Amnésia escrita por Silvia Moura


Capítulo 2
Capítulo 2




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Silvia entra em casa e percebe uma estranha luz natural emanar de sua sala de estudos pela porta entreaberta. Eram 17:30, ela tinha acabado de voltar de seu consultório de cardiologia. Intrigada com estranha iluminação, a médica de 27 anos pega seu teaser na bolsa. Quer quem que fosse, levaria um choque. Ela abriu de vez a porta bem devagar, o braço esticado com o teaser na mão, mas, para sua surpresa, não havia ladrão.

Olhando para o teto, ela nota um buraco que só podia ter sido aberto por uma queda de muito longe. Como ela poderia saber disso? Simples: ela era viciada na série 24 Horas, adquirira perícia de agente secreto! Silvia olha para o chão, na direção do buraco sem acreditar no que via. La estava um homem que ela nunca vira antes, desacordado, provavelmente morto, com as costas sangrando.

Mas ela notou que a cabeça do homem, de aproximadamente 33 anos, estava simplesmente intacta. Como médica ela sabia que aquilo não fazia sentido. No mínimo era pra haver um corte profundo ali, mas não havia nada. Ela se aproximou do homem e tocou-lhe o pescoço. Tinha pulso. Estava vivo! Como aquilo era possível, ela não fazia ideia, mas estava. Silvia largou a bolsa de lado e puxou o estranho homem para cima de sua cama, em seu quarto, logo ao lado, e foi preparar uns curativos, toalhas e agulhas.

Ao voltar, viu-se num dilema. Aquela roupa estranha que ele vestia, parecida com trajes da Idade Média, seria um verdadeiro impasse pra ela cuidar dos ferimentos do rapaz. Mas desistir nunca foi seu forte. Começou uma mini-saga atrás dos ocultos botões da roupa dele e demorou uns 20 minutos pra conseguir desatar todos. A recompensa era que depois disso bastava puxar a “camisa” dele pra baixo, nada mais a prendia.

O homem agora trajava apenas a parte de baixo de sua roupa. Silvia notou que seu peito estava marcado por vários arranhões, mas nenhum tão grave. Ela passou um pano limpo por eles, mas não atou-os ainda, pois precisava avaliar as costas de seu misterioso paciente primeiro. Era aí que estava a surpresa. Ao virá-lo de bruços sobre sua cama King Size, ela notou um terrível corte transversal sobre as costas brancas do rapaz. A médica ficou impressionada. Quem será que teria feito aquilo com um rapaz de feições tão belas e principescas?

Tomando um outro pano limpo, molhado com água quente e álcool, ela tocou suavemente o corte. O rapaz fez uma careta de dor, mas não chegou a acordar. Ótimo, ele não estava totalmente sem sentidos, talvez acordasse em breve. Silvia tornou a tocar-lhe a ferida com o pano, limpando o sangue em suas costas. Enquanto fazia a higienização, mil pensamentos passavam por sua cabeça. Como ele fora parar em sua casa? Por que ele estava tão machucado? Quem era ele, afinal de contas? Ela não tinha respostas para nenhuma dessas perguntas.

Passou-se meia hora até que o corte estavivesse totalmente limpo e costurado. Silvia pegou ataduras e enfaixou todo o tronco do rapaz misterioso e deitou-o de bruços novamente, retirando da cama os lençóis recém manchados de sangue. Ela então saiu de seu quarto, deixando o ar condicionado ligado, e foi limpar a bagunça da sala de estudos.

• • •

Depois de limpar tudo, Silvia abriu a porta de seu quarto novamente. Lá estava seu paciente misterioso, dormindo como um bebê, como se nada tivesse acontecido. Só agora ela podia reparar melhor nele. Seus cabelos eram pretos, lisos e médios. Parecia que estavam penteados para trás antes que ele caísse em seu quarto, mas agora estavam mais bagunçados. Ele não tinha barba, seu nariz era reto e seus lábios eram um pouco finos e sem cor, mas provavelmente isso era por causa da perda de sangue. Ele era bonito. Muito bonito. A ideia de alguém fazer-lhe mal confundia a cabeça da médica. Por quê...?

Ela pegou uma muda de roupas para si e deixou o quarto, fechando a porta. Juntou os trajes do rapaz e levou-os até a área de serviço. Depois decidiria como lavá-los, agora ela precisava de um banho. Sua cabeça girava enquanto se encaminhava com a toalha para o banheiro. A água fria caindo em seu rosto fez seu corpo relaxar um pouco mais daquela tensão, mas não retiravam de sua cabeça as milhares de hipóteses sobre o aparecimento daquele homem.

Dez minutos depois ela saiu da ducha, se secou e se vestiu com uma bermuda jeans e uma blusa sem mangas. Penteou seus cabelos cacheados e prendeu-os num rabo de cavalo firme, como sempre costumava fazer. Ela se olhou no espelho. Era impossível não notar que havia uma preocupação em seu olhar castanho, quase preto. Respirando fundo, deixou o banheiro e foi estender a toalha no varal. Tornou a olhar seu paciente em seu quarto, ele ainda permanecia adormecido, respirando fundo.

Na cozinha, Silvia preparou uma sopa de legumes. A receita que aprendera com sua mãe havia muito tempo sempre a socorria quando ela queria comer algo leve. Uma hora depois ela estava sentada à mesa, com um prato diante de si e a televisão ligada transmitindo uma série sobre um ladrão de raridades que ajudava a polícia a pegar caras como ele. Ela estava bem distraída.

A – Aaaaaahhh! – um grito de dor veio do quarto. O paciente acordara.

Silvia levantou-se da mesa de um salto, quase derrubando tudo, e foi até o homem que gritava.

– Calma! Calma! Está tudo bem.

 – QUEM É VOCÊ? QUE LUGAR É ESTE? – ele gritava, deitado, sem conseguir se levantar devido às dores.

– Calma! Não precisa gritar, eu só quero ajudar você. Olhe, vou me sentar aqui do seu lado, tá bem? – ela se senta – Oi. Eu sou Silvia Murray. Sou médica. Você está na minha casa e eu cuidei dos seus ferimentos. Qual é o seu nome?

Ele pareceu confuso.

– Loki... eu acho.

– Acha?

– Como vim parar aqui?

– Isso é algo que eu também queria saber. De onde você veio, er... Loki?

– Eu... ahn... não sei. Eu não me lembro.

Silvia ficou preocupada.

– Qual a última coisa que você se lembra?

O rapaz pareceu puxar pela memória.

– Não me lembro de nada. É como se... eu acabasse de ter nascido.


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