Uma Chance Antes Do Fim escrita por FP And 2


Capítulo 1
Depressão


Notas iniciais do capítulo

OOC

Essa fic leva em consideração toda essa história de profecia Maia, e nela, o mundo realmente acaba às 00h00 de 21/12/2012.



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Tókio, 20 de dezembro de 2012.

23h17m

Já tem algum tempo que venho pensando muito nisso: profecias, caos, fim do mundo.

Meu celular está ao meu lado, é a única coisa que ainda funciona, já que a energia elétrica acabou há algumas horas, e pelo que estou vendo e sentindo, não voltará. Não mesmo.

Em pleno mês de dezembro, no hemisfério norte, um calor infernal, que beira os 40°C. Vários tremores de terra, que vêm se intensificando com o passar das horas. O último derrubou até minha estante de livros.

Coloquei algumas músicas para ouvir ainda há pouco. A primeira é bem animada, me dá vontade de sair dançando e esquecer todo o resto, mas, não consigo. Sinto que preciso repassar minha vida, como naquela clássica frase: “minha vida passou diante de meus olhos”. Verdade ou não, quero fazer minha parte e relembrar cada detalhe, onde errei e o que poderia ter feito diferente. A resposta é bem simples: muita coisa.

Gangnam Style de Psy.

Por que essa música está tocando logo agora, se não estou no clima para dançar, você poderia se perguntar, mas a resposta é realmente simples. Fiz uma playlist para o fim do mundo.

Macabro? Doentio?

Sem dúvida alguma, eu sei disso melhor que ninguém. E essa música entrou para a lista nos últimos dias, devido a uma profecia de Nostradamus. É estranho, mas eu explico. Algum desses malucos, que sempre procuram sinal do fim dos tempos, ligou a profecia a essa música e o número de visualizações no You Tube.

“Da calma manhã, o fim virá

quando o número de círculos

do cavalo dançante chegar a 9”.

Que maluquice é essa? Pois bem. O cantor dessa música é da Coréia do Sul. E? O nome do país significa ‘terra da calma manhã’. Cavalo dançante... isso é tosco, você pensaria, mas a coreografia da música é baseada em cavalos. E os nove círculos? Quase um bilhão de visualizações do vídeo no You Tube... nove zeros!

Mas por que eu continuo pensando nisso? Tenho que pensar sobre a minha vida, quem sabe o arrependimento por tudo o que fiz de errado conte para alguma coisa e eu ganhe uns pontinhos quando chegar do outro lado...

Mais um tremor, agora extremamente forte, acompanhado de uma explosão gigantesca. Vejo uma enorme bola de fogo clarear a noite. Parece estar bem longe, a vários quilômetros de distância, mas o calor que ela emana chega até mim. Gritos, pessoas tentando fugir para um lugar seguro... De que adianta isso? Prefiro ficar aqui calmamente ouvindo minhas músicas e pensar em tudo o que perdi por culpa unicamente minha.

Outra música começou agora, e essa é realmente depressiva. Tema de Apocalypse Now. Apropriado.

The End de The Doors.

“This is the end

(Este é o fim)

Beautiful friend

(Belo amigo)

This is the end

(Este é o fim)

My only friend, the end

(Meu único amigo, o fim)

Of our elaborate plans, the end

(Dos nossos elaborados planos, o fim)

Of everything that stands, the end

(De tudo que permanece, o fim)

No safety or surprise, the end

(Sem salvação ou surpresa, o fim)

I'll never look into your eyes...again

(Eu nunca olharei em seus olhos...de novo)”

Antigamente eu tinha tudo para ser feliz, muitos amigos, família, um amor. Agora eu não tenho mais nada, e nunca mais poderei ver aqueles lindos olhos. O ódio e a vingança me cegaram, e mesmo naquela época eu já não podia mais ver a beleza de seu semblante. Eu não conseguia ver nada que fosse bom. Agora já se passaram quinze anos, e ainda que o mundo não estivesse em seus últimos minutos, nada poderia fazer para corrigir as coisas.

Olho no relógio e vejo que faltam menos de trinta minutos para a meia-noite, hora em que, segundo as profecias, tudo vai acabar.

Mais uma música começa, mas essa eu vou deixar para ouvir por último...

Um minuto para o fim do mundo do CPM22.

Essa eu pulo. Bom, agora sim, essa faz sentido e tem a ver comigo nesse momento.

Dançando, do Agridoce.

“O mundo acaba hoje

E eu estarei dançando...”

Sim, eu gosto de músicas brasileiras. Depois que me afastei de tudo e de todos, passei um tempo do outro lado do mundo e até aprendi bem o idioma. Gostei de lá, mas acabei voltando não sei bem por que, já que nada mais me prendia ao Japão.

