Os Melhores Natais escrita por Lu Falleiros


Capítulo 1
OneShot - Nossos Natais


Notas iniciais do capítulo

Esta história OneShot vai falar um pouquinho sobre o Natal, junto com uma história que escrevi há muito tempo! Espero que todos gostem! E por favor deixem um Review!
Ela trás também um pouquinho da cultura japonesa, então algumas palavras estarão no mini-glossário nas notas finais!!



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- Vamos filha! Você vai se atrasar. – Minha mãe gritava do andar de baixo da casa, já segurando minha mala.

- Não se preocupe, - Eu respondi descendo as escadas e dando um beijo em sua bochecha. – não é a primeira vez que vou à casa de Sofu.- minha mãe concordou, ainda meio preocupada. Mas com um sorriso, deixou que eu fosse para o ponto de ônibus.

Ah! Desculpe não me apresentar. Meu nome é Ame e eu tenho dezesseis anos. Eu viajo todo ano próximo do Natal para a casa de meu Sofu ele vive próximo de uma floresta, conhecida como Mori no Seirei e quando eu tinha seis anos eu me perdi por lá, todos diziam que quem se perde naquela floresta nunca mais consegue retornar. Eu naquele dia chorava tomada pelo medo e pavor de ficar presa em um lugar como aquele.

- Ei! – Chamou um menino de aproximadamente 16 anos. – Você está bem? – Quando vi que alguém como eu estava lá, corri para abraçá-lo, meu medo era tão grande que eu não consegui evitar, mas ele se esquivou me fazendo cair no chão.

- Ai! Por que fez isso? – Eu perguntei com um machucado na testa.

- Não posso deixar que você encoste em mim. – Ele respondeu ainda sério olhando por mim por uma máscara. – Eu sou um dos espíritos desta floresta.

- Ah... Desculpe. – Disse olhando para ele com um sorriso.

- Você está perdida! Venha vou te levar até a saída. – Ele disse entregando-me uma estaca de madeira, para eu segurar enquanto ele me levava.

- Arigatou! – Respondi na entrada da floresta. – Qual é o seu nome? – Ele não me respondeu e eu devagar fui dando passos para trás, será que ele estava bravo? – Bem, vou lhe trazer algo em agradecimento, está bem? – Eu disse, parecendo que eu estava falando sozinha.

- Chaimu. – ele respondeu enquanto eu já retornava. Que nome engraçado. Presumi.

No dia seguinte eu retonei para a entrada da floresta, quando percebi que ele me aguardara, eu sorri brilhantemente gritando enquanto subia as escadas – Chaimmmuuu... – Ele riu e eu o entreguei um pequeno pacote onde havia um nikuman recheado de doce de melancia, aquele era o meu sabor favorito.

- Ame, arigatou! Você veio me visitar. – Ele disse, ainda sem tirar a máscara. Aquelas palavras me deixaram muito feliz, eu não era indesejada.

- Sabe, semana que vem é Natal, poderíamos comemorar juntos, pois no dia seguinte eu irei embora... – Ele concordou com a cabeça. E eu me senti feliz. Durante aquela semana, todos os dias eu retornei para visitá-lo. E no dia de Natal entreguei a ele um cachecol de presente.

- Pode fazer muito frio enquanto eu estiver fora e... – Ele concordou, mas eu não sabia mais o que falar. Naquele dia, um pouco antes de eu sair da floresta. Começou a chover, eu e ele dançamos juntos na chuva e pela primeira vez eu o vi sem a máscara, seu rosto era claro como sua pele e seus olhos eram acinzentados, quase prateados. Enquanto ainda chovia ele pegou um pingente onde havia como se fosse um potinho minúsculo de vidro, lá ele colocou apenas uma das gotas da chuva que caia e me entregou dizendo:

- Tome, isso sou eu para você. Guarde com muito carinho. – Naquele dia eu não o veria mais, mas com esperança eu disse já na saída da floresta.

- Eu estarei aqui no ano que vem.

E todo ano eu ia visitá-lo, da mesma forma em alguns anos eu levava meu uniforme novo, do Kōtō gakkō e empinávamos pipa, conversávamos sobre tudo e foi no ano que eu completei dez anos, que eu decidi assustá-lo para entregar seu presente de Natal, era uma pulseira da amizade que eu fizera. Era simples, mas muito especial.

Eu me empoleirei em uma árvore e esperei que ele aparecesse para eu gritar “BOO!”, ele deu um leve grito quando o fiz e o galho em que eu estava em pé, começou a quebrar, eu comecei a cair, Chaimu correu para me pegar, mas no último instante lembrou que não poderia. Ainda bem que não o fez, eu estava preocupada, achava que ele desapareceria por culpa minha!

