L. Crysin

Hoje é o dia do meu aniversário e por mais estranho que pareça os garotos prepararam uma coisa muito especial para mim, só não sei o que, eles vieram no meu quarto, eu estava só de roupão e K desmaiou de sangramento nasal antes de falar qualquer coisa, mas Vincent me explicou que para me dar os parabéns eles iam fazer uma grande surpresa, ele pediu para eu me vestir e então quando terminei e ele me vendou e me levou para baixo, andamos pelos corredores lentamente e eu tentava fazê-los falar o que iria acontecer, quando eu sinto que a mão que me guiava mudou, agora era o K com certeza suas mãos eram menores, porém seus dedos eram mais grossos e ele era desajeitado com meus ombros, me fez tencionar e reclamar de dor no pescoço. Ele dizia que estávamos quase lá uns minutos e eu estava cansada de esperar, falei para ele ir mais rápido foi então que ele parou e disse que eu já poderia tirar a venda quando eu olho e eu vejo ele sentado numa bateria e o Vincent de terno sentado na frente de um piano... Ele estava tão belo assim: Cabelos brancos esvoaçando por causa da janela entre aberta e eles se destacavam ainda mais naquele terno preto, a rosa vermelha cor de sangue dava um ar especial e romântico aquele momento mágico, mas eu estava mais vermelha que ela com tudo isso, ele estava na única fresta de luz que saltava da janela quase inteiramente fechada pelas cortinas.

Eu iria dizer que K estava bem até, ele estava sem camisa e mostrava bastante seus músculos grandes e fortes, ele estava quase debruçado na bateria e foi então que Vincent me pediu para se sentar e ouvir a música que tinha uma surpresa final ao terminar a musica e então deu se inicio:

“Eu sonhei que o mar me engolia, me tirava o ar
Experimentei uma paz
De ver que eu não iria mais voltar
Eu vi que o céu é só mais uma ilusão
Escrevi num papel, pra me lembrar ao fim do furacão

Precisei voar pra bem longe só pra ver
Serei sempre eu, as palavras
E o resto é nada mais
Serei sempre eu, as memórias
E o resto é nada mais

...

Enquanto ele cantava isso era como se ele tirasse do fundo de seu coração cada palavra pra entregá-las a mim na forma de uma bela canção...

Eu tentei pintar na minha cara um sorriso igual
Aquele que, eu sei, está lá
Num grão de areia entre as Mostardas e o Pinhal
Eu vi que o céu me atrai bem mais que o chão
Mas é tão cruel contemplar sozinho a imensidão
Queria alguém pro universo observar

...

Ele cantava mais uma vez em meu nome, mas dessa vez ele olhava diretamente pra mim e apontava agora Kree começou a chacoalhar as baquetas e se empolgar tocando embalado naquele piano.

Seriamos eu, você e o resto é nada mais

Seriamos eu, você e o resto é nada mais

...

Agora os dois cantavam a uma só voz, mas ainda reconhecia nitidamente a voz bela do meu amado Vincent me dando o maior presente de aniversario que eu poderia ter.

Queria, por um dia, conseguir mudar
Deixar de ser errante, por um dia, não andar
Eu tenho uma ferida de cada lugar
Em que deixei guardada a solidão
E é por isso que eu digo que eu não sei lidar
É muito mais do que meu peito pode suportar
Não quero sonhos com hora marcada pra acabar
Prefiro essas histórias imperfeitas pra contar

...

E como se clamasse por mim ele dizia sozinho enquanto Kree batia apenas nos pratos sem parar:

Será que há alguém pra me ouvir e me fazer mudar?
Será que há alguém por aí?”

Ele tinha terminado e seguia em minha direção, ele me pegue e me levanta com uma das mãos a outra ele segura em minha cintura e me beija... É eu me equivoquei, pois este sim era o maior presente que eu poderia ganhar.