Aos dezesseis anos, minha vida mudou completamente. Como disse antes, era feliz, tinha uma família maravilhosa, apesar de pequena, apenas meu pai, minha mãe e eu. Meus dois melhores amigos, e uma pessoa maravilhosa que me amava. Eu também a amava, mas não descobri a tempo, e destruí a vida dela, muito mais do que a minha própria. O que me fez perder tudo o que era mais importante, iniciou-se com o assassinato de meus pais.

E aquilo foi culpa minha.

Até hoje não aceito o que aconteceu, mas aprendi que a vingança não leva a lugar nenhum, a não ser a ainda mais solidão e desespero. Hoje olho para o que fiz da minha vida, porém não consigo saber se faria alguma coisa diferente, referente ao maldito que matou as duas pessoas mais importantes da minha vida. Sim, eu o cacei e matei com minhas próprias mãos. Era um drogado que entrou em nossa casa para assaltar, imaginando que o lugar estaria vazio. Era para estar, se não fosse por uma infantilidade minha. Foi assim que tudo começou. Ou acabou para mim, não sei dizer.

Devido à culpa que sentia, entrei em depressão profunda, fui internado e fiquei quase um mês assim, mas quando saí, não consegui seguir normalmente com minha vida. Só conseguia pensar em acabar com aquele que matou meus pais tão friamente. Nunca foi segredo quem fez isso, já que foi em plena luz do dia e o barulho dos tiros atraiu a atenção dos vizinhos, que viram o assassino deixar a casa correndo e sem levar nada.

Meus amigos tentaram me fazer esquecer tudo aquilo e seguir com minha vida, mas foi inútil, eu apenas me afastei deles, pois acreditava que não entendiam o que eu estava passando e menosprezavam a minha dor. A única que permaneceu ao meu lado, mesmo não concordando com meus planos, foi a pessoa que acabei ferindo mais que a qualquer outra, a pessoa que me amava. Ela até mesmo pediu a seu pai que me acolhesse durante um tempo, já que acreditava que ficar com meu padrinho na casa onde meus pais foram assassinados só estava me fazendo mal.

Foi no período que passei em sua casa que descobri que ela me amava. Sem querer, acabei ouvindo uma conversa que ela teve com uma amiga próxima, onde ela falava do amor que sempre sentiu por mim. Acabei me envolvendo e me deixando levar por esse amor, sem pensar nas consequências, afinal, estava precisando de todo o carinho que ela me dava.

Quando finalmente consegui cumprir meus objetivos de vingança, obviamente fui preso. O pai de minha amada um dia foi me visitar na cadeia, e me contou que ela estava grávida. Quase enlouqueci por saber que eu não poderia estar ao lado dela nesse momento, mas o pior de tudo foi saber o quanto a havia magoado. Algum tempo depois, eu realmente surtei, e entrei novamente em depressão. Ele não veio pessoalmente dessa vez, mas me mandou uma carta, onde avisava que ela havia se suicidado.

Mais uma vez, minha culpa!

Depois de oito anos preso, recebi liberdade condicional por bom comportamento, mas nada mais me interessava. Eu não queria me aproximar das pessoas e não tinha mais nenhum objetivo. Meus dois melhores amigos da adolescência, agora um homem bem sucedido e uma mulher linda, voltaram a me procurar. Ele me ofereceu novamente sua amizade e um emprego que recusei. Ela queria apenas estar mais uma vez ao meu lado e me apoiar, e eu também recusei. Ambos me lembravam dos dias mais sombrios de minha vida, e, apesar de tê-los como irmãos, não queria mais nada que fosse daquela época.

Mais um erro. Culpa escolhida, dessa vez.

Depois disso fui para o Brasil e fiquei quatro anos por lá. Voltei há dois e não tenho contato com muitas pessoas, nenhum amigo próximo e mais ninguém que eu gostaria que estivesse comigo agora.

Descobri há alguns meses que aqueles meus dois amigos, que eram apaixonados desde pequenos, estão separados. Divorciaram-se logo depois que foram me visitar, e eles me pareceram tão felizes juntos!

Dessa vez eu não tenho certeza, mas também acho que foi minha culpa.

Olho mais uma vez o relógio e faltam dez minutos para a meia-noite. Está quase acabando. Ansiei tanto por isso! A cada vez que diziam que o fim chegaria em uma determinada data, eu ria e fingia não acreditar, mas sempre esperei que esse dia chegasse logo, para acabar com meu sofrimento, com a solidão e o desespero que uma vida vazia me faz carregar. Acabar com o peso da culpa e do remorso.