- Prometa-me uma coisa? – Eu pedi olhando para ele com os olhos cheios de lágrimas.

- Sim. – Ele respondeu sentando ao meu lado.

- Prometa que nunca tocará em mim, não importa o que aconteça! – Eu gritava para ele, queria ficar com ele para sempre. Não queria nunca ter que me separar dele, eu não queria perdê-lo.

- Eu prometo. – Ele respondeu, com sua máscara. – Por você eu prometo. – Ele agora tirara a máscara e sorria para mim, seu rosto era tão calmante que me fazia sorrir incondicionalmente. Com isso, de novo, trocamos os presentes de Natal e os anos se seguiram passando, um como o outro. Mas foi no ano passado, logo depois de voltar para casa, que eu percebi que não conseguia parar de pensar nele, se era na escola, na rua, ou em casa, eu só conseguia ver Chaimu rindo, sorrindo, correndo, conversando, andando, me esperando na entrada da floresta. E cada vez mais eu ansiava pelo Natal, como um momento que eu queria porque queria que chegasse cada vez mais rápido. Um pouco antes das férias do ano passado, eu caminhava para a escola pensando no que eu daria para Chaimu naquele ano, já imaginando os raios de sol passando por nós e nos fazendo sorrir como dois bobos. Quando eu de repente ouvi.

- Ammee – Aisuru gritou puxando-me para a calçada. – Você anda muito distraída, quase foi atropelada. Devia prestar mais atenção. – Ele sorria para mim e eu ainda sem pensar concordei dizendo.

- Domo arigatou. – Enquanto saía correndo, para poder pensar sozinha no que dar para Chaimu. Acho que não fui muito gentil, mas eu não queria passar o tempo com mais ninguém que não ele.

Novamente chegou a época de eu visitá-lo. E eu fui para casa de Sofu com a ideia de falar para ele o que sentia. Eu tinha que contar a verdade para Chaimu. Ele tinha que saber que eu não conseguia parar de pensar nele.

Como nos outros anos, nós nos encontramos na entrada do templo, e conversando coisas pacatas, eu disse:

- Chaimu, - ele virou o rosto para mim, ainda com a máscara. – eu vou me formar no ano que vem. E eu estou pensando em me tornar uma Sensei, e estou querendo mudar para cá, assim poderemos passar todos os dias juntos. Seria incrível não? - Eu sorri para ele e ele olhou novamente para o céu, quase sem nuvens que se estendia sobre nós.

- É seria incrível. – Foi só o que ele pode dizer. – Ame, posso te contar uma história? – Ele perguntou, levantando-se e olhando para mim. Eu concordei com a cabeça, ficando um tanto vermelha. O que será que ele queria me dizer?

- Sabe, quando eu era pequeno, eu me perdi nessa floresta. – Ele contava a história, sem me fitar. Mas eu não conseguia tirar os olhos dele. Ele olhava para o céu, como quem se lembra de uma história. – Os espíritos disseram que eu chorei por muitos e muitos dias e um dia não chorei mais. Era como se eu tivesse morrido. Então eles colocaram essa máscara em mim, e me deram uma vida nova. Mas havia uma condição eu não poderia tocar em nenhum humano. Mesmo que desejasse. - Eu concordei com a cabeça, ouvindo aquele triste história de sua vida. Ele nunca havia me contado nada daquilo. Mas eu estava feliz, que ele queria partilhar aquilo comigo. – Bom, é isso. Mas não era isso que eu queria te perguntar. – Agora ele fitava meus olhos, embora eu não pudesse olha-lo, aquela máscara era um tanto transparente para mim. – Você quer ir ao matsuri comigo? – Ele parecia hesitante enquanto falava, mas eu não me importava, estava empolgada demais para ligar.

- Sim sim sim!! Mas... – Eu disse agora sem tanta animação. – Eu sou humana.

Ele riu um pouco, e se aproximou de mim dizendo. – Aqui nos festivais, você deve se vestir como humanos. Essa é a graça. – ele e eu rimos juntos.

Naquele mesmo dia durante a tarde, eu voltei com meu kimono para irmos ao festival juntos. E antes de entrarmos ele amarrou em meu punho uma trouxa de pano e fez o mesmo nele. Com uma risada tímida e as bochechas avermelhadas eu ri.

- Isso até parece um encontro. – Nós andávamos juntos pelos corredores, brincando, comendo e nos divertindo como nunca tínhamos feito antes.

- Isso é um encontro. – Ele respondeu. Claro que isso só me fez ficar mais vermelha do que já estava.

