Dangerous escrita por Carolina Moreira


Capítulo 2
Fogo dos Olhos


Notas iniciais do capítulo

Eu não estou revisando a história, por favor, se virem algum erro comuniquem.



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Com a visão embaçada, ela conseguiu ver uma menina magra sentada de costas para ela, com cabelos um pouco abaixo dos ombros, cabelos perfeitamente ondulados, preparando alguma coisa numa cumbuca de madeira.

Ela estava se sentindo nauseada, mas que merda, que horas serão? Não tinha forças para erguer o braço. Ouviu o choro de uma criança, Brendan? Sentou-se bruscamente, tonta teve de apoiar o braço para não cair na cama novamente.

– Não bobinha, não se levante – disse a menina de cabelos negros como carvão, doce e calma, deitou Lira novamente na cama – Fique aqui, enquanto eu aviso minha mãe que você acordou – acariciou o rosto e se levantou.

Com dificuldade Lira conseguiu erguer o pulso, oito horas, puta merda, ela estaria fodida quando entrasse pela porta da frente, se levantou, e cambaleando, ainda com a visão embaçado, foi se apoiando nos poucos móveis do cômodo daquela casa simples, até chegar na... Aquilo que chamavam de sala? Virou-se e viu que dormia numa cama improvisada de feno, nossa, quanta comodidade, ela estava sendo tratada como um cavalo, sorriu ironicamente, mas só conseguiu sorrir por dentro porque estava dando todas as forças para manter sua pernas de palito em pé. Sentiu um vento forte da janela aberta, que fez o tecido de sua roupa roçar em sua pele, e que merda de roupa era aquela? Estava usando apenas uma camisola branca com renda azul em baixo, e os cabelos estavam presos num rabo de cavalo baixo. Dali se via duas crianças, uma chorando, pois, sua irmã tinha mais... Brinquedos? Ou bonecas de pano muito mal feitas, do que a outra, uma lareira apagada e um sofá com pele de animal, em instantes uma porta se abriu e a menina de cabelos negros correu até Lira para ajudar-la a se manter em pé.

– Eu não disse para você ficar lá? – perguntou sorrindo, passando os braços em meu ombro gentilmente– você está muito magra, precisa se alimentar, ganhar forças.

– Não cara, - disse irritada – você não está entendendo, eu sou magra assim, tá legal? Esse aqui é o meu normal, agora, se me dá licença, eu preciso fazer o jantar da minha família, eles devem estar me esperando, afinal já são oito horas – a visão começou a ficar normal, mas as forças não voltaram.

Vagarosamente a menina sentou Lira no sofá, perto das crianças, que a olhavam assustadas.

– Se eles estão te esperando, já estão de esperando faz alguns dias meu anjo, agora se sente, meu pai pode te levar até sua casa depois – sentou-se ao lado, colocou as mãos no joelho e observando as sardas do rosto de Lira, com aqueles enormes olhos castanhos, piscando-os continuamente, olhos que pareciam reter fogo, podia-se jurar que tinham chamas dentro daqueles olhos, completamente diferentes de tudo que e ela já vira na vida, podendo jurar que se os tocasse seriam quentes como o sol – Agora me diga, como é o seu nome?

Uma mulher gorda, com a mesma cor de cabelos, um pouco mais desgastados, provavelmente por causa de sua idade, e que já possuía alguns fios brancos entrou no cômodo, ela não possuía aqueles olhos da filha, eram únicos e exclusivos dela, a mulher ao ver Lira se iluminou, jogou o pano de prato que estava em mãos sobe a mesa de jantar e correu ao seu encontro, a abraçou e disse num som quase inaudível ‘Graças a Deus’, se abaixou aos pés de Lira e colocou as mãos em suas pernas.

– Você está bem meu amor? Está com fome? Frio? Alguma dor forte? – disse com olhos maternos e preocupados, Lira nunca tinha se sentido desse jeito antes, nunca tinha sido o centro das atenções em nenhuma ocasião. Ela era como a mãe perfeita que Lira nunca teve.

– Não, estou bem, preciso ir pra casa, obrigada por...

– Estou fazendo uma sopa pra você, olhe esse rosto – segurando o queixo de Lira, se mostrou demasiadamente preocupada – está magérrimo, por Deus, fique aqui com ela, eu vou mexer a sopa – sorriu, olhou para filha e saiu andando, sem dar as costas, pegou o pano de prato e se adentrou na cozinha.

Desnorteada, Lira perguntou – Há quanto tempo tenho... Dormido?

Dormido seria a palavra certa para se usar?

– Três semanas e meia, estávamos muito preocupados se você acordaria – disse em um meio sorriso torto, olhando para seus pés.

– Três semanas? – Surtou – e ninguém veio me procurar? Nada?! Eu entrei em coma e é como se ninguém tivesse notado?

Isso não era possível, ela não poderia ser tão mal amada a esse ponto, três semanas de desaparecimento e ninguém havia se dado conta? Brendan? Nem ao menos Vergan? Era melhor ela morar nesta casa pra sempre, afinal, qual seria a diferença passa sua mãe que desejava tê-la abortado?