Sinto um calor insuportável e o cheiro de fumaça vindo junto com uma claridade avermelhada do cômodo ao lado. A casa está se incendiando. Tremores de terra fortíssimos fazem meus poucos pertences despencarem, junto com pedaços do teto e das paredes, onde enormes rachaduras aparecem. Dou um leve sorriso e aquela frase, em geral dita por malucos, me vem à mente.

“O fim está próximo.”

Olho pela janela, vejo que praticamente tudo está se incendiando e estremeço. Sempre tive um certo pânico de morrer queimado, mas com sorte, uma grande explosão acabará com tudo antes que eu consiga sentir a dor. Fecho meus olhos e começo a pedir perdão por tudo de errado que fiz e pelas vidas que destruí. Pelo meu filho que sequer chegou a nascer...

— Duuuuude! Sai dessa!

— AHHH! Mas o que...? — Abro meus olhos bruscamente pela voz tão perto de mim. Na minha frente um homem negro e alto, com óculos escuros minúsculos, uma bandana sobre os cabelos brancos e roupas brancas bem estranhas. Era tão grande que parecia um armário. — Quem diabos é você?

— Você não conseguiria pronunciar meu nome, então me chame de... — Olha em volta, como se procurasse uma inspiração, e sua expressão se ilumina ao ver um pôster sobre abelhas africanas que permanecia ainda intacto na parede do quarto. — Killer Bee! Yeah!

Mirei seu rosto sem qualquer expressão. O mundo estava acabando e um maluco invadia minha casa? Pra quê, pelo amor de Deus? Nem que eu quisesse, palavras sairiam de minha boca no momento.

— Então, baby, estou aqui para consertar as coisas, sacou? — Ele fala como quem canta um rap, mas sem qualquer ritmo ou rima. Completamente bizarro.

— Quem é você? — finalmente minha indignação venceu meu aturdimento e consegui pronunciar alguma coisa. — O que faz aqui? Não se pode nem mesmo apreciar o fim do mundo em paz?

— Você é mal-agradecido, dude*, mas eu te perdoo, sou magnânimo, oh, yeah!

— Mal-agradecido? — Minha irritação me fez levantar da cadeira num pulo, mas a pose de durão que pretendia manter foi drasticamente desfeita por um abalo sísmico mais forte, que me fez escorar a mão na parede para logo depois tirá-la com um gemido e me agarrar na escrivaninha à minha frente. A parede queimou como uma chapa quente. — O mundo está para acabar, sou obrigado a passar meus últimos segundos com um maluco que nunca vi na vida e você quer que eu seja grato a quê?

— Não esquenta... — Começa a rir. — Não esquenta, sacou? — Disse apontando para o fogo que começava a entrar pela porta. — Pelas minhas contas você ainda tem... — olha um relógio de ouro enorme no pulso — ... três minutos. É tempo suficiente.

— Tempo... você é maluco?

— Oh, no! Sou o que vocês humanos costumam chamar de anjo, baby!

— Ahn? — A essa altura, não duvido de mais nada, estão pra que discutir? Mesmo por que, se não fosse um anjo, como teria conseguido chegar até mim, com o inferno se desenrolando lá fora, sem um arranhão sequer? — Era só o que me faltava... ter meus últimos minutos atrapalhados por um anjo "vida-loka"!

— Atrapalhados, maluco? C’mon*! — Ele começou a gesticular como um Mc. — Com tantos humanos pra ajudar, eu escolhi você, e agora você vai me escutar! You bet*!

— Me ajudar? — Faço uma careta com a possibilidade. — Quer dizer que o mundo não vai acabar? Eu não vou morrer?

— Ah, vai sim, dentro de mais... — olha novamente o relógio — ... um minuto e meio. Todos vão! Sacou?

— Hum... e como vai me ajudar? — Volto a sentar e cruzo os braços. — Vai me matar de irritação antes de morrer queimado? Acho que prefiro a alternativa.

— Dude, você terá uma segunda chance para consertar tudo o que estragou, all right*? — Pega um envelope fechado no bolso e me entrega. — Here*! Para você nunca esquecer esse dia. Leia quando acordar, ok? See you soon, Uzumaki Naruto!

Abro a boca, mas não consigo responder. Um brilho vermelho envolve o anjo Killer Bee e tudo o mais à minha volta. Depois disso, somente escuridão.

Continua...


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Notas finais do capítulo

Glossário

* Dude cara (gíria)

* Cmon Qual eh! (gíria)

* You bet pode crer (gíria)

* All right certo

* Here aqui

* See you soon te vejo logo

*****

Ehhhhh! Aposto que pensaram que era o Sasuke, hein?



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