. Quando a encontrou, começou a se secar, e enquanto fazia isso, deixou que seus olhos se relanceasse pelo lugar.

Sorriu ao ver um ‘J’ gravado na madeira da pilastra, mas seu sorriso se tornou melancólico ao ver o ‘K’ ao lado do seu ‘J’. O mundo ia cabar e ela não ia poder vê-lo pela última vez.

Suspirou, e ao suspirar, um relampago cortou o céu, iluminando momentâneamente o lugar.

Foi algo tão repentino que ela deixou a toalha cair ao seus pés. Não necessáriamente por causa do barulho, e sim pelo o que a claridade havia lhe revelado.

Ela havia visto alguém, alguém no meio do campo.

Gelou com isso.

Havia pensado que era a única ali.

Começou a ficar com medo.

Afinal, ela estava num coreto, à noite, no meio do nada durante uma pequena tempesdade. Com certeza não era uma boa ideia.

Engoliu em seco.

- Deve ter sido um engano... – Murmurou para si mesma em voz alta. Precisava escutar a sua voz para ter certeza que não estava ficando louco. – Um engano...

E um outro relâmpago iluminou os céus.

- KYYYAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA! – Gritou. Não por ter visto novamente a tal figura desconhecida no meio das flores, e sim por que uma mão gelada fora posta no seu ombro desnudo.

- Jun! – O recém chegado exclamou. – A segurando pelo ombros ao ver que as pernas dela haviam falhado.

- K-Kakashi?! – Exclamou e virou a cabeça por sobre o ombro, encontrando  olhar cinzento do jovem homem. – MAS QUE DIABOS! – Ela exclamou e se afastou dele. – Quer me matar de susto?! – Ela estava muito feliz por o ver, mas também estava muito irritada. Pensou que ia ter a sua morte adiantada.

- Gomen. – O grisalho coçou a nuca e sorriu. Estava tão ou mais molhado que Jun e também trazia uma capa de chuva consigo. – Eu precisava lhe ver.

- P-Precisava? – Gaguejou.

- Sim. – Assentiu e se aproximou, tocando-lhe o rosto. – Eu precisava. Tentei tomar um avião ontem, mas por causa dessa história de fim do mundo eu não consegui. Passei na sua casa, mas você não estava, então... Suspeitei que talvez pudesse estar aqui. E realmente está. – Completou com um sorriso.

- Estou. – Acentiu, seu coração começando a bater descompassado. Faziam anos que Jun não via Kakashi. Infelizmente, a vida havia separado-lhes os caminhos, mas isso não mudava o que eles sentiam um pelo outro.

- Estou feliz que eu cheguei a tempo. – Exclamou, e sem dar oportunidade para a morena escapar, lançou os braços ao redor dela, a puxando para um abraço apertado, e colando os corpos como a muito não fazia. – Eu senti a sua falta. Eu realmente senti... – Murmurou e aspirou o cheiro floral que Jun exalava.

- Eu também Kakashi, eu também... – Jun se aconchegou e passou seus braços ao redor do grisalho, o trazendo mais para perto. Agora sim, tudo estava completo. Ela poderia morrer feliz.

- Nee Jun... – Kakashi a chamou, fazendo com que ela olhasse para cima. – Você realmente acha que o mundo vai acabar amanhã?

- Eu não sei. – Deu de ombros. – Mas se acabar... – Murmurou e mordeu o lábio inferior. – Eu vou morrer feliz.

- Eu também. – Kakashi sorriu e abaixou o seu rosto, se aproximando mais ainda de Jun. – Me perdoe por ter ficado tanto tempo longe.

- Não tem problema. – Murmurou. – O importante é que agora, você está aqui.

- Sim, eu estou. – Assentiu. – E vou continuar aqui, não importando o que aconteça. – Completou sorrindo. – Se o mundo acabar, é ao seu lado que eu quero estar.

Jun sentiu suas bochechas esquentarem, e com medo de gaguejar ao falar, fez a única coisa que lhe passou pela cabeça. Ela acabou com a distância entre eles, capturando os lábios de Kakashi nos seus e o beijando calmamente. Se era para morrer, ela moreria beijando Kakashi, o primeiro e único homem da sua vida.

Enquanto eles se beijavam por uma segunda, ou talvez terceira vez, um outro relâmpago iluminou o céu, clariando o local por mais um pouco do que a última vez. E dessa vez podesse notar que o que havia assustado a Jun à princípio, não era uma pessoa, e sim um espantalho.

Não que isso fizesse diferença agora. O casal estava muito ocupado. E não importando o que acontecesse no dia seguinte, eles estariam juntos. Juntos para sempre.

Fim.