A gente entrou no quarto que a minha avó estava -só fedia à aqueles perfumes nojentos que ela usa, nossa, acho que a intenção era fazer alguém desmaiar ao entrar no quarto, por que né... -, e eu quase gargalhei, mas se eu gargalhasse seria a ultima vez da minha vida, por que minha mãe arrancaria minhas cordas vocais.. então fiz um esforcinho para. Se a minha avó morrer É REALMENTE O FIM DO MUNDO! Sabe aquele ditado “Vaso ruim não quebra fácil”? Então, minha avó é do tipo “vaso muito ruim”, que não quebra nunca.. Queria eu que quebrasse! Na verdade eu não queria tanto assim... a minha mãe estava triste, e por mais que ela fosse grossa e chata comigo, ela é minha MÃE, então ela quebra meus dentes mas eu a amo. Isso não quer dizer que eu não quero que a minha avó morra, tá? Não taaaanto, só pra ficar claro.

Vocês devem estar se perguntando o porquê de todo esse ódio pela minha avó, então vou explicar. Quando eu tinha uns 12 anos ela s-e-m-p-r-e levava eu e uma prima minha, a Carlinha - coitada, agora é uma vadiazinha drogada, fugiu de casa -, para uma casa de praia que era do meu avô e era um inferno! Ela penteava nossos cabelos arrancando metade dos fios, pegava cera quente e dizia aquela velha frase que arrepia todos os meus cabelos até hoje: "NETA DE MARLUCE NÃO VAI PRA A PRAIA DE BUCETA FOFA!" e começava o massacre.. é, meu bem, não era fácil pra ninguém!
Minha mãe conversou com a minha avó, aquele blábláblá todo de gente à beira da morte e, quando eu já estava quase dormindo em pé, a minha mãe gritou no meu ouvido, dizendo que já estava na hora de ir. Quando a gente tava quase saindo do hospital, eu vi uma placa dizendo: Oftalmologista, e eu lembrei que preciso urgentemente ir.
- Mãe, aqui tem oftal... oculista. Eu preciso muito mããããããe! 
- Por que você nunca me disse isso? – gritou no meu pé do ouvido.
- Mas eu disse hoje...
- Não disse nada! Tá pensando que eu to ficando doida é? Tá me chamando de esclerosada? Eu to ficando velha mas não to ficando doida não, ouviu? Eu sei muito bem o que você diz e o que não diz. Não venha tirar onda com a minha cara não. Tá ouvindo??
Ai meu Deus. Eu ficava nervosa nessas horas, por que se eu respondesse, ela me esganava por que eu tinha respondido a ela, seu não respondesse, ela me dava um tapão naqueles na cabeça pra eu responder. Eu preferia ficar calada, por que algumas vezes ela simplesmente voltava ao assunto anterior.

E pensando bem, ela é meio esclerosada mesmo.
- Tá, eu vou te levar no oculista só por que a gente já está aqui, por que isso tudo é uma frescura... Você nunca teve essas coisas de problema de vista. Aposto que vai dar tudo normal! 
Eu nunca discutia com a minha mãe, ela sempre tinha que estar certa em tudo, ou... o cassete comia no centro!

Passamos uma hora no oculista. Por que ele dilatou minha pupila, depois fez um monte de exames com um balãozinho que eu não enxergava, e no final, a melhor e a pior notícia da minha vida: teria que usar uns óculos na cara para o resto da minha vida. Essa notícia era ruim, por que eu sabia que a minha mãe iria comprar os óculos mais barato que ela encontrasse, já que pra ela qualidade não importa, importa que ela não gastaria tanto dinheiro, e ao mesmo tempo uma boa notícia, por que ela não ia dizer a semana inteira, toda vez que me visse, “Você não faz nada, só sabe inventar doença, todo dia é uma doença diferente, não lava um prato, só faz reclamar de tudo, e blábláblá...”, e isso não era nada, NADA, conveniente. Quando ela fazia isso, eu tinha vontade de enfiar a cabeça dela na privada e dar descarga, como eu fiz com meu irmão, quando ele tinha quatro anos. Coitado.. ele vomitou a noite inteira. Mas eu tenho mais pena de mim, que levei a maior surra da minha vida e cheguei no colégio cheia de hematomas. HAHAHAHAH Eu mereci...