Quando o matsuri acabou, caminhamos juntos até a saída da floresta, no meio do caminho, porém, ele parou e tirou a máscara. Sorrindo para mim, vestiu-me com ela e me deu um beijo na bochecha. Claro que ele havia tocado na máscara, mas só de pensar nele querer me beijar, meu peito disparava em um batimento sem ritmo e totalmente apressado, enquanto minhas bochechas queimavam. Depois do beijo ele sorriu e disse – Quero que fique com essa máscara. – Não sei por que, mas sentia como se este fosse o último ano que eu o veria.

- Está bem. – Respondi segurando a mascara com uma das mãos, já era Natal segundo meu relógio e ele havia me dado à visão de seu rosto e um beijo de presente. O que eu daria a ele? No final das contas eu não tinha comprado presente.

-Ei cuidado! – Chaimu disse a um menininho espírito que corria. Ele quase caiu, mas Chaimu o segurou pelo braço. Quando ele soltou o menino, uma luz surgiu em sua mão. Aquele menino era então um humano.

- Não! Não vai! – Eu comecei a gritar quando o vi começando a desaparecer aos poucos, a partir da mão.

- Venha aqui Ame. – Ele sussurrou, com uma voz muito diferente do normal, como se me atraísse. – Agora finalmente eu posso te abraçar e... – Eu corri para ele impedindo que ele terminasse a frase. Agarrei seu abdome apertando o máximo que conseguia. Com a mão que ainda não havia sumido ele puxou meu rosto para o seu e me beijou docemente nos lábios, eu sentia seu corpo se desfazendo em minhas mãos, não era mais matéria. Mas sim, algo mais. – Ame, arigatou! Você me deu o melhor presente de Natal que eu poderia receber.

- Não não vá!!! – Neste momento, mal se via seu lindo rosto com olhos pratas.

- Saionara Ame. Kimi o aishi teru! Obrigado pelo incrível Natal. – Lágrimas rompiam por meu rosto, mas com um sorriso respondi:

- Feliz Natal, eu também te amo! – Quando ele desapareceu, todo o lugar pareceu ficar escuro. E ainda chorando, abracei à máscara e como há um sussurro ouvi ao espírito da montanha falando comigo.

- Arigatou Ame! Você deu a Chaimu o que ele mais queria. Ele queria tocar um humano e você possibilitou que ele passasse ótimos momentos com você! Inclusive, ele pode beijar um humano. Este é o melhor Natal dele e o nosso também. – Quando ouvi que Chaimu estava feliz, as lágrimas cessaram aos poucos e pude concluir no interior de meu coração, que se ele estava feliz eu também estava, ele havia dado a mim os melhores Natais de minha vida! Eu sabia que meu peito arderia, eu sabia que choraria, eu sabia que sentiria sua falta. Mas eu também sabia que ele estava feliz e que ele sempre ficaria comigo!

Domo Arigatou Chaimu! Feliz Natal! Por tudo! Feliz Natal, eu repeti isso várias vezes naquela noite. E neste Natal pretendo fazer o mesmo.

“Última parada na estação. Por favor não deixe suas coisas no vagão! Obrigada” – Esta voz me tirou de meus devaneios. Eu havia chegado. Eu ia me mudar para lá ano que vem, mas ainda tinha um ano para aproveitar na casa de meu avô.

- Boa tarde Sofu! – Gritei para o meu avô. Este seria o último ano que eu iria visitá-lo. Afinal, eu iria morar lá. Para lecionar pertinho do que já fora a casa de Chaimu.

- Boa tarde Shomi! Venha! Estamos terminando de montar a árvore! – Meu avô gritou da porta da casa, que eu já visitara tantas e tantas vezes.

- Estou indo! – Disse correndo com a mala que havia trazido.

Chaimu! Sinto sua falta. Mas você sempre estará ao meu lado, até que nos encontremos novamente! Eu sei disso!”


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Notas finais do capítulo

Sofu - Palavra que se refere ao Avô.
Ame - Chuva em japonês.
Mori no Seirei - Nome da floresta, significa Floresta dos espíritos.
Arigatou - Obrigado em japonês
Chaimu - Significa Badalar do sino.
Nikuman - Bolinho japonês cozinhado no vapor, pode ter diversos recheios.
Kōtō gakkō - Ensino fundamental (quinta à oitava série.)
Aisuru - O nome significa Amoroso (Kawaii né?)
Domo Arigatou - Muito obrigada.
Sensei - Professor(a)
Matsuri - Festival
Saionara - Adeus
Kimi o aishi teru - Eu te amo.
Shomi - Neta.
Espero que todos tenham gostado da história! E para todos vocês eu desejo um ótimo Natal!



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