Katie corava até a raiz dos cabelos quando via Travis. A noite anterior não saia de sua cabeça e pensar que ela teria que passar o resto de seu dia com ele a fazia reconsiderar a ideia de inventar uma gripe.

Eles arrumavam a fogueira em silêncio. Como parte do castigo, Travis tinha que liderar a cantoria e Katie era obrigada a ficar até o final para colocar as coisas no lugar de novo. Travis era mesmo um problema.

— Travis, me passa mais lenha. — Ela virou para trás e viu Travis sorrindo que nem um idiota. — O que foi, garoto problema?

— Nada, Kay. Não houve nada. — Ele continuou sorrindo e ela levantou uma sobrancelha. — É que a noite de ontem não sai da minha cabeça.

— Não quero falar sobre isso, Stoll. — Katie ruborizou e voltou a ajeitar a lenha.

— Mas a gente precisa! Preciso saber se você sentiu o que eu senti.

— Travis, esse acordo só nos trouxe problemas! Podemos viver pelo menos hoje como se fosse um sábado comum?

— Normalidade não existe quando se é semideus, Gardner! — Travis segurou Katie pelos dois braços e a forçou a olhar para ele. — Kay, mais cedo ou mais tarde vamos ter que descobrir o que aconteceu ali.

— Finja que nunca aconteceu, Travis. Isso é simples pra você.

— Kay, não fica assim, não fala o que você não sabe.

Travis abraçou Katie e ela enterrou o rosto nos braços dele, aspirando o cheiro de canela e hortelã que Travis tinha. Ela se conteve em perguntar qual era o perfume. Ainda estou brava com ele. Certo?, ela pensou. Errado, seu subconsciente respondeu, mas Katie ignorou.

— Que seja, Travis! — Ela se desvencilhou dele, relutante voltou a arrumar os troncos que seriam os bancos.

— Não me subestime, Kay. — Ele sussurrou em seu ouvido e acendeu a lareira.

(...)

Grande parte do acampamento estava sentada na fogueira, ora conversando ora cantando músicas normais de acampamento. Travis apenas batia palmas acompanhando os filhos de Apolo e às vezes cantava um pouquinho. Esse não era o trabalho dele.

— Ei, galera! — Travis atraiu a atenção de todos. — Vamos dar um tempo nas músicas de acampamento. Gostaria que me acompanhassem em uma em especial. — Ele piscou para os filhos de Apolo e de Afrodite ali presentes, eles pareciam ter algum combinado, o que deixou Katie um pouco desconfiada.

O chalé de Afrodite começou a bater palmas ritmadas enquanto uma menina do chalé de Apolo pegava um violão e assentia para Travis.

Isso não ia prestar, o sexto sentido de Katie gritava para que ela saísse.

— My heart's a stereo / It beats for you, so listen close / Hear my thoughts in every note.

Travis olhou direta e descaradamente para Katie. Os semideuses não pareciam notar, mas Katie sentia cada verso como uma facada no coração.

Estaria ele se declarando para ela?

Não me subestime, Kay. As palavras dele ecoavam em sua cabeça. Katie sacudiu a cabeça para espantar os pensamentos e se concentrou na diversão que Travis estava proporcionando a todos ali. Eles cantavam praticamente berrando, como se estivessem em um show. O chalé de Apolo estava fazendo um beatbox.

— Furthermore I apologize for any skipping tracks / It's just this last girl that played me left a couple of cracks. — Travis cravou seu olhar em Katie, ela se encolheu e enrubesceu.

Mas o quê Hades está acontecendo aqui?, sua mente gritava. O beatbox continuava animado, todos cantavam felizes. Se concentre na diversão!, sua mente lhe ordenava em um tom de desespero.

— And know my heart's a stereo that only plays for you. — Ele sorriu para ela, a fazendo sorrir também.

Travis se levantou, sugerindo todos a se levantarem. Logo, a única pessoa a estar sentada era Katie. Travis percebeu e Katie desejou ter o boné de Annabeth para ela.

— This melody was meant for you. — Travis cantou com todo mundo e puxou Katie para dançar com ele.

