— Desista, Stoll.

Katie disse sem nem olhar para trás. Continuou a colher seus morangos como se um Travis bem indiscreto não tivesse pisado em galhos, sapateado nas pobres gramíneas e quase caído nas cestas de morango que Katie enchia pouco a pouco.

Ele estava esbaforido, ansioso e nervoso; como se as Parcas estivessem prestes a cortar o fio da vida e Travis só se lembrasse que tinha esquecido o fogão ligado pouco antes de descer ao submundo. Na verdade, era exatamente assim que ele se sentia.

— Por favor, Gardner! Eu preciso de você!

— E eu preciso de um frapuccino de morango — Ela retrucou.

Katie pensava tanto em morangos que Travis se perguntava como ela ainda não havia virado um.

— É sério, Kat.

— Eu não vou ser a sua namorada, Travis.

— Fingir. — Corrigiu.

— Que seja! — Katie virou para trás pela primeira vez desde que ele aparecera ali, mas tornou a colher os morangos uma fração de segundos depois.

— Você pode largar esses benditos morangos e olhar para mim?

Katie revirou os olhos e deu uma leve gargalhada, o desespero de Travis a divertia. Ela limpou a mão na calça e prendeu o cabelo em um coque desajeitado; depois encarou o filho de Hermes a sua frente, o analisando com seus meigos olhos verdes, esperando alguma explicação.

— Obrigada — Ele fez uma reverência estúpida — Por favor, Kat! Eu podia te pedir para matar um ciclope-realmente-assustador, mas estou aqui implorando para você fingir ser a minha namorada por uma semana.

— De fato — Ela concordou dando de ombros — Mas para quem ajudou a vencer uma guerra contra um titã-maligno-possuidor-de-corpos, um ciclope-realmente-assustador não é nada.

— Qual é, Gardner! É só uma semana, ok? Ou mais, não sei, depende de como as coisas andarem, mas eu preciso que você finja.

— Tantas garotas de Afrodite por aí e você vem pedir logo a mim. Eu realmente desisto de tentar te entender, Stoll.

— Até parece que elas iriam aceitar — Travis passou o peso do corpo de uma perna para outra e começou a tirar o que quer que fosse debaixo das unhas.

— E quem te garantiu que eu iria aceitar? — Katie colocou a mão na cintura e levantou uma sobrancelha.

Opa! Zona de perigo, Katie irritada, pensou Travis.

— Por que você tem que ser tão difícil, Gardner? Ninguém me garantiu nada, cabeça dura! Só pensei que, sei lá, você toparia.

— E porque eu toparia?

— Porque você é a Katie-nunca-diz-não, oras!

— Ótimo saber que a minha fama por aqui é essa.

Ela se virou para os morangos e continou a colhê-los. Um silêncio desconfortável se instalou entre os dois, fazendo Travis querer quebrá-lo, mesmo que levasse um soco por isso.

— Prometo que pago quantos frapuccinos de morango você quiser — Katie continuou a colher — Pensa com carinho, Kat. Depois me diz a resposta — Ele se virou para ir embora, mas foi surpreendido por raízes se enroscando em seus pés. — Se não se importa, Gardner, eu quero ir para o meu chalé furtar as mochilas dos novatos.

— Eu já pensei, Travis. Na verdade, eu tinha a resposta desde o primeiro minuto em que você insistiu nessa ideia idiota, maluca e que com certeza dará errado — Katie parou de colher e pegou as cestas que encheu, passando por Travis e indo embora — A resposta é sim! — Ela gritou um pouco mais a frente.

Logo em seguida as raízes que seguravam Travis se desfizeram e ele caiu no chão, mas com um sorriso vitorioso nos lábios.