Tudo escuro e tranquilo por um momento, no entanto minha paz é cortada por uma barulheira. Acordo. Meus olhos ainda têm dificuldade de se abrir e eu os esfrego com as pontas dos meus dedos gelados.

Mais uma vez o barulho se repete e eu me sento na beirada da cama, demoro a processar o som que na verdade é a campainha tocando desesperadamente. Vou de camisola mesmo até a porta e olho pelo chamado “olho mágico”, entrega de uma caixa.

Bom dia. Assino o papel e pego o pacote. No fundo há esperanças de que seja você ali dentro, ou mesmo algo teu, querendo voltar. Porém é só mais um móvel congelado para meu lar, meu apartamento solitário.

Uma parte de mim gostaria de, simplesmente, receber uma carta tua, só uma. Só para saber como andam as coisas sem mim. Só pra saber se sou só eu que fico fora dos trilhos sem você. Se sou só eu que quando toca aquela musica ainda lembro do teu beijo, quando sinto aquele perfume lembro da tua pele e quando passo naquela padaria... Sua preferida, ainda faço o mesmo pedido de sempre pra me lembrar das nossas tardes açucaradas. Por favor, diz que você ainda pensa em nós antes de dormir.

Esta frio aqui. Vou até o quarto vestir uma blusa, mas antes acabo por pegar um papel e uma caneta. Click, aperto-a por trás para ver sua ponta reluzente. Pela minha cabeça passam diversas palavras que gostaria de te mandar, varias coisas que ainda desejo que saiba. Um bilhete, um sussurro, um apelo. Incontroláveis, lagrimas de arder os olhos molharam todo meu rosto.

Ainda me pergunto como acabamos, pois não tive participação nisso. Até hoje ainda queria ter tido uma palavra final também. Mas o fato é que a vida aconteceu e eu não tive escolha.

Soluçando me levanto, e vou até a sala. Em uma de suas paredes lilás se encontra encostado meu piano e é nele que vou chorar minhas lágrimas agora, vou chorar por suas teclas de uma forma menos dolorosa e mais bonita. E vou tocar com a alma, pra ter certeza de que você também vai ouvir.