–Bem... Não, mas é que você deve estar bem longe de casa, estamos à cinco quilômetros de onde você foi encontrada, pelo meu irmão a proposito, que está caçando – a voz da garota era de um todo suave, tranquilo e gerava paz e harmonia ao ambiente, sua aparecia angelicalmente perfeita contribuía com isso – Bem, você não me disse seu nome.

– Lira, Liranda Bellmont – disse confusa, sacudindo a cabeça, aquilo era ridículo, talvez se ela abrisse os olhos percebesse que ainda eram cinco horas e que ela estava apenas devaneando em baixo da amoreira do campo. Fechou os olhos fortemente, e os abriu novamente depois de alguns segundos, continuava na sala abafada e pobre, fechou novamente, em uma nova tentativa frustrante que a fez bufar de ódio e aflição. Pelo menos ela conseguia sentir isso.

– Quantos anos tem... Lira? – perguntou a garota com tensão na voz.

– 17 – respondeu rude e secamente.

A menina se calou, deixou que Lira pensasse um pouco, ela estava física e mentalmente exausta, isso não poderia estar acontecendo, é loucura, sua mãe a amava no fundo, ela tinha esse fundo de esperança que sim, só era muito orgulhosa e rustica pra demonstrar. Será que eles estavam felizes sem ela? Todos eles? Janet, sua mãe? Brendan, seu irmão? Naomi? linda Naomi... Vergan? Kylie? James? Sam? E até mesmo Pauline?

A porta da frente abriu, deveria ser o resgate, mas era apenas um cortador de lenha, velho e mal acabado, que abriu um largo sorriso ao ver Lira na sala, as crianças correram e o abraçaram, ele estava de todo sujo e soado, com a barba mal feita e cabeça raspada, deveria se o pai, diziam as rugas profundas do rosto.

– Então, criançada, a menina com cabeça de ferrugem acordou? – perguntou o pai ás menininhas pequenas – Eu sou Jordan, o pai das crianças e marido de Leiloá, a linda mulher na cozinha – pendurou o machado próximo à porta, machado que Lira desejou ter enfincado em sua própria cabeça.

– Meu pai te chama de cabeça de ferrugem por causa de seus cabelos – Jura? Essa eu acho que ninguém poderia adivinhar sozinho... – Ele sempre dá apelidos pra todos nós – disse a menina de cabelos negros sorrindo amarelo.

Leiloá correu e abraçou o marido também, deu-lhe um beijo na testa e completou:

– Ela é ainda mais linda acordada não é? – disse olhando par a Lira, está família é perfeita demais, muito amor, muita doçura, tanta doçura que amargava a boca de Lira, com uma inveja pretensiosa – bom, o jantar está na mesa, Jason disse que voltaria hoje, mas deve ter deixado para amanhã, Jordan ajude a menina a se sentar.

– Eu estou bem – disse Lira cansada de ser tratada como uma deficiente – eu consigo ir até a mesa, obrigada – Leiloá levantou uma sobrancelha, mas deixou que ela fizesse oque pretendia. Levantou-se com dificuldades e sentou-se a mesa.

Começaram a comer e sorrir, conversar, e rir dando gargalhadas, como um daqueles comercias de peru que passam no natal que diz que sua família vai ficar mais feliz e um monte de besteiras, até que a porta se abriu novamente, e um garoto forte, de aparência rustica como a do pai entrava com uma raposa pendurada nas costas, ao ver Lira também sorriu.

– Encontrei está daqui tomando água – disse olhando para o rabo da raposa que caia em seu ombro esquerdo - também consegui alguns coelhos – disse entregando uma sacola para a mãe, que não se demorou em levantar da mesa e levar os animais, ou as refeições seguintes para a cozinha – Então você acordou, que bom, quando vão leva-la pra casa? – perguntou olhando para o pai – bom isso não importa agora - tentou corrigir-se percebendo o quão rude fora - mãe traga-me um pedaço de pão, vou tomar essa sopa bem rápida, e me dê alguma fruta para que eu coma no caminho até a floresta, precisamos de mais comida não é?

Na mesma hora Lira se levantou e foi até o possível quarto? Enfim, até onde estava dormindo, ao lado da cama estava sua mala, onde se lembrava de ter guardado algumas maças, ela tirou uma, examinou, e percebeu que mesmo depois de tanto tempo aquela era a única fruta que tinha coletado que estava em perfeitas condições, voltou para sala e pensou em entregar a fruta para Jason, que fora seu salvador, na realidade, ela não entendia como a fruta poderia estar tão perfeita após tanto tempo enfurnada na em sua mochila.

Ela foi cuidadosamente até a sala, segurou a mão do rapaz, a abriu e colocou a maça na mão esquerda, fechou seu dedos em torno da maça, deu alguns passos pra traz e disse:

– Obrigada.

O garoto fez questão de cortar a maça ao meio com a faca antes de morde-la, de um modo bem teatral. Por dentro a maça estava em estado de putrefação, extremamente deteriorada.

