Skyscraper escrita por Constantin Rousseau


Capítulo 2
"Let me inside"


Notas iniciais do capítulo

"Deixe-me entrar"



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O caminho até o Edifício da Justiça foi completamente silencioso, a passos resolutos e com base em expressões desprovidas de emoções. Eu podia sentir a agitação, o desconforto em meu âmago. Nós, Carreiristas, treinamos desde pequenos para os chamados Jogos Vorazes. É quase uma vergonha quando não são os nossos tributos a ganhar. Subentende-se que aqui, nos Distritos 1, 2 e 4, nossas habilidades são desenvolvidas à base do esforço, do sacrifício de treinar dia após dia, incansavelmente, até que a exaustão vença.

E, em parte, é exatamente assim. Facas. Espadas. Flechas. Até mesmo tridentes, quando estão disponíveis. Tudo isso deve se tornar ainda mais letal nas mãos de um Carreirista, que tem como obrigação causar o máximo de mortes possível. De preferência, até a de seu companheiro de Distrito; ainda mais se ele se mostrar inapto, em seu ponto de vista. É como um código de honra entende? Precisamos vencer. Acima de tudo, é esse o nosso dever.

Treinar. É o que fazemos, aqui no Distrito 2. É no que se resume nossa vida. Fúria. Aprendemos a basear todos os nossos atos na raiva, no descontrole. O Dia da Colheita é o mais esperado de todos os anos, e feliz é aquele que se voluntaria e retorna como vitorioso. Isso não significa que não temos medo. Isso não significa que, dentro da arena, existe algo maior que o instinto de sobrevivência.

Somos tão humanos quanto qualquer outro tributo, apenas temos uma maior vantagem. Qual? A força. A habilidade. O árduo período de treinos significa alguma coisa, afinal. Então, sim. A possibilidade de um Carreirista ganhar é bem grande, acima de todos os preceitos.

Nós somos melhores que o restante. Sempre fomos, e sempre seremos.

Nós podemos vencer.

Apenas um de vocês, é o que minha consciência insiste em sussurrar, e odeio admitir que a verdade é dolorosa. De certa forma, até valiosa. E, mesmo em devaneios, posso sentir os braços carinhosos de minha mãe me envolvendo no exato momento em que os Pacificadores abrem as portas, enquanto meu pai a segue de perto, mas apenas deposita tapinhas solidários, talvez até orgulhosos em meus ombros. E ela sussurra incansavelmente num tom falho pelo choro, como se tentasse convencer a si mesma:

— Você pode vencer, campeão. Você pode vencer.

Quando eu me voluntariei, sabia que nada mudaria. Só pode haver um vitorioso nos Jogos Vorazes. A partir do momento em que Clove foi sorteada, eu ainda não sabia, mas tudo já arquitetara-se perfeitamente dentro de minha cabeça. Precisaria encontrar uma forma de fazê-la me desculpar pela atitude instintiva; olhando em seus olhos, após a Colheita, pude perceber que, para ela, isso fora quase imperdoável. De alguma forma, encontrarei uma maneira de fazer com que ela permita que eu entre nessa brincadeira letal. E, quem sabe juntos, talvez possamos superar todo o restante.

Porém, agora não importa muito. Há um papel que preciso designar, se quiser manter-me vivo até o final dos Jogos. Há um teatro que preciso criar, se quiser que Clove vença e honre nosso Distrito.

Sinto muito, mamãe. Acho que não chegarei a tempo do jantar.


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Notas finais do capítulo

Estou tentando não deixar o ponto de vista dele muito cheio de "mimimi", nem muito arrogante. Juro que estou, mas o lado Drama Queen fala mais alto ç__ç