Somos Tão Jovens escrita por Luna Yasmin


Capítulo 1
Inferno pessoal


Notas iniciais do capítulo

Por favor, dê a sua opinião de como está o andamento da história. Obrigada. =]



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Todas as histórias que você lê você já sabe o final. A garotinha ingênua vai se dá bem, a malvada se dá mal. O “príncipe” aparece para salvar a menininha indefesa, como se todas as mulheres realmente precisassem disso. Não, nós temos força suficiente para nos sustentar em pé, para fugir do perigo, do bandido, sem um príncipe idiota ao nosso lado. Todas as histórias que você lê acabam te iludindo a esse ponto. Mas isso aqui é a realidade. E a realidade, garota, é diferente. Ninguém dá moral para o problema dos outros, ainda mais se você for uma adolescente de 14 anos filhinha de papai que mora em área nobre do Rio de Janeiro. Nessas circunstâncias, se você chora, todos pensam que é porque o papai negou dinheiro, porque sua viagem foi cancelada ou alguma coisa do tipo. Ninguém para pra pensar que não importa a sua idade, seu status, todo mundo tem problema, todo mundo sofre. E ninguém vai se botar no seu lugar ou passar a mão na sua cabeça, se acostume. Eu infelizmente demorei certo tempo para aceitar isso, mesmo que já soubesse que era a verdade.

Essa daqui é tipo a minha rotina, se é que eu tenho uma. Acordo todo dia às 06h00min da manhã para ir à escola, coisa normal.

- Anda Julia, se arruma logo, você vai se atrasar. Tá na metade do ano, nenhum professor daquela escola gosta de você. Muito menos o diretor. Você vai ser expulsa se continuar desse jeito. – a minha tia, Cínthia, enchia a paciência o tempo todo. Era tão frequente que eu nem ligava muito, embora ela me irritasse. Eu tentava continuar educada com ela, mas ser educada com gente chata nunca foi uma característica minha.

- Ah dane-se se aquele pessoal não gosta de mim, tô me lixando pra eles.

- Você é muito mal educada garota, vai ver que é por isso que ninguém lá te suporta.

- Tá, deve ser, que seja. – em alguns momentos era horrível discutir com a Cínthia. – Vamos, pai? Senão, que nem a doida disse, eu me atraso. Anda.

- Claro, vamos. – meu pai, Edgar, não ligava muito para nada que eu dizia. Tanto no bom quanto no mal sentido. Ele não tinha tempo para se preocupar muito comigo, sempre tinha algum problema na empresa para resolver.

 - Tchau Julia, vai com Deus. Te amo. – a minha irmã se chamava Maria, ela tinha seis anos e era linda.

- Também te amo muito meu amor, fica com ele.

E na minha escola tinha um monte de gente quase tão chata quanto minha tia, a única pessoa que não entrava nessa lista era a Fernanda, minha melhor amiga há três anos. Esse negócio de melhor amiga sempre achei idiotice, mas não tinha problema com a Fernanda. A gente não fica o tempo todo falando que se ama, o tempo todo se chamando de BFF, pelo contrário.

- Oh idiota! Eu tô aqui, quem que você tá procurando? – falou quase aos gritos do outro lado da quadra enquanto vinha em minha direção.

- E quem disse que eu só procuro você? Tem mais gente interessante nessa escola, tá.

- Para mim você não precisa mentir assim. – brincou.

- Eu não minto, jamais.

Enquanto isso a coordenadora passava pela quadra anotando alguma coisa em sua caderneta. Antes que ela reparasse que eu não estava com o short do uniforme adequadamente, andei até o corredor e tentei entrar na sala de aula, mas ela estava trancada.

- Por que eles trancaram isso aqui? – perguntei. Mas Fernanda não me respondeu, ao invés disso uma voz conhecida e rouca de meia-idade me chamou atrás de mim, era a coordenadora.

- Oi, tudo bem com você? Bom dia Fátima! – fingi uma alegria tão ridícula que Fernanda riu.

- Não pode usar short jeans na escola, quer levar uma ocorrência? – perguntou em um tom sarcástico.

- Ah, eu não sabia, foi mal. – menti.

- Claro que você sabia, eu já te disse isso duas vezes Julia. Cara de pau.

- Eu esqueci, me desculpa. Deve ser o meu problema de memória, sabe como é. – ainda mais você nessa idade, deve saber mesmo. – pensei.

- Adolescente tem problema de memória? Eu não sabia. – disse.