– Por fora a maça aparentava pureza não? - disse Jason olhando nos olhos de Lira como se quisesse rompe-los - quando por dentro está desfalecendo, sendo corrompida.

Lira não sabia o que responder, não sabia como o menino poderia ter conhecimento de que a fruta estava podre por dentro, mas de alguma forma ele sabia, afinal de contas não teria feito tal teatro se não soubesse.

– Nós sabemos que suas intenções foram nobres Lira - disse Leiloá sorrindo falsamente, tentando ser o mais simpática possível - agradecemos sua bondade.

Após o jantar, Jason e o pai se levantaram da mesa sem tirar os pratos, que mais tarde foram recolhidos e enxaguados por Leiloá e a menina de cabelos negros. Mais nada foi dito até então.

Mais tarde quando pai e filho já haviam saído de casa, Lira viu que Leiloá colocou as crianças para dormir no feno no outro canto do cômodo onde ela dormia, Leiloá se deitou junto, apagou a vela do lado de sua cama e não se demorou a dormir. A menina de cabelos negros, não tinha aparecido novamente, a vela de cabeceira de Lira ainda estava acesa, queria demostrar que ainda não havia dormido, mas quando viu aqueles cabelos negros aparecendo na porta, fechou instantaneamente os olhos, ela não sabia fingir que dormia muito bem, ela sabia fingir de tudo, menos que estava dormindo, assim, a garota de cabelos negros riu baixinho, e se sentou do lado da cama de Lira.

– Não consegue dormir? – perguntou calmamente.

– Você que vem cuidando de mim todo esse tempo? – perguntou Lira com a boca seca.

– Queria que fosse outra pessoa? – perguntou sussurrando e colocando o rosto perto do de Lira, tão perto que podia sentir sua respiração quente, e olhar profundamente dentro daqueles olhos fervorosos, olhos que ressuscitavam a alma de Lira, faziam sair de seu costume leproso, fúnebre e temeroso, olhos que a confortavam, confortavam tanto que Lira se sentiu a vontade de fazer uma pergunta distinta e sem fundamento, fazê-la só por que se sentia segura para tal.

– Você já sentiu o amor? – Perguntou Lira, não sabia se aquilo era sensato de se dizer no momento, mas aquela menina parecia poder entendê-la, Lira se sentia forte e protegida ao ver aquela imagem perfeita.

– Você não? – perguntou, sua fala mansa a anestesiou, Lira pode sentir seu hálito de cereja e então ficou dura como pedra, uma sensação diferente do que sempre sentiu.

– Não, nunca sinto nada, queria poder sentir – disse Lira piscando os olhos suavemente, tentando entender aquela sensação, era como se algo dentro dela estivesse congelando de dentro para fora, e ela balbuciava as palavras com certa dificuldade.

A menina fechou seus olhos quentes, se aproximou mais alguns centímetros e encostou seus lábios tranquilamente nos lábios de Lira, rapidamente os afastou.

– Oque sentiu? – perguntou se jogando para um lado mais atirado e sensual.

– Nada – respondeu Lira em nem tão sinceras palavras, fugindo de suas leis interiores, onde as palavras valem mais do que a droga do capitalismo no mundo inteiro.

A garota de cabelos negros colocou sua mão no rosto de Lira e encostou novamente seus lábios finos nos de Lira, dessa vez com mais força e calor, sua mão deslizou pelo pescoço de lira e arranhou sua nuca, Lira se sentiu eletrizada, quente, nervosa e completa ao mesmo tempo, ela deu continuidade ao beijo, e mesmo estando deitada e torta, ela segurou a mão da menina e colocou pressão no beijo, Lira nunca havia sido beijada, nunca havia sido desejada, e agora ela estava se sentindo assim, sim estava, estava em puro êxtase. Depois de alguns segundos a menina tirou seus lábios cuidadosamente e repousou sua mão perto do queixo de Lira.

– Oque sentiu? – perguntou a menina novamente.

Lira se perdeu nas palavras, era como se o quarto não estivesse ali, como se a vela tivesse apagado, e só existissem elas duas no mundo inteiro. Ela estava se sentindo como nunca havia se sentido antes, uma mistura de alegria e eletricidade, uma vontade súbita de gritar, era como nos filmes, as tais borboletas no estomago eram reais, e ela acabara de conhecer. Ela sentia pureza, e uma coisa muito diferente do que sentirá nos últimos anos: Felicidade.

Ela era um poço de sentimentos otimistas no momento, mas seu corpo ainda estava em estado petrificado. Ela não pode dizer nada.

Logo a menina dos cabelos negros se levantou do chão, lançou um olhar carinhoso a Lira, de modo que estaria ali se ela precisasse. Apagou a luz e caminhou até seu leito.

Lira conseguia ver a silhueta esguia da garota à luz do luar que entrava delinquente pela janela. Só ai viu que não perguntara seu nome em momento algum até então.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Espero que sim. Bom, até o próximo capitulo.