— Você definitivamente não presta, Stoll! — Katie gritou e gargalhou enquanto ele rodava ela no meio da multidão de semideuses.

— So sing along to my stereo. — Ele enfatizou a frase, dando a entender que queria Katie cantando com ele.

— I only pray you never leave me behind. — Ela continuou.

— Because good music can be so hard to find.

— I'd take your head and hold it closer to mine. — Katie cantou e Travis colou sua testa na dela.

— Thought love was dead / But now you're changing my mind. — Travis gritou junto com todo mundo e Katie gargalhou.

Katie posou a sua mão no pescoço de Travis e ele colocou a mão na cintura dela, a trazendo para mais perto.

— Aceita continuar com essa loucura? — Ele perguntou um tempo depois.

Ela fingiu pensar por algum tempo. Levantou uma sobrancelha, depois outra, olhou para um lado e para outro. A única coisa que passava na cabeça dela era uma condição.

— Aceito — Travis sorriu. —, mas com uma condição.

— Pelos deuses, Gardner! — Ele suspirou. — Fale.

— Vai ter que ser do meu jeitinho.

Travis a olhou desconfiado, ela mantinha a expressão desafiadora inalterada. Por fim ele revirou os olhos, dando-se por vencido.

— Tudo bem, eu aceito.

Os filhos de Apolo puxaram Travis para escolher mais músicas, ele olhou desesperado para Katie que deu uma risadinha e o incentivou a ir. Ele cantava todas as músicas olhando para Katie que, lá para a sétima música, se acostumou e não ficou mais ruborizada.

— I'm only gonna break break ya break break your heart. — Ele cantou e Katie levantou uma sobrancelha. Travis sorriu e deu de ombros, fazendo ela revirar os olhos.

(...)

— Anda, Travis!

— Calma, Gardner! — Ele jogou areia na fogueira e se postou ao lado dela. — O que foi?

— Vamos dar o meu jeitinho.

— Precisa ser agora, Kay? Não pode ser amanhã de manhã ou quem sabe na próxima vida quando tentarmos chegar ao Elísio?

— Idiota! — Katie revirou os olhos. — Tem que ser agora se você pretende ir visitar a sua mãe amanhã.

Travis concordou com a cabeça e suspirou, Katie pegou na sua mão e começou a correr em direção à Casa Grande.

— O que nós estamos fazendo aqui? — Ele sussurrou quando pisaram na varanda.

— Você verá. — Katie sorriu e Travis estremeceu.

Eles andentraram calmamente o casarão azul. Katie passou pela escada que leva ao sótão e sentiu um arrepio na espinha ao se lembrar da última Grande Profecia, a qual meteu todos em uma grande furada — mas que no final, incrivelmente, a sorte esteve ao lado deles.

— Quíron? — Katie gritou e sentiu Travis se enrijecer ao seu lado. Ela apertou a mão dele e a acariciou rapidamente, dando a entender que estava tudo bem.

O centauro apareceu um pouco depois, com uma blusa de pijama com botões, o rosto sonolento, mas com a mesma serenidade de sempre. Ele assentiu para os dois semideuses, querendo que eles explicassem o que estavam fazendo ali às duas da manhã.

— Eu queria dizer que estamos juntos. — Katie levantou a sua mão entrelaçada na de Travis. — E a mãe de Travis queria muito me conhecer, então ela pediu a ele que ficássemos no máximo uma semana com ela.

Quíron os encarou. Katie apertou mais ainda a mão de Travis, agora ela estava com medo de acabar levando um coice.

— Fico feliz que tenhamos um novo casal por aqui. Estão ciente das regras, certo? — Os dois assentiram. — Ótimo! Permissão concedida. Viu, senhor Stoll, como pedir é mais fácil do que fugir? — Travis se encolheu e Quíron deu uma leve risada. — Amanhã resolvemos quem substituirá vocês no castigo enquanto estão fora. Boa noite.

Quíron saiu deixando os dois no meio da sala da Casa Grande. Katie sorria presunçosa e Travis respirava fundo.

Digno de uma filha de Atena, ela pensou.