Três escrita por Rosemary Grohl


Capítulo 1
Prólogo - Nem tudo que dói, faz mal.


Notas iniciais do capítulo

É só o começo mesmo, quase só uma introdução. Espero não ser clichê ou melosa demais.



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– A neve caia pesada naquela tarde. Eu nem ao menos sei por que tinha saído de casa, para ser sincera. Fazia um frio de cortar a alma, mas eu já estou habituada com essa sensação.

– O que isso quer dizer?

– Quer dizer que – ela parou e respirou fundo, como se buscasse a resposta dentro do peito – que eu sei como é sentir frio o tempo todo, todos os dias e que isso já não me incomoda. Então eu estava andando sem rumo pelo parque municipal, sem dar bola para a temperatura. Mas ao mesmo tempo eu podia notar que os pássaros não cantavam, porque provavelmente estavam recolhidos em seus ninhos, aquecendo suas famílias. E a rua estava praticamente deserta. Quero dizer, quem estaria enfrentando o frio em pleno feriado? Estavam todos em casa, tomando chocolate quente, debaixo de cobertores, assistindo filmes, comendo doces... O que eu estava fazendo ali? Eu não parava de repetir essa pergunta. Quer saber? Eu não sei. Confesso que até agora eu não sei. Depois de vagar por algumas horas, sem rumo, decidi me recolher; em breve escureceria e aquele ponto da cidade se tornaria perigoso. Então eu andei até a saída do parque e não olhei ao atravessar a rua. Nem me preocupei com isso porque a cidade estava vazia. Não imaginei que algum doido teria pegado o carro naquelas condições climáticas.

– É, talvez eu seja um pouco doido.

– Ah, meu Deus, me desculpa. Não foi isso que eu quis dizer.

– Não precisa ficar vermelha. Acho que se você soubesse como o dia começou pra mim, você teria certeza absoluta de que tem algo de errado comigo.

Ela riu tímida.

– Então me conte.

– Pois bem – ele disse, - eis o meu lado da história: Fazia muito frio quando eu acordei de manhã. O aquecimento do apartamento tinha sido cortado. Aquilo não é bem um apartamento; só um quarto, um banheiro e a cozinha, no terceiro andar do edifício mais capenga da cidade. Olhei para o outro lado da cama e vi que a Charlote não estava ali. Vesti um moletom quente e fui procura-la. Encontrei-a de malas prontas na cozinha. Ela disse não poder mais ficar comigo, com meus erros. O problema, na verdade, é a falta de dinheiro. Eu trabalho de estagiário numa empresa a vinte minutos da cidade, ganho pouco. Mas eu ainda não terminei a faculdade de música. Ela nunca concordou com os sonhos que tenho; sempre esperou que eu mudasse de ideia, crescesse, mas eu já sou grande. Faltou grana para o aquecimento e para mantê-la perto de mim. Mas eu estava disposto a correr atrás da grana, fosse como fosse – uma lágrima solitária escorreu pelo rosto dele. - Perdoe-me o choro, mas sinto falta do toque dela, da voz dela, do sorriso dela. Assim que ela saiu, já perto do horário do almoço, eu escrevi uma canção, implorando que ela ficasse. Peguei meu violão e entrei no carro velho que herdei do meu pai. Saí pela cidade, à procura dela. Fiquei horas, sem nem saber em qual direção procurar. Ao passar pelo parque, eu já não via nada. A neve cobria o para-brisa e as lágrimas me cobriam o rosto. A rua deslizava. Vi uma doida atravessando, mas não tive tempo de frear. Perdoe-me, não foi a intenção.

– Está tudo bem. Foi por uma boa causa e eu só consegui uns arranhões e um braço quebrado.

– Quando recebe alta?

– Amanhã, assim que amanhecer.

– Aceita uma carona?

– Talvez. Aceita passar a noite me fazendo companhia?

– Aqui pelo menos tem aquecimento.

(risos)

– Vai atropelar mais alguém? – ela disse.

Ele riu.

–Não pretendo.

E assim se sucedeu a noite, a primeira noite. Era como o início de uma amizade que duraria muito. Ou pelo menos o início de uma boa história.

(continua…)


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Notas finais do capítulo

Comecei essa história no tumblr, vou terminá-la aqui. Ou tentar. Dei uma arrumada, porque agora escrevo melhor do que quando comecei. Espero que alguém gostem.