- É, nem eu, mas aí o médico me disse. Bom, foi o médico que falou, se quiser brigar, briga com ele. – e sorri, no sorriso mais falso do mundo. E então o sinal bateu, dei tchau para a coordenadora que me olhava com uma expressão incrédula e saí andando no corredor, só para ela sair de perto. Ela passou reto por mim enquanto eu e Fernanda andávamos sem rumo, e o professor que abriria a porta da minha sala chegou. Caminhei de volta até onde ele estava e adentrei a sala de aula.

No segundo horário, eu fiquei trocando SMS com Bruno ao mesmo tempo em que o professor de filosofia explicava a matéria. Ele queria saber se eu iria com ele e o resto da turma no MC Donald’s depois da aula, e daí nós ficamos conversando. Era aula de revisão para a prova.

- Julia, quer largar o celular? – perguntou o professor, interrompendo-me na metade do SMS.

- Oi? Ah, eu tô olhando o horário professor.

- Julia, você tá olhando a hora tem 10 minutos.

- Ué, fazer o que se ela muda todo minuto.

- Sai, sai da minha sala. Pode ir pra coordenação, e explica pra diretora que eu te mandei para lá.

- Tá, tá professor. Obrigada. – botei meu celular no bolso, levantei, abri a porta e segui em direção à secretaria, enquanto terminava de mandar meu SMS. Ao chegar à secretaria eu ainda estava mexendo em meu celular, o guardei e sorri.

- Oi, o professor Otávio me mandou aqui, ele queria umas trinta folhas de chamex em branco.

- Ah, tudo bem. Toma, aqui está. – a diretora estendeu as folhas para mim e eu sorri, agradecendo. Abri a porta e saí da secretaria, e fui então para o banheiro, onde fiquei até o sinal da terceira aula bater. Agora era artes, e ninguém dava o menor respeito para a professora, o que significa que seria aula livre. Até porque, informática, artes, educação física e aula vaga era a mesma coisa. Voltei para sala, e deixei as folhas de chamex em cima da mesa da professora. Ela ainda não havia chegado. Fiz duas bolinhas de papel e comecei a jogar nos outros, o que gerou uma pequena guerra de bolinhas de papel pela sala inteira. Depois de uns cinco minutos a professora chegou, e todo mundo parou.

- Que bagunça que tá isso aqui. Podem arrumar tudo. – mandou.

Peguei apenas duas bolinhas e joguei no cesto de lixo, e voltei pro meu lugar. Enquanto todo mundo limpava a sala, eu e Fernanda ficamos conversando.

- Pronto, bom, já posso começar minha aula?

- Pode professora. – responderam.

Ela nos deu o dever, e como sempre, ninguém fez nada. As únicas pessoas que faziam alguma coisa era a Letícia e a Brenda, duas nerds. E assim passou o resto da manhã, um tédio infernal como todos os outros dias. Na saída, todos fomos ao MC Donald’s como o programado. E Bruno pediu para ficar comigo.

- Não Bruno, valeu. – disse.

- Ah vai Julia, não tem nada.

- Não, eu já falei que não. Que saco. Ah, vou embora, senão quando eu chegar minha tia vai ficar apelando. Beijo. – peguei minhas coisas e saí dali. Eu sempre voltava a pé para casa, então não tinha problema eu dar uma desculpa para minha tia do por que eu demorei, qualquer uma. Ela não poderia me desmentir. Mas Bruno já estava a uma semana pedindo para ficar comigo, e já me irritava. Não ia ficar ali. Quando cheguei em casa, minha tia até brigou comigo.

- Ah bonita! Por que você demorou tanto assim? Tava se divertindo é? Matou aula?

- É tia, eu matei aula depois da escola, tá bom. Ei Mari. – ignorei Cínthia e fui direto dar oi para Maria.

- Oi! Olha o que eu ganhei, papai passou aqui e me deu uma boneca e uma casinha! – dizia, feliz, enquanto brincava na mesa de jantar.

- É fofa? Qual é o nome dela?

- É Jasmin! Eu a adorei, porque o papai nunca passa aqui em casa de dia. Ele só passou porque é meu aniversário e pra deixar a boneca comigo.

- Ah, pois é flor. E falar nisso, feliz aniversário, te amo linda. – abracei-a e fingi que me lembrava de seu aniversário, como eu esqueci? Eu não tinha presente nenhum para ela, tinha que dar um jeito de fazer alguma coisa como presente.

- Ei, Maria, tira a boneca de cima da mesa. É falta de respeito, vai brincar no seu quarto. – ordenou Cínthia.

- Não, não, ela brinca onde ela quiser. Se tá incomodada você que saia daqui, vai pra sala assistir seus filmes. – o tom que eu falei parecia que eu estava prestes a brigar com ela, e realmente estava.


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